Si, Juan Pablo: Se puede! Print
Written by Administrator   
Saturday, 07 February 2015 01:27

Olá fãs do automobilismo,

 

Depois de um início de ano de grandes mudanças, vamos retomar as nossas colunas quinzenais e esta mudança aqui para San Diego parece estar sendo bastante comemorada por pilotos daqui... a agenda está ficando cheia e ao longo do ano, novos pacientes deitarão no meu divã.

 

Quem já havia se manifestado, antes mesmo de eu confirmar, foram meus pacientes que moram aqui, brasileiros inclusive, mas o primeiro a se manifestar foi o Juan Pablo. Ele que passou por um período muito difícil nos seus últimos anos de NASCAR e que “renasceu” na Indy.

 

Ele foi meu primeiro paciente na abertura do consultório no dia 2 de fevereiro. Como vieram sendo suas chegadas depois da vitória em Milwalkee, Juan Pablo chegou sorridente e arriscou um “bom dia” em português, assustando a minha secretária, uma mexicana cujo a mãe era fã dele nos tempos em que ele correu por lá, antes de seguir para a Europa.

 

Pouquíssimas são as pessoas que conhecem a origem de Juan Pablo no automobilismo. Logicamente que foi pelo kart, como a grande maioria dos pilotos, ainda em seu país natal. Seu pai foi piloto de kart e chegou a competir com Rubinho Barrichello. Um dia perguntei se ele lembra de alguma destas corridas, mas ele disse que não lembrava... mas afirmou, entre risos, que seu pai era mais rápido.

 

Ao contrário de seguir para a Europa como sempre fazíamos pilotos brasileiros nos anos 90, Juan Pablo foi para os Estados Unidos. “era uma questão de custo e distância”. Nos Estados unidos, fez a “academia” da Skip Barber em 1993 e em 1994, fora dos monopostos, conquistou o campeonato da Swift GTI, o que rendeu um bom dinheiro de premiação com as vitórias e no ano seguinte permitiu “diversificar” as atividades.

 

Ainda na Colômbia, Juam Pablo começou no Kart, como quase todos os pilotos.

 

Juan Pablo correu de kart, no Sudam 125cc, na Barber Saab Pro Series e na “Fórmula N”, no México. Foi terceiro na Barber e campeão nas outras duas. Seu caminho estava sendo pavimentado para a Indy... mas o sonho era a Fórmula 1, como é o da grande maioria dos pilotos não nascidos nos Estados Unidos.

 

Nas categorias iniciais na Europa tanto na F. Waxwall, em 1995, como na Fórmula 3, em 1996, Juan Pablo não conseguiu repetir os títulos dos anos no continente americano, mas o terceiro e o quinto lugar nos respectivos campeonatos foram suficientes para que ele passasse à F.3000, o último passo antes da Fórmula 1.

 

Um vice campeonato no ano de estreia (1997), numa disputa acirrada com Ricardo Zonta e o título no ano seguinte de forma incontestável e dominadora credenciariam naturalmente os vencedores da categoria a entrar na Fórmula 1, mas não foi assim que as coisas aconteceram e em 1999 as perspectivas para Juan Pablo era, na melhor das hipóteses, uma equipe pequena.

 

Nos tempos de F. 3000, pouco dinheiro de patrocínio e muito talento.

 

Juan Pablo correra para Frank Williams, mas o inglês ainda achava que faltava maturidade e num acordo com o americano Chip Ganassi, ofereceu o “seu” piloto em uma troca pelo italiano Alessandro Zannardi, que vinha sendo destaque na Fórmula Indy... e assim Juan Pablo voltou aos Estados Unidos!

 

Inicialmente foi um tanto quanto frustrante, ele confessa. Confiante como todo piloto é, Juan Pablo achava que estava pronto para assumir o volante de um carro de uma grande equipe como a Williams e procurou recobrar os anos que correu nos Estados Unidos e fazer disso um atalho para adaptar-se o mais rápido possível à nova categoria.

 

Juan Pablo correu como nunca nos ovais da Indy. Nos ovais, nos autódromos, nos circuitos de rua. Ganhou o campeonato enquanto o italiano Alessandro Zanardi passava o ano sem marcar um ponto sequer pela Williams. Mas apesar da saída de Zanardi da equipe, Juan Pablo não voltou. Era a hora do troco! Ele preferiu correr mais um ano nos EUA... e em 2000 venceu as 500 milhas de Indianápolis.

 

Na Fórmula Indy, Título na temporada de estreia e vitória nas 500 Milhas de indianápolis no ano seguinte.

 

Quando finalmente foi para a Williams, chegando por cima, em 2001... e sem se sentir intimidado por nada e nem ninguém, como deixou claro para Michael Schumacher no GP do Brasil com aquele “sai pra lá que eu estou passando”. E Juan Pablo tornou-se um dos mais carismáticos pilotos do grid.

 

A carreira na Fórmula 1 seguiu em progressão e em 2003 Juan Pablo entrou na luta direta pelo título. A Williams BMW era carro para brigar pelo título, mas a equipe tinha outro piloto... e um piloto alemão: Ralf Schumacher e até a metade da temporada, os dois seguiram equilibrados na disputa, tanto pelo campeonato, como pela atenção dentro do time.

 

Juan Pablo relembra aquela corrida na França como um dos momentos mais frustrantes de sua vida. A equipe claramente privilegiou seu companheiro de equipe, independente dele estar sendo mais rápido e ter feito uma estratégia para vencer a corrida. Juan Pablo pensou em simplesmente desistir da prova, abandonar a corrida. Reduziu o ritmo de prova de uma forma que deixou claro seu protesto diante das câmeras de TV. Ainda assim, foi ele e não o companheiro quem chegou ao final do campeonato lutando pelo título.

 

Na Williams, nada nem ninguém o intimidava... nem o supercampeão Michael Schumacher.

 

O clima ficou pesado no ano seguinte e mesmo sendo mais rápido do que Ralf Schumacher, Juan Pablo estava decidido a não mais continuar na Williams e assinou com a McLaren. Mas a competitiva McLaren de 2003 parecia ser competitiva apenas para Kimi Raikkonen.

 

No ano de 2005 apesar de ter vencido três provas, o finlandês foi quem disputou o título com Fernando Alonso, vencendo sete corridas e fazendo paticamente o dobro dos seus pontos. Além disso, o problema para manter o peso e o corpo esquálido de um piloto para “vestir” um F1 foi deixando sua vida difícil.

 

No ano seguinte, o carro foi ainda menos competitivo... e Juan Pablo desmotivou de vez foi a contratação de Fernando Alonso pela equipe. Tendo Raikkonen como “filho querido” e um jovem chamado Lewis Hamilton na GP2 que era “cria da casa”. Teve o contrato rescidido logo após anunciar que correria na NASCAR EM 2007. “Ron Dennis é assim: nunca ‘sai por baixo’, sempre dá um jeito de ferrar você”.  

 

Na McLaren, uma relação conturbada que terminou com o rompimento do seu contrato no meio da 2ª temporada.

 

De certa foma, sair antes do fim da temporada acabou trazendo benefícios. Juan Pablo teve como treinar com carros das categorias de acesso, inclusive andando em ovais e pode disputar uma corrida da categoria ainda naquele ano, em Homestead... e logo conheceu “o pior da NASCAR”, quando se envolveu num acidente e teve o carro envolto em chamas no canteiro gramado diante de todas as câmeras de TV.

 

Isso não desanimou Juan Pablo, pelo contrário. Correndo não apenas na Sprint Cup, mas na Nationwide, conseguiu vencer em ambas – em circuitos mistos – além das 24 horas de Daytona. Parecia que era uma questão de tempo tornar-se constante. Sua certeza parecia auentar quando, no final de 2008 asinou com a Ganassi, mas desta vez na NASCAR, formando novamente a “parceria vitoriosa”.

 

Na NASCAR, duas vitórias e a volta de uma parceria com Chip Ganassi não foram suficientes para mantê-lo na categoria.

 

Em 2009, o resultado da parceria foi que pela primeira vez na história da NASCAR um estrangeiro entrava no ‘Chase’, apesar de algumas contestáveis decisões dos comissários em punições. Só que agora havia mais um adversário: o preconceito. Durante uma transmissão do campeonato universitário de futebol americano, os comentaristas referiram-se a uma má corrida de Juan Pablo com desdém. “Ele foi ali comer um taco”, comida mexicana o que só mostra a ignorância dos norte americanos em relação à América Latina.

 

A resposta com a vitória na corrida de Wakins Glen em 2010 acirrou algo que era maior do que o preconceituoso comentário dos narradores do canal da TV. Havia muito tempo que a Fórmula Indy fora invadida e dominada por estrangeiros... e a NASCAR era o reduto que restava aos americanos. Ter um estrageiro vencendo ali poderia levar outros estrangeiros como Emerson Fittipaldi fez com a Indy. Depois desta vitória forma mais de 100 corridas longe da bandeira quadriculada.

 

Juan Pablo, indicado por Rubinho, veio me procurar naquela altura – era nosso primeiro contato – e ele buscava se motivar, desafiar-se novamente para não cair no comodismo e ir ‘empurrando a vida com a barriga’. Por isso, acabou por decidir que o maior desafio seria voltar a Indy, onde havia espaço para estrangeiros com um clima mais leve e ele poderia voltar a vencer e sorrir.

 

Em Phoenix, os testes na Penske com Helio Castro Neves e o desafio de reinventar-se.

 

Poucos acreditavam que Juan Pablo entraria em forma, perderia peso e conseguiria ser competitivo na Fómula Indy, mesmo estando em uma das equipes mais fortes: a Penske. Ele mesmo não se cobrava uma vitória, mas sim conseguir andar bem e o melhor possível. Contudo, vencer as 500 milhas de Pocono foi um anúncio de que ele estava de volta e que, voltara para vencer.

 

Antes do final da temporada, Juan Pablo já estava andando na frente...

 

2015 vai ser, na cabeça de Juan Pablo, o ano da afirmação. O ano de voltar a disputar o título da categoria que o projetou mundialmente e mostrar ao mundo e principalmente aos norte americanos que ele não é um “comedor de tacos”, mas um dos melhores pilotos que já correu estas terras.

 

... e a vitória em Pocono - promete - é só o início da volta por cima.

 

Si, Juan Pablo: se puede!

 

Beijos do meu Divã,

 

Catarina Soares

 

 

 

 

Last Updated ( Sunday, 15 February 2015 20:24 )