Sebastian precisa usar a cabeça Print
Written by Administrator   
Thursday, 26 April 2018 17:54

Olá Fãs do automobilismo,

 

Este meio do automobilismo é muito interessante. O que as pessoas dizem, o que elas fazer e como elas reagem às situações nas quais se veem envolvidas... daria para escrever uma enciclopédia sobre o comportamento psicológico, especialmente no caso dos pilotos.

 

Que seres interessantes são os pilotos. Eles criam em torno de si um mundo particular, alimentado pelos seus resultados, pelas reações de seus fãs, pela mídia que eleva ou derruba (pelo menos tenta, nem sempre consegue)... o Cacá Bueno falou numa entrevista que deu para nós que o automobilismo era o esporte individual mais coletivo, porque o piloto para conseguir fazer o seu trabalho na pista, depende de toda uma equipe por trás dele.

 

A lucidez do Cacá Bueno deve ter pelo menos uns lampejos em boa parte dos outros pilotos pelo mundo, mas talvez esta consciência seja auto reprimida em muitos deles, que esquecem a realidade que os cerca e acha que tem, que vai e que conseguira resolver tudo sozinho.

 

Depois de assistir o GP da China, quando Sebastian veio para sua consulta regular eu já tinha uma estratégia para abordar aquela sequência de fatos que aconteceram em pouco menos de duas horas e que ao final destas, ele saiu com um enorme prejuízo, que apesar da ajuda do Max Verstappen, ele foi o grande responsável pelo oitavo lugar no final da corrida.

 

A largada do GP da China foi crítico. A Ferrari saiu perdendo, mesmo com Sebastian assumindo a liderança.

 

Sebastian, como bom alemão, nunca se atrasa para seus compromisso e segunda-feira ele chegou até mesmo antes de mim no consultório. Estava bem descontraído, conversava animadamente com a minha assistente quando cheguei. Os dois riam tão alto que ouvi as risadas ainda do corredor. Só não me contaram a piada... acho que era sobre os gordinhos, meu caso!

 

Fomos para o consultório e eu perguntei a ele como ele estava após as duas etapas que tivemos entre a sessão anterior e esta. Ele tinha estado em San Diego depois da vitória em Albert Park e estava confiante com o que a equipe poderia lhe dar em 2018, mas acreditou mais na oportunidade de ocasião na Austália do que propriamente em superioridade. Assim como no ano anterior, a confiança era maior no ritmo de corrida do que na classificação.

 

Este início de temporada tem mostrado um equilíbrio na disputa entre Ferrari e Mercedes.

 

Abordei como ele estava vendo o Kimi este ano e ele disse que o companheiro estava muito motivado e focado no trabalho. Apesar daquele “jeito estranho de ser” (rimos), o finlandês parecia ter vindo para esta temporada com outro espírito se comparado com o ano passado. Perguntei o porque, se ele tinha algum palpite sobre o que teria dado esta injeção de ânimo nele.

 

Sebastian disse que o único momento que ele viu o Kimi mais alterado foi depois do acidente no seu pit stop, no Bahrein, preocupado com o estado de saúde do mecânico e até esquecendo do fato de ter sido obrigado a abandonar a corrida. Humorado, Sebastian depois disse que é uma corrida que o companheiro não faz muita questão de ir ao pódio... não tem champagne! Risos.

 

Com um pouco de sorte e uma boa estratégia, Sebastian venceu as duas primeira corridas da temporada.

 

Aproveitei o bom humor do meu paciente para abordar a ação dele na largada na China e a questão do egoísmo, da individualidade. O egoísmo é uma abordagem pouco eficaz que tem um impacto extremamente negativo sobre relacionamentos dentro de uma estrutura de equipe, sendo que esta relação é chave para seu sucesso profissional. Caso Sebastian não tivesse “espremido” Kimi na largada, as duas Ferrari poderiam ter tomado a ponta na corrida em Xangai, o que poderia ter mudado o resultado da corrida.

 

Lidar com as relações em um meio de trabalho tão competitivo como é uma equipe de Fórmula 1 não é nada fácil, principalmente quando se tenta reforçar o espírito de equipe. Parece que se tratam de questões antagônicas. Algumas situações que as vezes se formam dentro de uma equipe deixa muito difícil estabelecer um clima de cooperação e companheirismo. Afinal, a pessoa olha para o lado e não vê um companheiro de equipe, mas sim um adversário.

 

O trabalho da equipe Ferrari tem sido eficiente desde o ano passado, mas ainda falta aquele algo mais.

 

Era importante Sebastian buscar dentro de si qual o tipo de relação que ele busca ao lado de Kimi. Na China o finlandês teve a corrida completamente comprometida para que Sebastian tivesse a chance de se recuperar de um erro de estratégia da equipe que fez com que ele perdesse a liderança da corrida para Valttery Bottas. Deixaram Kimi na pista até ser alcançado para possibilitar uma aproximação de Sebastian para tentar uma ultrapassagem.

 

O resultado da etapa chinesa foi ruim para Sebastian, que viu a distância na pontuação entre ele e Lewis cair praticamente pela metade. Lembrei-o sobre o episódio de Singapura que praticamente tirou dele a chance de continuar lutando pelo campeonato, quando Lewis venceu uma corrida que tinha tudo para ficar fora do pódio e Sebastian, de vencer. Estes tipos de erro podem fazer com que ele perca o campeonato deste ano novamente.

 

Sebastian tem consciência disso. Ele confessou que aquilo foi uma “ação institiva”, que ele nem pensou direito, assim como foi em Singapura no ano passado. A reunião após a corrida teve este ponto abordado pelo Maurizio Arrivabene e ele foi enfático quanto a isso: cometer erros não vai levar a equipe ao título e se quiserem vencer, eles precisam trabalhar como equipe e nesta hora, estava olhando para Sebastian!

 

A relação com Kimi Raikkonen vai ser fundamental para Sebastian conquistar o título. Os erros de 2017 não podem se repetir.

 

Este ano tem uma particularidade: temos dois pilotos com quatro títulos mundiais na pista e ambos com carros competitivos, em grandes equipes. Diferente do que foi o confronto Prost/Senna de 1993 que eu lembrei a Sebastian. Ninguém tem um carro extremamente superior ao outro. Ambos são muito rápidos e profissionais. O título vai ficar com quem errar menos e tiver em seu companheiro de equipe um aliado na disputa.

 

Cabe agora ver quem vai tratar melhor o seu amigo finlandês...

 

Beijos do meu Divã,

 

Catarina Soares

 

P.S. Esta coluna foi produzida antes do GP do Azerbaijão. Vocês não vão acreditar no telefonema do Sebastian para mim depois da reunião pós-corrida...

 

 


Last Updated ( Sunday, 29 April 2018 22:53 )