Sebastian e o TEI Print
Written by Administrator   
Tuesday, 27 June 2017 20:58

Olá fãs do automobilismo. Como sou a Editora Adjunta do site dos Nobres do Grid desde janeiro, tendo que fazer a montagem dos textos que vocês, amados leitores, leem, estabeleço os prazos para entrega destes textos por parte dos colunistas para que eu tenha tempo de montar a página. É um trabalho que no começo foi difícil, mas já me acostumei a fazer. Seguindo um método que os meus antecessores usavam, fico sempre com uns dias para fazer isso e não passar aperto... a menos que alguém atrase o texto. E aí eu fico brava... muito brava!

 

Esta semana que teve que correr em cima da hora com o texto fui eu. Eu já tinha, claro, minha coluna ponta, com um dos pacientes da semana anterior, mas devido aos acontecimentos do último domingo, dia 25 de junho, mudou tudo! E de psicóloga eu vi transformada em “bombeira”, pronta para apagar um incêndio de grandes proporções.

 

Eram umas dez e pouco da manhã do domingo aqui em San Diego e eu estava servindo o café da manhã para o meu amado quando meu celular tocou (eu acordei cedíssimo para assistir a Fórmula 1, que aqui largou às seis da manhã, e logo em seguida assisti a gravação da Moto GP). Pelo horário, lógico que seria de alguém lá em Baku... e era. O Lance e o pai riam, falavam e gaguejavam ao mesmo tempo no telefone, o que me deixou muito feliz. Depois Lance falou aparentemente sozinho comigo, nitidamente segurando o choro, agradeceu muito por nossas sessões, antes e depois do GP do Canadá. Este é o melhor agradecimento que um terapeuta pode receber.

 

Mas isso não passaria nem perto do que viria a seguir. Mal desliguei o telefone e ele tocou novamente, provocando um levantar de sobrancelha de desaprovação de quem estava à mesa. E eu não sabia quem era, mas vi que o código de chamada era 39, ou seja, da Itália. Tendo sido uma corrida – no mínimo – confusa para a Ferrari, achei que fosse o Sebastian, ainda irritado com o que aconteceu na pista, mas não era... era seu “Capo”! Com um sotaque carregadíssimo, Maurizio Arrivabene deu um “bom dia” e disse que precisava falar comigo.

 

 

Sebastian é meu paciente desde 2010 e ele tem, como todos tem, traços psicológicos pessoais. Ele é normalmente educado, tem um senso de humor “nada germânico” e sorri muito, mas se as coisas dão errado, saem daquilo que o deixa confortável... Sebastian se transforma! Ele tem um lado “Mr. Hyde” que as vezes assusta e foi sobre isso que o Sr. Arrivabene conversou comigo.

 

Ele está temendo que seu piloto coloque o campeonato a perder por seu temperamento, num ano que a Ferrari tem possibilidades reais de derrotar a Mercedes após três anos vendo a caixa de câmbio, quando muito. Perguntou sobre a próxima sessão do Sebastian e eu disse que esta seria na tarde da terça-feira, dia 27 e me pediu que eu ajudasse a eles a vencer o campeonato, colocando a cabeça do seu piloto no lugar e – para minha surpresa – fez uma piada: disse que os italianos sabiam ser temperamentais sem perder a cabeça, mas que os alemães não sabem fazer isso!

 

 

Na terça-feira, pouco antes das 16 horas, Sebastian chegou ao consultório. Conversando depois com minha secretária, ela disse que ele havia chegado “com a cara de sempre”, com o “jeito de sempre”. Fui recebê-lo na sala de espera e ele agiu como costumava agir nas outras sessões. Nem mesmo quando ele disputou o campeonato de 2010, com Mark Webber e Fernando Alonso, a sua postura antes das sessões eram diferentes. E ele era bem mais novo nesta época.

 

Independente do que pediu o Sr. Arrivabene procurei abordar com um pouco mais de ênfase. Eu estava vendo a corrida e temi pelo pior quando os carros pararam nos boxes. Felizmente, na maioria dos casos de TEI (Transtorno Explosivo Intermitente), como o quadro é clinicamente descrito, a pessoa apresenta dificuldade para controlar o impulso agressivo, na maioria das vezes, sua reação é explosiva e sempre muito desproporcional a situação que a desencadeou.

 

 

Por exemplo: uma pessoa tem uma crise de fúria, joga coisas, xinga, grita porque a fila do cinema não anda. Essas atitudes não são premeditadas, ou seja, trata-se realmente de um impulso. Os portadores relatam que, às vezes, por uma fração de segundos, tem consciência do que está por ocorrer, mas não conseguem se controlar. Descrevem que esses momentos são precedidos de excitação crescente, alto nível de tensão, palpitações, as vezes com um “aperto no peito”, pensamentos raivosos etc., que os levam a fortes impulsos de agir agressivamente.

 

Felizmente – como pareceu ter sido o caso de Sebastian – após o ocorrido, sentem alívio da tensão e por algum tempo, acreditam que seus comportamentos são justificáveis. Invariavelmente, quando conseguem pensar com mais calma, sentem-se genuinamente arrependidos, com vergonha, culpados, tristes e confusos. O sentimento de base para o TEI é a raiva.

 

 

Devemos, porém, considerar que a raiva é uma emoção normal que pode ocasionar sentimentos como aborrecimento ou irritação, e que somente quando fora de controle, torna-se destrutiva, causando problemas nas relações pessoais, de trabalho e qualidade de vida. Os indivíduos com esse transtorno frequentemente expressam raiva intensa e inadequada (para o estresse causado pelo ambiente ou situação), ou têm dificuldade para controlar essa raiva.

 

O que me deixou mais preocupada foi que Sebastian não pareceu demonstrar arrependimento do que fez e também não poupou críticas nas declarações e este é uma outra preocupação: a língua! No ano passado, no México, Sebastian extrapolou qualquer limite quando mandou o diretor de provas, Charlie Whiting, “às favas” pelo rádio ao saber que Max Verstappen não receberia nenhuma penalidade imediata por cortar a grama na curva 1 quando eles disputavam posição, levando o Sr. Arrivabene a pedir que se acalmasse, se concentrasse na corrida e que o assunto seria tratado depois. Sebastian foi punido com 10 segundos e perdeu a terceira posição por mover de linha durante a freada em disputa com Daniel Ricciardo, algo um tanto subjetivo, que poderia ser interpretado como tomada para fazer a curva.

 

 

Sebastian tem alguns problemas extras para enfrentar nas próximas etapas. O maior deles é o fato de ter atingido o limite de turbos na sua unidade motriz. A próxima troca implicará na perda de 10 posições no grid. Além disso, com a punição por “direção antidesportiva” aplicada no GP do Azerbaijão, Sebastian totalizou 9 pontos em punições e numa nova punição que ele venha receber mais 3 pontos ele será suspenso por uma corrida.

 

Meu desafio até o final do ano será manter Sebastian focado apenas em fazer o que ele sabe fazer de melhor: pilotar.

 

Beijos do meu Divã,

 

Catarina Soares

 

 

p.s. E sexta-feira o Lewis tem consulta às 10 da manhã...