Mark Webber: viver e ser feliz! Print
Written by Administrator   
Monday, 16 December 2013 11:56

Olá fãs do automobilismo,

 

Logo depois do GP do Brasil, no dia seguinte, o consultório que aluguei temporariamente em São Paulo estava mais movimentado do que o tumultuado aeroporto internacional de Guarulhos. Meu Deus, não seu como vai ser aquilo com os turistas extras que virão para a Copa do Mundo. Se o estádio aqui de Cuiabá conseguir ficar pronto (passo na frente todos os dias a caminho do trabalho e cada vez fico mais insegura quanto a isso), vou tirar minhas férias e fugirei para o sossego da casa dos meus pais no interior do Paraná.

 

Depois de terminada a consulta com o Romain Grosjean, tomei um café – forte – e pedi que o Mark, que já aguardava na sala de espera, entrasse. Queridos leitores, nem parecia aquele homem atormentado, de linhas de expressão fundas, marcadas no rosto. Em momento algum nestes dois anos que ele esteve comigo vi um sorriso tão fácil e despreocupado em sua boca!

 

Perguntei se ele estava bem depois daquele “tombaço” no pódio quando ele caiu de cara no pódio... ele falou que nem sentiu! Também, pudera, ele era o retrato da euforia naquele momento. Parecia que tinha sido ele o vencedor da corrida. Na verdade, ele vencera uma corrida, sim. Uma corrida pela dignidade, pela sobrevivência, pela sua autoafirmação.

 

Final do GP do Brasil: um grito silencioso de liberdade ao tirar o capacete!

 

Ele perguntou se eu tinha visto a corrida no autódromo, se eu tinha gostado... confessei a ele que não, que assisti pela televisão e disse a ele quanto custava o ingresso para assistir a Fórmula 1 ali, na reta de chegada em Interlagos. Ele ficou horrorizado quando fez a conversão para dólares australianos e disse que na corrida em seu país o ingresso é cerca de 30% menor... mas o pior foi a bronca.

 

Mark ficou furioso porque eu não aceitei o convite que ele fez para eu ficar nos boxes da Red Bull como sua convidada. Expliquei pra ele que era complicado aceitar este convite e recusar o do Romain, o do Felipe, o do Lewis, o do Pastor... Achei que se eu fosse para um dos boxes, ficaria chato eu estar lá e não em um dos outros. Além do que, perderia as hilárias gafes do Galvão Bueno. Ele deu uma gargalhada quando falei do nosso narrador.

 

Mas o que ele queria mesmo fazer era desabafar, colocar pra fora todas as angústias dos últimos anos de Red Bull e da difícil convivência com Helmut Marko. Mark confessou que, por várias vezes pensou em mandar o “eminência nada parda” para os quintos dos infernos por conta do envenenamento do ambiente que a postura dele causava dentro da equipe. Ele disse que nas vezes que isto esteve prestes a acontecer, foi Christian Horner que contornou a situação e acabava convencendo-o a ficar.

 

Sufoco: durante os cinco anos de convivência com Sebastian Vettel e Helmut Marko, foram muitos momentos assim.

 

Se tinha uma pessoa que nunca duvidou do talento e da capacidade de Mark Webber dentro da equipe foi o seu chefe. Tanto que, quando a equipe decidiu em 2008 que Sebastian Vettel estava pronto para passar da toro Rosso para o time principal, uma reunião na sede da empresa na Áustria foi crucial para Mark, sem que ele soubesse.

 

Helmut Marko queria que David Couthard continuasse como piloto na equipe e que ele, Mark, fosse dispensado! Foi Christian Horner que disse não, que preferia trabalhar com Mark, argumentando que o australiano exigiria mais de Sebastian Vettel do que o veterano escocês... algo – aparentemente – longe dos planos de Helmut Marko, que preferia ter um “piloto sênior” para treinar seu pupilo. David gozava de tanto prestígio dentro da equipe que acabou tornando-se um piloto para apresentações, mantendo um contrato com a Red Bull.

 

Se tem uma coisa que Mark lamenta muito foi o acidente no final da temporada de 2010, quando fazia montain bike. Ele confessa que foi algo estúpido e irresponsável, e que perdera o campeonato ali. Naquele ano, Sebastian [Vettel] ainda não era campeão e os dois postulavam o título, com Mark em vantagem na tabela de pontos, para irritação de Helmut Marko, que fazia de tudo para desequilibrá-lo emocionalmente, fazendo declarações à imprensa exaltando as qualidades do alemão em comparação com ele.

 

Problemas no carro? Quase sempre no de Mark, quase nunca no de Sebastian.

 

Mark confessou que, se aquilo fosse algo do gênero, três ou quatro anos antes, poderia ter afetado-o, mas depois de tantos anos na categoria, vendo e ouvindo tudo o que ele viu e vivenciou, aquele tipo de joguinho psicológico não fazia mais efeito, mas Helmut Marko queria vencê-lo pelo cansaço.

 

Pelo cansaço ele não venceu, mas algumas coisas, digamos, muito mal explicadas marcaram os anos de convivência com o agora tetra campeão do mundo, Sebastian Vettel. Nem tanto por episódios como o da famosa asa dianteira nova, que foi instalada no carro do alemão, mas que naquela corrida na Inglaterra, foi Mark quem saiu vencedor. Pelo rádio, mandando uma bela alfinetada para Marko:”nada mal para um piloto número 2!” Essa nem o Christian Horner gostou e teve uma conversa séria na reunião pós corrida por conta daquilo. Afinal, o mundo inteiro ouviu!

 

Pior mesmo foi a “insistência de seu KERS não funcionar”, especialmente nas largadas. Foi um dos poucos momentos em que ele fechou a cara: “eu fazia papel de idiota diante de todas as pessoas assistindo a corrida e eu não tinha a menor culpa daquilo. A coisa simplesmente não funcionava, passando a funcionar no meio da primeira volta, mesmo assim, durante a corrida, por vezes, falhava. Estranho é que só acontecia no carro dele... Mark concordou!

 

Tchau, F1: depois de muitos sapos engolidos, Mark mandou todos às favas e foi tratar de ser feliz.

 

Mark disse que, em 2012, viu sua melhor chance de ser campeão depois de 2010. O alemãozinho não se acertara com o carro no início da temporada e Mark começou a fazer resultados mais consistentes que os obtidos pelo bicampeão do mundo. Foi o suficiente para que Helmut Marko voltasse a criticá-lo, coisa que praticamente não o fizera durante o ano de 2011. Até a metade do campeonato, estava tudo em aberto, mas aí o Adrian Newey descobriu uma forma de aumentar a tração do carro nas saídas de curva. Com isso a Red Bull deu um passo adiante das outras e quem colheu os frutos? Pois é!

 

Mas agora é vida nova, Mark sentia-se leve como uma pluma. Chegou aqui no consultório com uma camisa branca, com uma Porsche estampada e falou. “vou pegar o voo para a Alemanha com ela! Quero que todo mundo veja que a Fórmula 1 é uma página virada e que minha vida agora está voltada para o mundial de endurance”.

 

Na Porsche, uma vida nova, um desafio novo e a possibilidade de mostrar todo o seu talento, sem restrições.

 

Para ele, a “gota d’água” foi aquela ordem de boxe não obedecida por Sebastian Vettel e que quase fez o episódio da Turquia se repetir. Se tivesse sido a situação inversa, Mark diz que “teria sido queimado em praça pública”, mas como foi o “queridinho da casa”, rolou somente uma reprimenda “light”. Ali ele disse “chega”. O Convite da Porsche já havia sido feito e ao contrário do que alguém possa pensar, o “sim” não foi uma reação instintiva, mas o episódio serviu para dirimir as últimas dúvidas.

 

Considerei aquilo uma atitude extremamente positiva da parte dele, algo que reflete uma personalidade bem construída, bem definida e que consegue ser resiliente diante das adversidade que a vida nos proporciona. Mark também falou que o próprio Horner iria trabalhar para liberá-lo antes do final do ano para que Mark começasse o seu trabalho na Porsche – e conseguiu fazer isso, apesar dos “senões” de Helmut Marko.

 

 

A camisa com a qual ele foi ao consultório, foi para o aeroporto e deixou-se fotografar. A F1 é uma página virada.

 

Da Fórmula 1 Mark não leva só más lembranças. Leva boas e até algumas amizades, como a de Fernando Alonso. E foi justamente pensando nela que ele hesitou em assinar com a Ferrari para 2013, o que deixaria Felipe desempregado. Falei pra ele que, aqui no Brasil costumamos dizer: “amigos, amigos, negócios à parte”. Ele riu e disse que tem algo parecido com isso na Austrália também!

 

Agora é hora de partir para a realização de um sonho: ser campeão do mundo, vencer as 24 horas de LeMans. Provar ao mundo que é um grande piloto? Um campeão? Não, Mark não precisa provar nada para ninguém. Agora é o momento de fazer o que mais gosta: pilotar e ser feliz! Boa viagem, Mark.

 

Beijos do meu divã,

 

Catarina Soares

 

p.s. Primeiro foi o Felipe, no ano passado. Este ano foi o Romain, que veio a público agradecer pelos resultados do nosso trabalho para que ele pudesse mostrar seu talento sem pressão, com serenidade e fazer o mundo ver que ele é um campeão em potencial, e não o 'maluco da primeira volta'. Obrigado Romain.

 

 

 

 

 

Last Updated ( Tuesday, 24 December 2013 13:00 )