Começar de novo, Nelsinho. Print
Written by Administrator   
Tuesday, 11 March 2014 23:39

Olá fãs do automobilismo,

 

Um dos grandes desafios que todo terapeuta passa em sua vida profissional, e que mais cedo ou mais tarde acaba se deparando: aquele paciente “travado”, que não fala. Introspectivo. E para isso não tem treinamento ou teoria de curso universitário para “ensinar” o futuro profissional a lidar com isso. Afinal, não existe “fórmula”. Cada pessoa é diferente.

 

Quando eu vi na imprensa a notícia de que Nelsinho iria participara da pré-temporada da equipe de Antônio Hermann na Blancpain Sprint Series, logo pensei: e o projeto nos Estados Unidos? Como fã e torcedora do Nelsinho, fiquei naquela curiosidade de saber os motivos, mas como o mais perto que tinha conseguido chegar dele foi na arquibancada no Desafio Internacional das Estrelas do ano passado, achei que só saberia algo mais – se viesse a saber – pelos noticiários.

 

Eis que recebo um telefonema do Bruno Senna na semana passada perguntando se eu teria algum paciente depois da sessão dele (18 horas). Eu disse que não... ele então perguntou se eu me importaria de atender um amigo dele que ele achava que seria bom ele conversar comigo, essas coisas.

 

Eu disse que não tinha compromisso para aquele dia até as 21 horas e que não haveria problema... nem perguntei quem era o amigo, mas quando fui na recepção recebê-lo que vi o Nelsinho ali sentado, mexendo no smartphone, de cabeça baixa... aiai... confesso: deu uma tremedeira nas pernas...

 

 

Ele parou, deu um sorriso tímido, cumprimentou-me e eu tive que me recompor mais rápido do que um pitstop de carro do DTM. Afinal, ali eu não era a fã, eu era a terapeuta e tinha que ser profissional. Disse que ele ficasse à vontade, que se sentisse em casa enquanto o Bruno foi entrando para o consultório.

 

A consulta do Bruno passou que eu nem senti (conto esta outro dia). Na saída ele deu um cutucão no amigo e falou: “vai lá, ‘Nerso’, agora e tua vez”. E assim, com um sorriso bem receptivo, mas cheio de ansiedade, recebi aquele gatão tímido no meu consultório.

 

Como costumo fazer, procuro um assunto diverso para deixar o paciente mais relaxado e no caso dele, ataquei pelos cabelos! Elogiei os cabelos do Nelsinho perguntando se era uma herança materna... disse que tinha visto um tempo atrás umas fotos da mãe dele e que a achei muito bonita e que o cabelo dela havia chamado minha atenção. “coisas de mulher, sabe”?

 

 

Ele riu! Assim começou nosso papo, falando do cabelo da mãe dele, mas que não demorou muito a ir direto ao ponto: Nelsinho mostrou-se uma pessoa muito direta e objetiva quando se diz respeito ao que pensa e ele estava incomodado com a situação que estava passando na NASCAR, nos Estados Unidos.

 

Depois de toda aquela confusão que acabou por fechar as portas da Fórmula 1 para ele, a ida para os Estados Unidos não havia sido uma fuga, mas sim uma busca de recomeço num lugar onde o automobilismo é negócio, claro, mas onde ainda havia e há uma preocupação o equilíbrio da disputa.

 

Nelsinho falou sobre a adaptação de um piloto que anda toda uma vida em circuitos mistos para os circuitos ovais, que são diferentes entre si, em termos de piso, de inclinação de curvas, de extensão e de formato. Era uma vida nova, mas que mostrava-se promissora. Afinal, nunca um brasileiro conseguiu se estabelecer na NASCAR e trilhar um caminho de formação e crescimento poderia levá-lo até a categoria principal.

 

 

O programa de crescimento foi dando certo... pelo menos até 2012. Apesar de não estar ao volante de um carro das melhores equipes... e sempre há equipes melhores e piores, claro que sem as abissais diferenças que vemos na Fórmula 1, por exemplo, Nelsinho conseguiu conquistar resultados consistentes neste seu “processo de aprendizado”, inclusive conquistando vitórias e pole positions na primeira das categorias de acesso, a Truck Series.

 

Mais do que isso, a clara evolução de Nelsinho apareceu em corridas esporádicas na categoria intermediária, a Nationwide Series, onde conseguiu vencer, em 2012, a corrida de Road América. Junto com o bom desempenho na Truck Series naquele ano, tudo mostrava que o terreno estava consolidado para ser dado o passo seguinte: fazer a temporada completa da Nationwide!

 

2013 foi um ano crítico. A equipe Turner, dos sócios Steve Turner e Harry Scott Jr, onde Nelsinho correra no ano anterior e conquistara vitórias tanto na Truck Series como na Nationwide. Acontece que as coisas não correram como no ano anterior. Nem mesmo nos circuitos mistos, que seriam uma “vantagem natural” para Nelsinho, o resultado passou perto de uma vitória. Ter como melhor resultado um 8º lugar no Kentucky era algo que não estava nos planos. Terminar como 12º no campeonato e ser o 3º “Rookie” poderiam “mascarar” o que Nelsinho considerou um mau desempenho, mas a verdade é que, para pensar mais alto, seria necessário uma equipe com uma estrutura melhor.

 

 

O rompimento da sociedade entre Steve Turner e Harry Scott Jr no intervalo entre as temporadas de 2013 e 2014 foi interpretada como um reflexo de uma divisão entre eles por uns, e uma consequência por outros. Contudo, neste processo, a “corda” rompe sempre do lado mais fraco, que é o piloto, que tem que obter resultados e angariar patrocínios.

 

Nelsinho investiu seus esforços no projeto nos Estados Unidos. Teve patrocínio da empresa do pai, a Autotrac, de Nelson Piquet? Sim, mas não numa posição de “bancar a carreira do filho”. Nelsinho passou longe de ser um piloto “filhinho de papai”. Teve que mostrar resultados para subir nas categorias que disputou e para continuar na Nationwide, ele veio trabalhando em busca de reunir patrocínios para fazer a temporada completa. O que não será possível.

 

O projeto não está abandonado. Há planos de disputar provas na Nationwide este ano, conseguir bons lugares e ter chance de fazer boas provas, mas o projeto de ingressar numa categoria que corre na Europa é igualmente atraente... e o acordo com Antônio Hermann por pouco não se concretizou ainda no ano passado.

 

 

Nelsinho retorna à Europa e um novo caminho pode surgir diante de seu parabrisa. Quem sabe este possa vir a ser o primeiro passo num caminho maior. Antônio Hermann sonha com uma equipe no Mundial de Endurance, quer uma equipe disputando as 24 horas de Le Mans. Aos 28 anos, ainda há muito asfalto pela frente.

 

Acelera Nelsinho!

 

Beijos do meu Divã,

 

Catarina Soares

 

 

 

 

Last Updated ( Wednesday, 12 March 2014 00:01 )