A busca de Sebastian por Sebastian Print
Written by Administrator   
Saturday, 08 September 2018 14:47

Olá fãs do esporte a motor,

 

Estas últimas semanas foram bem complicadas. Dentro e fora do consultório. Mas como nesta vida tudo – de alguma forma – acaba se ajeitando, algumas coisas a gente age, outras a gente deixa passar para diminuir a sofrência. E assim vamos vivendo.

 

Quem chegou aqui na semana passada num “estado de sofrência” de dar pena foi o Sebastian. Ele estava arrasado com a perda da chance de reduzir a desvantagem para Lewis no campeonato com a etapa e Monza. Com a vantagem que a Ferrari mostrou ter, eles deveriam ter feito uma dobradinha e tirado 10 pontos de Lewis. O resultado só não foi pior pela punição de 5 segundos para Max e pelos danos no carro não terem sido maiores após o que aconteceu na primeira volta.

 

Ele ficou uns 5 a 6 minutos deitado no meu Divã sem abrir a boca. Normalmente eu tento “quebrar o gelo”, puxar uma ou outra amenidade para falar, mas desta vez eu deixei isso de lado e me mantive em silêncio também, no estilo daquela disputa de reta que o Senna teve com o Mansell onde parecia que nenhum dos dois iria frear para fazer a curva. Sebastian freou primeiro!

 

Nas palavras dele, ele “não está bem de cabeça e tomando as decisões certas”. Sebastian sabe o que fazer. Ninguém é campeão do mundo por acidente e quatro anos seguidamente, muito menos! Mas quando ele voltou para o discurso de algumas entrevistas dadas após a corrida sobre as responsabilidades, tentando diminuir ou tirar dele a culpa pela sequência de erros da primeira volta usei de um expediente que costumo evitar.

 

 

 

Alguns profissionais da minha área são adeptos da “terapia do choque de realidade”, que – em palavras, não em gestos – vai de um “puxão de orelha a um tapão na cara”. Eu prefiro uma abordagem mais questionadora, procurando extrair do paciente respostas sobre seus próprios conflitos. Juntei as duas partes e perguntei se ele realmente acreditava no que estava falando para mim. Ele calou-se novamente por longos minutos.

 

Muitas vezes o ser humano tende a sempre tentar colocar a culpa em outras pessoas ou fatores externos para justificar seus comportamentos, posturas ou resultados que não foram considerados satisfatórios. É muito comum se esconder atrás dos muros criados pela própria mente para se defender das frustrações, mesmo que isso aconteça de maneira inconsciente: por mais que o indivíduo saiba que cometeu um erro, sua mente ativa mecanismos defensores que tentam encontrar maneiras de fazer com que ele escape da culpa.

 

 

 

A questão pode estar, inclusive, muito além da mente. A instabilidade emocional é uma desarmonia sensorial que ativa os sensores do corpo a manifestarem afetações diretamente sobre o biológico na forma de sensações ligadas a estados de angústia, sofrimento, depressão, agonia, nostalgia, alterações cardíacas e em outros órgãos e aflição. Quando uma pessoa passa por uma instabilidade emocional geralmente ela sofreu um estresse negativo, ou seja, uma pressão ambiental cuja resultante é desencadeamento de sensações densas sobre o seu mecanismo biológico. Este acúmulo de energia que é liberado é suficiente para despertar uma avalanche de sensações que são desencadeadas sobre os órgãos internos e sensores ao longo da estrutura corpórea... como o “instinto” de defender a posição a todo custo.

 

Quando uma pessoa está instável emocionalmente não se consegue muito controle sobre a tomada de decisão. Então é importante que o acompanhamento por parte de alguém de confiança do convívio deste indivíduo venha a contribuir para que a afetação sensorial não induza a ações que no futuro possam gerar arrependimento por parte da pessoa afetada.

 

 

 

A dificuldade para assumir os próprios erros existe porque encontrar culpados se tornou um hábito do ser humano: se está sofrendo é porque alguém está causando este sofrimento, se algo não deu certo é porque alguém conspirou contra você, e assim por diante. Essa postura faz com que a pessoa acabe gastando muita energia desnecessariamente, visto que é uma grande perda de tempo tentar encontrar culpados pelo fracasso.

 

As pessoas repetem vários hábitos previamente moldados que estão arraigados em seu estado emocional de forma automática. Porém, o cérebro humano está em constante mudança e, por esse motivo, sempre é possível adotar novas maneiras de viver e se comportar. Esse funcionamento é chamado de neuroplasticidade cerebral (característica que torna o cérebro flexível e mutável). Isso significa que a mente tem capacidade de se adaptar e se moldar todos os dias, bastando que você a condicione a fazer isso.

 

 

 

O equilíbrio da emoção se conquista com o aprendizado sensorial do corpo humano. Com o avanço da idade o indivíduo vai assimilando como o seu organismo é capaz de se comportar na relação consigo mesmo. E a reprodução dos fenômenos sensoriais de fórum emocionais torna-se apenas a realização de estímulos organizados em escala funcionais que colaboram para a fixação estável de um desejo e sentido humano do existir. Sebastian já provou isso em 2012, quando precisava de uma sequência de vitórias e a conseguiu, chegando na etapa final até com condição de passar por dificuldades e ainda assim conquistar o título.

 

Quando vocês estiverem lendo esta coluna estaremos no final de semana do GP de Singapura e lá, Sebastian e a Ferrari tem mais uma chance de conseguir tirar muitos pontos de um Lewis que está fazendo uma temporada espetacular, com a ajuda da Red Bull. Para isso, contudo, a paz precisa reinar dentro das próprias fileiras. A acusação contra o Kimi (apesar de eu achar que ele não liga muito para isso) não faz bem para o ambiente.

 

 

 

Ao invés de esperar que apontem onde você errou, Sebastian precisa encontrar e assumir suas falhas sozinho e fazer todo o possível para reencontrar e aprimorar suas habilidades para que isso não ocorra novamente. Ainda há tempo para uma recuperação e um final de nos colocar de pé, nos autódromos e na sala de casa, e isso está nas mãos – e na cabeça – de Sebastian.

 

Beijos do meu divã,

 

Catarina Soares 
Last Updated ( Saturday, 15 September 2018 13:28 )