E o Andreas Mattheis pagou o pato! Print
Written by Administrator   
Wednesday, 06 July 2011 20:11

 

 

Acredito que todo mundo já ouviu que “a corda sempre arrebenta do lado mais fraco”, não? Seria muita ingenuidade se pensar que no automobilismo as “regras” seriam diferentes. Lembram do Nelsinho Piquet e do “Singapuragate”? Todo aquele festival, todas as decisões do tribunal e, no final, o que aconteceu? Briatore frequenta o Jet Set da F1 como se nada tivesse acontecido, Pat Simonds dá consultoria e quem pagou o pato?  

 

Há pouco mais de um mês, na etapa de Campo Grande da Stock Cars, os dois carros da equipe Red Bull, de Andreas Mattheis foram punidos com um uma passagem pelos boxes devido à constatação do excesso de velocidade de ambos os carros quando entraram para a parada obrigatória. 

 

Errar é humano, os pilotos podiam ter errado... o sistema de controle de velocidade – que é programado por um ser humano – poderia ter falhado... mas e o mapa de telemetria de ambos os carros, poderiam ter falhado? Mesmo que tudo isso tenha falhado, alguém explica, sem falhar, como é que um carro contorna a entrada dos boxes de Campo Grande à 137 Km/h (caso de Cacá Bueno. Daniel Serra estava a "apenas" 74 Km/h)? 

 

 

Em Campo Grande, os dois carros da Red Bull foram punidos por excesso de velocidades nos pits... e põe excesso nisso! 

 

Em “condições normais” um recurso da equipe levaria o julgamento do fato para uma análise após a corrida... só que este tipo de possibilidade deixou de existir na Stock Cars com o regulamento que foi assinado para este ano, que parece ter sido escrito para atender às transmissões de TV da emissora que a divulga. 

 

A equação parece ser simples: Quem tem o dinheiro, manda. Quem ganha o dinheiro obedece, quem deveria arbitrar as regras, omite-se e, caso haja algum erro (e já aconteceram alguns), o esporte, seus competidores e os parceiros destes, pagam a fatura do julgamento errado. 

 

Recorrer de uma decisão de prova, depois que os carros cruzam a linha de chegada e todo mundo ai embora é uma via de mão única: Se uma irregularidade for julgada após a prova, o competidor pode tomar uma punição de tempo ou mesmo uma desclassificação... e se for o contrário? Depois de uma punição errada e da prova terminada, há como se corrigir? Poderia se “abater” 20 segundos do tempo de prova do agora inocentado? Seria algo inédito nos anais do automobilismo. 

 

 

A telemetria não mente: os carros da equipe de Andreas Mattheis sequer chegavam ao limite de 50Km/h. Estavam entre 47 e 48.

 

O dono da equipe, Andreas Mattheis, uma pessoa com mais de 30 anos de inestimáveis serviços prestados ao automobilismo nacional NA PISTA explodiu em revolta contra a atitude da direção de prova e de todo o ‘status quo’ que reina na categoria mais “badalada” do país, mesmo sob o risco de ter sua credencial cassada uma vez que o regulamento da categoria “proíbe que se conteste o sistema”... Andreas ignorou os riscos e não poupou críticas. 

 

Primeiro, em entrevistas, com microfones abertos – e o sangue quase em ponto de ebulição – divulgou nota no dia 9 de junho. Os principais pontos foram:  

 

"A Red Bull Racing acredita que os números altíssimos acusados pelo equipamento de medição deixaram claro e evidente que tais leituras estavam equivocadas. E não entende como, com tamanha margem de dúvida, as punições tenham acontecido, ferindo um dos mais básicos princípios da lei em qualquer lugar civilizado: o da inocência até prova em contrário.  

 

 

Andreas Mattheis tem mais de três décadas de vitórias nas pistas brasileiras. Seja como piloto, seja como chefe de equipe.

 

A mesma Campo Grande viu ano passado Daniel Serra ter uma vitória incontestável retirada em uma desclassificação altamente controversa. Igualmente controversos foram os critérios de ‘dois pesos e duas medidas’ utilizados pelos comissários de prova da Stock Car ao longo dos últimos 18 meses para punir determinadas infrações. 

 

Por si só, a incoerência nos critérios já seria amadorismo puro e simples. Porém, o fato de em ambos os casos a equipe Red Bull Racing ter sido diretamente prejudicada por essa inconstância serve para deixar nossas cabeças cheias de interrogações. (E nossos sacos bastante cheios, também).  

 

 

Na sede da CBA, com a bela vista para a Baía da Guanabara, VICAR e CBA assinam "afinam as idéias" na gestão da categoria. 

 

Infelizmente para nós, no último ano e meio, a Stock Car tem sido também sinônimo de amadorismo e despreparo no campo desportivo". 

 

Definitivamente, palavras duras e pesadas contra tudo e contra todos por parte da equipe... um ato que, caso estivesse de todo errado, ou mesmo em parte, poderia perfeitamente levar a equipe e seu proprietário a ser confrontado com o draconiano regulamento. Contudo, tanto a CBA como a VICAR informaram em nota não pretender formalizar uma resposta à equipe. 

 

 

Cleyton Pinteiro, Carlos Col e Mauricio Slaviero: Na prova de abertura da temporada 2011, no Velopark. "Sintonia perfeita". 

 

Na semana que antecedeu a última etapa, no moribundo autódromo de Jacarepaguá, três notas à imprensa, a primeira da VICAR, a segunda da Equipe e a terceira da CBA, num intervalo de 24 horas. 

 

A VICAR, tirou o corpo fora, afirmando-se apenas como a promotora do evento, jogando para cima da CBA a responsabilidade sobre o ocorrido em Campo Grande, “esquecendo-se” de suas responsabilidades na elaboração do regulamento da categoria para atender à televisão. Veja a nota: 

 

 

Para a VICAR, o trabalho "limita-se" à promoção e divulgação dos eventos esportivos que ela gerencia... regra é com a CBA! 

 

Nota de esclarecimento
Vicar Promoções Desportivas S/A

"Em respeito aos fãs, imprensa, patrocinadores, equipes e pilotos, a Vicar Promoções Desportivas S/A gostaria de informar que suas atribuições e da Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA) são totalmente distintas, e vem esclarecer o que segue:

- que a Vicar Promoções, como o próprio nome diz, é uma empresa que promove eventos esportivos, responsável pela promoção e realização da Stock Car e outros campeonatos do automobilismo brasileiro, gerindo as áreas comerciais e promocionais. 

- que a CBA, entidade máxima do automobilismo brasileiro, é a responsável por gerir as competições no que se refere às questões técnicas e desportivas, tendo total gerência sobre as decisões dos comissários, diretores de prova ou qualquer outro oficial de competição nomeado e ou homologado por ela. 

- que os vários serviços contratados para a execução das atividades de operar e fiscalizar as competições, tais como sinalização, resgate de pista e médico, todos os oficiais de competição (como diretor de prova, comissários, cronometristas, entre outros), são pagos pelas empresas promotoras para que estejam à disposição da CBA durante todo o evento.

- que todos os recursos físicos, tais como equipamentos eletrônicos, monitoramento das imagens de pista, instalações, mobiliário, safety car, medical car, carros de resgate, ambulâncias, carros pipas, varredeiras, etc., são também providos pelas empresas promotoras para atender as necessidades da CBA.

- que está claro que são de inteira responsabilidade da entidade máxima do automobilismo brasileiro, CBA, as decisões tomadas pelos seus oficiais, tais como orientações, punições e resultados. 

- que a Vicar sempre buscou uma postura parceira da entidade, procurando auxiliar em tudo que esteve ao seu alcance para que o resultado dos trabalhos fosse sempre os melhores possíveis. 

- que a Stock Car é uma competição esportiva, assim como tantas outras, sendo que as empresas que as promovem não deveriam ser responsabilizadas por erros e acertos de decisões técnicas e desportivas. Será que as empresas promotoras dos torneios de futebol deveriam ser responsabilizadas por um pênalti mal marcado? 

- que pilotos e equipes são filiados à CBA, e nesta relação têm direitos e responsabilidades, portanto quaisquer questionamentos relativos às orientações, punições e resultados de pista deve ficar no âmbito da entidade e seus filiados. Não cabendo às empresas promotoras manifestarem-se sobre tais assuntos.

- que a Vicar, juntamente com equipes, pilotos, patrocinadores e demais parceiros, trabalhou muito para levar a categoria ao patamar de profissionalismo e prosperidade que hoje se encontra, principalmente se comparado ao que existia há alguns anos. Obtendo ótima visibilidade institucional, nunca antes alcançada no automobilismo brasileiro. Além disto, gerando grande quantidade de empregos diretos e indiretos e a oportunidade para diversos pilotos profissionalizarem-se no automobilismo brasileiro."

Maurício Slaviero
Diretor Geral 
Vicar Promoções Desportivas S/A
 

 

 

A CBA, por sua vez, defendeu seus comissários e a empresa de cronometragem (que é contratada da VICAR). No final, lamentou o ocorrido. Leia a nota... que ninguém assina: 

 

 

Para a CBA, ficou o lamento sobre o ocorrido e a promessa de investigação em relação ao que possa ter ocorrido. 

 

Nota de esclarecimento
Nota de esclarecimento sobre acontecimentos em evento do Campeonato Brasileiro de Stock Car V8

"Rio de Janeiro, 1º de julho de 2011 - Com relação aos fatos ocorridos durante a quinta etapa do Campeonato Brasileiro de Stock Car V8, disputada dia 5 de junho no Autódromo Internacional de Campo Grande (MS), a Confederação Brasileira de Automobilismo esclarece que:

1) A empresa provedora de serviços de cronometragem reitera que duas aferições realizadas no equipamento utilizado em Campo Grande comprovaram que o mesmo funcionava dentro da normalidade. Em 812 passagens durante a prova ocorreram distorções de medição na ordem de 0,246%.

2) Cabe ao serviço de cronometragem informar aos comissários desportivos o numeral dos veículos que excedem o limite de velocidade na área dos boxes. De posse da informação os comissários desportivos aplicam o parágrafo I do artigo 82 do Regulamento Desportivo da categoria, documento disponível no site da CBA. O procedimento descrito nesse parágrafo foi cumprido de acordo com o estipulado. 

3) A escalação dos comissários técnicos e desportivos para atuar em provas de campeonatos brasileiros demanda a presença desses oficiais em seminários e cursos de formação e aprimoramento. Nos últimos dois anos a CBA realizou três seminários dedicados a isso, ministrados por instrutores indicados pela Federação Internacional do Automóvel (FIA) e mantém encontros pontuais para efetuar um treinamento constante desses oficiais.
 4) Após o evento em questão foi solicitado à empresa mantenedora dos motores uma análise do sistema de aquisição de dados "onboard" nos dois carros penalizados. O exame mostrou que os pilotos não excederam o limite de velocidade para o local.

5) A empresa provedora de serviços de cronometragem continua investigando possíveis interferências eletro-eletrônicas no local onde o equipamento estava instalado e que poderiam ter afetado aleatoriamente a medição de velocidade. 

6) Diante dos fatos já conhecidos é possível entender que as discrepâncias de dados tem origem técnica e não contaram com a interferência dos pilotos. Lamentamos profundamente que o ocorrido tenha causado prejuízos desportivos aos dois competidores envolvidos na situação acima descrita."

Confederação Brasileira de Automobilismo

 

Por Fim, a equipe de Andreas Mattheis, numa atitude corajosa, divulgou sua nota e, em vista dos fatos ocorridos, decidiu “correr de luto, com os carros na cor preta, com pintura fosca, e os touros apenas nas laterais. No parabrisas, a frase: corrida é na pista!

 

 

Para Andreas Mattheis, seus pilotos e sua equipe, ficou o protesto em forma de luto para a etapa disputada no Rio de Janeiro. 

 

Na nota, o pedido pela profissionalização dos Comissários Esportivos, por consistência e coerência nas decisões, por regulamentos mais claros e transparência nas decisões.  

 

 

Estamos de Luto


"Há nove temporadas, a Red Bull acredita e investe no automobilismo brasileiro, com um único objetivo: brigar por vitórias. Desde seu nascimento, no Brasil e no mundo, a Red Bull tem o esporte a motor como uma paixão que beira o vício.

Infelizmente, uma série de episódios acontecidos nos últimos anos – culminando com a punição dupla por excesso de velocidade em Campo Grande – nos dão a convicção de que a gestão desportiva fora das pistas, realizada pela Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA), não está à altura do alto nível de profissionalismo dos pilotos e equipes que participam das competições no Brasil.

Para que isso finalmente aconteça, acreditamos que seja necessária a implementação, com urgência, de importantes mudanças:

1) Profissionalismo dos Comissários Desportivos:
Em qualquer corrida, as decisões dos Comissários têm o poder de consagrar ou jogar por água abaixo o trabalho dos profissionais que arriscam suas vidas dentro da pista. Trata-se de uma responsabilidade imensa, e que portanto deve ser exercida por indivíduos altamente capacitados e com ampla experiência, não por afiliados políticos de Federações estaduais. Como exemplifica a Fórmula 1 atual, o recrutamento de grandes ex-pilotos é uma das melhores soluções possíveis nessa situação;

2) Consistência e coerência nas punições:
A consequência maior de não possuir Comissários profissionalizados é a repetição frequente de casos de “dois pesos, duas medidas”, em que infrações idênticas são sancionadas de formas diferentes – já que, a cada corrida, diferentes membros de uma respectiva Federação estadual são convocados a atuar como comissários, sem necessariamente ter acompanhado os critérios anteriores utilizados em etapas do mesmo campeonato acontecidas em outros estados. Sem consistência nessas decisões, o espírito esportivo dos resultados fica comprometido;

3) Regulamentos mais claros:
A melhor maneira de evitar “zonas cinzas” nos regulamentos técnicos e desportivos é fazendo uma redação completa e coerente dos mesmos. Textos redigidos da maneira atual, deixando decisões sobre diversos pontos “a critério dos Comissários”, inevitavelmente causarão inconsistências;

4) Transparência nas decisões:
Quando pilotos ou equipes são injustamente punidos por erros que não os seus, o que se espera em um campeonato transparente é que esses erros sejam tornados públicos, de modo a preservar a imagem das partes prejudicadas.  

Estamos pedindo demais? Acreditamos que não, e que todas as pessoas que realmente gostam e vivem de corridas em nosso país também adorariam ver esses quatro pedidos atendidos. O automobilismo brasileiro merece – e precisa, para continuar a crescer – ser elevado a um novo patamar de profissionalismo fora das pistas.

Afinal de contas, corrida é na pista."
 

 

 

E os "Deuses da velocidade" premiaram os injustiçados: Com seu carro negro, Cacá Bueno levou à equipe para a vitória.

 

Na corrida do Rio de Janeiro, Cacá Bueno, com luto e tudo, fez a festa da vitória, uma digna resposta a tudo que vem acontecendo de errado na categoria.

 

 

A pergunta é: quantas notas e quantos "patos" ainda seremos obrigados a ver no nosso combalido automobilismo? 

 

Contudo, nada vai trazer de volta os pontos perdidos em Campo Grande. Ali, foi Andreas Mattheis quem “pagou o pato”... e não se enganem, outros patos virão! 

 

Abraços, 

 

Mauricio Paiva

 

 

Last Updated ( Sunday, 17 July 2011 08:46 )