Paul di Resta e seus fantasmas Print
Written by Administrator   
Saturday, 25 January 2014 11:50

Olá fãs do automobilismo,

 

Retomando as consultas depois de merecidas férias onde pude visitar meus pais no interior do Paraná, estou de volta ao meu trabalho e às sessões de análise com meus pacientes... e a agenda estava cheia, ainda com “consequência dos estilhaços” do fim de uma temporada que, se pareceu fácil para o campeão, foi muito dura com alguns dos pilotos que não receberam os “holofotes” que desejavam... tanto em direção como em intensidade.

 

Quando Paul entrou no consultório mostrou-se bastante desconfortável. Ele disse que nunca tinha procurado este tipo de ajuda antes e que a vinda havia sido uma indicação de Mark Webber, uma vez que, de uma certa forma – palavras dele – tivemos a mesma “pedra no sapato”.

 

Tentei descontrair um pouco e acabei por “roubar” um sorriso tímido deste escocês da pequena Uphall. Aquilo fez com que ele “baixasse um pouco a guarda” e começasse a falar da infância e de como ouvia o avô falando das façanhas de Jim Clark e Jackie Stewart nos anos 60 e 70, dizendo que a Escócia tina “a velocidade no sangue”.

 

Certamente o seu primo mais velho – Dario Franchitti – também ouviu as mesmas estórias e acabou sendo uma fonte de inspiração mais próxima para o pequeno Dario, que aos 8 anos já estava sentado em um kart, disputando a primeira prova de sua vida no condado de Livingston.

 

Com toda influência familiar, aos 8 anos de idade Paul já estava em um kart.

 

Seguindo os passos do primo que já era piloto, Paul passou por todas as categorias do kart e foi campeão britânico da categoria em 2001, tendo sido vice campeão europeu dois anos antes. Talento não faltava, quilometragem também não. Era hora de seguir para os monopostos.

 

Entre as opções disponíveis, a Fórmula Renault apresentou-se a mais viável e andando na categoria, por três temporadas no campeonato britânico e, eventualmente, fazendo algumas provas fora da ilha, Paul sentiu na pele o fato de não ser um piloto “endinheirado” e levou algum tempo para conseguir – com méritos – atrair patrocinadores que acreditassem no seu talento. A primeira vitória só veio na segunda temporada.

 

Como kartista, Paul di Resta foi vice campeão europeu e campeão britânico. Era hora de dar o passo seguinte.

 

Isso só aconteceu na terceira temporada, quando conquistou quatro vitórias e outros quatro pódios, conseguindo terminar o campeonato na terceira colocação. Além disso, naquele ano de 2004 Paul comentou com emoção sobre a conquista de uma corrida, que é promovida pelo clube de pilotos britânicos, onde jovens pilotos disputam um prêmio oferecido pela Autosport e pela McLaren. Aquilo foi o empurrão que faltava para dar o passo seguinte: a Fórmula 3.

 

No primeiro ano, as mesmas dificuldades se apresentaram: não ter o melhor equipamento, não ter um “bugget” como o dos pilotos que andavam no pelotão de frente obrigaram Paul a ir “além do limite”. Foi assim, superando-se, que Paul conquistou seu único pódio, mas se as vitórias – na pista – não vieram, fora delas, foi o suficiente para chamar a atenção da Manor, que apostou nele para a temporada seguinte, que marcaria a vida de Paul para os anos seguintes.

 

Seu maior adversário para aquela temporada em 2006 era um fenômeno alemão, que vencera praticamente todas (18 de 20) corridas do campeonato alemão da Fórmula BMW em seu país, e que chegava para disputar a Fórmula 3 britânica com uma montanha de dinheiro de patrocínios da BMW e da Red Bull: Sebastian Vettel.

 

Na Fórmula Renault, pouco dinheiro e muito trabalho para conseguir se fazer notado.

 

Acontece que na Fórmula 3 inglesa as disputas são acirradas e entre os pilotos do pelotão da frenta, as diferenças são feitas “no braço”... e foi na base do talento que Paul derrotou o prodígio alemão e sagrou-se campeão da categoria. Foram cinco vitórias e outros 4 pódios, além da vitória no “masters” da categoria, disputado em Zandvoort.

 

Mas qual seria o passo seguinte? A lógica mandaria Paul para a GP2... e não foi por falta de esforço. Mas nem o título da prestigiada Fórmula 3 foi suficiente para que Paul conseguisse uma vaga em uma equipe que lhe desse mínimas condições de aparecer diante dos chefes de equipe da Fórmula 1. Para andar no fundo do pelotão e ter que fazer milagres na pista para conseguir uma classificação razoável .

 

Paul disse que foi um momento muito difícil da sua vida. Era preciso pensar profissionalmente e encontrar uma categoria onde ele pudesse desenvolver uma carreira como piloto profissional e – quem sabe – encontrasse um “supporter” para conseguir “voar mais alto” e foi aí que a Mercedes Benz entrou na sua vida.

 

Na Fórmula 3, uma difícil batalha contra Sebastian Vettel e a conquista do campeonato.

 

Paul conseguiu um teste para a categoria e impressionou a todos. Não foi o “emprego dos sonhos”, mas foi o que deu para arranjar e ainda receber salário todos os meses. No campeonato de estreia, em 2007, correndo com um carro dois anos defasado, terminou em 5º no campeonato, conquistando quatro pódios.

 

O feito rendeu uma “promoção” e no ano seguinte ele estaria num dos carros novos da equipe. O resultado não poderia ter sido outro que não colocar-se como um dos favoritos ao título. As duas vitórias e os quatro pódios eram mais um reflexo do que uma circunstância em uma categoria tão dura e disputada que nenhuma outra categoria via os carros andando tão próximos.

 

Após o terceiro lugar no campeonato de 2009, Paul voltou a pensar mais constantemente na Fórmula 1, com a compra da Brown pela Mercedes. Quem sabe era uma chance de finalmente chegar onde sempre sonhou, mas os planos do departamento de competições era outro e a equipe foi montada com Nico Rosberg e Michael Schumacher.

 

 

Na pista, foram 5 vitórias e mais 4 pódios, além da vitória no Masters em Zandvoort. O passo seguinte era a GP2.

 

Mas, na cabeça de Paul, havia uma outra possibilidade: a Mercedes fornecia motores para a McLaren e Force Índia. Quem sabe não poderia encontrar em uma destas equipes a porta de entrada – com o suporte e o aval da montadora – para a Fórmula 1? E a melhor maneira para tentar convencer Norbert Haug e o corpo técnico era vencendo o campeonato naquele ano de 2010... e ele conseguiu!

 

Não apenas conseguiu, mas conseguiu também a vaga na Force Índia. Não era a equipe titular,mas estava no grid.

 

Na pista, as coisas não saíram como Paul queria. Tendo um companheiro de equipe também alemão e com mais quilometragem de Fórmula 1 – Adrian Sutil – acabou saindo-se pior do que esperava. Fez 27 pontos contra 42 de Sutil e sua melhor colocação foi um 6º lugar, mesma colocação da equipe no mundial. O problema é que além de ver o companheiro andar na frente, ele assistiu um domínio avassalador daquele que um dia ele derrotou na pista: Sebastian Vettel.

 

Paul deixou claro que não lamentava nem torcia contra o alemão da Red Bull, mas também não escondia que achava que, se tivesse o suporte financeiro que Sebastian Vettel teve ao longo de sua carreira, ele também seria campeão do mundo de Fórmula 1. Mais que isso, Paul acredita que se tivesse apenas a mesma condição dada ao alemão, conseguiria vencê-lo na pista.

 

Sem conseguir a vaga na GP2, Paul di Resta foi para o DTM. Destacou-se na Mercedes e foi campeão em 2010.

 

O problema é que, no ano seguinte, em 2012, Paul teve como companheiro na Force Índia outro alemão: Nico Hulkenberg, que ficara um ano como piloto de testes por ter perdido a vaga na Williams para o dinheiro do Pastor Maldonado. Era a hora de se impor perante o  companheiro de equipe... mas isso não aconteceu. Ambos conseguiram um 4º lugar ao longo do ano, mas Hulkenberg foi mais rápido e mais constante, marcando 17 pontos a mais... e Paul assistiu mais uma conquista de título de Sebastian.

 

O terceiro ano de Force Índia começou com uma frustração: com a saída de Michael Schumacher da Mercedes, Paul tinha esperança de ser lembrado para a equipe, mas depois de ter sido batido novamente pelo companheiro de equipe – ainda mais sendo ele um compatriota – só se houvesse uma determinação expressa por parte do departamento de competições da motadora... o que não houve.

 

Mais uma vez seu companheiro de equipe seria Adrian Sutil que tinha ficado um ano fora da categoria por conta das confusões que arranjou fora dela. Nico Hulkenberg havia se mudado para a Sauber e Paul tinha consciência de que não poderia ficar atrás do companheiro de equipe mais uma vez... e não ficou.

 

Com o sucesso no DTM, conseguiu uma vaga na Force Índia, que usa motores Mercedes... mas nem tudo correu bem.

 

Fez quase o dobro dos pontos de Adrian Sutil, conseguiu o melhor resultado da equipe no ano com um 4º lugar no Bahrein e a equipe estava à frente da McLaren no campeonato de construtores na primeira metade do campeonato, mas uma mudança na construção dos pneus prejudicou a equipe e a Paul, que acabou fazendo uma segunda metade nada boa. Apesar do 6º lugar no mundial de construtores, Paul acabou sem um cockpit para este ano.

 

O retorno ao DTM não é algo que passasse pela cabeça do piloto. Afinal, com apenas 27 anos, Paul acha que pode fazer mais em um Fórmula 1 e o DTM, apesar de garantir sua vida como piloto profissional, nesta altura da vida, não parece nem com um prêmio de consolação.

 

A luta agora é para conseguir ao menos ser o terceiro piloto da equipe de fábrica e fazer um bom trabalho no simulador. Quem sabe, com a cobiça sobre os pilotos titulares – Lewis Hamilton e Nico Rosberg – ele consiga um dia voltar à Fórmula 1 como piloto titular da Mercedes. Talvez por isso a possibilidade de ir para os Estados Unidos correr na Fórmula Indy, como um possível substituto de seu primo, Dario, na Ganassi.

 

Após três temporadas na equipe indiana, Paul perdeu o lugar na equipe, não conseguiu outro cockpit e voltou para o DTM.

 

O mais importante neste processo é mostrar que o piloto rápido e combativo não se perdeu nas brumas da Fórmula 1 e lembrar que o DTM é um campeonato tão difícil que nenhum piloto de ponta que foi da Fórmula 1 para lá conseguiu ser campeão.

 

Não perca seu foco e honre suas tradições, Paul. Os escoceses são velozes por natureza.

 

Beijos do meu Divã,

 

Catarina Soares