Nico Rosberg... em quatro atos! Print
Written by Administrator   
Saturday, 21 November 2015 00:02

Olá fãs do automobilismo,

 

A coluna de hoje é uma compilação das últimas quatro sessões que fiz com Nico Rosberg. Hoje o paciente que tenho olhado com um cuidado triplicado diante de tudo o que ele passou nas últimas semanas. Não apenas pela perda da disputa pelo título, mas pela forma como as coisas se conduziram, antes e depois do GP dos Estados Unidos.

 

Eu estava em Austin naquele último final de semana do mês de outubro e assisti a corrida no HC da Mercedes, convidada por Niki Lauda. As chances de Nico reverter a vantagem que Lewis acumulou ao longo do ano era muito difícil, mas o que mais vinha incomodando Nico era não estar conseguindo transformar a conquista do sábado (suas poles) em vitórias. Foi assim no Japão, foi assim na Rússia e não poderia ser assim nos Estados Unidos... mas foi, e de uma forma dura, com aquele “sai pra lá” logo na primeira curva.

 

Mesmo com todas as alternativas que a corrida proporcionou, na hora do combate direto, Lewis mostrou-se mais forte e mais uma vez Nico saiu derrotado. Não bastasse isso, depois de ter sido ultrapassado mais de uma vez, a imposição da vitória veio com a conquista do título e as cenas que todos viram antes dos pilotos seguirem para o pódio... aquele momento do boné atirado ao colo foi devastador.

 

Após o GP dos Estados Unidos, Nico não tinha nenhum motivo para sorrir.

 

Depois do compromisso com a coletiva de imprensa e antes daquela que seria a mais torturante reunião pós-corrida que Nico teria que fazer naquele ano, esperei-o antes da entrada da sala de reuniões da Mercedes e, quando ele caminhou na minha direção disse para ele: “estou aqui, estou à sua disposição, na hora que você quiser”. Toto Wolff ouviu o que eu disse e agradeceu com um olhar e apertando um lábio contra o outro. Logicamente que quando Lewis passou por mim me abraçou e agradeceu, mas com relação a ele eu estava tranquila.

 

A reunião foi uma longa espera para mim, mas teve um lado positivo: poder elaborar a melhor forma como abordar Nico depois de tudo o que ele veio passando e de tudo que aconteceu naquelas últimas horas da tarde daquele domingo. De certeza eu tinha apenas que muito haveria a ser feito e que ele não estava nada bem. Quando saiu da reunião, ele veio falar comigo e pediu que eu jantasse com ele, que naquele momento o que ele precisava, imediatamente, era de um longo banho.

 

A sequência de resultados e a forma como Lewis se impôs no Japão e nos Estados Unidos foi devastadora para Nico.

 

Passava um pouco das nove da noite quando subi para a suíte onde ele estava. Ele preferiu não ir para o restaurante do hotel, algo perfeitamente compreensível. Apesar de descansado e do banho tomado, a fisionomia no seu rosto era a de uma pessoas psicologicamente destruída! Algo que nunca achei que veria no rosto de Nico.

 

Entre 2013 e 2014 Nico mostrou ser capaz de efetivamente brigar de igual para igual com Lewis. No ano passado a disputa pelo título foi bastante equilibrada e Nico mostrou estar psicologicamente mais forte que Lewis. Contudo, este ano ele passou por algo que nunca havia passado na carreira, com uma derrota tão grande no confronto direto contra um companheiro de equipe.

 

Não bastasse o que se viu na pista, o que foi mostrado nos bastidores de Austin teve um efeito muito negativo... até certo ponto.

 

Nico respirou fundo e desabafou: “Suzuka foi duro, mas no limite, mas aqui em Austin Lewis foi foi longe demais e o pior é que a equipe não fez nada para intermediar e colocar as coisas no lugar. Eles controlaram a situação todo o tempo e eu não tive como fazer nada”. Nico parecia se sentir traído pela Mercedes.

 

No final de 2009, quando foi contratado,  Rosberg era a aposta da Mercedes em ter uma equipe alemã com um piloto alemão e a referência para ele seria “o maior de todos os pilotos alemães: Michael Schumacher! Acontece que ele não tomou conhecimento do seu “mestre” e superou o heptacampeão com uma surpreendente facilidade.

 

Aqueles meninos que um dia foram amigos e correram de kart juntos hoje tem uma relação fria e distante.

 

Quando Lewis veio para a equipe, para a temporada de 2013, este sim seria um grande desafio. Naquele ano, apesar de ter marcado 18 pontos a menos, Nico venceu duas corridas, contra apenas uma de Lewis. Aquilo apontava para a formação de uma dupla forte, sem desequilíbrios e, em tendo o equipamento finalmente em condições de vencer com mais constância, ambos seriam candidatos ao título. Nesta época, a relação entre eles ainda era muito boa, mas ao longo de 2014, deteriorou-se e eu não vejo um caminho de volta.

 

Se na disputa do ano passado Nico mostrou estar psicologicamente mais forte, a ponto de desestabilizar Lewis, ao longo deste ano o que se viu foi o contrário. Logicamente que, como profissional, eu trabalhei nos pontos de fortalecimento de ambos, naquilo que eles precisavam, mas Nico não conseguiu manter a estabilidade mental de 2014.

 

Até onde a gravidez de sua esposa, Vivian, o afetou é difícil mensurar, mas o nascimento da sua filha, Alaia, foi em fins de agosto e isso tiraria a gravidez delicada da equação... mas a diferença na pontuação aumentou de forma ainda mais acentuada. Quem dera os fatores psíquicos das pessoas fossem lógicos como os projetos de um carro de Formula 1.

 

Por mais que se esforcasse, nada parecia ser suficiente para Nico superar Lewis ao longo do ano...

 

Nossa conversa foi longa naquela noite e antes do GP do México ainda tivemos outra seção, a pedido de Nico, e tudo o que conversamos surtiu efeito. Quando chegou ao México, Nico estava mais motivado. Viu na Cidade do México uma pista onde se adaptou rapidamente. O carro comportou-se muito bem, mas o grande fator de motivação foi usar algumas das coisas que Lewis disse depois da corrida em Austin. Foi o “efeito desafio”. Contudo caso a Mercedes não tivesse dado a ordem para Lewis fazer a segunda parada nos boxes, uma nova vitória (e nova derrota de Nico) teria sido extremamente destrutiva para ele.

 

Na consulta depois da corrida no México, antes de viajar para o Brasil, Nico disse ter consciência de que, mesmo tendo sido mais rápido e constante, em treino e na corrida, uma mudança de estratégia como aquela poderia ter sido possível e teria sido muito difícil retomar a ponta. Nico conseguiu colocar para trás as coisas que passou ao longo da temporada antes do GP do México e a vitória o fortaleceu para o GP do Brasil.

 

A vitória no México foi como soltar um grito sufocado... Numa pista nova, onde todos estavam pela 1ª vez, ele fora o mais rápido.

 

A forma como conquistou a vitória em Interlagos fez Nico respirar mais aliviado. Ele mostrou uma recuperação muito importante e ao voltar esta semana ao consultório, antes de viajar para Abu Dhabi, seu sorriso havia voltado ao rosto, mas não foi imprudente. Disse estar ciente que depois de conquistar o campeonato com tanta antecedência, Lewis pode ter “relaxado” e não estar tão focado quanto antes.

 

Como esta coluna será enviada para a redação antes da corrida em Abu Dhabi, não terei como escrever sobre o desempenho de Nico neste final de semana, mas posso garantir que ele estará estou pronto para lutar e vencer mais uma corrida este ano e terminá-lo em alta, com a equipe e consigo mesmo. Nico tem consciência que precisa retomar a sua força mental para poder ter, efetivamente,  outra grande oportunidade no próximo ano. Onde além de Lewis, talvez seja preciso ter uma preocupação ainda maior com a Ferrari.

 

Voltar a vencer com constância e voltar a sorrir: estes são os desafios de Nico para 2016. O título está em aberto!

 

A grande pergunta que certamente meus queridos leitores estão fazendo é: Será Nico capaz de brigar pelo título? Essa é a resposta que ele vai precisar dar em 2016, mostrando aquele Nico que foi forte, rápido e preciso em 2014, a ponto de levar Lewis aos erros que cometeu. Temos muito trabalho pela frente e a disputa está aberta para o próximo ano. Eu não faria prognósticos neste momento.

 

Beijos do meu Divã,

 

Catarina Soares