Rubinho... de alma lavada! Print
Written by Administrator   
Thursday, 25 December 2014 20:38

Olá fãs do automobilismo,

Enquanto meus queridos leitores estiverem lendo esta coluna eu estarei na minha lua de mel com meu querido amado. Mas o final do ano de 2014 reservou tantas emoções além da minha ida para o altar que eu precisava reuni-las ao máximo para partilhar com vocês antes da minha folga que o querido chefinho Fernando sempre me concede.

 

Dez dias antes do meu casamento, numa das últimas sessões do ano, foi maravilhoso estar com o Rubinho Barrichello depois dele ter conquistado o campeonato brasileiro da Stock Car. Meu Deus, ele parecia um menino que ganhara o brinquedo tão sonhado.

 

Ele esteve no consultório uma semana antes. Foi uma sessão estranha, onde havia momentos de quase euforia e momentos onde um ar de apreensão. Apesar de estar com uma condição tranquila na tabela de pontos em relação aos adversários, a pontuação dobrada para o final da temporada em Curitiba dava mais chances aos concorrentes. Nada poderia dar errado.

 

Rubens fez uma brincadeira que eu, ser ignorante nas coisas do futebol, não entendi. Mas ele tratou de esclarecer do que se tratava o “deste ano não passa”. Afinal, são 23 anos de jejum. Rubens é torcedor do Corinthians e seu time ficou 23 anos sem ganhar o campeonato paulista de futebol, mesmo sendo o time mais querido da cidade e de maior torcida.

 

O ano era 1991 e o piloto da West Surrey preparava-se para largar em direção ao titulo. Ao lado, o campeão de 1990. 

 

Ele disse que lembrava bem daquela temporada da Fórmula 3 inglesa de 1991, com adversários difíceis como David Couthard e o também brasileiro Gil de Ferran (que ganhou o campeonato no ano seguinte). A disputa com o escocês foi prova à prova, até a última corrida em Truxon, dia 13 de outubro. O abandono de Couthard garantiu o título que praticamente foi conquistado na etapa anterior, mas foi suado, ele disse.

 

Sobre o fato da decisão ser em Curitiba, Rubens relembrou que foi ainda em 2012 que fez seu primeiro teste com o carro da Stock Car em uma segunda-feira de clima ameno e sem público. Ele lembrou que nosso Editor Chefe, o Flavio, esteve lá, fotografando tudo e que falou para ele “seu lugar não é aqui... ainda”. Rubens disse que ele s enganou... que era o lugar sim. Que ele estava bem e feliz!

 

Nem foi preciso vencer a última corrida do ano em Truxon... as quatro vitórias na temporada foram suficientes.

 

Ele falou sobre a loucura que era a visitação do pit lane, algo que deixava-o mais próximo do público e que depois de ter saído do Brasil para correr na Europa e que na F1 não tem isso, com os pilotos fazendo aquele desfile ‘sem graça’ pelo meio da pista, totalmente diferente daquela multidão de gente pedindo autógrafo, tirando foto, abraçando, olhando no olho... dando e recebendo carinho que ele nunca imaginava que seria tão grande.

 

Depois de uma semana, Rubens seguiu para Curitiba, onde chegou ainda na quinta-feira, ficando “imerso“ no ambiente da decisão. Ao invés de se instalar em um hotel, optou por ficar no motorhome, que considera mais cômodo e prático. A Família (Silvana, a esposa, e os filhos Eduardo e Fernando) chegou depois, na sexta-feira.

 

Ele me ligou na quinta-feira, no final do dia, dizendo que tinha chegado bem e que estava se sentindo muito tranquilo, assim como foi em outras corridas do ano, especialmente depois da vitória em Goiânia, que pareceu ter tirado todo o peso do mundo de suas costas. O seu tom de voz ao telefone era o mesmo de algumas das nossa sessões onde ele se mostrara mais tranquilo. Comecei a ver ali o título chegando.

 

23 anos depois, Rubinho Barrichello não cabia em si de tanta felicidade.

 

Rubens ligou novamente logo depois que marcou a pole position. Estava eufórico! Sentia que o título estava ali, ao seu alcance. Que tudo estava na sua dependência. Fazer uma boa largada, não se meter em confusão naquela chicane pra lá de complicada onde todos chegam juntos e sempre tem confusão. Saís dali inteiro era o ponto crítico. Dali em diante seria só administrar e correr para o título.

 

Para quem começou a correr de kart com 6 anos de idade e hoje, aos 42 anos – 36 anos depois – vê Rubens Barrichello transitando no paddock, trabalhando nos boxes, entrando no carro pode custar a entender como é esta relação com a velocidade. Em várias sessões ele disse que uma das coisas mais complicadas em casa é olhar para a esposa, Silvana, e deixar transparecer que a “aposentadoria” está mais longe do que o final da reta do autódromo curitibano. Para quem nasceu numa família com o seu sobrenome (Giaffone), isso deveria ser algo tão natural quanto levantar e escovar os dentes.

 

Para desespero dos filhos, ele deu "aquela sambadinha"...

 

Eram dez e alguma coisa (eu estava dormindo) quando o telefone tocou no domingo. Era Rubinho! “Doutora, tá acordada? Vai ver a corrida, né?” Eu tive que rir – baixinho para não acordar o meu noivo – e respondi: “claro que sim! Não vou perder esta corrida por nada”. E não perdi mesmo. Enquanto preparava o café da manhã/almoço fui preparando o espírito para as horas de velocidade que viriam. Afinal, além da corrida da Stock Car teria as 6 Horas de Interlagos (vi meu Editor na TV... que chique!).

 

Rubens tem dois filhos – Eduardo, com 12 anos e Fernando, com 8 – ambos já aceleram no kart, como não poderia deixar de ser carregando o sobrenome Giaffone Barrichello. Rubens tem uma enorme consciência da importância de formar bem seus filhos, primeiro como pessoas de bem e depois, de eles realmente assim desejarem, como herdeiros de seu sobrenome nas pistas do Brasil e do mundo. Até onde irão é muito cedo para se falar, mas apoio em tudo nunca faltará.

 

A corrida parecia não ter fim, mas quando foi dada a bandeirada de chegada para Daniel Serra, com Átila Abreu em 2º, era o carro azul #111 quem vinha em terceiro... para o pódio, para o título, para a festa.

 

Assim como seu time de futebol, o Corinthians, toda a felicidade de ser campeão novamente.

 

Levou os filhos para o pódio, mas parecia ter a mesma idade deles. Parecia aquele menino que ganhava corridas no kartódromo de Interlagos (só que nesta época – graças a Deus – não tinha a tal da “sambadinha”). Fez aquela “coisa” horrível que já virou uma de suas marcas registradas e a vitória de Daniel Serra ficou – como não deixaria de ser – em segundo plano.

 

Rubens Barrichello está feliz... feliz como há muito não o víamos. O pódio foi pequeno, o autódromo estava pequeno. Tanto que um desfile com Rubens em uma camionete levantou o público na arquibancada, fazendo acelerar o coração do piloto.

 

Passava um pouco das 15:30 quando meu telefone tocou. Era Rubens ligando, numa mistura de riso e choro, gritando – rouco – “É, campeão! É, campeão!” Na terceira eu já gritei junto. Foi maravilhoso. Ele parou de gritar isso e começou a agradecer por tudo o que fizemos neste último ano. Antes de desligar, falou: terça-feira estou aí!

 

Na festa do Champagne, fazer a seis mãos além de mais gostoso, já vai treinando os filhos a fazê-lo.

 

A nossa sessão foi uma avaliação sobre os assuntos que conversamos ao longo dos últimos dois anos, quando ele, efetivamente, passou a ser piloto da Stock Car, deixando a Fórmula Indy.

 

Quando uma pessoa procura uma terapia, uma das principais razões é a busca de encontrar ela própria e Rubens encontrou a si mesmo na Stock Car. Se não por inteiro, em grande parte. Há espaço para mais? Sim, é possível. A nossa vida é sempre uma sequência de buscas e descobertas. Por isso, Rubens e eu continuaremos nos encontrando e conversando...

 

Um feliz 2015 e beijos do meu divã,

 

Catarina Soares

 

 

 

 

Last Updated ( Thursday, 25 December 2014 22:19 )