A - última? - chance de Fernando Alonso Print
Written by Administrator   
Wednesday, 29 July 2020 16:18

Olá fãs do automobilismo,

 

Este intervalo de duas semanas entre três corridas em sequência na Fórmula 1 não foi tranquilo como eu gostaria. Fiquei tanto tempo quanto meus pacientes precisaram de mim em consultas online.

 

É claro que a grande notícia do mês foi a contratação de Fernando Alonso pela Renault para a temporada de 2021. Quando muitos já achavam impossível a sua volta para a categoria, eis que vinte meses depois de se despedir da Fórmula 1, Fernando está de volta e eu preciso (e agora posso) imitar o Galvão Bueno e falar: “Eu sabia! Eu sabia!”

 

Desde que deixou a Fórmula 1 no final de 2018, Fernando venceu as 24 Horas de Le Mans por duas vezes, venceu o campeonato mundial do WEC, não se classificou para o Indy 500 e terminou um 13º sólido no famoso Rally Dakar disputado na Arábia Saudita. Mas era um retorno à F1 que ele realmente ansiava e em todos estes anos de terapia quinzenal isso era tão claro quanto água. Mas era uma tarefa difícil.

 

 Com o macacão da conquista do bicampeonato ao fundo, Fernando Alonso posa pra fotos em seu retorno à Renault.

 

A forma como Fernando deixou o circo foi muito difícil. Após quatro anos de decepções acumuladas e colocações nada políticas, o que fechou muitas portas e o deixou distante das principais equipes. Ele tem o temperamento difícil e não precisa ser um(a) terapeuta para chegar a esta conclusão. Com dois campeonatos mundiais e tendo sido vice-campeão três vezes, suas 32 vitórias o colocam como o sexto maior vencedor da categoria, a mesma posição nos pódios, com 97.

 

Fernando tem consciência disso e fala que nosso trabalho ajudou-o a ser menos intempestivo (céus!), mas que ainda assim, em dados momentos algo parece sair de controle e ele precisava sair do ambiente da Fórmula 1 para respirar uma outra atmosfera. Este período limpou soa mente, seus pulmões e sua alma. Mas que seus atos passados deixaram marcas profundas e isso “fechou portas”, felizmente, nem todas.

 

 Após uma ida tempestuosa para a McLaren em 2007, Fernando Alonso encontrou paz e tranquilidade para recomeçar na Renault.

 

A relação com a Renault ao longo destes anos nunca deixou de existir. Fernando tem uma equipe na categoria escola da montadora francesa e como em um casamento, as coisas andaram de mãos dadas na alegria e na tristeza, na saúde e na doença. Quando as coisas desmoronaram durante sua primeira temporada na McLaren em 2007, em que ele saiu da equipe praticamente pela porta dos fundos, foi na Renault que ele encontrou um ambiente para continuar na categoria, mesmo sendo uma situação totalmente diferente daquela de 2005/2006, mesmo sabendo que ele estava ali pra retomar a carreira e buscando a Ferrari, sonhando conseguir fazer uma trajetória semelhante – no caso, melhor – que a feita por Michael.

 

A grande diferença é que Fernando e Michael tem personalidades completamente diferentes e eu posso falar isso uma vez que Michael foi meu paciente por 4 anos. Apesar da ida para Maranello, os fortes laços com a diretoria da Renault desde que deixou a equipe em 2009, e ao longo destes anos em manteve contato e sempre deixou a porta aberta para um retorno em potencial, sempre existiu. A volta esbarrava no fato da Renault nunca conseguir fazer um carro capaz de lutar pelo campeonato e Fernando sabe bem que talento apenas não é suficiente.

 

 A escolha dele e não de outro piloto campeão como Sebastian Vettel mostrou que Fernando Alonso tem a confiança dos franceses.

 

Apesar do tempo afastado da categoria, Fernando não encontrará um ambiente estranho, tampouco avesso à sua personalidade. Nos atuais quadros da equipe ele encontrará diversos antigos colaboradores para seu sucesso e isso ele considera como algo positivo no projeto da relação com a equipe e este projeto é o que pode acontecer quando o regulamento for alterado para a temporada de 2022. Para a Renault, ter alguém como Fernando é sua melhor chance de voltar para o pelotão da frente e para ele, a sua – última – chance de voltar a vencer e, quem sabe, conquistar o terceiro título mundial.

 

Embora otimista, Fernando sabe que, planos podem dar certo ou não e, ao assumir esses aspectos positivos, aquele Fernando crítico, capaz de falar mal dos motores da Honda em alto e bom tom pelo rádio no GP de Suzuka, poderá explodir como um vulcão caso as coisas não corram dentro do planejado. Acredito que a diretoria da Renault sabe que terão que superar os possíveis aspectos negativos, que possam surgir caso a equipe não cumpra sua parte e desta vez o diretor da equipe, Cyril Abiteboul, não terá a mesma docilidade vinda do cockpit como a vista ao tecer críticas a Daniel Ricciardo.

 

 Neste mês de agosto o foco está em recuperar-se do fiasco do ano passado em Indianápolis e buscar a tríplice coroa.

 

Até agosto o esforço de Fernando estará concentrado na preparação física e psicológica para as 500 Milhas de Indianápolis e seu desejo de conquistar a “tríplice coroa”, com as vitórias em Mônaco e Le Mans. Mas estando já contratado da equipe, não será surpresa se virmos Fernando ao volante de um dos carros da equipe nas manhãs de sexta-feira para ir “pegando a mão” do carro com o qual correrá em 2021, uma vez que os carros mudarão pouco ou nada para o ano que vem.

 

A aposta da Renault e de Fernando são altas neste projeto e da parte do meu paciente, sei bem o que podemos esperar... para o bem e para aquilo que vier a não correr bem.

 

Beijos do meu Divã,

 

Catarina Soares