Programa de jovens pilotos: bom ou ruim para nós? (3ª Parte) Print
Written by Administrator   
Thursday, 29 January 2015 22:26

Marcos Gomes – Piloto em categorias de base na Europa (F.Renault Italiana).

Eu vejo estes programas que as equipes estão fazendo hoje em dia, ou já há algum tempo, como uma forma muito boa de dar chance para um piloto desenvolver sua carreira. Infelizmente na época que eu saí do kart e fui para a Europa não existia programas como estes que vemos hoje.

 

A gente vê nos dias de hoje os programas que equipes como a Red Bull tem, que busca talentos no mundo inteiro, a academia de jovens pilotos da Ferrari, programas como o da McLaren que estão aí como Magnussen e o Vandorme. Isso permite que o piloto foque no seu aprimoramento técnico, em progredir na carreira sem aquela cobrança de que precisa conseguir patrocínio para o ano seguinte para continuar correndo.

 

Infelizmente parece que o Brasil está muito distante ou quem cuida destes programas não olha para cá. Seria muito importante ter este suporte para quando deixamos o kart e buscamos uma carreira na Europa ou nos Estados Unidos. Eu vejo esta como uma das principais razões para que o número de pilotos brasileiros no exterior esteja cada vez menor.

 

Felizmente o automobilismo brasileiro está permitindo que o piloto se profissionalize aqui mesmo, correndo aqui mesmo, em categorias como a Stock Car.

 

Lucas Foresti – Piloto em categoria de base na Europa (F3 Inglesa WSR 3.5).

Eu acho que estes programas são uma possibilidade muito boa para que um piloto consiga chegar mais rápido na Fórmula 1, seja piloto de testes de uma equipe, o que é muito importante, para acompanhar o desenvolvimento técnico e usar horas e horas, além deles conseguirem te colocar pra correr em alguma categoria de base.

 

No meu primeiro ano na Europa surgiu uma possibilidade, um convite, para ser piloto de teste e eu acabei não aproveitando esta chance. Em parte por achar que era muito cedo, que eu podia me aprimorar mais, em parte por achar que outras oportunidades poderiam surgir em equipes melhores no futuro. Acabou que novas chances não surgiram e foi ficando difícil continuar na Europa.

 

Para que um piloto brasileiro consiga entrar em um programa destes não basta ele ser bom aqui, mostrar talento aqui. Ele tem que ir para a Europa e mostrar isso lá. Tem que mostrar talento, ser veloz, ser preparado emocionalmente para ser cobrado e aguentar a pressão. Eles dificilmente virão até aqui buscar um piloto no kartou na Fórmula 3 pra levar pra lá.

 

Rafael Matos – Piloto que fez o “Road to Indy” nos EUA.

Nos Estados Unidos, assim como na Europa, estes programas são uma grande possibilidade para o piloto chegar na categoria ‘top’. Eu mesmo fui piloto do programa da Mazda nos Estados Unidos e percorri todas as etapas do “Road to Indy” até chegar na categoria principal, vencendo e conquistando espaço.

 

Uma coisa que é diferente no “Road to Indy” em relação aos programas de jovens pilotos que tem na Europa,como o da Red Bull e o da McLaren, por exemplo, é que o piloto vai dando os passos dentro da equipe. Nos Estados Unidos, no “Road to Indy”  é diferente. Eu corri na Fórmula Mazda, ganhei e fui correr na Fórmula Atlantic. Venci lá também e quando fui pra Indy Lights, fui correr na equipe dos Andretti. Depois de vencer lá,também, consegui ir correr na Draco, do J. Penske. Na McLaren ou na Red Bull, você vai correr na equipe.

 

Em todo caso, tanto num caminho quanto no outro, estes programas vieram dar uma possibilidade real para o piloto se estabelecer e crescer na carreira. O automobilismo está cada vez mais caro e conseguir meios para investir numa carreira e eu vejo como o caminho certo a ser seguido.

 

Para os pilotos brasileiros, seria importante se fosse criado um programa como estes por aqui, com apoio de alguma montadora, para levar o piloto com uma condição melhor para o automobilismo lá fora. Na forma como as coisas estão, vai ficar cada vez mais difícil termos pilotos brasileiros no exterior. É preciso pensar no futuro do nosso automobilismo.

 

Tuka Rocha – Piloto em categorias de base na Europa (WS by Nissan, F3000 europeia e A1GP).

Esta iniciativa que algumas equipes começaram, inspiradas no exemplo de sucesso da Red Bull, é algo que já deveria ter começado há muito tempo. Eu vou fazer um parâmetro com o futebol. A gente vê os clubes, desde cedo, investindo nas categorias de base, formando seus talentos e colhendo os frutos deste trabalho. Porque no automobilismo n”ao pode ser assim?

 

Este processo teria que começar desde cedo, desde  o kart! Mas como fazer isso aqui no Brasil sem uma empresa apoiando, investindo? Infelizmente, aqui, este tipo de projeto parece uma coisa distante. Por mais otimista que a gente seja, é difícil ver pessoas ou empresas interessadas em investir no automobilismo.

 

Eu tenho certeza de que, se um projeto fosse feito e colocado em andamento aqui no Brasil para formar, não apenas pilotos, mas profissionais do automobilismo aqui no Brasil, logo voltaríamos a ter muitos pilotos correndo na Europa, ganhando corridas e campeonatos.

 

Rafael Suzuki – Piloto na Europa e Japão (F3 Ásia, Japão e Alemanha).

Eu vejo de forma positiva e mesmo justa as equipes estarem pegando pilotos ainda em início de carreira e trabalhar na sua formação para que ele chegue nas principais categorias por seu talento, sua capacidade e menos por quanto dinheiro eles possam levar.

 

Este tipo de programa acaba criando uma esperança naquele piloto que andou bem no kart e no seu primeiro ano de fórmula a ter chance de ser visto e chamado para um programa destes. A Red Bull faz isso, a McLaren e a Lotus também e esta fórmula deveria ser ampliada, para dar chance a quem não tem patrocinadores pessoais fortes.

 

Para os brasileiros, não adianta ficar esperando que eles venham buscar você aqui no kart. Vai ter que ir para a Europa e andar bem no primeiro, no segundo ano. Ser constantemente rápido e conquistar bons resultados com regularidade, não adianta ter apenas um ou outro, para chamar a atenção dos managers que cuidam destes programas.

 

O programa da Red Bull é uma mostra do sucesso que ele pode ser. Veja que eles pegaram pilotos que se destacaram como verdadeiros fora de série, como o [Sebastian] Vettel, o [Daniel] Ricciardo e o [Max] Verstappen para fazer parte do programa e temos visto o que eles tem feito na pista.

 

Diego Nunes – Piloto de categorias de base na Europa (F3000 europeia e GP2).

Eu acho importantíssimo! É o apoio que um piloto precisa para chegar numa categoria como a Fórmula 1 onde até o ano passado haviam apenas 22 titulares na pista.

 

O problema é que a gente não vê brasileiros fazendo parte destes programas e isso pode acabar tirando a gente do mundial da categoria no futuro porque eu vejo a tendência das demais equipes seguindo o exemplo da Red Bull, que deu e vem dando certo.

 

Para o piloto brasileiro a vida sempre foi difícil. A Europa é longe, a cultura é diferente e o patrocinador brasileiro que investe no piloto que vai pra lá não vê seu produto, sua marca exibida porque não tem transmissão das corridas para o Brasil, há muito pouca divulgação na mídia escrita.

 

No meu caso, que conquistei vitórias em algumas das principais categorias por lá, nem isso foi suficiente para chamar a atenção destes programas e tão pouco manter o interesse dos patrocinadores brasileiros em continuar investindo na minha carreira no exterior. Felizmente hoje categorias como a Stock Car permite que você seja profissional de automobilismo no Brasil.

 

Popó Bueno – Pilotou na F.Renault Europeia.

Eu vejo estes programas como uma coisa boa. Durante um bom tempo a gente sempre ouviu que a Fórmula 1 tinha se tornado uma categoria de pilotos que compravam suas vagas nas equipes e de algum tempo para temos visto novos talentos e muitos frutos destes programas.

 

Se observarmos bem, estes garotos que estão chegando na Fórmula 1 tem feito uma trajetória vencedora desde o kart e isso lança um desafio para os dirigentes brasileiros: precisamos de um kart forte, de uma formação forte para que um piloto brasileiro saia daqui para a Europa e consiga andar na frente e com isso consiga um lugar num destes programas.

 

O segredo de tudo está no kart. Se tivermos uma base grande, dentro da quantidade iremos encontrar a qualidade. Temos visto que a última geração vencedora do kartismo brasileiro tem investido esforços neste sentido, de fazer algo pela formação de pilotos no Brasil e termos renovação no topo. Estamos com o Felipe Massa há muitos anos na categoria, o Felipe Nasr chegando, mas depois dele temos um vazio e precisamos fazer algo já para preencher este espaço.

 

As portas estão abertas, o que precisa ser encontrado é o talento de um piloto para ocupar um espaço em um destes programas. Os Managers estão de olho em todas as direções e precisamos mostrar nosso talento.