Meu terceiro Felipe Print
Written by Administrator   
Saturday, 12 April 2014 12:40

Olá fãs do automobilismo,

 

No seguimento da minha profissão, o número de clientes adolescentes – aqueles na faixa entre 12 e 19 anos – tem crescido impressionantemente ano a ano. Segundo o que tem sido debatido nos últimos congressos que participei, muitos especialistas no atendimento a este público específico apontam como uma das maiores razões para este crescimento é o aumento da pressão e da cobrança por desempenho em suas atividades, tanto na escola, em cursos extracurriculares e também na prática de esportes.

 

O meu mais novo cliente foi muito claro ao dizer que não veio até meu consultório para “encontrar respostas para perguntas não respondidas”, mas para buscar fazer um trabalho de fortalecimento mental, como um exercício, um treinamento, e com isso conseguir melhorar o seu desempenho profissional. Senti-me uma “personal trainner”!

 

Apesar dos seus 18 anos, ele tem uma enorme quilometragem e – ao contrário da maioria dos jovens de uma forma geral – trabalhar sob pressão, com cobrança de resultados (e ninguém cobra tanto estes resultados quanto ele) nunca foi um problema. Muito pelo contrário, sempre foi um combustível extra para que novos desafios se transformassem em conquistas.

 

Desde muito cedo Felipe Fraga já sabia o que queria ser na vida...

 

Desde seu início no Kart, chamou logo atenção. Afinal, de onde surgira aquele menino, saído de um estado no meio do país, longe de qualquer centro do automobilismo brasileiro? Muitos certamente lembraram de um outro menino que chegou um dia em São Paulo e assombrou aos demais garotos, vindo “do meio da selva”. Seria uma repetição daquele filme, sendo agora o protagonista um menino saído do alto cerrado brasileiro?

 

Goiânia e Brasília são berços de grandes pilotos, não apenas do cenário nacional, como também do cenário internacional, com dois pilotos de Fórmula 1 e três títulos mundiais na categoria, mas o Tocantins, um estado relativamente novo, mais perto da região norte do que do próprio planalto central poderia ser considerado um lugar improvável para o surgimento de um piloto, não? Não mesmo!

 

Felipe Fraga chegou veloz como um raio no cenário do kartismo nacional e, alguns anos depois, internacional. Colecionou títulos como um garoto de sua idade colecionaria figurinhas em tempos de álbuns da copa do mundo como a que está chegando. Mas a paixão deste menino estava longe de uma bola: era pneu, asfalto, graxa e gasolina!

 

Ao longo de sua infância e adolescência, Felipe destacou-se como um dos melhores kartistas do país.

 

Nos anos de kartismo, além dos títulos, Felipe Fraga colecionou admiradores! E admiradores de peso, como o multicampeão de kart Rubens Barrichello. É claro que Felipe era fã e grande admirador do Rubinho, na época um dos pilotos brasileiros mais jovens a chegar na Fórmula 1, mas seu talento já despertava a atenção não apenas de quem andava nas pistas, mas também de quem via nele um futuro brilhante.

 

As equipes e montadoras de kart apostavam em seu talento para conquistar títulos nos campeonatos que disputava. Mas “só isso” não era o bastante para dar seguimento na carreira. Era preciso ter o combustível dos patrocinadores, que seu desempenho nos kartódromos até atraíam, mas que ele também precisava de ajuda para conseguir.

 

Como praticamente todo menino que corria e corre de kart, Felipe sempre alimentou o sonho de chegar à Fórmula 1, e conseguiu dar o primeiro passo, testando em monopostos no Brasil e com os olhos voltados para a carreira no exterior. A Fórmula 3 sulamericana poderia ser um bom primeiro passo neste novo universo, mas os custos da categoria eram altos e questionar se valeria a pena ou não investir neste ano em uma categoria aqui no continente seria realmente produtivo foi pesado.

 

Com Rubens Barrichello, seu adversário hoje, um tanto de tietagem, um outro tanto de reconhecimento.

 

No fim, a opção pela Fórmula Renault na Europa acabou sendo o caminho escolhido, ainda mais com o suporte que ele conseguiu. Afinal, o caminho seguido por Sebastian Vettel, Daniel Ricciardo e outros pilotos que, ainda que não chegassem à Fórmula 1, estabeleceram-se como pilotos profissionais.

 

O ano na Europa foi produtivo, mas também mostrou uma dura realidade: para se dar seguimento a uma carreira internacional, nem sempre o talento é um fator preponderante. Por vezes, os contatos – e contratos – comerciais “aceleram mais forte” e o sonho da carreira internacional entrava em um dilema. Na verdade, Felipe Fraga tinha em mente uma coisa para sua vida: ser um piloto profissional! Se não pudesse ser na Europa, que fosse em outro lugar... e porque não no Brasil?

 

Nesta hora foi impossível não perguntar se aquilo não deixava uma mágoa, uma angústia, mas o “menino” se mostrou “bem homem” e não freou “antes do ‘Deus me livre’”. Reconhecendo que não fora uma decisão fácil, mas que era uma decisão a ser tomada se ele quisesse, realisticamente, ter uma carreira.

 

Testar na F3 Sudam foi uma boa experiência, mas o investimento na categoria não foi considerada uma boa opção.

 

Uma coisa me chamou a atenção: achei-o “grande demais”! Ele é alto – eu sei... eu sou baixinha – mas ele não é apenas alto, ele tem um porte físico que provavelmente seria um problema para o prosseguimento de uma carreira nos Fórmulas, ainda mais com esta “ditadura da magreza” que está sendo imposta aos atuais pilotos da categoria.

 

Felipe Fraga voltou para o Brasil decidido a não desistir de sua carreira como piloto profissional. Vendo que nos últimos anos diversos pilotos tem conseguido construir carreiras de sucesso, correndo no país, e assim, com seu pai, traçou um plano para realizar seu sonho de ser um piloto bem sucedido.

 

A opção pela Fórmula Renault na Europa poderia ser a abertura de portas, mas acabou por abrir os olhos de Felipe.

 

Primeiro, escolheu uma categoria onde pudesse aprender e desenvolver-se. Onde pudesse conhecer e adaptar-se aos autódromos do país, que pouco ou mal conhecia e – com os olhos no futuro – preparar-se para chegar à categoria onde a nata dos pilotos brasileiros, muitos com passagem pela Fórmula 1, correm.

 

Depois, contrataram para fazer o trabalho de “coaching” durante este ano de aprendizado, o piloto em atividade de maior sucesso no país, o detentor da maior quantidade de títulos (Ingo Hoffmann à parte, claro): Cacá Bueno. Aquele que poderia ser o melhor orientador para fazer um outro trabalho que seria fundamental: assimilar a cultura do carro de turismo, uma vez que, além do kart, as experiências foram com fórmulas.

 

De volta ao Brasil, no caminho da profissionalização, a mudança para os carros de turismo e um 'técnico' de primeira categoria.

 

O resultado – não da forma esperada, devido as confusões nos tribunais – veio como fruto de um trabalho bem feito: o título na categoria em que disputou e conseguir entrar para uma das mais tradicionais equipes da categoria, tendo como seu chefe o decano Mario Vogel.

 

Nos testes de pré temporada, em Curitiba, Felipe Fraga ignorou a presença de seu companheiro de equipe, um ex-piloto de Formula 1, ao qual “massacrou com o cronômetro. Era um sinal de alerta aos concorrentes: estou chegando para vencer!

 

Será que alguém se surpreendeu com o desempenho de Felipe Fraga no Brasileiro de Turismo? Campeão e ida para a Stock Car!

 

E a vitória veio antes do que mesmo os mais otimistas pensavam, mas na qual Felipe Fraga tinha confiança desde a primeira acelerada. A abertura festiva da Stock Car, com mais de 30 pilotos convidados, diversos do exterior e  correndo em fortes categorias já deixou todos com um olho mais atento naquele menino. Ele e o seu ‘convidado’ – o experiente Rodrigo Esperafico – largariam na primeira fila,com a 2ª posição.

 

Na corrida, sob chuva, uma largada cautelosa, evitando riscos excessivos, o fizeram perder duas posições, mas logo recuperadas, no talento, no braço. Após a bandeira amarela, uma relargada cautelosa e a queda para a 5ª posição, mas na hora em que andou com pista livre, Felipe Fraga voou no piso molhado de Interlagos, fazendo com que Rodrigo Esperafico voltasse à frente de todos os seus adversários, levando o carro #88 até a bandeira quadriculada.

 

Na primeira corrida, em Interlagos, o recado foi dado aos "medalhões da categoria: Felipe Fraga chegou para vencer!

 

E para quem ache que pode ter sido “uma sorte de principiante”, Felipe Fraga deixa escapar um sorriso discreto e tímido... “eles que pensem assim”!

 

Beijos do meu divã,

 

Catarina Soares 

 

Last Updated ( Sunday, 13 April 2014 16:49 )