Programa de jovens pilotos: bom ou ruim para nós? (1ª Parte) Print
Written by Administrator   
Tuesday, 23 September 2014 04:49

Emerson Fittipaldi, José Carlos Pace, Wilson Fittipaldi Jr, Nelson Piquet, Ingo Hoffmann, Raul Boesel, Chico Serra, Ayrton Senna, Roberto Pupo Moreno, Rubens Barrichello, Ricardo Zonta, Felipe Massa e tantos outros pilotos brasileiros chegaram à Fórmula 1 mostrando seu talento e competência, em uma época em que o dinheiro era importante, como sempre foi, mas que o talento tinha um peso enorme e que os chefes de equipe estavam sempre de olho nos novos valores que disputavam as categorias de base.

 

De cerca de uma década para cá, algumas equipes deram partida num novo método de observar e selecionar seus futuros pilotos: são os “Programas de Jovens Pilotos”, que ganhou projeção com a Red Bull, de onde saiu o tetra campeão Sebastian Vettel. Hoje, praticamente todas as equipes possuem programas do gênero na Europa, recrutando pilotos até mesmo desde o kart.

 

E como ficam os brasileiros neste cenário? Será que as portas, que nunca foram largas ficaram ainda mais estreitas? O Site dos Nobres do Grid dão início a uma nova enquete sobre este assunto. Afinal, até onde é positivo para os nossos pilotos estes programas das equipes de F1?

 

Nossa enquete começa com a opinião de alguns dos nossos pilotos que estiveram na Fórmula 1.

 

Roberto Pupo Moreno.

Eu vejo este novo processo não como algo que seja bom ou que seja ruim. Eu vejo como uma forma diferente. Aqueles pilotos que são bons vão continuar se destacando e conseguindo acessar as categorias seguintes, conseguindo oportunidades desde que eles consigam “se colocar na foto”, como eu costumo dizer. Isso é, estar no lugar certo na hora certa.

 

As coisas na Fórmula 1 sofreram uma grande transformação quando o Schumacher chegou com aquela metodologia de um nível de dedicação física e mental como nenhum outro tinha ido tão a fundo, com a forma de trabalhar junto com os engenheiros e projetistas, ele obrigou todos os pilotos da época e os que vieram a seguir a passar por um processo semelhante de formação e de dedicação. Ele simplesmente “elevou o nível”.

 

Todos os pilotos, desde os da Fórmula 1 aos que estavam nas categorias que já corriam próximas à Fórmula 1 viram-se obrigados a seguir aquele caminho. Uma coisa que é preciso lembrar é que as informações se passam então ficou mais fácil para o piloto seguir um caminho. O exemplo, o método estava ali, era uma questão de seguir o método.

 

O que eu vejo de diferente para os brasileiros é que muitos deles “perderam o livrinho”. Jogaram o “livrinho” fora. O que eu chamo de “o livrinho” é que um caminho para se chegar na Fórmula 1 foi escrito por quem chegou lá, mostrando o caminho e que quem seguiu o que nele estava escrito conseguiu chegar, ou na pior das hipóteses, chegou muito perto.

 

Eu vejo hoje os pilotos querendo “chegar muito rápido”. Querendo fazer uma Fórmula 3 antes de fazer uma Fórmula Ford. É bom começar do início. Veja o exemplo do [Ayrton] Senna. Ele fez dois anos de Fórmula Ford antes de ir para a Fórmula 3. Eu também fiz isso. E é lá fora que você precisa mostrar que é bom. Aí o piloto sai do kart aqui no Brasil e já quer fazer uma Fórmula 3, vão lá e tomam uma porrada do tamanho de um bonde!

 

Tem que fazer a coisa certa, dar todos os passos, mostrar que é bom, que é rápido. O cara que está na Europa está fazendo isso. O [Kevin} Magnussen está aí pra não me deixar mentir. O caminho ainda existe. Ficou um pouco diferente. Os brasileiros só precisam voltar a seguir o que está no “livrinho”.

 

Antonio Pizzonia.

Os programas de jovens pilotos que as equipes da Fórmula 1 estão fazendo são uma excelente iniciativa para a formação e o desenvolvimento da carreira desses pilotos. Para um piloto conseguir entrar em um programa como este, primeiro precisa provar que é bom, que tem um caminho pela frente e que pode chegar na Fórmula 1, que tem potencial para isso. Não é um piloto que chega lá e paga para entrar no programa. O problema continua sendo os pilotos que tem um enorme pacote de patrocínio por trás e que pode vir a conseguir o lugar deste piloto talentoso numa equipe da Fórmula 1.

 

Na época em que eu corri na Europa e fiz meu caminho para chegar na Fórmula 1 não existia nada parecido com o que são estes programas de jovens pilotos. O que mais se aproximava era o caso da McLaren, que mantinha uma “equipe Junior” na Fórmula 3000, que era a categoria que hoje é a GP2, mas ela já pegava o piloto ali, num estágio em que ele já estava quase pronto para entrar na Fórmula 1. Hoje não. Tem piloto que está entrando nesses programas ainda como pilotos de kart.

 

Para os brasileiros em particular eu vejo estes programas como algo positivo. Se ele tiver talento e conseguir mostrar este talento ele tem possibilidade de entrar num programa destes e no nosso caso é até melhor, basta a gente ver o histórico de pilotos que tinham grande talento e tiveram que encerrar a carreira por falta de recursos talvez eles sejam um número maior do que o tanto de pilotos que temos hoje na Europa. É uma forma de fazer o talento prevalecer.

 

Ricardo Rosset.

Eu vejo estes programas de uma forma positiva, em particular nas equipes grandes. Eu vejo que estes programas ganharam uma importância muito grande depois do sucesso do [Sebastian] Vettel com o programa desenvolvido pela Red Bull e que desencadeou todo um processo.

 

Na época em que eu corri na Europa, as equipes tinham um certo preconceito em relação a pilotos jovens. Nos anos em que estive na Fórmula 1, ouvi de vários chefes de equipe que “um piloto jovem pode ser muito rápido, mas ele não tem maturidade para aguentar as pressões as quais serão submetidos”. Acredito que hoje esta mentalidade mudou completamente.

 

Com o passar dos anos os pilotos foram chegando cada vez mais jovens à Fórmula 1 e esta questão do amadurecimento foi mudando e os pilotos de hoje, mesmo jovens, já mostram uma grande maturidade. Eu vejo hoje o Kevin Magnussen, por exemplo. Eu corri com o pai dele, o Jan Magnussen. O Jan foi um piloto que teve um grande sucesso nas categorias anteriores à F1 e que na F1 não conseguiu se estabelecer.

 

Programas como estes de jovens pilotos como os que vemos aí estão garimpando talentos muito cedo, desde o kart, e que pode não ter a condição financeira para seguir uma carreira até a Fórmula 1, dando uma preparação técnica, física e psicológica para que o garoto amadureça e se torne um jovem piloto preparado para enfrentar os desafios da carreira e ter como colocá-lo no lugar certo na hora certa, o que é muito difícil de você fazer sozinho.

 

O lado que a gente poderia chamar de “lado negativo” é que você acaba “vendendo seu passe” muito cedo para uma equipe e acaba ficando “preso” por lá e lá na frente você acabará tendo que repartir o que você poderia ganhar ou mesmo, depois algum tempo, se você for dispensado, vai ficar sem aquela rede de contatos que se fazia antigamente.

 

Ainda assim eu vejo como algo positivo e que, para os pilotos brasileiros, não tem muita saída. Ou consegue entrar num programa destes para tentar chegar ao final do processo e ingressar numa grande equipe ou vai, se conseguir chegar na Fórmula 1, ter que pagar para correr numa destas equipes bem pequenas e não conseguir mostrar toda a sua capacidade como piloto.

 

Rubens Barrichello.

Na verdade, se formos ver a fundo como é o programa de jovens pilotos ds Red Bull, vocês vão ver que se trata de um grande programa. Se conseguimos colocar um brasileiro lá dentro, é uma garantia de que ele receberá todo o suporte, todas as condições para se desenvolver como piloto.

 

Dentro do programa ele recebe um programa de pilotagem, um programa de preparação física e psicológica, ele vai pilotar um carro com o patrocínio da Red Bull, ou seja, sem ter que se preocupar em correr atrás de patrocínios para bancar os custos, podendo se concentrar inteiramente no seu desenvolvimento e, infelizmente, a gente não tem nenhum brasileiro num esquema destes porque os brasileiros que estão chegando estão ainda usando um método que não tem mais aberto portas de um modo geral que é chegar com uma mala cheia de dinheiro.

 

O cara que hoje chega na Fórmula 1 porque ele tem uma bolsa cheia de dinheiro ou ele tem uma bolsa para cada temporada ou ele não dura muito tempo. Este é o grande X da questão: fazer com que os nossos jovens talentos não tenham desvios e possam chegar a ser vistos pelos observadores destes programas de jovens talentos que existem hoje em praticamente todas as equipes.

 

Como vocês devem saber eu além da Stock Car eu voltei a correr de kart, que é um prazer que me dou e que meus filhos correm de kart também e eu tenho acompanhado os campeonatos de kart em são Paulo e vi também o brasileiro e posso afirmar que na categoria Junior Menor nós temos hoje alguns pilotos que tem um potencial  altíssimo. Aí vocês perguntam, qual é a idade destes pilotos? 11! Mas quanto tempo falta para se chegar na Fórmula 1? Sete anos? Oito anos? Nas outras categorias também vi alguns talentos, mas na Junior Menor o nível está muito elevado. É uma questão de encaminhar bem estes meninos. O Lewis [Hamilton] foi “descoberto” nesta idade.

 

Chico Serra.

De uma forma geral eu acho que é bom uma vez que a princípio estes programas buscam jovens talentos para integrar seus programas. Isso pode ser uma chance muito boa e muito importante para quem tem condições técnicas de dar prosseguimento na carreira de piloto, mas que nem sempre tem condições financeiras para isso.

 

O que vejo é que, ao conseguir entrar em um programa como estes que estão aí o piloto tem um processo de preparação para dar os passos seguintes na carreira e isso certamente é algo muito positivo.

 

A questão é ver se há um caminho para que pilotos brasileiros consigam ser vistos e chamados para fazer parte de um programa destes. A chance de um piloto que entra em um programa como estes que a gente tem visto nas grandes equipes da Fórmula 1 chegar até ser piloto de uma destas equipes é muito grande.

 

 

Ricardo Zonta.

Quando eu corri na Fórmula 3000 e fui buscar um espaço na Fórmula 1 já havia uma questão de que as equipes queriam que o piloto chegasse na equipe com patrocinadores ao invés dela, a equipe, buscar os patrocinadores. Eu não vejo uma grande mudança nisso nos dias de hoje, mesmo com estes programas de jovens pilotos.

 

Naquela época, e estamos falando apenas de 15 anos atrás, as equipes grandes também buscavam os talentos, não era só uma questão de patrocínio, de dinheiro. Se não tivesse capacidade para pilotar o carro e andar na frente, não conseguia. Já nas equipes pequenas é uma questão de sobrevivência. Tem que olhar o lado financeiro mesmo.

 

O que eu acho que mudou mesmo foi que agora os pilotos precisam ter o seu agenciador. É ele que vai buscar os patrocínios, é ele que tem os contatos, é ele que vai conseguir abrir as portas para o piloto entrar em uma determinada equipe ou mesmo num destes programas de jovens pilotos.

 

Quando eu corri na Toyota, no final do meu período na Fórmula 1 a Toyota já tinha um programa para preparar e colocar jovens pilotos na categoria. O [Kamui] Kobayashi foi um deles. Eles apoiavam os pilotos desde o Kart. A McLaren também fez isso com o [Lewis] Hamilton. Hoje em dia como não tem mais treino, não tem mais carro na pista, é praticamente tudo em simulador, buscar estes pilotos mais cedo e colocar pra treinar é o caminho que as equipes encontraram.

 

Ingo Hoffmann.

Eu acho que o caminho natural para se preparar um piloto para que ele chegue à Fórmula 1. Veja o exemplo das grandes empresas com seus Programas de Treineé. Se formos olhar no passado, equipes patrocinadoras já tinham isso há muito tempo atrás. Quando eu fui correr na Europa havia um programa para levar pilotos franceses até a Fórmula 1.

 

Provavelmente este tipo de programa acabou por criar uma dificuldade a mais para os pilotos brasileiros, apesar de que alguns já chegaram a fazer parte de programas de jovens pilotos que são consagradamente vitoriosos como é o caso do programa da Red Bull e de outros.

 

Eu vejo de forma muito positiva inclusive o fato de equipes que foram durante algum tempo patrocinadoras se tornarem equipes como a Red Bull se tornou. Nos anos 70 a Elf, francesa, patrocinava equipes de Fórmula 1 e Fórmula 2. O importante é se criar condições para que o piloto que tem capacidade conseguir desenvolver suas habilidades e crescer na carreira, ainda mais com o desenvolvimento dos carros de hoje em dia que estão cada vez mais avançados em termos de tecnologia. Estes programas funcionam como aprendizado e evolução.