Nico: Em busca do brilho perdido. Print
Written by Administrator   
Saturday, 04 April 2015 04:45

Olá fãs do automobilismo,

 

Parece que está sendo feito de propósito, mas não é. Mais uma fez a newsletter e a atualização da página do nosso site estará acontecendo logo em seguida de uma etapa do mundial de Fórmula 1 e a consulta que eu escolhi para partilhar com vocês, queridos leitores, será uma consequência do resultado da corrida anterior ou de fatos ligados a ela.

 

Quando vocês estiverem lendo esta coluna, a categoria mais famosa do automobilismo já terá deixado a Ásia, passado o Grande Prêmio da China. Em teoria, os pilotos não deveriam deixar o continente entre uma corrida e outra, aproveitando para se concentrar e se preparar entre as corridas malaia e chinesa, contudo acho que criaram uma “ponte aérea” entre o continente e Los Angeles.

 

Na quinta-feira depois da – para muitos – surpreendente corrida na Malásia, o primeiro paciente do dia era o Nico. Eu estava particularmente preocupada com ele uma vez que ele não veio para a consulta marcada logo após o GP da Austrália. Ele é muito responsável, não é de cancelar compromissos (ao menos não comigo), mas achei muito estranho o cancelamento e o pedido de desculpas ter vindo da assessoria de imprensa da equipe, e não dele mesmo. Em todo caso, a consulta foi paga.

 

Senti meu paciente um tanto quanto ansioso. Aquele sorriso de galã de cinema que arranca suspiros por onde ele passa estava levemente “apagado” e quando a gente vê este tipo de coisa em um paciente é realmente preocupante. Por mais forte que uma pessoa possa ser ou “parecer ser”, ninguém é feito de pedra ou aço.

 

Foi duro ver Nico chegar com esta expressão de "desamparado" no consultório...

 

A perda do título mundial no ano passado e todos os conflitos passados na relação com Lewis dentro da equipe foi algo que precisamos trabalhar muito neste intervalo entres as temporadas de 2014 e 2015. Nico ficou muito decepcionado com a falha ocorrida no carro no encerramento do campeonato em Abu Dhabi.

 

Em termos de confiança em si mesmo, ambos eram muito fortes, mas Nico era menos “vulnerável” a o que poderíamos chamar de “fatores externos”. Contudo, a forma como as coisas aconteceram naquela etapa final pareceu ter provocado exatamente o efeito inverso, mesmo com ele já estando de contrato renovado e Lewis não.

 

Este é um fator que, no meu entender, jogou e tem jogado mais a favor de Lewis do que de Nico. Enquanto Nico tem a consciência de que “ele é o cara” para a equipe Mercedes, Lewis parece agir como aquele que diz “vocês vão ter que me engolir”, alimentado pelo prazer de derrotar “o dono da casa”.

 

O sorriso sempre gentil e amigável deu lugar a uma "expressão sem expressão".

 

Em todo o nosso trabalho, desde o final do ano passado, o foco direcionado para as sessões com Nico foi o de fortalecimento da confiança de que ele pode derrotar seus adversários sob qualquer condição de corrida, estando ele com qualquer carro. Ele é um piloto rápido, preciso e sua postura intimida os demais competidores.

 

Talvez este trabalho tenha provocado aquela reação na entrevista após o Grande Prêmio da Austrália onde Nico convidou Sebastian para participar da reunião com os engenheiros da Mercedes após a corrida e a dobradinha da equipe na etapa de abertura da temporada.

 

A forma como seu “convite” pode ter sido interpretado pode ir da ‘piadinha infame’ até a ‘estocada com uma lança’ nos brios do adversário que – em teoria – é forte mais não chega perto de ser uma ameaça na atual condição de desequilíbrio de forças da Fórmula 1... e nada pior do que vir a ser vencido por este adversário depois de um intervalo de tempo tão curto!

 

O "convite" para Sebastian Vettel certamente funcionou como incentivo para toda a equipe Ferrari.

 

Quando foi contratado em 2009 para ser piloto da equipe Mercedes, Nico foi uma daquelas chamadas “apostas de longo prazo”. Um piloto jovem, alemão, correndo numa equipe alemã, rica e poderosa, com capacidade de investir milhões e milhões até chegar onde chegou.

 

A condição de estar sendo ‘batido em sua própria casa por um forasteiro’ é mais do que incômoda e tal condição parece ser incômoda também para a equipe. Tanto que a renovação do contrato de Lewis vem se arrastando por mais de seis meses enquanto o de Nico, antes do final do ano passado, foi “renovado por vários anos”, como foi divulgado para a mídia.

 

A situação poderia ser ainda pior se numa louca dança das cadeiras Lewis tivesse mandado tudo para o alto e assinado um contrato milionário com a Ferrari e a Mercedes tivesse colocado Sebastian Vettel, outro alemão, ao seu lado na equipe. A primazia de ser “o alemão do time” acabaria.

 

Durante os treinos na Malásia, Nico mostrou-se abatido e o P3 na classificação "doeu".

 

Nico foi ficando sério durante a sessão. O sorriso delicado e amigável – porém não tão aberto como em outras ocasiões – deu lugar a um semblante sério e pouco expressivo... como se sua alma não estivesse ali, apenas o seu corpo... quase desfalecido no divã.

 

Uma reação rápida é mais do que necessária. Apesar de poder se considerar o terceiro lugar no Grande Prêmio da Malásia uma derrota pessoal, além da derrota de toda a equipe Mercedes, em parte pelo erro inicial da estratégia, mas na parte final pelo erro de colocar os pneus errados no carro de Lewis Hamilton, não foi o pior dos cenários.

 

Friamente analisando, com o terceiro lugar, tendo Lewis ficado em segundo, a distância para a liderança do campeonato está em 10 pontos... e se formos considerar uma “condição normal”, uma dobradinha com Lewis vencendo novamente, daria 14 pontos de vantagem e duas vitórias conta nenhuma sua. No momento a distância é de 10 pontos e uma vitória.

 

Positividade: É isso que você precisa encontrar dentro de si, Nico.

 

Lembrei a Nico (como se precisasse) que ele já fez grandes corridas na China, que já venceu por lá e que acreditar realmente que pode derrotar seus adversários é o primeiro passo para fazer isso. Citei uma música brasileira que fala que “não se pode entregar o jogo no primeiro tempo” (Desesperar Jamais, do Ivan Lins). Consegui arrancar um risinho dele.

 

Mais do que um “risinho”, Nico, quero que você arranque de si um leão e avance sobre seus adversários. Faça brilhar mais do que seus cabelos dourados, mas sua aura dourada!

 

Beijos do meu Divã,

 

Catarina Soares