Ave, Alessandro Zanardi! Print
Written by Administrator   
Sunday, 09 September 2012 00:28

 

 

Nestas últimas duas semanas o mundo pode ver os jogos da superação: as “paralimpíadas” – que eram chamadas de paraolimpíadas e não sei por qual motivo mudaram. Entre os milhares de atletas que estiveram nas disputas das medalhas, um deles é um velho conhecido do nosso meio: Alessandro Zanardi. E de todos os feitos que pude assistir pela TV, os do italiano me levou as lágrimas.  

 

Alessandro Leone Zanardi cumpriu toda uma trajetória como piloto. Nascido em Bolonha, a 23 de outubro de 1966, herdou do pai a paixão por motores no sangue, um encanador que vez por outra participava de corridas, como piloto amador. Longe de ter uma origem rica e tendo que depender de muito esforço não só do pai, mas também da sua mãe, uma costureira, Zanardi começou a carreira no kart e mostrou que tinha uma capacidade de andar rápido fenomenal, vencendo três vezes o campeonato italiano e uma vez o europeu, superando nesta trajetória a perda da irmã – Cristina, com apenas 15 anos – em um acidente de carro. 

 

Do Kart Zanardi foi para a Fórmula 3, onde o melhor resultado, obtém um segundo lugar no Campeonato Europeu. Embora sem possuir grandes possibilidades econômicas, Alessandro conseguiu entrar na Fórmula 3000 em 1990 naquela que hoje seria o equivalente à GP2, foi vice campeão.  

 

 

Em sua primeira passagem pela Fórmula 1, Alessandro Zanardi nunca teve um carro em condições de obter bons resultados. 

 

Eddie Jordan, na época proprietário da equipe que levava seu nome e um verdadeiro “caçador de grandes talentos”, viu potencial em Zanardi e deu ao italiano sua primeira chance para pilotar um Fórmula 1. aquele época, as equipes já tinham uma relação de dependência financeira muito grande e, sem dinheiro, não tinha carro. Zanardi ainda correu na Minardi e na Lotus, sem conseguir muito êxito e acumulando em 25 corridas apenas um ponto, na temporada de 1993.  

 

Em 1996, aos 29 anos, Alessandro Zanardi foi para os Estados Unidos... e descobriu a América! Correndo para a equipe de Chip Ganassi, Zanardi, já em seu ano de estréia, venceu três vezes e, naquele ano, protagonizou uma ultrapassagem sobre Brian Herta na ‘curva do saca rolha’ em Laguna Seca que até hoje é exaltada. Nos anos seguintes, Zanardi – que virou ‘Alex’ – sagrou-se bicampeão e teve os olhos do mundo voltados para si. 

 

 

Nos Estados Unidos, correndo para Chip Ganassi, venceu 14 provas e conquistou um 3º lugar e, depois, o bicampeonato da Indy. 

 

Em 1999, numa tentativa de ‘repetir a receita’ que deu certo com a ida de Jacques Villeneuve para sua equipe, Frank Williams apostou na vinda do italiano para formar dupla com Ralf Schumacher... só que a Williams não era mais a equipe vencedora de anos anteriores, estando atrás de McLaren e Ferrari. Ao contrário de Villeneuve, Zanardi não conseguiu fazer uma boa transição e, ao longo da temporada, não marcou um ponto sequer, contra os 35 de seu companheiro de equipe.  

 

Com um contrato de três anos pela frente, num acordo firmado com o carrancudo e mau caráter Patrick Head ao fim de 1999 Zanardi sai da Williams praticamente ‘pela porta dos fundos’, mas com o bolso cheio! Tanto que tirou o ano de 2000 para dedicar-se apenas à família. 

 

 

Na volta à Fórmula 1, pela Williams, muitas dificuldades e mais uma temporada sem marcar pontos. Fim de contrato no final. 

 

No final de 2000, Zanardi foi procurado por Morris Nunn, dono da equipe Mo Nunn com uma proposta para retornar à categoria que o consagrou. Alessandro voltaria a ser ‘Alex’, voltaria ao Estados Unidos e, quem sabe, poder retomar o caminho das vitórias. 

 

Contudo, a Mo Nunn estava longe de ter uma estrutura como a da Chip Ganassi e somando-se a isso a inatividade no automobilismo e a distância da categoria, Zanardi não conseguiu reeditar suas grandes atuações na categoria, passando longe dos pódios e antes do final da temporada, na prova que trazia pela primeira vez a categoria americana para correr na Europa, Zanardi sofreu o gravíssimo acidente que quase tirou-lhe a vida. 

  

Faltavam 13 voltas para o final da prova quando Zanardi saiu dos pits e, estranhamente, dá uma ‘balançada’, ficando um pouco atravessado napista... o suficiente para ser atingido, a mais de 300 Km/h, pelo canadense Alex Tagliani, piloto da equipe Fortsythe. O choque foi assustador, o carro de Zanardi teve a parte da frente arrancada, a célula de sobrevivência não resistiu ao impacto, rompendo-se e levando as pernas de Alessandro Zanardi! 

 

 

No retorno à F. Indy em 2001, pela Mo Nunn, os resultados não foram os mesmos e, na Alemanha, o acidente quase fatal. 

 

Com a corrida – dos carros – interrompida, começava uma corrida – da vida – para Alessandro Zanardi. Em choque, com uma hemorragia sem controle e preso nas ferragens do carro, as equipes médica e de socorro lutavam contra o tempo para salvar o piloto. Da retirada para o helicóptero a ida para o hospital. A agonia dos médicos para conter a hemorragia, evitar uma embolia, as possíveis paradas cardíacas, a incerteza da sobrevivência. 

 

Alessandro Zanardi estava disputando a maior corrida de sua vida e durante semanas em que ficou internado... e venceu! A recuperação foi algo que, de certa forma, surpreendeu os médicos. Não pela capacidade que um atleta teria de se recuperar, mas pela atitude mental positiva que Zanardi demonstrou durante todo o processo de recuperação até a sua alta. 

 

O ano de 2002 começava diferente de todos os outros para Alessandro Zanardi. Com 36 anos de idade, a vida de piloto parecia ser agora uma lembrança distante, pelo menos esta seria a perspectiva sob a ótica de praticamente todos... menos na de Zanardi! Buscando manter-se ativo, Alessandro mostrou estar ainda mais forte e, com auxílio de próteses e com carros adaptados, voltou a competir... e a competir em alto nível. 

 

 

A incrível volta por cima começou nos carros de turismo. Foram cinco temporadas no WTCC e o respeito de todos os pilotos 

 

Depois de algumas corridas isoladas, durante cinco temporadas Alessandro Zanardi disputou o campeonato mundial de carros de turismo, o WTCC, tendo conquistado quatro vitórias, dezoito pódios e mais do que isso: a admiração e o respeito de todos os grandes pilotos que disputaram os campeonatos contra ele. Esta volta já poderia ser mais do que o suficiente para Zanardi mostrar ao mundo toda a sua capacidade, toda a sua tenacidade... mas viria mais. 

 

Alessandro Zanardi descobriu o ciclismo paraolímpico, na categoria em que os ciclistas cadeirantes utilizam os braços como força motriz das bicicletas. O italiano buscou um programa de treinamento, começou a participar de competições e em 2010, venceu a maratona de Roma, lançando-se como atleta potencialmente capaz de disputar as paraolimpíadas, agora chamadas de paralimpíadas. 

 

 

Zanardi 'descobriu' o ciclismo para cadeirantes e investiu no esporte com a mesma dedicação dos tempos de automobilismo...  

 

Os jogos de Londres tiveram um sabor e um cenário todo espacial. As provas de ciclismos foram disputadas no autódromo de Brands Hatch, autódromo que tantas vezes Alessandro Zanardi correu na vida... e naquele templo da velocidade, o italiano conquistou duas medalhas de ouro em provas individuais e uma de prata no revezamento.

 

Para nós, amantes do automobilismo, ver Alessandro Zanardi conseguir mais do que uma vitória, ele mostrou que o espírito de competitividade de todo piloto de corridas, continua pulsando forte em seu peito. Tomara que Alessandro Zanardi venha competir nos jogos do Brasil. Eu vou fazer questão de estar presente e, se possível, cumprimentá-lo pessoalmente. 

 

 

A recompensa começou a ser colhida em 2010, mas foi nas olimpíadas de Londres que o italiano, em Brands Hatch, consagrou-se. 

 

Ave, Alessando Zanardi, cheio de graça!

Ave, Alessando Zanardi, cheio de garra!

Ave, Alessando Zanardi, cheio de glória! 

 

Abraços, 

 

Maurício Paiva

 

 

Last Updated ( Sunday, 09 September 2012 01:14 )