Felipe e o Futuro Print
Written by Administrator   
Wednesday, 07 September 2016 22:05

Olá fãs do automobilismo,

 

Uma das coisas que aprendi na minha vida, desde o interior do Paraná até este tempo que estou aqui nos Estados Unidos é que a vida é feita de ciclos. Cada ciclo tem um começo, um meio e um fim, dos quais devemos reunir as experiências vividas e aprender com elas a sermos pessoas melhores.

 

Desde que passou a ser meu paciente, no final de 2009, Felipe vem passando por diversos processos de recondicionamento e fortalecimento mental após o acidente que poderia ter encerrado sua carreira ou mesmo tirado sua vida na Hungria. Após este momento crítico em sua vida, Felipe mudou. Impossível não mudar. Por centímetros ficou a diferença entre estar vivo ou não, assim como foi com Ayrton Senna.

 

Os anos seguintes na Ferrari foram anos difíceis. Sem vitórias e com cobranças crescentes e EUA saturação no ambiente tempestuoso da Ferrari, que depois de 2008 pareceu ter “perdido a mão” para construir carros vencedores, que levou até mesmo o desgaste da relação com Fernando Alonso, um ano depois, precisaram ser trabalhados duramente para que Felipe se mantivesse motivado e feliz fazendo aquilo que ele mais gosta de fazer: pilotar!

 

Ser positivo sempre. Felipe sempre buscou isso em sua vida e quem convive com ele pode atestar isso.

 

Terça-feira, quando chegou ao meu consultório, depois do Grande Prêmio da Itália de Fórmula 1 e de ter anunciado, oficialmente, que esta será sua última temporada como piloto da categoria, a expressão de seu rosto era a de uma pessoa com uma enorme paz de espírito, ciente de que fez tudo o que foi possível para conquistar o ambicionado título de campeão do mundo, que foi seu por alguns segundos em 2008, mas mais do que isso, era a face de uma pessoa tranquila.

 

Ao longo destes anos, quantas vezes conversamos sobre todas as angustias e frustrações que um atleta, um ser humano passa quando seus planos não conseguem ser concretizados, mas uma coisa que sempre esteve no espírito de Felipe foi a perseverança. A capacidade de nunca desistir, de nunca se entregar e isso, quem acompanhou sua carreira, sabe que ele nunca o fez.

 

Olhar adiante é um dom que as pessoas precisam cultivar e Felipe soube levantar os olhos para isso.

 

Momentos de dificuldade como o “Fernando is faster than you” e a verdadeira perseguição que a imprensa italiana fez nos seus dois últimos anos de Ferrari não foram fáceis de ser superados, mas Felipe não apenas superou como se reinventou quando foi para a Williams num momento de transição de regulamento e acabou por conseguir um cockpit competitivo para continuar a perseguir seu objetivo de ser campeão do mundo de Fórmula 1.

 

O que a maioria dos brasileiros não conseguem entender é que você não precisa ser o campeão para ser um vencedor e foi preciso trabalhar isso com Felipe também. Afinal, crescemos em uma cultura onde o segundo colocado é o primeiro derrotado e ainda por cima, tanto ele como Rubens Barrichello tiveram que carregar a pesada responsabilidade de suceder uma sequência de gerações que conquistou oito títulos em 19 anos de Fórmula 1.

 

A despedida, com o anúncio oficial em Monza, não foi apenas um ato protocolar. Felipe conquistou o respeito da equipe.

 

Ao longo deste último ano de contrato, conversamos muito sobre legado, futuro, sonhos e Felipe é uma pessoa extremamente competitiva e consciente. Tudo o que se leu na imprensa nas últimas semanas foi fruto de muita reflexão e Felipe sempre foi muito lúcido e coerente sobre seu papel e suas ambições. Ele jamais se contentou ou se contentará em ser apenas mais um piloto no grid, seja na Fórmula 1, seja onde ele vier a correr.

 

As conversas sobre futuro começaram bem antes do que se especula e a decisão de dar uma nova direção em sua vida também. Felipe está tranquilo quanto ao papel que fez, confiante em seus projetos futuros no automobilismo que cheguei a perguntar se depois do final desta temporada na Fórmula 1 nós continuaríamos a trabalhar juntos... e sua resposta foi bem ao estilo Felipe: Uma equipe se faz vencedora pela união dos esforços de todos, não apenas pela ação de um só.

 

Emotivo, um piloto que sempre correu com o coração, Felipe vai deixar uma herança positiva para os nossos pilotos.

 

O destino de Felipe para 2017 ainda não está definido... mas está bem encaminhado para o novo desafio e sua tenacidade me dá total certeza de que, não importa aonde for que ele venha a correr no próximo ano, a dedicação, a entrega e a incessante busca pelo título vai estar em cada ação, em cada pensamento. Quem convive com Felipe sabe bem disso.

 

Beijos do meu Divã,

 

Catarina Soares