O renascimento de Romain Grosjean! Print
Written by Administrator   
Saturday, 30 November 2013 16:22

Olá fãs do automobilismo,

 

Passei por uma situação inusitada nesta última quinzena do mês. Precisei pedir uma licença – não remunerada, claro – da secretaria onde trabalho para ir até São Paulo e instalar um consultório meio que improvisado em Interlagos a pedido do Bernie Ecclestone quando soube que vários pilotos iriam aproveitar a estada para ir até meu consultório. Era mais fácil levar o consultório aos pacientes do que os pacientes ao consultório.

 

Sem predileção por nenhum dos astros presentes, dei preferência ao pacientes mais antigos e foi gom grande felicidade que vi, no primeiro horário, um jovem que teve um crescimento surpreendente e maravilhoso ao longo do trabalho que fizemos, especialmente nas sessões durante as férias de agosto que a categoria teve.

 

Aquele sorriso meio contido e olhar cheio de tensão simplesmente sumiu do rosto de Romain Grosjean. Ele chegou com um sorriso escancarado e uma flor – que lindo – para mim. Não há maior satisfação para um terapeuta do que ver um paciente seu crescer como pessoa e encontrar os caminhos para se encontrar.

 

O jovem tenso e deprimido que chegou no consultório no semestre passado estava transfigurado. Felicidade do terapeuta.

 

Depois de um ano terrível, onde chegou a ganhar o nada gentil apelido de “o maluco da primeira volta”, Romain conseguiu segurar seu ímpeto e passar a ser mais constante nas corridas e comedido nas largadas... comedido sim, desatento, não. Se não conseguia ganhar “todas as posições” ao apagar das luzes vermelhas, ao menos não perdia posições e – melhor – conseguia continuar na corrida!

 

Superado este problema, um novo desafio surgia: ter que atender as ordens da equipe e deixar o companheiro de equipe passar ou ser proibido, mesmo estando mais rápido, de aproximar-se e tentar ultrapassar o companheiro de equipe, Kimi Raikkonen. Uma situação que um piloto, com sua natureza competitiva, não consegue “engolir” com naturalidade.

 

Contudo, Romain conseguiu administrar mais esta adversidade e mostrar que poderia ser tão rápido quanto o finlandês campeão do mundo. Durante a segunda metade do campeonato recém encerrado isso ficou muito claro, restando a Romain apenas uma oportunidade de mostrar que poderia fazer mais do que vinha fazendo.

 

Depois de começar o ano tendo que abrir caminho para Kimi Raikkonen, terminou por cima, com Kimi abrindo passagem.

 

Esta oportunidade surgiu quando Kimi Raikkonen foi anunciado como piloto da Ferrari para 2014. Agora não haveria mais motivos para que a equipe continuasse favorecendo o primeiro piloto do time e pudesse deixá-lo fazer suas corridas livremente, podendo “ir pra cima” de Kimi Raikkonen e, quem sabe, tentar vencer uma corrida ainda este ano. Afinal, o carro estava se mostrando fantástico... se bem que a ordem para não atacar Kimi no GP da Coréia foi um banho de água fria.

 

Independente disso, os três pódios consecutivos (Coréia/Japão/Índia) mostraram que não seria aquilo que iria freá-lo. E a equipe percebeu isso também quando, no GP da Índia, a ordem foi a inversa em relação àquela dada na Coréia: Kimi deveria abrir caminho para ele. Ficou claro que não é algo que um piloto faça de forma natural. Kimi protestou, quase acabou com a corrida de Romain, mas acabou tendo que ceder.

 

O segundo lugar no GP dos Estados Unidos mostrava para todos que Romain poderia disputar uma vitória contra Sebastian Vettel e sua Red Bull. Era uma questão de oportunidade. Romain mostrava que, se o carro da equipe austríaca era o melhor da temporada, o seu não estava  tão longe assim.

 

Romain foi presença no pódio em 2013, especialmente durante a segunda metade da temporada. 

 

O sorriso de Romain sumiu de seu rosto quando perguntei sobre os planos, sobre o futuro. A testa franziu e o menino confessou estar preocupado com os rumos que as coisas estavam tomando na equipe. As dividas se acumulavam, os membros do corpo técnico estavam deixando o time para trabalhar em outras equipes e hoje há até a incerteza sobre o futuro da equipe.

 

Ele adiantou que o Pastor Maldonado e sua mala de dólares já haviam assinado contrato para 2014, mas que nada podia ser revelado até o final da última corrida, apesar de seu chefe, Eric Boullier, preferir ter Nico Hulkenberg no outro carro da equipe, mas com a situação financeira atual e a não definição da chegada do dinheiro da “Quantum”, o risco de ficar sem carro tornou-se real.

 

A equipe assinou contrato com a mala de dinhero de Pastor Maldonado. No passado, na GP2, os dois andaram "se encontrando".

 

Romain não é um piloto que conta com grandes apoios financeiros. A Total, petrolífera francesa, é um dos patrocinadores da equipe e dá um certo suporte para ele. A salvação seria não depender de ter a obrigação de colocar dinheiro no orçamento do time, mas isso só aconteceria caso a “Quantum” realmente aparecesse com o dinheiro ou com um retorno da Renault à categoria. Talvez a equipe precise ter “outro piloto de muito dinheiro” para tentar mantê-la funcionando.

 

Calma e bom senso são fundamentais neste momento, Romain. Você já mostrou para todo mundo que tem capacidade técnica para liderar a equipe rumo às vitórias e a disputa real pelo campeonato. Não apenas a ‘Nega Genii’, mas qualquer equipe que você venha a fazer parte.

 

Tecnicamente forte e confiante, respeitado no grid depois do terrível ano de 2012, Romain teme ficar a pé. 

 

Aquele que um dia foi chamado de “maluco” por boa parte do grid hoje é respeitado e merecedor de cada aplauso, cada troféu e de fazer parte do seleto grupo de grandes pilotos franceses que seu país produziu... mesmo tendo em parte sangue suíço!

 

Allez, Romain. Allez!

 

Beijos do meu divã,

 

Catarina Soares