Sob nova direção: a diferença na informação Print
Written by Administrator   
Thursday, 10 September 2020 23:59

No meu ramo de negócios, como em qualquer lugar, tem gente séria e tem picaretas. Eu vendo imóveis há 20 anos e não meto meu nome nem trabalho para quem não trabalha direito e quando os clientes questionam sobre a seriedade da empreiteira, dos construtores, dos proprietários, eu digo exatamente isso. Se eles acreditam, é outra prosa.

 

Eu passei uma tarde inteira com meu primo, o gerente do Nobres do Grid, “tomando uma aula” sobre essa coisa complicada que ele trabalha que é o mercado de investimentos. É muito número, muito papel, muito nome e muita coisa que eu precisaria de um ano e não uma tarde pra entender.

 

Mas o nosso foco foi um só: a venda da VICAR. Há anos que eu vinha falando, principalmente quando a gente começou a perceber a redução de público pelas fotos tiradas nas corridas e nas imagens da transmissão da TV – que com o tempo foram ficando mais enquadradas na pista, tentando esconder as arquibancadas com pouca ocupação.

 

Não lembro quem falou pra mim... “na hora que ele (Fernando Altério, CEO da T4F) cansar de brincar de carrinho, ele vende a VICAR ou, pior, baixa a porta e acaba com a brincadeira”. Talvez a pandemia tenha sido o empurrão que faltava pra descarrilar o trem. Com a categoria parada, um monte de gente na folha pra pagar, com o tempo passando e as perspectivas não aparecendo, vai ficar segurando prejuízo pra quê? Ainda mais se aparecer um comprador interessado.

 

 De 2006 a 2020 o grupo T4F foi a sócia majoritária, com 85%, da VICAR, empresa que promove a Stock Car.

 

A T4F mandou aquela nota, pasteurizada e estabilizada como leite de caixinha do supermercado, para a imprensa dizendo: “Esta transação está alinhada ao planejamento estratégico da T4F, que pretende intensificar esforços na promoção de grandes festivais e shows de música ao vivo, além de eventos para família e teatro. Os recursos oriundos da venda reforçarão a posição de caixa da T4F e serão empregados no processo de digitalização e consolidação do mercado”. E, realmente, a VICAR e suas corridas destoavam do todo.

 

Em 2019, uma das principais – possivelmente a principal – fontes de retorno de investimento do grupo T4F, o festival de música Lollapalooza, levou ao autódromo de Interlagos em um final de semana quase 250 mil pessoas. Mais público que a temporada inteira da Stock Car, sem ter que sair viajando pelo país, arrumando e enfeitando autódromo em 12 etapas, com tudo no mesmo lugar e com ingressos muito mais caros. A venda já era discutida desde o ano passado, em meio à reformulação do chamado “planejamento estratégico” da T4F, mas a pandemia fez o processo colar o pé no acelerador e empurrá-lo até o fundo.

 

 Lollapalooza 2019: em um final de semana, mais póblico que a Stock Car em todo o ano e um faturamento muitíssimo maior.

 

Ingresso é o mínimo. O fã de música não pode levar uma garrafinha de água pra dentro do autódromo e os preços das coisas lá dentro são mais caros que o do aeroporto da Pampulha ou de Confins, onde os revendedores pagam um numerário considerável de direito para estar ali e, com isso, tem que extorquir o público pra não ficar no prejuízo. Quem comprou os ingressos no que chamam de “primeiro lote” (os lotes seguintes são mais caros) pagou R$ 1.326,00 (isso mesmo: mil trezentos e vinte e seis reais) para 3 dias no meio da grama, sem lugar pra sentar, sob chuva ou sob sol. A meia entrada foi  R$ 663,00. O ingresso mais barato para 3 dias na Fórmula 1 (a inteira) em 2019 foi R$ 610,00!!! O ingresso da Stock Car custa 30 reais. Ainda assim, em 2019 a receita líquida da VICAR foi de R$ 7.706 milhões, um trocado perto do que um único evento como o Lollapalooza faturou no mesmo ano para a T4F.

 

Mas o melhor dessa venda é o comprador do negócio... inicialmente foi divulgada a informação que o Veloci Investiments (ou Investimentos), que é ligada ao grupo United Partners. Pedi ao Fernando para dar uma busca e ele não achou a Veloci Investments (ou investimentos) nem no Google, nem nas bolsas de valores na Europa e EUA e não encontrou, mas achou a United Partners... na Lituânia! Sim, o grupo de investimentos é originário do país do Báltico e uma das ex-repúblicas Soviética, com escritórios nos EUA e ações sendo negociadas em Frankfurt e Nova York.

 

 A Corrida do Milhão em 2020 foi a última sob o controle da T4F. Este ano, sem público e sem HCs, o faturamento desabou.

 

Depois que a União Soviética se desmantelou além de surgirem novos países independentes e de alguns voltarem a ser, o capitalismo tomou conta das economias e quem teve visão ficou rico (muito rico) rapidamente. Empresas e empresários da região investiram em muita coisa, até em times de futebol na Europa. Porque não em um mercado promissor como o Brasil e num esporte como o automobilismo. Eles também estão conquistando espaço no automobilismo europeu. Só que no comunicado da VICAR apareceu um terceiro grupo: a Paraty Capital.

 

De acordo com o site da Paraty Capital, eles são administradores de fundos de investimento, investem em companhias de variados segmentos, estando no mercado desde 2013. Mais uma vez consultei o Fernando e ele disse ser normal um grupo estrangeiro fazer uma associação com um grupo local para gerir suas operações em um determinado país. Ele fez uma busca do CNPJ e encontrou o registro da United Partners em São Paulo, de 3 de agosto, e tendo como endereço o endereço da Paraty Capital. Tudo junto e misturado. Com algumas notícias à conta gotas, surgiu como principal investidor no Brasil o empresário Lincoln Oliveira, presidente da empresa de comunicação Americanet, mas sem se saber cifras e da forma como foi fechado o negócio, apenas com um indicativo para a composição de cotas deste fundo de investimento de 38,5 milhões de reais. Foi esse o valor pago? Pago por quem? Quanto cada um pagou? Um só pagou?

 

 Carlos Col, o homem que criou a VICAR, segundo a nota distribuída à imprensa, continuará como o homem forte da Stock Car.

 

Só pra fazer uma comparação, a equipe Williams na F1 foi vendida para um grupo de investimentos norte americano, Dorilton Capital, empresa especializada em fazer investimentos de longo prazo e que conta com dirigentes grandes admiradores do automobilismo, segundo seu presidente, Mattew Savage. O negócio foi fechado por 152 milhões de Euros, dívidas incluídas, com tudo transparente, preto no branco, e já anunciou a nova diretoria do time, composta por Matthew Savage e Darren Fultz, além do ex-piloto James Matthews, para a formação da direção do time, com Simon Roberts como chefe da equipe, interinamente.

 

Voltando para terras Tapuias, como costuma se referir o nosso grande colunista, Alexandre Bianchini, vulgo Gargamel, no caso da Stock Car e da VICAR, pelo que foi anunciado até agora, Tudo continua como antes, com Carlos Col à frente da categoria, que anunciou o calendário para o restante do ano (terá sido efeito da mudança dos donos?), mas os esclarecimentos, segundo a VICAR, sobre o negócio, participações, quem seriam os dirigentes do United Partners vai seguir o modelo “quem matou Odete Roitmann”, como diria outro dos nossos colunistas, Paulo Alencar, o Shrek, com direito a aquelas reviravoltas de roteiro de novela?

 

 Agora a mais renomada categoria do automobilismo nacional está "sob nova direção". Torçamos para que tudo dê certo.

 

Resumindo: seja quem for o dono (os verdadeiros donos), que as coisas sejam feitas do jeito certo, com tudo às claras e que dê certo. Não podemos perder a Stock Car por uma simples operação de capital ou algo não muito claro. O estrago pode não ter conserto. Por enquanto essa “Sociedade Anônima” está anônima demais... e depois de ver as coisas recentes da Rio Motorpark, não tem como o mineirinho aqui não ficar, mineiramente, com um pé atrás.

 

Abraços,

 

Mauricio Paiva

  
Last Updated ( Wednesday, 23 September 2020 10:36 )