Olá fãs do automobilismo,

Desde que comecei a escrever esta coluna e a cuidar de uma especialíssima clientela em meu consultório, meu desenvolvimento profissional entrou em ritmo de equipes de corrida, ou seja, cada vez maior, cada vez mais rápido e com um enorme processo de aprendizado. Efeito deste meio tão competitivo.

Recentemente passei por uma experiência nova com um dos meus pacientes. Normalmente, uma pessoa busca um psicólogo quando não consegue lidar com um conflito pessoal e, para isso, pede ajuda de um profissional. Digo profissional porque não existe uma relação de amizade entre psicólogo e paciente, não deve existir. Contudo, o profissional de psicologia deve estar sempre atento aos “movimentos” deles e eu achei por bem que deveria convidar um deles a fazer-me uma visita.

Enquanto esteve na Fórmula 1 e na fórmula Indy, Rubens vinha ao meu consultório regularmente. Quando ele falou que iria correr na Stock Car, eu perguntei a ele se correr aqui no Brasil, numa categoria de turismo, um universo tão distante do que havia sido seus últimos 25 anos, seria algo satisfatório para ele. Ele disse que iria se sentir feliz, pois correr é a sua vida. Muito bem... mas isso não respondeu a minha pergunta, e talvez a dele também não.

Ser um piloto profissional, ser um piloto de Fórmula 1, a categoria mais importante do mundo, ser campeão da Fórmula 1 era um sonho de uma vida, era O sonho de vida de Rubens, mas nem sempre conseguimos transformar nossos sonhos em realidade e Rubens não conseguiu levar o seu projeto, o seu sonho até o fim.

Pessoalmente, sempre achei um pecado o fato dele não ter sido campeão do mundo, mas no meio do caminho tinha um alemão... tinha um alemão no meio do caminho e a frustração de não ter conseguido derrotá-lo não foi apenas de Rubens, mas de muitos que foram contemporâneos do “fenômeno Michael”.

Depois de 19 anos na Fórmula 1, Rubens Barrichello foi para a Fórmula Indy, mas faltou mais equipamento para andar na frente.

Ser o melhor do mundo é uma contingência, e Rubens poderia ser o melhor do mundo... se não competindo contra Michael, sê-lo em outro lugar. Ir para a Fórmula Indy correr com o amigo Tony Kanaan pode ter tido seu lado bom, mas sabemos que, nos dias de hoje, o equipamento (carro, equipe, estrutura) conta muito. Muito mais do que no passado e a equipe onde ele correu não tinha um histórico de vitórias. Talvez esta não fosse a melhor escolha.

Existe uma diferença considerável entre o “automobilismo americano” e o “automobilismo europeu”. As bases da Fórmula 1 foram construídas no continente europeu e foi lá que Rubens construiu sua carreira internacional. Com o fortalecimento das categorias de protótipo e gran turismo, obras da gestão de Jean Todt à frente da FIA, tomar um rumo como este poderia ter sido uma opção mais interessante do que correr nos monopostos americanos ou mesmo nos carros de turismo aqui do Brasil.

Um novo caminho as vezes é o que uma pessoa busca para se reconstruir e Rubens – de uma certa forma – parecia querer seguir neste novo caminho e foi se adaptando ao “estilo stock”, contudo, ao longo do ano a tão esperada vitória insistiu em não vir. Não bastasse isso, surgiu um novo convite, um projeto, algo que poderia ser muito bom... ou não.

Convidado (contratado) pela televisão, Barrichello voltou ao circo da Fórmula 1, como comentarista e entrevistador.

Rubens passou a ser um dos comentaristas da rede de televisão que transmite as corridas da Fórmula 1 ao vivo para o Brasil. Além de comentar, ele também faria – e tem feito – entradas no grid antes das largadas. Esta é a parte que nós, como telespectadores, temos acesso, conhecimento. E o que não víamos, longe das câmeras, durante o final de semana.

Tudo mostrava durante as nossas sessões que a Fórmula 1 não era um assunto “bem resolvido” para Rubens e esta volta constante acabou abrindo uma oportunidade para que ele pudesse, pessoalmente, travar contatos com as equipes da categoria e, com a “força dos amigos”, o que deve ter sido umas “tentativas”, acabaram virando “possibilidades” concretas, com a imprensa local aumentando exponencialmente o volume da “notícia” à cada repetição.

Precisou a diretora da Sauber, Monisha Kaltenborn, precisou ser direta e categórica, longe da polidez educada de não dar respostas diretas e possivelmente interpretadas como indelicadas, mas o volume dos rumores chegaram a um ponto tal, até na imprensa internacional, que ela precisou dizer o “não” com todas as letras para que ninguém mais tivesse dúvida.

Rubens e Monisha: muitas conversas sobre o mundo da Fórmula 1, mas um lugar na Sauber nunca esteve em questão.

No ano passado, quando Michael ainda vinha regularmente ao consultório, conversamos sobre isso depois que ele recebeu a notícia de que não teria seu contrato renovado com a Mercedes para este ano, falamos sobre termos nosso próprio tempo... mas como é difícil se chegar a esta conclusão. É tão difícil que, pouco depois, ele procurou a Ferrari e a Sauber e se ofereceu para correr por lá.

A aprendizagem as vezes vem pelo caminho mais duro e saber a hora de mudar as escolhas nunca é fácil. Para Rubens, a Fórmula 1 ainda faz parte do seu mundo, ela sempre fará. Afinal, foram praticamente 20 anos de sua vida dedicados à ela, mas é preciso aceitar as mudanças de perspectivas. Vê-se como um personagem da história escrita e não mais um protagonista dela.

Você tem um talento nato, Rubens. A velocidade faz parte da sua vida e você pode fazer muito, muito mesmo pelas pistas, não apenas do Brasil, mas fora de nossas fronteiras se você assim o desejar. Não desperdiçar seu talento e potencial com hipotéticas possibilidades faz parte deste processo.

Depois de1 ano na Indy, Barrichello optou por correr no Brasil, na Stock Car... mas com potencial pra tanto mais... 

Virar os olhos e a mente para o futuro, e não para o passado é algo que precisamos fazer para continuar vivendo. O passado sempre será uma referência, uma biblioteca de erros e acertos cometidos para que aprendamos e nos aperfeiçoemos a cada dia para fazer do presente um tempo melhor e do futuro uma projeção atingível dos nossos anseios.

Beijos do meu Divã,

Catarina Soares