Atitudes corretas costumam nos levar ao lugar certo, Felipe Print
Written by Administrator   
Wednesday, 26 February 2014 16:21

Olá fãs do automobilismo,

 

A coluna desta semana me rendeu um “puxão de orelhas” do meu chefão durão, mas valeu a pena esperar. Por conta dos voos, o Felipe só conseguiu chegar no final da tarde e se por um lado foi angustiante esperar por ele, por outro, valeu a pena poder conversar bem tranquilamente com nosso mais novo piloto da Fórmula 1.

 

Tem muita gente que acha que só se deve ou só se procura um psicólogo quando se tem “algum problema”. O psicólogo é, antes de tudo, um amigo, mas num sentido diferente. Afinal, não há uma relação de intimidade sentimental, mas uma confiança mutua e uma atitude profissional. Essa foi a primeira visita de Felipe, que veio por indicação do seu xará e agora companheiro de equipe, Felipe Massa.

 

Observando o semblante sereno e simpático deste “novo Felipe” eu percebi uma sensação mais de alívio do que propriamente de satisfação pela sua condição de piloto de testes da Williams para este ano. Não que ele não tivesse satisfeito, mas por trás do sorriso afável era notório enxergar ainda alguns traços de inquietação e incertezas que angustiavam esse quase menino, ainda, com relação ao seu futuro.

 

Procurei deixá-lo bem à vontade e brinquei com ele sobre como era possível para mim, uma leiga, conseguir diferenciar “comida árabe” de “comida libanesa”. Ele disse que são parecidas, mas que tem algumas diferenças no preparo, nos temperos e alguns outros ingredientes. Sendo ele filho de uma família libanesa, e que a sua família preservava muito as tradições dos primeiros Nasr chegados ao Brasil, em casa sempre há comida “local”.

 

 

Felipe mostrou-se muito apegado as coisas de sua família e isso certamente, como ele mesmo confirmou, acabou levando-o ao automobilismo, seguindo os passos do pai e do tio – Amir – que foi dos quatro irmãos aquele que mais destacou-se como piloto e que acabou criando a equipe Amir Nasr Racing, onde trabalham todos e onde Felipe pode ter o primeiro contato com este mundo.

 

Para Felipe, ter o apoio em casa é fundamental, mas desde cedo os Nasr também são ensinados de que é preciso trabalhar para se conseguir as coisas e se esforçar para consegui-las por seus próprios méritos. Com isso Felipe foi estimulado a procurar conseguir, com os seus resultados, conquistar os meios para mantê-lo na carreira que ele escolheu, independente de um “Narstrocício”!

 

Em 2004, Felipe dividia seu tempo entre Brasília e São Paulo, onde disputava o campeonato paulista de kart.

 

A boa formação no kart levou Felipe à condição de poder ir mais longe, sonhar realmente alto e buscar o automobilismo no exterior, apontando desde o início para a carreira nos monopostos de fórmula, fugindo da categoria onde sua família se destacou nas pistas durante anos, mas fazendo uso do que tinha “em casa”. Felipe confessou que as instalações da ANR tem alguns simuladores para treinamento de pilotos e ele usou bastante o equipamento.

 

A opção pela Fórmula BMW nos Estados Unidos permitiu que Felipe se adaptasse aos carros de fórmula num nível de competitividade menos acirrado do que se vê na Europa e pudesse assim se concentrar em aprender. Foi uma decisão bem pensada e as duas corridas disputadas em 2008 mostraram que ele estava pronto para enfrentar grandes desafios. Afinal, ele já conseguira um pódio.

 

Na F. BMW europeia, Felipe dominou a categoria e derrotou o espanhol Daniel Juncatela e o holandês Robert Frinjs.

 

Em 2009, correndo com a equipe patrocinada pela Red Bull no campeonato europeu da Fórmula BMW, a conquista do primeiro título internacional passava também por derrotar o companheiro de equipe, num esquema onde não havia favorecimentos. Vencer 5 corridas e estar no pódio em 14 das 20 etapas do campeonato, com 6 poles e 6 voltas mais rápidas deram credencial para Felipe ir para a Inglaterra, para o campeonato de Fórmula 3 com os olhos dos chefes de equipe já virados em sua direção.

 

Felipe também chegou a fazer três corridas na Fórmula BMW do Pacífico, voltada para países da Ásia e Oceania. Venceu duas, fazendo “tudo” (pole, vitória e volta mais rápida) e a chegada na Inglaterra estabeleceu uma parceria que viria a durar anos!

 

Ao trabalhar com a equipe de Kimi Raikkonen e seu empresário, Steve Robertson,  Felipe acabou tendo uma relação que iria além dos cockpits e dos boxes da equipe, com o empresário passando também a cuidar dos seus interesses junto com o tio – Amir – que usou o seu lado de contatos e experiência dos anos em que correu na Europa para continuar o trabalho de formação do sobrinho.

 

Pela Carlin, campeão da F3 Inglesa em 2011.

 

Se no primeiro ano o mais importante era aprender – e Felipe aprendeu muito – no segundo ano era o ano para ganhar. Ganhar o campeonato. Se em 2010, no ano de estreia, a primeira vitória já aconteceu, no segundo ano, quando foi para a tradicional e vencedora Carlin, o título era o único objetivo. E ele veio, com 7 vitórias e 14 pódios. Além disso, o segundo lugar no tradicional GP de Macau credenciava Felipe a ser um dos nomes fortes para a GP2.

 

Mas quando se chega neste estágio da carreira, na maioria das vezes o dinheiro fala mais alto que o talento e a ida Mara a DAMS em seu primeiro ano de GP2 não foi o melhor dos mundos. O foco da equipe estava em Davide Valsechi, piloto italiano que já tinha alguns anos na categoria – que acabou sagrando-se campeão – mas coube a Felipe o aprendizado da forma mais dura. Mesmo assim, ele chegou quatro vezes ao pódio.

 

Reeditar a parceria vitoriosa com a Carlin parecia ser uma boa aposta. A Carlin tinha um bom corpo técnico e capacidade para fazer seus pilotos brigar pelo título e, com os principais concorrentes “patinando” na primeira metade do campeonato, bastaria unir algumas vitórias à regularidade que ele vinha tendo que o título seria algo alcançável.

 

Na GP2, quarto no campeonato, mas nenhuma vitória.

 

O problema foi que alguns erros da equipe e outros assumidos por ele mesmo comprometeram o desempenho na segunda metade do campeonato e com isso, permitiu a reação dos favoritos pelo título. Foi um tanto quanto frustrante para Felipe uma vez que a categoria é acompanhada de perto por todos os chefes de equipe da Fórmula 1, objetivo de todos os pilotos da categoria.

 

Tanto Felipe quanto seu empresário e sua família tinha consciência de que aquele ano de 2013 seria crucial para as ambições futuras de uma carreira na Fórmula 1. Se não fosse para conseguir um lugar razoável no grid, que se conseguisse uma vaga como piloto de teste que o permitisse andar no carro. Era isso ou nada!

 

Não faltaram tentativas, em diversas direções, mas as coisas não são fáceis quando se trata da quantidade de dinheiro envolvida a partir do momento em que se fala “Fórmula 1”. Ter perdido um patrocinador privado, forte, como deveria ser o Eike Batista acabou “podando” as asas de Felipe.

 

Depois de muita negociação, finalmente o contrato com a Williams.

 

Um acerto com a Williams que havia sido discutido estava quase descartado e acabou salvo pela entrada de Felipe Massa e da Petrobras como fornecedora de combustível e lubrificantes. O outro patrocinador pessoal – o Banco do Brasil – acabou por garantir um projeto interessante para Felipe na Williams.

 

Ter feito sua primeira participação no Bahrein na semana passada e com um excelente resultado de pista foi mais do que  Felipe poderia querer. Além disso, serão 5 corridas onde ele pilotará no treino livre das sextas-feiras, além da participação nos treinos coletivos. Pode não ser o melhor dos sonhos, o melhor dos mundos, mas com a mudança do regulamento e com o fato da Williams estar com “o motor certo”, as chances de Felipe conseguir um lugar permanente e como titular aumentam.

 

Que possamos ver cada vez mais este sorriso, Felipe.

 

Atitudes corretas costumam nos levar ao lugar certo, Felipe e você é um exemplo disso!

 

Beijos do meu divã,

 

Catarina Soares

 

Last Updated ( Wednesday, 26 February 2014 17:29 )