António... com força e sem fado! Print
Written by Administrator   
Monday, 28 October 2013 14:39

Olá fãs do automobilismo,

 

Antes destes dois finais de semana com as últimas duas corridas dos “novos mercados” do automobilismo do ‘tio Bernie’, recebi um pedido do nosso amigo e colunista do site, Alexandre Teixeira, para tentar abrir um horário para receber um amigo seu. Como amigos são para estas coisas, disse para ele que não tinha problemas, que poderia ser na quinta ou na sexta-feira (24 ou 25 de outubro). Ficou para a quinta, no final do dia.

 

No final da tarde, chegou o amigo do nosso querido Alexandre. Um moço tímido que parecia um tanto desconfortável... ou angustiado. Nada mais natural depois de tudo o que ele passou nos últimos dias, onde – ao menos na visão da imprensa de seu país – ele fora “roubado” em sua “vaga” em uma equipe de Fórmula 1.

 

Não é fácil para um jovem como António (é assim mesmo que se escreve o nome dele, com acento agudo no ó, mas que em português lusitano fica com o som fechado), como todo jovem que alimenta um sonho por toda a infância, adolescência e começo da juventude ver algo que parecia estar ao alcance da mão esvair-se em fumaça.

 

 

Confesso que não conhecia a história de vida de António e tive que pesquisar para não dar nenhuma derrapada e ir parar na caixa de brita. António começou a correr de kart com 9 anos de idade, em 2000, na categoria cadete, e como era muito pequeno perto dos outros meninos, ganhou o apelido de “Formiga” . Ano de estreia é ano de aprendizado, mas no ano seguinte, 2001, António foi 2º colocado no “Portugal K Open” e “5º no Campeonato Nacional”, onde obteve três vitórias. Em 2002, ainda nos Cadetes, ninguém conseguiu segurar António: sagra-se Campeão Nacional, vence o Portugal K Open e obtém um 2º lugar na Taça de Portugal. Seria António um fenômeno, um iluminado?

 

Em 2003 António ficou ausente dos campeonatos de seu país, partindo para sua primeira experiência fora do país, disputando o Troféu Internacional de Sarno (Itália). Em 2004, passando para a categoria Júnior, foi 3º na Taça de Portugal e no regional sul, além de um 6º no Nacional. António voltou a correr fora do país em 2005, dedicando-se ao Open Masters de Itália e Campeonato Francês, experiência que lhe permitiu alcançar a pole no Europeu da categoria Júnior. Mas foi em 2006, último ano na Júnior, que António “detonou”! Foi Campeão Nacional vencendo todas as corridas, Foi 2º nas Wolrd Series Karting, 3º no Open Masters de Itália, competição com nível próximo ao Mundial, e venceu o Portugal K Open.

 

 

Perguntei para ele se ele ainda gostava de andar de kart, disse-lhe que tinha feito algumas voltas quando menina e que meu pai era piloto. Isso deixou-o um pouco mais à vontade. António sorriu pela primeira vez e disse que andar de kart é um ótimo passatempo, um ótimo treinamento e que sentar num kart e acelerar é voltar às origens.

 

António contou do que foi a experiência de andar de kart como piloto oficial da Tony Kart e poder treinar ao lado de Michael Schumacher, ter a oportunidade de disputar duas vezes o Campeonato Mundial de Kart, sendo o único português na competição e que seus bons resultados abriram as portas que ele queria para chegar à Fórmula Renault 2.0.

 

 

O caminho nas categorias de base foi uma sequência de sucessos. Depois de um ano para se adaptar aos monopostos, António conquistou o campeonato norte europeu da Fórmula Renault 2.0 com 9 vitórias em 14 corridas, e com um 3º lugar no europeu parecia mesmo projetar António com um piloto com potencial para chegar à Fórmula 1 com mais condições que seus antecessores, Pedro Lamy e Pedro Chaves. António teve a chance de andar com um carro da World Series By Renault, com um motor de 3.5 litros no final da temporada.

 

António, contudo, relembra que nem sempre foi tudo bem, tudo perfeito, que os anos de 2010 e 2011 não foram nada fáceis. Apesar das vitórias na Fprmula3 Europeia, de ter sido o novato do ano na categoria e de ter tido a chance de testar um Fórmula 1 em Abu Dhabi, na Force India em 2010, em 2011 foi um ano ‘magro’, com apenas uma vitória na GP3 e três pódios na Fórmula 3 inglesa. Nestas horas, todas as dúvidas pesam e questionamentos ocorreram.

 

 

Mas 2012 foi um ano de reafirmação. Disputando dois campeonatos em paralelo, a GP3 e a World Series 3.5 by Renault, as 3 vitórias na primeira e 4 na segunda, mesmo não dando o título em nenhuma das duas categorias, os resultados, especialmente os da World Series, empolgaram novamente os portugueses e a vitória no GP de Macau de F3, uma tradicional corrida que teve vencedores como Michael Schumacher e Ayrton Senna, colocou de uma vez por todas António como uma estrela emergente. Ainda mais com ele passando a fazer parte do programa de jovens pilotos da Red Bull.

 

A empresa austríaca mantém um programa de investimento em jovens valores há algum tempo, programa este que revelou Sebastian Vettel, dentre outros pilotos que hoje estão na Fórmula 1 e em algumas das principais categorias do mundo, não apenas nas categorias que são o acesso à Fórmula 1, mas também em outras do automobilismo pelo mundo.

 

 

2013 seria o ano para António ir ao céu (ou não). Quando Mark Webber anunciou ainda em maio que deixaria a Fórmula 1, uma corrida pela vaga mais cobiçada da categoria começou, mas esta não era a corrida de António. A sua corrida começava pela torcida para que um dos pilotos da Toro Rosso, a equipe-satélite da Red Bull fosse promovido como um dia foi Sebastian Vettel e assim uma vaga seria aberta na Toro Rosso... a vaga para um dos jovens pilotos.

 

Depois do anúncio de Daniel Ricciardo como novo piloto da Red Bull, a vaga na Toro Rosso tornou-se real e tudo apontava na direção de António... pelo menos era isso o que ele e toda a imprensa portuguesa pensava. Afinal, António era o piloto mais maduro e rodado entre os jovens valores do programa da Red Bull, a exceção – claro – de Sebastien Buemi, mas este, atual piloto de testes da equipe principal, nunca teve seu nome cogitado para qualquer das vagas.

 

 

Contudo, António não parece ter atingido as expectativas da Red Bull, que esperava dele a conquista do título ou uma disputa acirrada. Mas António errou em algumas corrida, bateu, rodou e teve contra ele um outro jovem com uma excelente performance em pista: Daniil Kvyat. Um Russo de 19 anos que está na disputa do título da GP3 e que, segundo a imprensa portuguesa, tem “milhões de dólares” de patrocínio.

 

Na ótica dos mais radicais, o piloto português teve a vaga “roubada” pelo piloto russo, mas neste turbilhão inteiro, uma pessoa tem se mantido sereno e com os pés no chão: António!

 

Em nenhum momento António queixou-se – ao menos em público – com relação a decisão da Red Bull por Daniil Kvyat. Pelo contrário, parabenizou o russo pela conquista e lembrou dos tempos em que foram companheiros de quarto em treinamentos conjuntos do programa de jovens pilotos.

 

 

O carrancudo Helmut Marko também não descartou António do programa de formação da equipe Red Bull e lembrou que António continua como piloto reserva da Red Bull e que se hoje a vaga de piloto titular não foi para as mão do português, nada impede que esta vaga venha a surgir num futuro próximo.

 

António continua sereno. Vai disputar o GP de Macau de Fórmula 3 pela Carlin este ano, tentando repetir o feito do ano anterior e seguir a vida, andar com consistência, vencer corridas e sem fazer da decisão da Red Bull, mais uma letra de fado.

 

Beijos do meu divã,

 

Catarina Soares

  

 

Last Updated ( Monday, 28 October 2013 18:39 )