Uma segunda chance para Daniil Print
Written by Administrator   
Wednesday, 26 September 2018 22:44

Olá fãs do esporte a motor,

 

Nas relações amorosas às vezes a gente se pergunta (e como se pergunta) se não seria o caso de se “dar uma segunda chance”. Este raciocínio deveria valer para outras coisas em nossas vidas... ou não?

 

A todo momento, a vida nos coloca de frente com as consequências de nossas escolhas, para que possamos ter a chance de refletir e de mudar. É assim que a gente amadurece e para de errar tanto, evitando repetir atitudes que nos atrasam e nos afastam das pessoas e do caminho da serenidade. Porém, há quem não aprenda, quem não assume sua responsabilidade sobre nada, seja na vida, na família, no trabalho, seja na escola.

 

Para que consigamos seguir acreditando, sempre em frente, é preciso manter acesa a esperança e a fé nas pessoas, nos acontecimentos, na vida. Acreditar na mudança positiva de todos e de tudo o que nos cerca é imprescindível ao nosso equilíbrio, ao nosso respirar com folga. Ninguém sobrevive sem acreditar em alguma coisa que sustente seu caminhar. Não tem como.

 

Nesta quinzena o que não faltou foi “material de trabalho” para escrever a coluna. As sessões com Lewis, Daniel e Sebastian – além da de Jimmie – foram intensas, mas mesmo que o assunto tenha menos acessos do que se eu apresentasse uma coluna com um piloto titular das três grandes equipes da Fórmula 1 ou uma estrela da NASCAR neste período de decisão do campeonato, mas – psicologicamente falando – a abordagem de um outro paciente foi muito mais interessante.

 

 Em 2016, depois de mais uma rusga com Sebastian Vettel. Daniil tinha feito uma grande temporada anterior e estava bem em 2016.

 

Nas últimas semanas Daniil tem vivido um turbilhão de emoções e questionamentos de fazer a maioria de nós perder o sono. Afinal, depois de como ele foi dispensado do “universo Red Bull”, eis que agora neste período de férias do mês de agosto o touro austríaco deixou de bufar e talvez mesmo tenha abanado a calda como um cãozinho amistoso na direção de Daniil, que depois de dois anos (estou contando como GPs) de GP da Russia deve ser anunciado como “novo piloto da Toro Rosso” para a temporada de 2019.

 

Todo piloto (ou quase todos) quando sentam num kart pela primeira vez, coloca o capacete e se imagina dentro do cockpit de um Fórmula 1, o sonho, o objetivo, o objeto de desejo. Daniil vem de um país que não tem tradição no esporte e que nos últimos 10 anos passou a ter pilotos no grid impulsionados não apenas por suas capacidades técnicas, mas também por seu “combustível financeiro”!

 

O caso de Daniil parecia ter uma trajetória diferente. Apesar de contar, evidentemente, com o dito “combustível financeiro”, Daniil mostrou talento e potencial, ao ponto de ter sido promovido diretamente da GP3 para a Fórmula 1 depois de conquistar o campeonato de 2013, deixando seu companheiro de programa de jovens pilotos, o espanhol Carlos Sainz Jr, em segundo plano e ultrapassando o favorito na corrida pela vaga que era o português Antonio Felix da Costa, que disputava a F.Renault 3.5V8, categoria com mais importância que a GP3 e rival da então GP2.

 

 Uma foto do retorno a Toro Rosso em 2016 mostrava a convívio de anos com o espanhol Carlos Sainz Jr.

 

Seu desempenho no ano de estreia foi tão bom que o levou para o time principal no ano seguinte. Em 2015 Daniil era, por mérito, piloto da Red Bull ao lado de Daniel Ricciardo e fez um bom campeonato, terminando o ano em 7° lugar, inclusive terminando o ano à frente de Ricciardo e parecia estar tendo o inicio de uma história russa na Fórmula 1 e no ano seguinte, o campeonato começou bem, com um pódio na terceira etapa, mas com algumas confusões entre ele e Sebastian Vettel em disputas de pista.

 

Uma punição e uma pressão enorme nos bastidores a favor de outra estrela ascendente (Max Verstappen) abalaram a confiança de Daniil e nesta hora eu, que já era terapeuta dele, fiquei indignada com a atitude deste senhor (Marko), que não apenas não deu o apoio necessário que Daniil deveria receber como ele tantas vezes deu à Sebastian, mas praticamente o colocou numa situação de obrigatoriamente ter que manter o padrão de resultados.

 

 Mesmo tendo bons resultados, bastou um momento de instabilidade para que Daniil fosse rebaixado da Red Bull para a Toro Rosso.

 

Carlos Sainz Jr. voltava a ser o companheiro de equipe de Daniil, mas com a situação em que ele se encontrava, o resultado foi completamente oposto em relação ao que aconteceu nas categorias de base. Daniil foi engolido pelo espanhol e isso precipitou a sua dispensa após o GP da Itália de 2017, com a sua passagem para piloto reserva da segunda equipe e praticamente com uma carta de aviso prévio da iminente dispensa no final daquela temporada.

 

Apesar de abalado, a capacidade técnica de Daniil não desapareceu e ele conseguiu para este ano a colocação de piloto de testes e simulador da Ferrari e isso por méritos uma vez que a Ferrari não é o tipo de equipe que precisa de pilotos pagantes colocando dinheiro no time para engordar o orçamento. Daniil encontrava um ambiente de trabalho de alto nível e onde poderia estar dentro do meio que sempre foi seu desejo, algo que poderia ter um ponto final com a dispensa do programa da Red Bull.

 

E eis que menos de um ano depois, vem a proposta de um retorno... o que fazer? O que dizer? Sempre ficaremos em dúvida quanto à validade de proporcionarmos uma segunda chance a alguém, em todos os setores de nossas vidas, pois o que machuca deixa marcas difíceis de se apagarem. Até onde vale a pena acreditarmos nas pessoas, até que nos provem o contrário, agiram de uma forma conosco de como não merecíamos?

 

 De bem na Ferrari, mas com uma incômoda situação de estar relegado a pilotos de testes e todo piloto quer mesmo é correr.

 

Será que vale a pena deixar o ambiente de trabalho da Ferrari, mesmo diante de ver um dos pilotos titulares estar de saída e seu nome não ser cogitado para a titularidade na temporada seguinte? Isso certamente pesou para Daniil levar em conta o convite para retornar à Toro Rosso, mas sempre que me lembro – e o lembro – que ele terar que lidar com o Sr. Marko, só posso dizer que é uma decisão pessoal e que como terapeuta não posso dizer “vá” ou “não vá”.

 

Quando vocês estiverem lendo esta coluna já terá acontecido o GP da Russia deste ano e o anúncio oficial, caso se consume, já terá sido feito. Tudo o que posso dizer é que Daniil sempre poderá contar com meu trabalho a seu favor, nunca contra.

 

Beijos do meu divã,

 

Catarina Soares 
Last Updated ( Wednesday, 26 September 2018 23:07 )