Lost Lewis? Print
Written by Administrator   
Tuesday, 10 June 2014 00:38

Olá Fãs do automobilismo,

 

Vou começar a minha coluna desta quinzena com uma pergunta para vocês: Como você lida com a pressão em sua vida?

 

Para algumas pessoas, o trabalho sob pressão funciona como um “doping positivo”, um agente motivador que o deixa com os sentidos mais aguçados, os reflexos mais rápidos e mesmo as ações mais efetivas. Por outro lado, em muitos casos vê-se que este tipo de situação gera falhas de comportamento, não exatamente no sentido ético, mas no sentido de eficácia, tornando o indivíduo mais suscetível ao erro.

 

Lewis me ligou ainda na tarde do domingo, querendo antecipar a sua consulta, inicialmente marcada para o início da semana que vem. Acho que ele faria isso mesmo, devido ao calendário e para não ter que ir e voltar à Europa já estando aqui, deste lado do oceano atlântico, mas o tom de voz foi o que deixou claro não se tratar apenas de uma racionalização de agenda, mas sim de uma necessidade de conversar.

 

A imagem no pódio de Mônaco foi emblemática: Lewis estava transtornado.

 

É mais comum do que muita gente pensa ver pacientes que, mesmo com consultas regulares ao seu analista, quando passa por um momento de “pico de desconforto” (para deixar o conceito mais amplo) procura no profissional que o acompanha um “suporte”, um “vasodilatador”, uma “válvula de escape” ou – em alguns casos mais complexos – uma “muleta”.

 

O profissional precisa estar preparado para receber este tipo de variação comportamental instantânea, absorvê-lo e conseguir interagir com o paciente de forma a não apenas prover aquilo que, inicialmente e aparentemente ele busca, mas em fazer com que ele mesmo encontre as respostas às suas perguntas, que ele consiga vir a, sozinho, chegar a conclusões, tomar decisões e – no futuro – não precisar mais de um analista.

 

A relação entre Lewis e Nico ficou abalada após os treinos no GP de Mônaco.

 

Na terça-feira após o GP de Montreal Lewis estava no meu consultório. Gentil e atencioso como sempre, não deixando de trazer chocolates para tentar engordar a minha secretária ou não sei o que (será que a Nicole sabe disso?) e deu aquele “bom dia” sorrindo... mas o brilho, a expressão nos olhos não era a mesma de antes de Mônaco, nem de longe. Nem mesmo a de depois!

 

Após o ocorrido em Mônaco, que o deixou furioso, contrariado e onde se acendeu o “clima de guerra” na equipe Mercedes, Lewis sentiu-se pessoalmente prejudicado, não acreditando no “erro” de Nico na freada da curva Mirabeau. Tudo o que se seguiu todos nós lemos – por alto e superficialmente – via imprensa, sobre a “declaração de paz após uma série de conversas” dentro da equipe não convenceu ninguém que acompanhe razoavelmente de perto a Fórmula 1... e muito menos aqueles dentro da equipe Mercedes. As expressões faciais de Niki Lauda durante a transmissão da corrida quando os dois carros começaram a disputar a liderança mostrou bem isso.

 

Os problemas encontrados em ambos os carros na segunda metade da corrida foram mais críticos para Lewis do que para Nico, até mesmo por uma questão de estilo de pilotagem, mas um outro fator pesou para que Lewis exigisse mais do seu carro: Nico!

 

A relação de amizade e euforia das provas iniciais deu lugar a uma relação fria.

 

Quem prestou bem atenção na largada, viu que Lewis largou melhor e que, na primeira curva, para a esquerda, eles estavam lado a lado. Em condições normais, na curva seguinte, Lewis sairia na frente, mas aquela “espalhada”, o “leve toque” ou “quase toque” provocou a perda da segunda posição, pois Lewis cedeu o espaço para não bater e aquelas palavras ditas no “calor da batalha” de Mônaco sobre “o – mau – exemplo de Ayrton Senna” de como resolver conflitos não se voltasse contra ele.

 

Lewis passou, avançou, chegou em Nico e, quando ia ultrapassá-lo e tomar a ponta, eis que – mais uma vez? Nico errou a freada e passou reto na chicane. Com isso, não só não perdeu a posição, mas ainda abriu um pouco de distância. O caso foi analisado pelos comissários e Lewis esperou por uma punição ao companheiro, que não veio. Houve apenas uma advertência! Obviamente a Mercedes lutou junto à direção de prova para que Nico não fosse punido e, certamente, faria o mesmo por Lewis.

 

Isso passou pela cabeça de Lewis como até mesmo um protetorado ao piloto mais antigo da equipe, ao filho de um campeão do mundo, ao piloto da mesma nacionalidade da equipe e tudo o que mais pudesse passar em sua mente para colocá-lo como “apenas um ingleszinho” intruso naquela estrutura.

 

Quando abandonou o GP do Canadá e viu Nico continuar na pista, Lewis viu a diferença ficar enorme novamente.

 

Quando conseguiu, algumas voltas depois, passar pelo companheiro no mesmo ponto crítico e já depois de ter sido informado da decisão dos comissários em não punir seu companheiro, Lewis – teoricamente da mesma forma que Nico – não conseguiu fazer a chicane e passou reto. Diferente do que fez seu companheiro, devolveu a posição, numa forma de mostrar que não concordou com a decisão dos comissários.

 

Lewis conquistou a liderança na segunda parada dos boxes, quando ambos os carros da equipe já apresentavam problemas com os freios, mas porque só ele abandonou? Só ele não conseguiu administrar o problema e Nico o fez? A resposta estaria no passado?

 

Assistir dos boxes o companheiro conseguir manter-se na pista e terminar a corrida foi um golpe duro...    que só não foi pior porque Nico não venceu a prova. Aí seriam mais 7 pontos na vantagem que hoje é de 22, quase que uma vitória de vantagem, praticamente a mesma de depois do abandono na abertura do campeonato em Melbourne.

 

A Vitória de Daniel Ricciardo diminuiu o tamanho do prejuízo que Lewis teve em Montreal.

 

Lewis já tem um histórico de instabilidade. O que aconteceu nos campeonatos de 2007 e 2008 (o primeiro que ele perdeu e o segundo que ‘por pouco’ não perdeu), ambos em momentos críticos de pressão, poderiam ser atribuídos à sua pouca experiência. Contudo, depois de sete temporadas, isso não serviria mais como justificativa.

 

Quando houve a mudança para estes pneus de pouca resistência mecânica, Lewis foi um dos mais – talvez o mais – prejudicado em função destas alterações. Este ano, com pneus um pouco mais resistentes, ele conseguiu melhorar seu número de voltas rápidas em corrida, mas o novo fator que se apresenta à ele é mais complexo do que o enfrentado em 2007.

 

Naqueles anos, sua estreia na McLaren, Lewis foi uma enorme pedra na sapatilha do bicampeão Fernando Alonso e, não fosse o erro tolo cometido no GP do Brasil, teria sido consagrado como o melhor estreante da história da Fórmula 1 de forma incontestável. Além disso, na McLaren, ele era a grande aposta da equipe... desde seus 11 anos de idade! Na Mercedes, não. Ele é uma aposta de performance, mas não um “filho da casa”. Este lugar é de Nico.

 

Não é hora de se deixar abater, Lewis!

 

Lewis vai precisar um equilíbrio que um dia teve nos anos de GP2, vai precisar trabalhar duro e sem conflitos para recuperar-se e – principalmente – vai precisar não ser vencido por si mesmo!

 

Beijos do meu Divã,

 

Catarina Soares

 

 

 

 

Last Updated ( Wednesday, 18 June 2014 05:38 )