Sebastian Vettel não está morto Print
Written by Administrator   
Wednesday, 12 June 2019 16:08

Olá fãs do esporte a motor,

 

Vocês vão estar na expectativa do GP da França de F1 quando esta coluna for publicada, mas certamente um dos assuntos que serão falados a seguir ainda vai estar sendo comentado com grande intensidade no paddock de Paul Ricard.

 

Quando comecei a escrever para o site dos Nobres do Grid, em 2011, falei com os meus pacientes que eram pilotos sobre o meu projeto. Alguns gostaram e permitiram que eu comentasse sobre nossas sessões. Outros não gostaram da ideia. Quando comecei a ter pacientes estrangeiros, estes não se importaram com uma coluna de um pequeno site, brasileiro, escrito em português. Mas quando rompemos fronteiras, eles já haviam concordado e não se importaram.

 

Acontece que, algumas vezes, eles mesmo pedem para eu não comentar sobre alguma conversa que tivemos e eu sempre respeitei isso. Um bom exemplo foi o que andou se passando com Sebastian nos últimos três meses. Ele pediu para eu não atrair ainda mais holofotes para a incômoda situação que ele estava vivendo e nestas horas, eu preciso ser – em primeiro lugar – a psicóloga e não a “jornalista”, editora de site de automobilismo.

 

Sebastian tinha sessão para as 13:30, a primeira após o almoço. Muito gentil, como sempre, convidou-me para almoçar e fomos ao mercado de peixes aqui em San Diego, um lugar que eu adoro e, mesmo com uma cidade “cheia de brasileiros e mexicanos”, Sebastian passou pelo local sem chamar a atenção (ele não estava usando vermelho) e almoçamos tranquilamente.

 

 Desde o GP do Bahrein, Sebastian tem vivido com a pressão de estar longe das Mercedes e mais lento que Charles Leclerc.

 

Na verdade, nossa sessão acabou por começar ainda no restaurante, quando ele comentou que estava muito contrariado com tudo o que aconteceu no domingo em Montreal. Que sua vontade era de ir embora, não ir para o pódio, entrevistas, nada. Foi depois de uma conversa com os membros da equipe já no escritório/motorhome da equipe que o convenceram a voltar.

 

Desde que deixaram a segunda semana de testes em Barcelona, Sebastian confessou que estava desconfiado de que a Mercedes estava “escondendo o jogo acima do normal”. Esconder o jogo todo mundo esconde, isso é normal, mas até onde vai a dissimulação é algo que ninguém sabe exatamente e a resposta veio no Albert Park, com tudo aquilo que a Mercedes mostrou.

 

 Sob pressão, Sebastian foi ficando menos acessível e, evidentemente, sofrendo com a pressão e a cobrança.

 

Uma resposta poderia ser dada no Bahrein, mas se a Ferrari mostrou força no emirado, Sebastian se viu ofuscado pelo seu companheiro de equipe, Charles Leclerc, que foi cruelmente punido com um problema de motor quando liderava com tranquilidade e autoridade. A performance do piloto jovem deu uma mexida no “espírito guerreiro” de Sebastian, mas a corrida seguinte na China mostrou que além de ter uma preocupação na pista com seu companheiro de equipe, havia um problema nos boxes, com os erros de estratégia que iram se repetir nas corridas seguintes.

 

Além de ver toda a imprensa e a massa de torcedores cobrando pesadamente por performance e condenando-o a abrir passagem para o novo piloto da equipe, Sebastian se via cada vez mais distante das Mercedes, e sofrendo com os erros dos estrategistas. Não bastasse isso, o carro, por si só, mostrava que não era “tão bom” quanto eles pensaram que era após os testes pré-temporada. Definitivamente, toda a pressão do mundo estava sobre os ombros de Sebastian.

 

 Jovem, rápido e carismático, Leclerc conquistou os tifosi. Mas ambos andam sofrendo com os erros de estratégia da Ferrari.

 

A Fórmula 1 é a elite do automobilismo e todo piloto que chega lá sabe que ali se enfrentam os melhores adversários e consequentemente onde a competição se torna mais exigente e difícil. É neste tipo de competição que o piloto é colocado à prova, ainda por cima estando em uma equipe com o peso de uma Ferrari. Dia de folga não existe, de paz, também não. Certamente Sebastian sabia disso quando assinou o contrato em Maranello.

 

Sebastian , já no consultório, voltou a falar sobre o que aconteceu em Montreal, onde viu a Ferrari com chances de andar em condições de igualdade com a Mercedes pela primeira vez desde a corrida no Bahrein e que via a possibilidade de conseguir uma vitória. Pelo menos com ele, a estratégia desta vez não havia falhado e na metade final da corrida, sem novas previsões de troca de pneus – em condições normais de corrida – ele sabia que no ponto onde a ultrapassagem era possível, a Ferrari era mais rápida.

 

 O ato da troca das placas diante de todo o mundo pela TV mostrou que Sebastian tinha e tem personalidade pra enfrentar Hamilton e a F1.

 

Assim como já aconteceu outras vezes em sua carreira, Sebastian não nega que cometeu um erro e que por isso saiu da pista. Ele não esquece Hockenheim e a perda de uma corrida que estava em suas mãos, diante da sua torcida no ano passado. Naquele momento, tudo que passava por sua mente era que não poderia bater, e não bateu. Conseguiu voltar para pista e manteve Lewis atrás dele.

 

A revolta pela punição é uma coisa simplesmente instintiva quando a pessoa parte do princípio de que não fez nada errado e na cabeça de Sebastian, o único erro que ele cometeu ali foi o de ter saído da pista, nunca o de ter conseguido voltar e manter-se à frente. Afinal, aquilo que estava acontecendo era uma corrida de automóveis, não uma partida de gamão. Desde que não se haja com desonestidade ou antidesportividade, a disputa é correta e aberta.

 

A reação de Sebastian ao final da prova, quando recusou-se a levar o carro para o local onde os três primeiros colocados devem levar seus carros, mas principalmente de, após ter sido “convencido” (ele pediu para não comentar este ponto) a voltar e participar do cerimonial do final de toda corrida, a melhor forma de protesto foi o que ele fez, indo até onde estavam os carros de Lewis e Charles e trocar a placa em frente a Mercedes. Isso mostrou o quanto meu paciente está forte e não tenham dúvidas, esta corrida com tudo que a envolveu, pode servir como uma injeção de adrenalina sem Sebastian para o resto da temporada.

 

 Não pensem que Sebastian não é capaz de dar a volta por cima. Mas a Ferrari precisa colaborar, errando menos.

 

Cabe agora a equipe parar de errar (e eles erraram novamente, retardando a parada de Charles Leclerc) e mesmo que a Ferrari não consiga recuperar a desvantagem técnica diante da Mercedes este ano, Sebastian mostrou que não está morto e está bem longe de pendurar o capacete e as luvas.

 

Beijos do meu Divã,

 

Catarina Soares