A dura missão de Claire Williams Print
Written by Administrator   
Sunday, 07 June 2020 19:38

Olá Fãs do esporte a motor,

 

Como todos sabem, tenho vários pacientes sob meus cuidados que estão envolvidos no esporte a motor pelo mundo. Em sua grande maioria são pilotos, mas tenho também alguns – poucos, é verdade – mas não menos importantes (e interessantes) profissionais que trabalham nos bastidores dos eventos.

 

Normalmente tratei estes pacientes com o mesmo empenho e dedicação profissional que dei e dou aos profissionais da velocidade, com duas ou quatro rodas, e sempre considerei serem mais interessantes para meus leitores terem textos sobre os pilotos do que qualquer outro paciente.

 

Entre as pessoas de fora da pista que me procuraram para fazer terapia, de uma forma confessadamente não muito profissional, passei a ter uma visão e uma postura com um toque de carinho por Monisha Kalteborn e Claire Williams. Monisha foi minha paciente até 2019, mesmo depois de ter deixado o trabalho na Sauber e Claire está comigo desde 2014.

 

Um dos pontos do nosso trabalho juntas sempre foi a responsabilidade que ela assumiu – e ela tem consciência do que assumiu – quando aceitou tomar o lugar de seu pai à frente da equipe que carrega muito mais do que um sobrenome, carrega uma história de muito trabalho, de um crescimento e sucesso, mas que nesta última década passou mais tempo lutando pela sobrevivência do que propriamente lutando por posições no grid durante treinos e corridas.

 

  Quando assumiu a equipe, coincidiu com a mudança do regulamento e a vinda do super motor da Mercedes em 2014.

 

Claire não “caiu de paraquedas” na chefia da equipe. Ela já trabalhava na estrutura do time como diretora de Comunicação, Marketing e Negócios e acompanhava os passos do pai, que a apresentou como a pessoa certa para dar continuidade ao seu trabalho. Ela sempre se mostrou apaixonada e completamente dedicada a fazer a equipe da sua família voltar aos melhores tempos, mas vontade não é tudo no mundo dos negócios.

 

Ela reconheceu ao longo dos últimos anos que tomou algumas decisões erradas nas áreas técnica e administrativa e que o resultado disso foi muito ruim, refletindo por mais de uma temporada. Como exemplo, mais de uma decisão que ela vê hoje como equivocada, como a posição de Paddy Lowe, responsável pela eletrônica na Williams, nos títulos de 1992, 1993 e que foi trabalhar na área de projeto, com a obrigação de reestruturar esta área da equipe.

 

  Frank confiou na filha como sendo a pessoa certa para continuar seu trabalho. Será que era a decisão mais acertada?

 

Quando o regulamento da categoria mudou, com a chegada dos motores híbridos, a associação da Williams com a Mercedes, fornecendo os melhores propulsores, disparados, da categoria, levou a equipe de volta às primeiras filas em 2014 e – em algumas corridas – conseguindo, inclusive, rivalizar-se com a equipe de fábrica. Ficou evidente que a equipe foi se perdendo com o passar dos anos e não se podia responsabilizar os pilotos pelo que não conseguia sair da fábrica.

 

Mesmo com a equipe contando com profissionais de peso nos seus quadros, como Paddy Lowe – que passou parte de suas responsabilidades para outros profissionais – Rob Smedley e, posteriormente, Pat Simmonds (aquele da confusão de Singapura com Nelsinho Piquet), as coisas simplesmente não funcionavam e a competitividade ficava cada vez menor, com os carros sempre ficando pelo Q1. Isso foi tirando patrocínios e aumentando a dependência dos pilotos pagantes, uma política que começou com a chegada de Pastor Maldonado, passou por Lance Stroll e agora tem Nicholas Latifi.

 

  A equipe investiu em nomes de peso como Paddy Lowe e Rob Smedley (além de Pat Simonds). Não deu certo!

 

Com poucos recursos, era preciso apostar em gente nova e contar que eles fizessem um trabalho competente a baixo custo. Um trio formado por McKiernan, Dave Wheather e Adam Carter parecem ter acertado a mão no carro de 2020, mas com esse processo de paralisação do campeonato por conta do coronavírus levou a equipe a abrir-se para uma possível venda ou mesmo uma grande sociedade capaz de dar fôlego financeiro para a Williams.

 

Há alguns anos Claire vem se sentindo mais e mais pressionada. Ela já disse mais de uma vez que pretende e vai levar o nome da família e a equipe de volta ao seu devido lugar, mas para isso o carro deste ano precisa mostrar uma evolução e a falta de uma parceria industrial forte. Claire é teimosa em alguns aspectos. Este é um lado difícil de lidar com ela. Ela acredita que “pilotos passam, a equipe fica”. De fato, isso tem seu lado de verdade, mas também é verdade que sem pilotos vencedores é difícil vencer e vitórias atraem patrocinadores, que investem na equipe e assim se faz um ciclo positivo. Algo que Claire e a Williams precisam mais do que nunca.

 

 Com uma perspectiva difícil para 2020, Claire não desiste de levar a equipe de volta ao topo, mas um sócio ou mesmo a venda pode ocorrer. 

 

Beijos do meu Divã,

 

Catarina Soares