O desafio de Sebastian Print
Written by Administrator   
Sunday, 02 December 2018 17:51

Olá fãs do esporte a motor,

 

Apesar do campeonato mundial de Fórmula 1 ter terminado no final de semana passado, aqui no meu consultório em San Diego, os campeonatos e as coisas em torno deles nunca terminam e se por um lado, na minha coluna anterior, mostrei um Lewis fortalecido e confiante para o que vem por aí, o outro lado da moeda é bem diferente.

 

Sebastian “entrou em parafuso” depois do erro cometido no GP da Alemanha e depois disso, não se encontrou mais. Para completar o cenário negativo, a Ferrari também errou em momentos cruciais e esta combinação, que coincidiu com a morte do presidente da Ferrari, Sergio Marchionne, pareceu ter afetado a Sebastian mais do que a qualquer um na equipe.

 

Na segunda-feira que antecedeu a corrida nos emirados Sebastian foi meu último paciente do dia. Ele chegou da forma como tem aparecido nas imagens que o pegam desprevenido: com um ar cabisbaixo e a boca em arco como naquelas imagens de teatro, mas sem ser a do sorriso. A outra! Algo que me deixa muito constrangida profissionalmente, uma vez que sinto-me em parte responsável por não conseguir ajudá-lo a encontrar um caminho para quebrar e inverter a espiral negativa em que ele entrou.

 

Muitas vezes as pessoas buscam saídas para seus problemas na autorregulação do sistema psíquico, algo muito questionável na questão de ser ou não a forma correta. Algumas vezes as pessoas buscam em livros de auto-ajuda se desvencilhar dos problemas através das sugestões, que eventualmente funcionam, mas durante um pequeno período. É comum que logo após essas pessoas acabem entrando em depressão. Essa guerra civil interna é na verdade um grande alerta para voltar-se para dentro, para entrar em contato verdadeiramente com aquilo que nos tira do presente e nos aprisiona no passado.

 

2018 foi um ano particularmente difícil para Sebastian Vettel... 

 

Teria Sebastian chegado ao fundo do poço nesta temporada? É neste lugar que acontece essa guerra, o fundo do poço pode significar muito mais, pois talvez esse lugar sombrio tenha o mesmo significado que a noite escura onde os sonhos tem sua origem, um lugar onde muitos heróis mitológicos tiveram passagem e iniciaram seu retorno, aqui se encontra a casa de Hades que diferente de seu irmão Zeus que enxerga de cima e através da luz, Hades enxerga de baixo através da escuridão. Não seria então o fundo do poço o melhor lugar para nos encontrarmos com o que há de mais sombrio em nossas almas? Para encontrar respostas de perguntas que nossa consciência não se cansa de questionar?

 

Recentemente o Presidente da FIA evitou jogar sobre os ombros de Sebastian e mesmo sobre a chefia da equipe onde comandou brilhantemente a fase mais vitoriosa da Casa de Maranello. Pelo contrário, ponderou o fato de que tudo tem um maior peso – positiva ou negativamente – em tudo que cerca os fatos, não fatos e mesmo os meros rumores em torno de suas cercanias.

 

Não foram poucos os erros cometidos pela equipe. Planejamento e estratégia custaram muitos pontos e vitórias

 

Em quatro anos de Ferrari, Sebastian aprendeu muito bem que tudo o que acontece na equipe italiana tem efeito em todos do grupo e cada membro do grupo reage de uma forma diferente. É importante perceber que estar em grupo não garante que todos caminhem da mesma forma, cada um vai seguir a “caminhada” de forma individual e única. Quando algo afeta o grupo, alguém que está diretamente ligado a você pode sentir aquele impacto de forma mais dura que você sentiu. É preciso ter paciência e ajudar ao invés de jungar quem sente mais ou menos um revés ou uma determinada situação.

 

Em 2014, quando Sebastian era tetracampeão mundial de Fórmula 1, depois de anos de “tranquilidade” tendo Mark Webber como seu companheiro de equipe, chegava na equipe Red Bull o promissor Daniel Ricciardo. Todos viram o que aconteceu ao longo da temporada, onde Daniel adaptou-se melhor às mudanças no carro que se deram devido ao regulamento, venceu três corridas e foi o terceiro colocado do campeonato, ofuscando o campeão que foi para a Ferrari com a imagem questionada... e Sebastian sabe disso.

 

Mas o piloto também errou... e errou feio. Mais de uma vez.

 

Ao longo destas quatro temporadas na equipe italiana, todos passaram os anos – ano após ano – correndo atrás da Mercedes, ampla dominadora da categoria. Nestes quatro anos Sebastian teve como companheiro de equipe o tranquilo e desencanado Kimi Raikkonen. Em 2019 terá novamente um jovem piloto, cheio de ambições, que era desejo do falecido presidente da Ferrari em vê-lo como piloto titular da ‘Scuderia’.

 

É evidente que o desempenho de Charles Leclerc ao longo do ano na Sauber deve trazer de volta para a mente de Sebastian o “filme” do que aconteceu em 2014 na Red Bull e este é um dos pontos que preciso trabalhar com afinco neste período intertemporada. Sebastian precisa chegar tranquilo e estável no período pré-temporada e tentar se impor logo de início.

 

Em 2014 um novato chegava na Red Bull e fazia da vida de Sebastian Vettel um tormento...

 

Contudo, não vai ser uma tarefa fácil. Muitas vezes estamos buscando a saída para os nossos problemas no mundo externo sob a luz do dia, quando o movimento correto seria no mundo interno na escuridão da noite, esse mundo que só podemos nos encontrar no momento que fechamos os olhos e que podemos despertar para aquilo que realmente somos, pois é aqui que encaramos de frente tudo aquilo não tivemos coragem.

 

É no fundo do poço que encontramos nossas sombras ou nós mesmos sob o disfarce de diversas máscaras, é nele que nossos medos são encravados ou partes de nós mesmos que um dia não tiveram coragem de dizer um não, que não tiveram coragem de dizer o quanto estavam magoados ou que não foram fortes o suficientes para desistir de algo.

 

Será que veremos novamente este filme em 2019 com a chegada de Charles Leclerc na Ferrari?

 

Talvez o lugar certo para começar uma mudança seja realmente o fundo do poço, mas para que essa afirmação se torne verdade, antes é preciso se ver e reconhecer que nos encontramos neste lugar.

 

Beijos do meu Divã,

 

Catarina Soares