A CBA está cumprindo o seu papel? (2ª parte: Chefes de Equipe e Nobres do Grid) Print
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Friday, 17 January 2014 22:54

Há décadas, entra presidente, sai presidente, a Confederação Brasileira de Automobilismo é alvo de críticas. As vezes mais duras, em outros momentos nem tanto, mas sempre sob críticas. A CBA tem cumprido ou deixado de cumprir o seu papel como órgão gestor do automobilismo brasileiro? As críticas tem fundamento? São infundadas? O que a CBA pode, precisa ou deveria fazer para realmente cumprir seu papel?

 

Mauricio Ferreira – Proprietário da Full Time Motorsports na Stock Car

Do tempo que eu tenho no automobilismo pude acompanhar os três últimos presidentes. O Reginaldo Bufaiçal, o Paulo Scaglione e o atual, Cleyton Pinteiro. No meu ponto de vista tem havido uma evolução e uma evolução grande neste processo de mudanças.

 

Da parte do Cleyton Pinteiro eu tenho visto uma boa vontade muito grande em acertar, em fazer uma boa gestão. Ele trouxe para trabalhar com ele algumas boas pessoas e um conjunto de ideias boas. Contudo, o resultado prático que estamos vendo ainda é muito pequeno, talvez por as ações que estejam sendo tomadas hoje venham surtir efeito apenas a mais longo prazo.

 

Como em todo processo, a CBA ainda comete erros, mas o mais importante é analisar e aprender com os erros para se, numa ação que não teve o resultado desejado, possa-se identificar o que não deu certo, corrigir e acertar. Um dos pontos chave para se conseguir fazer uma boa gestão passa por esta iniciativa de trazer para a CBA pessoas que conhecem automobilismo, que são do meio, ouvir estas pessoas para se acertar mais e errar menos.

 

Em termos práticos nós, proprietários de equipe, pagamos um valor muito alto para manter uma equipe registrada na CBA. Eu já falei sobre isso com o ‘Dadai’ [Valdner..., presidente da Federação Pernambucana] e que hoje uma equipe de competição é uma empresa, não é mais uma coisa de um preparador, um grupo de mecânicos e um piloto. É algo muito maior, que envolve contratos publicitários, marcas, fornecedores e nós deveríamos ser mais ouvidos dentro da CBA. Este é um ponto que deveria, a meu ver, evoluir mais rapidamente.

 

Bird Clemente – Nobre do Grid e Ex-piloto da Vemag, Willys e Greco.

O automobilismo hoje é um esporte muito grande e muito complexo. Há muita concorrência, muitos pilotos e pilotos bons, muitas categorias e tudo custas muito caro e isso faz com que haja uma busca muito grande por patrocinadores para manter toda esta estrutura funcionando.

 

Se eu tivesse ficado dormindo por 40 anos, desde quando parei de correr e acordasse hoje e fosse perguntar sobre automobilismo e alguém me dissesse que a maior categoria do país corre de caminhão, eu is ficar horrorizado, mas eles tem esta categoria com a força que tem por saber fazer com que o meio que cerca o transporte rodoviário neste país invista na categoria.

 

O outro ponto em questão é que nós nos acostumamos mal. Em um período de menos de 20 anos ganhamos 8 campeonatos mundiais de fórmula 1 e isso tirou um pouco a gente da realidade, de que somos um país que não tem uma economia tão forte e o automobilismo exige que se custeie o esporte e isso só vem com patrocínio.

 

Agora, não adianta ter patrocínio, ter o dinheiro se não houver uma estrutura de formação. Um programa de preparação dos pilotos que comece no kart e que vá para uma categoria de fórmula em seguida. Eu penso que uma passagem em um monoposto com pneus radiais antes de colocar o piloto para usar um pneu slick em muito iria contribuir para o aprendizado deste piloto aqui no Brasil. Daí sim, ele partir para a carreira internacional.

 

Seria importantíssimo que os dirigentes conseguissem estruturar e dar condições para planos de longo prazo para a carreira dos pilotos brasileiros. No tempo do Emerson, quando ele e outros foram tentar a carreira internacional, não havia uma estrutura, mas conseguiu-se chegar e escrever o nome do Brasil com o talento. Hoje em dia a realidade é outra e é preciso que haja este trabalho para que nossos pilotos consigam se estabelecer.

 

Amadeu Rodrigues – Proprietário da equipe .... Na Stock Car e no Brasileiro de Turismo

Dizer que ela não cumpre, que deixa de cumprir seu papel eu acho que a gente não pode dizer isso. O que eu posso dizer é que,  no automobilismo atual, e já de algum tempo pra cá, está havendo uma profissionalização muito grande. Um ótimo exemplo disso é o que todos veem aqui na Stock Car e no Brasileiro de Turismo, com a VICAR,  com as equipes. Nós somos mais que equipes, nos somos empresas.

 

A CBA não está se profissionalizando na mesma velocidade. Esta diferença de velocidade acaba gerando algumas ações por parte da CBA que vão no sentido contrário ao que as equipes almejam, aquilo que nós gostaríamos de ver acontecendo no automobilismo.

 

Eu tenho mais de trinta anos no automobilismo e vivi toda esta mudança que foi dos tempos em que se preparava carro na garagem, num galpão improvisado para o que temos hoje em termos de estrutura. Aí quando a gente vê a CBA tomar uma decisão errada, uma coisa que acaba por prejudicar um trabalho, e quando falo  isso não é dizendo que se erra de propósito, é quando se erra por não se estar no mesmo nível de profissionalismo que as equipes hoje estão e que gostaríamos que a CBA estivesse, a gente reclama, e com razão.

 

É uma melhoria neste sentido que todos nós queremos que a CBA consiga fazer dentro dela. Hoje uma equipe tem engenheiros, tem técnicos em informática, telemetria, tudo para que a decisão do chefe de equipe nos boxes e do piloto na pista sejam super acertadas. A parte técnica da CBA precisa ou se profissionalizar ou contratar profissionais para que as decisões tomadas sejam as mais acertadas.

 

Bob Sharp – Nobre do Grid e Ex-Piloto da Equipe Greco.

Não! A CBA não promove o automobilismo de base no Brasil. Nem no turismo e muito menos nas categorias de Fórmula. No passado a CBA já foi mais ativa. Ele, por exemplo, organizou o campeonato brasileiro de Marcas e Pilotos durante a década de 80.

 

Estando ou não no estatuto a responsabilidade da confederação organizar campeonatos, ela tem a obrigação de promover o esporte que ela representa, não apenas de regular e fiscalizar. Quando faltam promotores, organizadores, interessados em promover uma categoria, cabe a CBA tomar à frente e fazer com que a categoria apareça, o regulamento seja feito, as corridas aconteçam.

 

O Brasil carece hoje de um campeonato de Fórmula que sirva como base para a formação dos nossos pilotos. Caberia então à CBA criar esta categoria, este campeonato. Como sabemos, isto custa dinheiro, precisaria patrocínio, mas para isso é que a CBA tem um Departamento de Marketing, que hoje tem o nosso querido Paulo de Melo Gomes, um dos maiores pilotos do país, à frente dele.

 

 

Djalma Fogaça – Proprietário da DF Motorsports na Fórmula Truck

Eu sempre fui um cara muito crítico com relação a tudo, mas hoje, com esta coisa da internet, das mídias sociais, onde o acesso a informação ficou fácil, acontece o seguinte: quando você faz uma coisa boa, uma coisa certa, pouca gente aparece pra te elogiar. Agora, se você faz uma coisa errada, aparece um monte de gente pra te criticar. No caso da CBA, hoje tem aí um monte de “entendido” pra criticar a CBA.

 

Como eu disse, eu sempre fui muito crítico com relação à CBA, mas hoje, colocando-me na posição deles, continuo a ter os pontos que eu critico, mas não faço mais uma crítica indiscriminada.

 

Tô cansado de ler e ouvir por aí “ah, a Stock Car de antigamente...” A Stock Car de antigamente era uma merda! O que é que tinha de bom na Stock Car de 20, 25 anos atrás que é melhor do que hoje? Qual categoria que havia antes que é melhor que uma Stock Car ou uma Fórmula Truck hoje?

 

Aí os caras respondem: “ah, mas hoje só temos duas categorias fortes”... e antes? O que é que tinha? Não tinha nada forte! Não tinha nada bom! Hoje existe um grande número de categorias e quanto mais categorias tiver, mais difícil é administrar. A CBA poderia fazer melhor o seu papel? Sim, poderia, mas eles erram!

 

Um exemplo: Quando a Fórmula Truck correm em Londrina, eles colocam três fileiras de pneus no final da reta do circuito curto. Quando teve os 500 Km de Londrina, se estas fileiras de pneus estivessem lá, poderiam ter salvo a vida do piloto que morreu. Isso é culpa da CBA? Não, não é culpa da CBA, mas se você vai ver nessas mídias sociais, tá todo mundo dizendo que a culpa é da CBA!

 

Aí vamos apurar as responsabilidades: foi algum dos organizadores da prova lá olhar e pedir mais pneus? Não foi. Foi algum piloto lá pedir mais pneus? Não foi. Quem cuida do autódromo foi lá e falou pra colocar mais pneus naquele ponto? Não foi. E aí, a culpa é da CBA? Não é e eu não concordo com esse tipo de crítica.

 

Em Interlagos a Stock e outras categorias usam aquela coisa ridícula que é aquela chicane ali no Café. Aquilo é culpa da CBA? Não é! É culpa dos pilotos que se submetem àquilo. Hoje o automobilismo brasileiro está cheio de piloto forte, com condição de colocar pressão, de cobrar por coisas positivas. Se meia dúzia de pilotos fortes da Stock chegam para os outros e falam, “não vamos correr”, todo mundo fechava e aí, quem ia obrigar os caras a correr?

 

Agora, a CBA também deixa a desejar. Os comissários erram muito e em momentos críticos. Isso é em todas as categorias, sem exceção. Mas porque que eles erram pra caramba e todo mundo vê? Porque hoje tá na televisão, tá na internet, tá no you tube...  antes não tinha isso. Eles erravam, mas não se via. Eles sempre erraram!

 

A CBA teria que preparar melhor seus comissários, seus diretores de prova, até mesmo os bandeirinhas. Se este pessoal fosse melhor preparado, não precisaria de se tomar decisão depois de terminada a corrida, não teria tanto protesto na secretaria, porque o comissário bem preparado iria tomar a decisão correta na hora.

 

Eu estou no automobilismo há 30 anos e vejo hoje o pessoal que está na CBA tentando fazer as coisas darem certo. Ainda falta muito, lá dentro tem pessoas boas, trabalhadoras, procurando fazer a coisa certa. Agora, hoje, falta coragem ao presidente para tirar as coisas ruins que ainda estão lá dentro. Não precisa eu falar nome, todo mundo sabe de quem é que eu to falando.

 

Francisco Lameirão – Nobre do Grid Ex-piloto da Equipe Willys, Hollywood e Motorádio.

Tem uma coisa no automobilismo, como em tudo na vida, que precisa ser seguido: olhar o passado e tirar lições na história para escrever o futuro e isso a CBA não está fazendo. Nem ela e nem ninguém que parece estar olhando para o futuro do automobilismo no Brasil.

 

Quando um piloto começa no kart, quase a totalidade deles pensa em Fórmula 1 não como opção, mas como objetivo a ser alcançado. Depois de anos no kart, o piloto quando senta em um carro de Fórmula, com pneu slick e aerofólios, ele ao invés de dar um passo adiante em termos de formação, ele dá um passo atrás, porque o Fórmula como está hoje não exige do ex-kartista a habilidade e a velocidade de reflexo que lhe era exigida no kart.

 

Agora, onde entra a CBA nisso? A confederação tem duas opções: uma é continuar recebendo o dinheiro da emissão das carteirinhas dos pilotos e outra é fazer uma série de ações efetivas para que o nosso automobilismo volte a ter um papel de destaque no cenário internacional. Tem que ter vontade política e tem que ter ação.

 

Antes da crise, 5% do PIB da Inglaterra era ligado diretamente ao esporte a motor. Pra se fazer um piloto campeão do mundo, e agora eu vou usar o futebol como referência, para se ter uma seleção ou um time campeão do mundo, não basta ter um Maracanã. O que eu quero dizer com isso? Nós perdemos o autódromo do Rio de Janeiro e estamos sob grande risco de perdermos Curitiba. Diversos kartódromos estão abandonados pelo país estão abandonados, fechando ou sendo destruídos e não vamos fazer um campeão, ou uma geração de campeões apenas com Interlagos.

 

É preciso fazer dois projetos: é preciso criar uma categoria onde o piloto possa efetivamente aprender a guiar um carro, aprender a virar o volante, sem aerofólio, com pneus finos que exijam dele reflexo e habilidade para manter o carro na pista. Depois então, com os reflexos adaptados ao carro, começar a pilotar carros com pneu slick e aerofólios, como é na Inglaterra.

 

O outro é um trabalho político, de lobby em Brasília, para se ter aqui no Brasil o investimento que é feito no esporte a motor na Argentina, coisa que o Fangio conseguiu junto ao Perón e que existe até hoje, que é o valor de 1% de cada carro zero Km vendido na Argentina ser direcionado para o esporte a motor. por isso eles tem um automobilismo forte e os pilotos de lá não tem grande interesse em sair do país. Lá eles correm e são remunerados.

 

Duda Pamplona – Proprietário da Office Pro GP na Stock Car e no Brasileiro de Marcas.

É muito difícil falar de fora, sem estar lá dentro vivenciando os problemas que eles tem que enfrentar e é preciso levar em conta que as pessoas que fazem parte da CBA não são profissionais de automobilismo, não vivem de um salário pago pela entidade e nem fazem dela um meio de vida.

 

Contudo, se eles estão lá, voluntariamente, nós aqui esperamos ver mais coisas sendo feitas em prol do automobilismo então a gente espera sempre um pouco mais por parte das pessoas que ocupem estes cargos de direção e, na verdade, talvez seja mais difícil do que a gente imagina, mas a gente espera que a CBA realize mais do que vem fazendo, sempre.

 

A CBA precisava fazer um trabalho político mais forte. Um dos pontos é a melhoria dos nossos autódromos, para que eles tenham melhores instalações, mais condições de segurança e este trabalho pelo fortalecimento do nosso esporte precisa ser feito não apenas nas cidades e estados, mas também em Brasília. Nós perdemos o autódromo de Jacarepaguá e o Rio de Janeiro ficou sem autódromo.

 

A confederação também precisa investir na formação e aperfeiçoamento dos seus comissários para que as decisões dos incidentes durante a corrida sejam rápidas e acertadas. Além disso, se for possível conseguir um meio de profissionalizar estes comissários, fazer com que eles consigam viver deste trabalho seria muito positivo. Assim eles poderiam acompanhar as categorias de perto, entenderiam o que é melhor para as categorias e colaborariam conosco de forma positiva, construtiva.

 

Podermos fazer juntos os regulamentos, unindo o trabalho da confederação, dos promotores e dos donos de equipe, fazendo um trabalho coeso e ouvindo os pilotos, que estão na pista e tem como dar uma grande contribuição no aspecto pista, melhor do que ninguém. O trabalho precisa ser no dia a dia, não só quando tem corridas ou quando tem Fórmula 1.

 

Jan Balder – Nobre do Grid Ex-piloto da equipe Vemag/Malzoni, Casari.

Em parte eu acho que sim, mas por outro lado, falta muita coisa. Uma entidade como a CBA, a meu ver, não deve ser a responsável por promover os eventos, mas sim fiscalizar os eventos. Este é um ponto que eu vejo que, as vezes entra em conflito com a organização.

 

Outro ponto que eu observo é que alguns dos regulamentos de categorias deveriam ser repensados. Por exemplo, a Fórmula 3, que é uma categoria única no continente, deveria estar indo de vento em popa, mas que praticamente não tem grid. É uma categoria muito cara, que possui muitos componentes importados e isso a encarece demais. Repensar o regulamento poderia reduzir este custo.

 

Todo ano a gente ouve que a categoria ta e a categoria tal vão crescer, que os custos vão baixar, que a procura de pilotos vai ser maior e depois não vemos nada disso se tornar realidade. No caso da Fórmula 3 faz anos que eu vejo isso. Promessas, planos, projetos que não se tornam realidade. Hoje é uma categoria esvaziada, que perdeu o status de categoria continental, que não dá mais a superlicença, que não atrai pilotos de outros países, que usa um motor diferente dos que são usados na Europa... eu gostaria de ver menos promessa e mais ação.

 

 

Ereneu Boetteger – Proprietário da Equipe Boetteger na Stock Car

Este processo é algo muito difícil de ser conduzido e eu vejo as equipes como a parte mais frágil em todo ele. Muitas vezes, no entender dos chefes de equipe, a CBA toma decisões que nem sempre nós concordamos. As vezes parece que eles veem apenas o lado deles e o que nós pensamos fica de lado. Eles dizem que as regras são aquelas e nós temos que nos adaptar.

 

No meu entender este método ao funciona. É claro que temos que considerar que cada chefe de equipe tem a sua cabeça e na hora de reclamar, todo mundo tem suas queixas, mas na hora de dar sugestões, de colaborar, de buscar soluções, a gente precisa fazer um pouco junto também.

 

A CBA já teve dias piores. Acho que hoje as coisas não estão tão mal assim, mas ainda tem coisas que eles podem melhorar. Um ponto que eles deveriam levar em consideração é a própria sobrevivência do automobilismo. Este é um esporte de um custo altíssimo e que não há uma abundância de patrocinadores para todo mundo que quer correr e não é barato fazer um carro de corridas. A maioria dos equipamentos vem do exterior, com uma enorme carga de tributos e isso eleva demais os custos de funcionamento da equipe.

 

Não bastasse isso, os patrocinadores que investem, que ainda investem, no automobilismo, também são procurados por outros esportes, por grandes eventos que acontecem no país e isso torna a competição pelo investimento deles ainda mais dura, ainda mais com uma Copa do Mundo e uma Olimpíada vindo por aí. Vai ser menos dinheiro disponível para o automobilismo.

 

Então, a CBA precisava nos ajudar a conseguir meios de baratear o esporte, de conseguirmos algumas isenções fiscais para os equipamentos que compõem nossos carros para viabilizar a continuidade do automobilismo. A CBA precisa acompanhar mais de perto esta realidade. Por exemplo, não é hora de trocarmos o carro que está sendo usado. Não nos próximos dois anos. Eles entenderem isso vai ser algo bastante positivo.

 

 

Last Updated ( Sunday, 19 January 2014 18:57 )