Jorge Lorenzo não é piloto de jogar as luvas Print
Written by Administrator   
Wednesday, 09 October 2019 00:10

Olá fãs do esporte a motor,

 

Ao contrário do que tem uns malucos dizendo por aí, a terra não é plana, ela é redonda... ou quase isso. E para se voar da Tailândia até a Europa, mais exatamente para a Espanha, pode se voar no para oeste, o mais curto, ou para leste, o mais longo.

 

Jorge Lorenzo fez o caminho mais longo e veio para mais uma sessão aqui em San Diego depois de mais uma frustrante corrida onde ele terminou quase 1 minuto atrás de seu algoz e companheiro de equipe, Marc Marquez, que sagrou-se campeão do mundo com quatro etapas ainda para serem disputadas.

 

Jorge chegou no meu consultório nesta terça-feira, dia 8, após o almoço. Sua fisionomia era abatida. Ele tinha uma expressão de dor maior do que a quando estava se recuperando da queda nos treinos em Assen que o deixou fora de algumas corridas. De fato, depois de dois acidentes muito fortes e difíceis, especialmente o último em Assen, o corpo cobra um preço e a mente também.

 

Perguntei como ele estava se sentindo e, como é do seu modo de agir, Jorge foi direto ao ponto: confessou estar passando por um momento de autoquestionamentos sobre sua vida, sobre sua carreira e que achava ser humano e normal ter esse tipo de dúvida e que estava confiante quando assumiu o desafio de deixar a Ducati para ingressar na Honda, uma equipe com um “dono”, no caso, Marc Marquez.

 

   No início deste ano Jorge Lorenzo assumia um novo desafio em sua carreira como piloto da equipe Honda.

 

Mais uma vez eu vi nessa atitude de Jorge Lorenzo uma repetição do que Valentino Rossi fez quando saiu da Ducati e se submetei a assinar um “contrato de segundo piloto” na Yamaha, que “tinha um dono” e este era ele, Jorge Lorenzo. Naquele momento, Valentino conseguiu se impor, virar o ambiente e ganhar um campeonato mundial sobre o “dono da equipe”, que acabou saindo do time. Eu precisava lembrar isso para Jorge sobre quais seriam seus planos quando foi para a Honda na época e ele disse que não tinha a ver com Valentino, mas com ele.

 

Eu sempre vi em Jorge uma vontade demasiada de rivalizar-se em tudo com Valentino, em criar estigmas, em fazer algo midiático como aquela comemoração com a bandeira cravada na caixa de brita indicando que aquele autódromo passava a ser “Terra de Lorenzo”. Ele sempre negou isso, mas Valentino foi e é uma referência para ele, para Marc e para todos os demais.

 

   O maior dos desafios nesta temporada estava ao seulado, com uma moto igual a sua e pilotando pela sua bandeira: Marquez.

 

O sonho de Jorge Lorenzo está se tornando realidade pelas mãos de seu compatriota e companheiro de equipe – bem mais jovem do que ele – Marc Marquez. Jorge queria derrotar sua referência, o piloto a ser batido e quase invencível, Valentino Rossi, e alguém que consegue conquistar três títulos mundiais contra um Valentino em muito melhor forma do que este que Marc Marquez enfrentou nos últimos três anos é algo que precisa ser lembrado e respeitado.

 

Por pior que fossem as possíveis dificuldades, certamente Jorge não esperava ter uma primeira temporada tão terrível com a Honda como vem tendo até agora. Após 15 etapas disputadas e tendo marcado apenas 23 pontos, sem conseguir chegar sequer entre os 10 primeiros em nenhuma das corridas que disputou, enquanto lutava para se adaptar à moto japonesa RC213V notoriamente complicada e “feita sobre medida” para seu companheiro de equipe.

 

   No esforço de buscar uma diferença imposta pelo atual campeão, Jorge Lorenzo forçou além do limite... e caiu.

 

Apesar disso, Jorge tem afirmado que assinou um contrato de dois anos e gostaria de obter resultados com esta moto da Honda como fez com o restante das motos. É verdade que ele conta com o apoio de Alberto Puig, chefe da equipe, da Honda e disse que queria estar totalmente comprometido com o desafio de ter performance com essa moto e apesar de se falar muito em um retorno já para 2020 à Ducati, Jorge é enfático em negar.

 

Jorge tem atribuído às quedas e lesões, que se acumulam desde os dois acidentes dolorosos que interromperam o final de sua campanha final da Ducati até um escafóide quebrado na pré-temporada de 2019, uma fissura nas costelas no Catar e uma fratura nas costas em Assen, que na sua visão, comprometeu suas capacidades e habilidades de pilotar a Honda em plenas condições físicas, mas há algo a mais.

 

   Entre as corridas deste ano, quando não caiu e mesmo levou outros consigo, Lorenzo não terminou uma prova sequer no top-10.

 

Desde que deixou a Yamaha, em suas passagens pela Ducati e agora pela Honda, Jorge nunca pareceu “ter a moto na mão” em nenhuma das duas equipes. No caso da Honda, o desconforto parece ainda maior e Jorge admite não se sentir seguro, especialmente com a parte da frente da moto. Com isso, somado as lesões e a enorme ligação entre Marc Marquez e a Honda, a estrela de Jorge Lorenzo perdeu mais um pouco do brilho.

 

É de se reconhecer a força e o empenho de Jorge Lorenzo, que este ano completa sua 17ª temporada no mundial de motovelocidade e um tricampeão precisa ser respeitado sempre. Seria muito mais cômodo para ele simplesmente desistir de tudo ao final da temporada e ir pra casa, uma vez que não tem mais nada para provar a ninguém ou mudar de categoria, indo para a Superbike ou para a Moto-E, mas isso não faz parte da sua natureza.

 

   Cercado de desconfianças, Jorge Lorenzo tem sido cada vez mais cobrado e cada vez mais tem que dar explicações.

 

Todo processo envolvendo Jorge, agora, é diferente das crises nos tempos da Ducati. Na equipe italiana ele não tinha um “dono de equipe” para enfrentar, mas eu sei que ele é capaz de superar-se e conseguir no próximo ano ter um desempenho compatível com seus melhores anos. Para isso, Jorge precisa estar forte mental e fisicamente e isso pode ser conseguido.

 

Vermos aquelas cenas de Jorge Lorenzo cravando suas bandeiras nos autódromo ainda são possíveis, mas o caminho será árduo.

 

Beijos do meu Divã,

 

Catarina Soares