Lewis: Poliana? Print
Written by Administrator   
Monday, 11 April 2016 15:17

Olá fãs do automobilismo,

 

Uma das coisas que mais preocupam um terapeuta durante o acompanhamento de um paciente é quando, em dado momento do tratamento, por um fator ou combinação qualquer de fatores ele deixa de enxergar a realidade e prefere “ver as coisas ao seu modo”, o que na maioria das vezes difere muito do que realmente possa estar acontecendo.

 

Este comportamento é chamado na psicologia de “Síndrome de Poliana”. Poliana é uma menina que enxerga tudo "cor de rosa", sem maldades, sempre acreditando no melhor das pessoas e da vida, sendo incapaz de fazer algum mal a alguém. É uma obra universal, escrita por Eleanor H. Porter, e muitas gerações a têm lido com emoção. A figura humana da menina Poliana sensibiliza pelo otimismo, amor, bondade e pureza de sentimentos.

 

A “Síndrome de Poliana”, nada mais é do que uma fuga da realidade, na medida em que, no seu emaranhado de situações e de emoções, os pacientes agem, ingenuamente e inconsequentemente, criando uma realidade distorcida e vivendo esta “realidade” onde por vezes se veem cercados de um batalhão de admiradores, mas também de interesseiros e aproveitadores.

 

Quando Lewis chegou no meu consultório com aquele visual de Rapper que eu simplesmente detesto e com aquela coisa de pop star eu tinha acabado de sair da minha sala para pegar um novo balde de café (descobri um café colombiano maravilhoso que vende no supermercado perto do meu apartamento que não tem nada a ver com o que os americanos chamam de café) e ali trocamos o nosso boa tarde. Ofereci um café para ele, mas ele recusou... sabe-se lá o que ele anda bebendo nos lugares que tem frequentado.

 

Um visual mais "descontraído" e uma vida ativa fora das pistas estariam atrapalhando o campeão?

 

Uma das coisas que são boas nas sessões com Lewis é que não precisamos de muitos rodeios para chegarmos ao ponto que queremos... nem ele, nem eu, mas o problema tem sido a forma como enxergamos o que está acontecendo e a forma como ele tem visto está me preocupando, uma vez que já o vi “cair na real” depois de estar em situações difíceis e como foi complicado para encontrarmos o caminho de volta.

 

Depois que conquistou o bicampeonato pela Mercedes e seu terceiro título mundial, Lewis deu uma “relaxada”. Evidentemente que uma reação de senso de dever cumprido pode tomar conta de uma pessoa depois de um trabalho duro e que ao final de uma temporada polarizada e complicada no seu ambiente interno, mas o seu relaxamento pode ter dado combustível para o crescimento de Nico Rosberg, seu companheiro e adversário de equipe.

 

Eu esperava um Lewis mais pensativo, mas ele só fez esta cara quando perguntei se ele não estava "tranquilo demais"...

 

Em condições normais, tudo poderia voltar ao domínio que se instalou no ano passado, mas não foi isso que aconteceu e, a princípio, devido a um fator eletrônico e não psicológico: o novo sistema de embreagem dos carros prateados que não apenas mostrou-se menos eficiente que o dos concorrentes, mas também mostrou um Nico melhor adaptado a esta mudança.

 

Mesmo tendo marcado as duas pole positions nas duas primeiras etapas do campeonato, as más largadas de Lewis comprometeram suas duas corridas, onde – é bom lembrar – Lewis teve muita sorte em conseguir recuperar-se na Austrália, com a ajuda daquela bandeira vermelha e no Bahrein, por não ter sofrido danos maiores na batida sofrida pela desastrada forçada de barra de Valtteri Bottas.

 

A mudança no sistema de embreagem para 2016 complicou a vida dos pilotos da Mercedes. De nada valeu a 1ª fila.

 

Apesar de tudo isso e da evidente dificuldade com o novo sistema de largada, Lewis prefere assegurar que ainda continua inabalável psicologicamente, afirmando que não de pode ganhar todas... uma postura bem diferente do Lewis de 2015, disposto a “destruir psicologicamente” seu oponente na disputa pelo título.

 

Uma coisa é certa: estando com a cabeça no lugar, Lewis é muito forte psicologicamente e pode sobrepujar-se a qualquer adversário que se oponha à conquista do terceiro título consecutivo, mas isso não depende apenas dele usar a cabeça, mas também as mãos e não apenas adaptar-se ao novo sistema de embreagem, mas em superar em ritmo de corrida seus adversários.

 

Na largada do Bahrein, menos pior em termos de perda de terreno, mas a batida de Bottas acabou com suas chances.

 

Lewis desdenhou do companheiro, alegando não se importar com o fato de Nico ter vencido as últimas cinco corridas, reforçando que nesta temporada foram apenas duas, e que as três anteriores não interferem em nada na disputa do campeonato e garantiu que não há problemas reais em como as coisas estão acontecendo neste início de temporada, que os problemas ocorridos nas duas corridas iniciais foram “coisas de corrida”.

 

Eu não sei a quem Lewis tenta convencer com estas palavras... se a ele mesmo ou a mim. A realidade é que estou preocupado com a postura atual de Lewis. Não é nem de perto o estado psicológico que encontrei nos tempos da relação conturbada com a Nicole Scherzinger, da briga com seu pai e da vida de pop star que ele andou levando. Contudo, a última parte parece estar voltando e isso não é bom para ele.

 

Ao invés de arrumar o cabelo, Lewis precisa "arrumar a cabeça" para voltar a vencer.

 

A temporada está apenas no seu início e logicamente que Lewis tem plenas condições de se recuperar e alcançar Nico na tabela de pontos e vencer mais um campeonato. Contudo, isso terá que partir de uma atitude muito mais efetiva do que simplesmente falar diante dos microfones que lhe são postos à frente.

 

Quando esta coluna for publicada, os pilotos já estarão na China, no final de semana da terceira etapa do campeonato e veremos se Lewis está vivendo a realidade ou uma fantasia de que tudo está bem, apesar das duas vitórias de seu principal adversário na luta pelo campeonato deste ano.

 

Beijos do meu Divã,

 

Catarina Soares