Eleições na CBA (2ª parte - Promotores de Categorias e Dirigentes Esportivos) Print
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Thursday, 31 January 2013 11:35

 

Nós tivemos a eleição para a presidência da CBA no início de 2013. Pelo atual estatuto, o presidente da CBA é eleito pelo voto dos presidentes das federações estaduais. Contudo, o automobilismo no Brasil é feito – há anos – por promotores independentes, por chefes de equipe, por pilotos que, por mais das vezes, passam longe deste meio político. Não seria interessante se buscar uma modernização deste processo eleitoral, de se mudar o atual estatuto da CBA e permitir que promotores de  categoria, chefes de equipe e pilotos também tivessem direito a votar diretamente, mesmo que representados por associações, para eleger o presidente da CBA? Isto não poderia ser uma coisa positiva para o automobilismo brasileiro? 

 

Rubens Carpinelli – Presidente (licenciado) da Federação de Automobilismo de São Paulo – FASP

 

O estatuto da CBA diz que apenas os presidentes de federações podem votar para eleger o presidente da confederação. É assim no automobilismo, é assim no futebol, é assim nos outros esportes. Quem vota são os dirigentes, não os atletas ou técnicos. Outra coisa é que se um piloto, ou chefe de equipe ou promotor de categoria puder votar, também poderá ser eleito e isso pode gerar situações indesejáveis.

 

São duas coisas completamente antagônicas. Um promotor de categoria, um chefe de equipe vai ver, vai visar os interesses da sua categoria, da sua em detrimento das outras. A confederação, assim como as federações, deve passar longe dos interesses de um determinado seguimento.

 

Caso um promotor de categoria, não importa qual, queira vir um dia ser o presidente da CBA, seria preciso que ele se afastasse daquele negócio, porque a promoção de categorias de automobilismo é um negócio, que tem empregados, que gera lucros e é uma atividade que está ligada diretamente ao automobilismo. Não seria correto.

 

Outro aspecto é que, as federações e a confederação não cuidam de categorias específicas e ou profissionais apenas. Existem diversas atividades ligadas às federações que são amadoras e um profissional do automobilismo dificilmente vai conseguir enxergar a importância e as necessidades destes seguimentos. Um evento de uma grande promotora é algo completamente diferente do que é um evento feito por uma federação. O promotor tem grandes patrocinadores, compromissos comerciais e um evento de uma federação tem mais voluntariado do que dinheiro.

 

Vamos tomar agora o exemplo de um piloto. Um piloto que chegue à presidência da CBA. Digamos que este piloto seja oriundo de uma das grandes categorias do automobilismo nacional. Será que ele vai conseguir enxergar o automobilismo amador como é necessário? Será que ele vai se afastar das competições para exercer o seu mandato?

 

Da forma como a questão se apresenta, só há um meio de se fazer isso funcionar: seria a CBA se tornar uma empresa! A CBA hoje é um órgão que administra um esporte e não um negócio. Os presidentes das federações e da CBA são amadores, pessoas que dedicam horas de sua vida, do seu trabalho, do seu convívio familiar para dedicar-se ao automobilismo.

 

Agora, se for para fazer um modelo de profissionalismo, seria o caso sim, de ter um diretor e não um presidente. Um profissional e não um amador. Teríamos um empresário dirigindo uma empresa. Um empresário não vai conseguir se conformar em administrar uma coisa que tem setores de amadorismo puro, da mesma forma, que para um amador, seria difícil administrar uma empresa.

 

Eu não vejo com bons olhos esta ideia.

 

Carlos Col – Diretor Presidente da VICAR, promotora da Stock Car, do Brasileiro de Marcas e da F3 Sulamericana.

 

Sem dúvidas. Nós vivemos em um país de regime democrático e no caso específico do automobilismo, existem outras partes envolvidas e nada mais justo e correto do que todas estas partes poderem participar deste processo de escolha dos dirigentes do nosso esporte.

 

Se bem que, de qualquer maneira, os presidentes das federações estaduais são eleitos pelos presidentes dos automóveis clube de seus estados e estes, por sua vez, são eleitos pelos seus filiados, que são os pilotos. Assim, os presidentes de federação deveriam levar para esta eleição do presidente da CBA os anseios de sua base, que são os pilotos. Se mesmo desta forma os pilotos podem participar do processo, eles estão muito distantes do que deveria ser um processo do qual eles são a parte mais importante.

 

Além disso, seria muito melhor, mais interessante para o esporte se tivéssemos um processo mais aberto, com oposição, com debate de propostas para o crescimento do esporte, bem diferente do que vem acontecendo nas últimas eleições onde os presidentes tem sido eleitos por aclamação, sem oposição, sem qualquer discussão de programa.

 

O automobilismo brasileiro, apesar de tudo, viveu na última década um crescimento considerável em alguns aspectos, especialmente uma profissionalização muito grande, mas eu vejo que os próximos anos deverão ser difíceis, complicados, e isso vai exigir da CBA e das federações um planejamento sério, de desenvolvimento a partir da base, e hoje este projeto a gente não tem visto sequer sinais de que algo esteja sendo feito neste sentido.

 

O atual presidente tem mais quatro anos pela frente para fazer alguma coisa, porque nos quatro anos anteriores ele não fez!

 

José Carlos (Zeca) Monteiro – Ex-Presidente da Federação Pernambucana de Automobilismo – FPA e eleito 3º vice-presidente para o período 2013/2017.

 

De uma certa maneira o processo já funciona assim. Os presidentes das federações estaduais são eleitos por presidentes dos clubes de automobilismo, os automóveis clube destes estados, clubes de rally, de trilhas, de kart... e estes presidentes de clubes são eleitos pelos pilotos a estes filiados.

 

Talvez a coisa, o sistema pudesse sofrer mudanças que aumentassem a representatividade dos pilotos no processo e não apenas dos pilotos, mas também como a pergunta coloca, com os chefes de equipe e os promotores de categoria.

 

Caso o processo eleitoral fosse alterado e cada um destes seguimentos tivesse direito a um voto, ou seja, a associação dos pilotos tivesse um voto, a associação dos chefes de equipe tivesse um voto e a dos promotores de categoria tivesse um voto.

 

Contudo, é preciso que seja alterado o estatuto da Confederação Brasileira de Automobilismo, em assembleia com os presidentes das federações estaduais para que seja aberta esta possibilidade. É uma questão pertinente, que pode ser levada e que eu acredito poder ter respaldo de outros dirigentes.

 

Dener Pires – Promotor da Porsche Challenge e da Porsche Cup no Brasil.

 

Sim, certamente. A democracia está aí e hoje temos um país melhor graças a um regime democrático de direito. Ter esta liberdade democrática, com a participação de todos os seguimentos ligados ao automobilismo, no processo eleitoral da presidência da CBA seria extremamente positivo em todos os aspectos.

 

Ver os pilotos, os chefes de equipe e também os mecânicos, que são uma parte importante do automobilismo participando diretamente deste processo iria legitimar ainda mais o mandato do presidente da CBA e das federações.

 

Como promotor e preparador de uma categoria, o que posso dizer é que até hoje temos conseguido com a Porsche Cup e com a Porsche Challenge todo o respaldo e apoio necessário da CBA para continuarmos fazendo a categoria.

 

Napoleão Ribeiro – Presidente da Federação de Automobilismo do Distrito Federal – FADF

 

Este assunto é interessante, intrigante e que mereceria um estudo para se fazer algo no sentido de alterar o formato, no caso o estatuto da Confederação Brasileira de Automobilismo, e permitir a participação direta de outros seguimentos envolvidos... mas a ideia é interessante.

 

Existem modelos que permitem a participação dos desportistas. O Comitê Paralímpico Brasileiro tem seu presidente eleito pelos presidentes das federações, mas os atletas tem direito a um voto. Mas isso que eles tem lá foi estudado e levou um tempo para ser montado desta forma.

 

Da mesma maneira, o assunto pode ser analisado, discutido e feito um estudo para que a CBA possa, no futuro adotar um modelo assim, participativo, agregando os seguimentos ligados ao esporte, mas não é uma coisa que se resolva do dia para a noite e nem as vésperas de uma eleição como vamos ter em janeiro de 2013.

 

Eu tenho uma visão que posso chamar de bastante democrática em relação a este assunto, mas é preciso que o processo seja bem estudado, bem feito para que ele realmente seja positivo para o automobilismo brasileiro. Quanto a mudança do estatuto da CBA, seria algo meramente protocolar depois do assunto apreciado e, caso mostre seu potencial de melhoria, aprovado para ser colocado em prática.

 

Neusa Navarro Felix – Promotora da Fórmula Truck

 

Ai meu Deus... vocês só fazem perguntas complicadas (risos) mas este assunto é muito sério.

 

Eu sou totalmente favorável a uma mudança no estatuto da CBA para que todas as partes envolvidas com o automobilismo possam ter direito a votos. Não apenas pilotos, não apenas os chefes de equipe.

 

As pessoas que trabalham no dia a dia do automobilismo sabem bem o quanto é difícil se fazer automobilismo, quantos problemas temos, todo o tempo, quais as dificuldades e o quanto certas decisões ou ações seriam positivas e produtivas para o crescimento do esporte.

 

Eu acho que nós, os promotores de categoria, deveríamos ter direito a voto, sim. Eu até conversei isso outro dia com outro promotor de categoria e também já comentei isso dentro aqui da equipe de organização da Fórmula Truck, questionando: se somos nós que fazemos as corridas, que enchemos os autódromos, porque não podemos votar para a presidência da CBA?

 

Nós todos temos muito que podemos contribuir para o crescimento do automobilismo brasileiro e a CBA só teria a ganhar com a nossa participação efetiva no processo de eleição e gestão do automobilismo brasileiro.

 

Paulo Scaglione – Ex-Presidente da Confederação Brasileira de Automobilismo de 2001 a 2009.

 

Existem diversas questões que são conflitantes numa situação como esta. Eu prefiro analisar por partes.

 

Os promotores: os promotores de categorias, de campeonatos, eles não ‘são’ promotores. Eles ‘estão’ promotores. Um dia eles não foram, outro dia podem deixar de ser. Um dia a cateoria, o campeonato que eles promovem pode acontecer ou não. Este ano vimos muitos campeonatos deixar de existir.

 

Tomemos o exemplo da Stock Car: O Carlos Col, um ex-piloto,  assumiu a organização do campeonato  e depois criou uma empresa, a VICAR, para administrar este campeonato e que hoje é uma ‘S/A’, com um diretor remunerado. Quem garante que amanhã ou depois a VICAR vai continuar promovendo automobilismo? Eles podem mudar para o motociclismo ou até mesmo para outro tipo de atividade. Eles não tem uma ligação, uma responsabilidade legal em promover o esporte. Eles fazem por que lhes é conveniente e rentável.

 

Os pilotos: os pilotos, os praticantes do esporte, não são vistos como profissionais do esporte. Eles não tem um contrato de trabalho, com carteira assinada, não tem nenhum compromisso legal em continuar sendo piloto. Além disso, em lugar nenhum do mundo piloto vota diretamente para a eleição de qualquer federação ou confederação. Eles, quando membros de um automóvel clube, votam no presidente deste clube que, por sua vez, votam no presidente das federações. O piloto também tem uma liberdade de filiar-se onde quer que seja. O custo para manter a filiação varia de estado para estado, ou seja, um piloto filiado em São Paulo pode filiar-se em Santa Catarina ou na Paraíba no ano seguinte e correr um certame nacional. No futebol, os  jogadores votam para eleger o presidente do clube? Não.

 

Os Chefes de equipe: com os chefes de equipe é a mesma coisa, na verdade uma união das duas. O chefe de equipe é um empresário, pois sua equipe é uma empresa, com sede, funcionários, etc. ele tem um negócio que ele pode abrir ou fechar quando bem queira, sem compromisso nenhum, obrigação nenhuma com o esporte. Se ele chegar a conclusão que aquilo está dando prejuízo, ele facha a equipe. Da mesma forma que jogador de futebol não vota para eleger o presidente do clube, o técnico também não vota.

 

A eleição na CBA é feita por um colégio eleitoral no qual votam os presidentes de federação. Uma federação para funcionar precisa ter pelo menos 50 pilotos filiados e três campeonatos regionais. Se isso for seguido à risca, talvez apenas seis –se muito – federações poderiam funcionar legalmente. Mas como há uma série de interesses pessoais, eu duvido que algum presidente de federação, que tem o poder absoluto de decidir quem vai ser o presidente da CBA, vá abrir mão deste poder, do seu status e de tudo que envolve o cargo que ele ocupa.

 

Lamentavelmente esta é a realidade do nosso automobilismo e mais lamentavelmente é que não há ninguém para substituir o presidente que está indo para o segundo mandato. Até surgiram dois nomes para sucedê-lo. Um deles com um bom nível de conhecimento no meio, mas os presidentes das federações não tem interesse em mudar a situação que aí está.

 

Carlos Romagnolli – Diretor Presidente da Romagnolli Eventos, promotor do Arena Cross e da extinta Copa FIAT (Racing Festival)

 

As federações estaduais tem o legítimo direito de votar e o dever de zelar pelo bem do automobilismo brasileiro, de cuidar para que todos os eventos de todas as categorias aconteçam dentro da mais completa tranquilidade e segurança. Contudo, nós também temos o nosso trabalho e deveríamos ter um canal para expor nossas dificuldades, nossas necessidades e no final das contas, somos nós que fazemos o automobilismo.

 

Fazer automobilismo no Brasil não é fácil. Temos uma série de questões legais, jurídicas, temos uma série de questões técnicas com relação aos nossos autódromos que não são todos que estão bons, temos, por conta dos poucos autódromos que temos que fazer um quebra-cabeças para ajustar os calendários e podemos contribuir em muito para um automobilismo melhor no Brasil.

 

E que este processo fosse estendido também para a eleição dos presidentes de federações estaduais, com uma participação efetiva de todos os seguimentos envolvidos. O automobilismo brasileiro só teria a ganhar com isso.

 

Cleyton Pinteiro – Presidente da Confederação Brasileira de Automobilismo

 

A Confederação Brasileira de Automobilismo possui um estatuto e este estatuto é seguido sem desvios. Para se modificar este estatuto, é preciso que os presidentes de federações estaduais se reúnam, elaborem uma proposta e, em uma votação em assembleia, esta proposta seja aprovada, valendo então para a data a partir da sua aprovação.

 

O presidente da CBA é um cargo de confiança.Eu hoje estou como presidente da CBA porque os presidentes das federações estaduais de automobilismo confiaram a mim estar à frente deste trabalho que é o de gerir os interesses do esporte automobilismo no Brasil e representar o Brasil perante os órgãos internacionais do esporte. Como presidente, eu não tenho o poder de arbitrar, de impor, nada. A mim cabe atender o que é deliberado pela assembleia composta pelos presidentes de federações estaduais, pelas determinações do STJD, que julga os processos e recursos das decisões de diretores de prova e comissários.

 

Quanto ao voto, eu sempre votei nas eleições para presidente do clube ao qual eu era filiado quando era piloto lá em Pernambuco e este votava para eleger o presidente da federação pernambucana. Eu me sentia representado porque eu participava do processo.

 

Caso os presidentes de federação decidam que devem mudar o estatuto e alterar o processo eleitoral vigente, como presidente da CBA cabe a mim apenas acatar e sancionar a decisão soberana da assembleia.

 

Antônio Hermann – Promotor da GT Brasil e representante da SRO na América Latina.

 

Poderia sim, certamente. O problema é que o sistema está montado para que só quem pode ter acesso, vez e voto para eleger o presidente da CBA são estes mesmos de sempre.

 

Os presidentes de federações são quem elegem o presidente da CBA. Estes presidentes de federações são, por sua vez, eleitos pelos presidentes dos clubes, dos quais são amigos, tem contatos, tem negócios... enfim, é uma máfia que se perpetua no poder, valendo-se de uma estrutura praticamente inexpugnável e que ninguém que faz parte deste ‘status quo’ abre ou abrirá mão deste poder.

 

Se formos ver bem, há duas décadas que o sistema em vigor tem se perpetuado, trocando-se apenas um ou outro nome entre eles e nada muda. Eles se elegem se reelegem... porque que este Cleyton Pinteiro quis se reeleger? O que foi que ele fez em quatro anos de mandato? Nada! Se ele fosse uma pessoa razoável, saia de fininho e ia pra casa cuidar da vida, dos seus negócios... mas, não. Teremos mais quatro anos de gestão Cleyton Pinteiro na CBA.

 

Não sei como é que ele tem a coragem de se candidatar e se reeleger. Um cidadão que não fez nada pelo automobilismo nacional em quatro anos, que não conhece nada de automobilismo... acho que o Bernie Ecclestone vai se aconselhar com ele quando vier novamente ao Brasil.

 

A ideia de todos participarem é ótima, mas isso nunca vai acontecer!

 

 

 

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Last Updated ( Thursday, 28 March 2013 13:54 )