Os 4 anos de Waldner Bernardo à frente da CBA (3ª Parte: Pilotos) Print
Written by Administrator   
Thursday, 31 December 2020 13:11

No final de 2020 encerra-se o mandato de Waldner Bernardo Oliveira à frente da Confederação Brasileira de Automobilismo. Após estes quatro anos, o Site dos Nobres do Grid foi buscar em diversos seguimentos ligados ao esporte a motor opiniões, avaliações do que teria sido o trabalho do mandatário do automobilismo brasileiro nos últimos quatro anos.

 

  

Nessa terceira e última “rodada”, ouvimos pilotos de diversas categorias do automobilismo brasileiro.

 

André Nicastro – Piloto de Kart profissional, representante da Tony Kart

Eu posso falar mais voltado para o kartismo, que é o meio onde eu estou e no kartismo eu não vi uma atuação mais direta do Dadai. Quem estava sempre presente, cuidando de tudo que se relacionava com o as competições foi o Pedro Sereno, presidente da Comissão de Kart da CBA. É claro que ele foi uma indicação, uma nomeação do Dadai para a comissão.

 

Tivemos algumas conquistas importantes para nosso esporte nesse período, como a transmissão dos campeonatos pelo Sportv, ao vivo, que tem uma repercussão positiva em nós mostrarmos nossa competição, as marcas envolvidas, os patrocínios, tudo. Claro que teve um trabalho dos fabricantes de kart e patrocinadores para pagar essa conta, mas a divulgação, mesmo que em um final de semana, é positiva.

 

Mas tem as coisas negativas também... e tem um monte! Começando a falta de incentivo para termos novos pilotos. Não vi nenhum projeto de formação de piloto dar resultado e termos mais gente. Tiveram algumas ideias mas o que se tentou fazer não surtiu efeito. O grande número de inscritos tem explicação. Eu competi em 4 categorias, então foram 4 inscrições. Outra coisa é que isso não retrata a realidade do kartismo no país. O Brasileiro é uma minoria que pode vir e competir. O custo é alto e são poucos que podem pagar. Este ano abriram para karts importados, mas uma abertura pequena, muito restrita. No resumo, temos mais pontos negativos do que positivos.

 

Sérgio Jimenez – Piloto na Porsche Cup (endurance) e Stock Car

É difícil fazer uma avaliação precisa. Estando de fora não temos noção de como é feito o processo de gestão. Eu acredito que o Dadai que ele fez o máximo que podia e que ele além de ser um dirigente esportivo é um empresário e por isso ele entende a importância de fazer as coisas funcionarem como numa empresa  penso que foi isso que ele tentou fazer com a CBA.

 

Saber os aspectos da gestão não sabemos, mas a CBA e todo o esporte teve um grande desafio para enfrentar que foi a pandemia e que fez com que todos tivessem que se adaptar a uma nova realidade, criar protocolos para voltarmos aos autódromos e isso certamente afetou também o trabalho deles como o nosso. Isso dificulta, além do fato de não estar presente o tempo todo ou mais tempo para avaliar se foi bom ou se foi ruim.

 

Na verdade, nesses últimos 4 anos foi onde eu menos acompanhei esta parte de administração. Minha agenda estava sempre tomada e eu ia para o autódromo, corria e ia embora. No passado eu até me envolvi mais quando fazíamos o Super Kart Brasil, mas como disse, este período eu não consigo avaliar.

 

Raphael Abbate – Piloto na Copa HB20 e Mercedes Challenge

Eu tive meu primeiro contato com o Dadai em 2011, quando eu corria no Mini Challenge e ele me recebeu muito bem, e sempre se mostrou muito aberto a ouvir o que os pilotos pensam. Ele tem um filho que corre e isso deve ajudar a ver as coisas de mais de uma maneira, não só como gestor mas por estar envolvido no Box e acompanhando um trabalho de pista, o que é super importante.

 

Eu senti que houve uma evolução no trabalho dos comissários. Eles estiveram mais atentos, vi que tivemos mais punições, algumas punições corretas, outras não. Foi muito bom o sistema que foi usado para fazer os “briefings” com os pilotos, de forma online, tivemos algumas novas categorias surgindo, outras crescendo, isso foi positivo para o automobilismo brasileiro.

 

Uma coisa que eu sinto falta é termos na torre a presença de um piloto experiente junto com os comissários como fazem na Fórmula 1. Acho que isso iria ajudar muito os comissários a fazerem seu trabalho e termos decisões mais rápidas e com mais acertos. A visão de um piloto sempre vai somar. Mas de uma forma geral, foi um trabalho positivo este dos últimos 4 anos.

 

Felipe Giaffone – Piloto na Copa Truck

O Dadai teve um começo mais ativo, onde ele estava mais presente, mas no último ano ele deu uma afastada. Eu conversei com ele sobre isso e eram questões pessoais, mas enfim, analisando a gestão, o lado positivo foi a colocação de profissionais à frente das comissões como foi o caso do Luiz Ernesto Morales, na Comissão de Autódromos, que é membro dessa comissão na FIA e que fez um plano de melhoria dos nossos autódromos, do Alfredo Tambucci, na Comissão de Velocidade no Asfalto, que vem fazendo um trabalho de formação e aperfeiçoamento dos comissários, que é um trabalho que requer continuidade, mas ainda tem muito trabalho a ser feito.

 

Em 4 anos é pouco para fazer um trabalho como o que precisa ser feito e ele poderia ter estado mais presente neste, digamos últimos 18 meses. Mas 2020 é um ano que é difícil se cobrar alguma coisa com essa pandemia o trabalho foi praticamente de 3 anos. Eles fizeram coisas positivas, com toda a documentação eletrônica, “briefings” online, foi uma adaptação e que funcionou. Foi um trabalho decente. Considerando que “foram 3 anos”, não daria pra mudar muita coisa.

 

Wagner Ebrahim – Piloto no Brasileiro de Endurance

É um tipo de pergunta complexa. É uma avaliação do trabalho de uma pessoa ou de uma equipe de pessoas onde você não está próximo para ver e tentar entender os desafios que esta pessoa enfrenta. O que eu vejo é que várias pessoas já passaram pela CBA e não conseguem mudar o rumo das coisas.

 

Hoje, além de correr eu administro o Raceland em Curitiba e vejo as dificuldades com a federação paranaense e com a CBA. Tivemos agora o brasileiro de kart, com centenas de pilotos inscritos e o que tivemos foi pouco incentivo, uma premiação baixa, custos altos de inscrição, de combustível, compra de pneus... números altos, pouco retorno, pouca ajuda. Como a CBA, que cuida do kart até a Stock Car não consegue atrair apoio de fornecedores, de empresas, de patrocinadores para reduzir os custos? Nós temos promotores, lógico, mas no caso do kart não tem nada. O campeão da Graduados A podia ganhar um teste numa categoria como a Stock Light ou a Sprint Race, por exemplo. Ir para um campeonato no exterior. É muito precário.

 

Eu torço para que o próximo presidente da CBA consiga reunir esses apoios, especialmente para quem está começando, que é o caso do kart. Que tenha um patrocinador no campeonato, que se consiga baratear o combustível, essas coisas. A CBA é um órgão e será que não consegue uma lei de apoio ao esporte para isso? O resultado está aí: hoje temos poucos pilotos no exterior e poucas perspectivas de que cheguem na F1. Eu acho que falta na CBA um plano para ajudar os pilotos.

 

Allam Khodair – Piloto na Stock Car

Eu prefiro não entrar muito em detalhes políticos por essa não ser a minha praia, mas sobre coisas mais técnicas eu posso falar alguma coisa. Eu participei do início do trabalho do Dadai e o que eu percebi foi se tratar de uma pessoa bem intencionada, que veio com planos para mudar algumas coisas dentro do funcionamento da CBA.

 

Porem, a CBA ainda precisa ter muitos dos seus princípios revistos. Não é um processo simples, mas tem coisas que são muito claras. É preciso apoiar o automobilismo desde a base, tem que criar maneiras para se captar recursos e patrocínios para financiar essas categorias de base, e isso ainda ficou por fazer.

 

O Dadai é uma pessoa que nunca gerou desconfianças quanto às suas atitudes, mas ela precisa encontrar meios para impulsionar o automobilismo pra frente. Houve uma evolução em relação as gestões anteriores, mas isso aconteceu a passos curtos. Não houve nenhuma “surpresa” positiva, mas felizment também não teve nenhuma negativa.

 

Betão Fonseca – Piloto no Mercedes Challenge

Começa que a gente só pode contar 3 anos porque esse 2020 com essa pandemia não tem como contar como algo que se consiga fazer alguma coisa. Esse ano de 2020 não teve interação de nada, a gente não conseguiu fazer nada e teve que se virar para ir pra pista no segundo semestre. No começo do ano as perspectivas eram as piores por causa da pandemia.

 

O Dadai é um cara dinâmico e deve ter tido muitos problemas para poder fazer tudo aquilo que ele gostaria, mas que eu acho que se perdeu uma grande oportunidade de fazer uma das coisas mais importantes que tinha a ser feito que era a “CBA-TV”. O canal de televisão ou streaming da CBA para a transmissão das corridas. O automobilismo não tem que depender das emissoras de televisão convencionais, mesmo as por assinatura como Bandsports, Fox ou Sportv. Tinha que ter o seu canal. Termos nosso próprio canal.

 

Foi algo que não aconteceu, que eu sei que ele tinha vontade de fazer, conversamos algumas vezes a respeito disso, mas devem ter surgido muitas dificuldades e não conseguiu se realizar. Isso foi algo que não aconteceu e outras coisas que eu gostaria que acontecessem, que melhorarem, não melhoraram. Eu vejo o esporte na mão de poucos promotores e poucas empresas de supervisão técnica.

 

Eu acho que o esporte no Brasil precisa mudar. Não podemos depender de um único fabricante de chassi e motor. Isso tem que ser um mercado aberto, pra ter concorrência, pra se baixar preço, ter produtos melhores. A mesma coisa é com promotores. Se fica a coisa concentrada na mão de um ou de poucos, isso deixa o automobilismo inviável no Brasil.

 

Carlos Machado – Piloto na Turismo Nacional

No caso da categoria onde eu corro, a Turismo Nacional, a CBA nos ajudou bastante com a homologação como categoria nacional. Uma coisa que eu acho é que os pilotos deveriam ter mais votos porque hoje os votos são das federações e elas não olham o lado dos pilotos.

 

Nós deveríamos ser mais ouvidos. A CBA precisava agir com mais clareza e eu vejo que á uma questão muito ligada ao lado financeiro. O dinheiro parece ser mais importante que o esporte em si, tanto onde eu corro como nas categorias que eu assisto.

 

Se você vai fazer um questionamento sobre um ocorrido na pista e você pede para ver a câmera de outro carro, se teve um encostão, uma ultrapassagem em bandeira amarela, você tem que pagar por isso. Isso eu acho absurdo. A gente paga a carteira, o promotor paga o evento, paga todas as despesas dos diretores de prova, dos comissários, bandeirinhas e isso ainda tem que ser pago? Isso deveria estar incluso.