Uma vida nova para Matheus Leist Print
Written by Administrator   
Monday, 30 December 2019 22:09

Olá Fãs do esporte a motor,

 

Acho que todos nós fazemos aquela coisa de “resoluções para o ano novo”... se não todos, com certeza muita gente faz. Eu faço. O problema é que nem sempre conseguimos torná-las realidade. Eu coloquei como resolução para 2019 perder 20 quilos... perdi 2! E acho que “achei eles” na semana passada com a família do meu marido vindo passar natal aqui em San Diego, mas algumas outras eu consegui concretizar.

 

Para 2020 eu tomei como resolução que vou aceitar atletas mais jovens como pacientes. Antes eu evitava pacientes com menos de 25 anos, mas como eles são minoria no atual grid da Fórmula 1, baixei a idade para 20. Ou faço isso ou não fecho as contas no final do mês, né? Mas a regra está valendo para outras categorias e quem me convenceu a fazer isso foi um dos meus pacientes mais antigos: Tony Kanaan.

 

Tony é um doce de pessoa, super divertido, e que durante os dois últimos anos foi quase um segundo pai para Matheus Leist e procurou orientar os passos desse gaúcho em uma das principais categorias do mundo – a Fórmula Indy – em uma equipe que não oferecia uma condição de se mostrar o potencial e a capacidade que Matheus possui, mas teria isso sido um erro?

 

   Amigo, companheiro de equipe, orientador, Tony Kanaan foi quase um pai para Matheus nestes dois anos na AJ Foyt.

 

Matheus veio ao meu consultório junto com Tony, na sexta-feira antes do natal e conversamos bastante depois da sessão de Tony, que era a última do dia. Uma pessoa muito educada e me pareceu bastante aberto a buscar um caminho de crescimento pessoal através do auto entendimento. É isso que eu trabalho com meus pacientes e é isso que todo bom terapeuta precisa fazer. Um profissional na nossa área não dá respostas ou diz aquilo que o paciente deseja ouvir.

 

Como quase todos os pilotos formados no Brasil e que tomaram o caminho dos monopostos, Matheus foi para a Europa depois do kart e de sagrar-se vice campeão brasileiro de Fórmula 3 no Brasil, com o sonho de tornar-se piloto de Fórmula 1. O caminho que muitos outros tomaram foi o que ele escolheu: correr na Inglaterra, onde disputou a Fórmula 4 inglesa em 2015, terminando em 5° lugar, e vencendo o campeonato de Fórmula 3 no ano seguinte.

 

   Na Inglaterra, Matheus Leist fez uma grande trajetória, culminando com o título da Fórmula 3 em 2016.

 

Ao final da temporada e vendo que enquanto outros pilotos tinham caminhos traçados para chegar na Fórmula 1, caso de Lando Norris, que disputou parte do campeonato de 2016, enquanto ele tinha que “fazer o caminho” e isso não seria possível. Foram quatro vitórias e onze pódios em um ano inesquecível, mas era preciso ser racional. Ele não tinha condições financeiras de tentar uma GP2. Daí a decisão tomada em família de mudar a direção da carreira e seguir para os Estados Unidos para disputar a Indy Lights, categoria anterior a principal. Era mais acessível economicamente falando e assim ele mudou para os Estados Unidos.

 

Apesar de ter decidido disputar o campeonato da Fórmula Indy Lights, Matheus nunca descartou tentar encontrar um caminho para a Fórmula 1, mas este poderia ser mantendo o foco em ser campeão de Indy Lights, dali então entrar na Fórmula Indy e se conseguir bons resultados ainda jovem, fazer o caminho que Jacques Villeneuve e Juan Pablo Montoya fizeram. Algo perfeitamente possível.

 

   Na sua mudança para a Indy Lights, uma boa coleção de vitórias, uma delas no mítico oval de Indianapolis.

 

Matheus não conseguiu o título da Indy Lights em 2017, apesar de ter ganho 3 corridas na temporada, sendo uma delas a Freedom 100, a preliminar das 500 milhas de Indianapolis, e tendo ficado à frente de seus companheiros de equipe (Carlin), o quarto lugar estava longe de ser seu objetivo, mas abriu caminho para seguir para a categoria principal, o que eu penso ter sido um erro, mas não posso colocar esta posição em uma relação terapeuta/paciente.

 

Como resultado, o brasileiro estreou na Indy muito jovem em 2018, com 19 anos e 6 meses de idade. Na época, o recorde de piloto mais novo a participar de uma temporada completa da categoria era de 19 anos e 0 meses, registrado por Marco Andretti em 2006. Se faltava experiência para Leist, ter assinado com a Foyt – onde fez dupla com o também brasileiro Tony Kanaan – não ajudou. A escuderia jamais se acertou com a nova versão do carro da Indy e se tornou uma das piores (ou talvez a pior) do grid.

 

Tendo estado em algumas corridas nos dois últimos anos, circulando pelas garagens pude ver que a volta do dono da equipe para dentro da mesma não foi algo positivo. A.J. Foyt é uma lenda da categoria, venceu 4 vezes as 500 Milhas de Indianapolis, mas tem uma visão e uma forma de conduzir a equipe que estão ultrapassadas. Junte a isso um budget menor que o dos concorrentes e temos a pior condição possível para um jovem piloto conseguir mostrar seu trabalho.

 

   Nos dois anos correndo para A.J. Foyt, uma verdadeira lenda da Fórmula Indy, muitas dificuldades e poucos resultados.

 

Em 2019 a Foyt só terminou seis vezes entre os dez primeiros colocados de uma prova, tendo obtido o terceiro lugar de Kanaan no oval de Gateway como melhor resultado. Já Leist tinha sido o quarto no misto de Indianápolis, principalmente devido as boas estratégias graças às bandeiras amarelas e. no caso de Matheus, a chuva providencial. Nestes dois anos ele foi o 18º colocado no campeonato de 2018 e o 19° em 2019. Algo bem distante dos seus planos.

 

Os maus resultados também foram ruins para a equipe, que perdeu para 2020 seu principal patrocinador e com isso, as perspectivas de Matheus ficaram ainda piores, mas não um beco sem saída. O campeonato de endurance tem crescido muito nos últimos anos e este pode ser o novo caminho para Matheus, que assinou contrato para disputar quatro das principais provas de 2020 pela equipe oficial da Cadillac, que na temporada passada correu com dois carros no grid e venceu as 6 Horas de Watkins Glen.

 

   2020 pode ser uma virada de mesa na vida de Matheus Leis, com sua ida para o IMSA, novas possibilidades podem se abrir.

 

É um novo caminho, um novo desafio e senti nas palavras de Matheus uma pessoa com um firme propósito de voltar a ser um vencedor de corridas e campeonatos. Ainda vamos ter muito o que comemorar com ele, de preferência com bons churrascos.

 

Beijos do meu Divã,

 

Catarina Soares