F4 Argentina A grama do vizinho É mais verde Print
Written by Administrator   
Tuesday, 10 March 2020 22:14

Descobri mais uma qualidade entra as milhares – talvez milhões – que eu possuo: sou um ser anfíbio!

 

Quem viu o que aconteceu com as chuvas do mês passado aqui em Minas Gerais, especialmente na região metropolitana de Belo Horizonte deve ter ficado impressionado com o que viu na televisão, com as toda a destruição, placas de asfalto empilhadas como jornais velhos, carros boiando, outros submersos e até ônibus sendo arrastados nos caudalosos rios que se tornaram as ruas e avenidas.

 

Moro na chamada Grande BH, na cidade de Contagem, que foi duramente atingida com essa tragédia, fruto de uma condição anormal do clima unida ao acúmulo de erros de décadas de administração pública que canalizaram, taparam, estreitaram rios e córregos que cortam as cidades.

 

Fui obrigado a “tirar férias” do nosso site para colocar a minha vida e da minha família em ordem. Para desespero geral da redação e do pessoal que diz gostar de automobilismo, mas nada faz por ele, estou de volta e voltando com tudo pra falar sobre o futuro e o passado das nossas categorias de formação de pilotos, algo que depois do kart simplesmente acaba quando falamos de Brasil.

 

   O ditado popular de que "a grama do vizinho é mais verde", em alguns casos é mais verde mesmo.

 

Existe um ditado bastante popular que diz que a grama do vizinho é sempre mais verde, no sentido de que a vida dos outros sempre parece ser melhor do que a nossa. O casamento, a situação financeira, a inteligência, a relação com a família, a popularidade, carreira, às vezes, tudo dos outros parece ser melhor. Então eu te pergunto, será que é mesmo?

 

Você está no seu quintal, olha para o lado, e enxerga ela, a grama do seu vizinho, que tem um tom de verde extraordinário e está impecável. Então, olha para a sua e vê que há manchas causadas pelo sol, áreas em que a terra aparece, pequenas pragas. Ao fazer essa comparação tem a mais absoluta certeza de que o gramado do seu vizinho é perfeito enquanto o seu está cheio de imperfeições.

 

   No ano passado os argentinos deram um passo importante na formação de pilotos, importando carros da F4.

 

Se o jardim, no caso, for o automobilismo e o vizinho for a Argentina, na tenha dúvidas: a grama do vizinho É mais verde, sim! Além de ter muito mais categorias do que temos no Brasil, eles tem programas na televisão (alguns), revistas especializadas, transmissões ao vivo das corridas nos finais de semana, público que lota os autódromos e montadoras de automóveis dando apoio oficial.

 

No ano passado, os argentinos deram mais uma “adubada no gramado” quando o empresário e promotor Héctor ‘Tito’ Perez anunciou que em 2020 a Argentina teria um campeonato de Fórmula 4 homologado pela FIA (Federação Internacional de Automobilismo), o primeiro “degrau” no plano estabelecido pela entidade internacional para que um piloto comece a fazer seu caminho até chegar na Fórmula 1.

 

   Com 12 carros em um esquema de "equipe única", os argentinos querem formar pilotos, engenheiros e mecânicos.

 

Apesar de todo o conhecimento e paixão que os argentinos tem pelo esporte a motor em geral, na pista ou fora delas, com duas ou quatro rodas, o empresário e promotor foi totalmente realista e, como negócio, viu que os pilotos do país – e de todo continente – estavam em desvantagem. Os custos de investir em uma carreira internacional, ainda tão jovens (a Fórmula 4 recebe pilotos com 15 anos de idade e como coloquei na minha coluna anterior, mais da metade do grid da Fórmula 1, hoje, tem no máximo, 25 anos).

 

Relembrando coisas que existiu e não existe, e até onde sei era uma coisa importante que existia em Interlagos (a escola de formação de mecânicos), o projeto de Hector Perez e Pablo Collazo pretende fazer da categoria uma escola de formação de mecânicos e engenheiros de competição, inclusive com um programa de estudo da língua inglesa, principalmente o inglês técnico, fundamental para que os pilotos possam se estabelecer nos passos seguintes na Europa.

 

   No circuito uruguaio de Concepción o carro foi para pista e realizou testes com os pneus a serem usados na temporada.

 

Mas nem tudo são flores no projeto dos hermanos... Eles fizeram uma bateria de testes com pneus no autódromo de Concepción, no Uruguai e o plano era começar a temporada ainda no final de 2019. Faltou pilotos! Os 12 carros com chassi Mygale (o mesmo usado na Fórmula 4 francesa). O calendário, que para seguir o padrão estabelecido pela FIA precisa cumprir o programa de 8 finais de semana com rodadas triplas. Como o nosso colunista, Milton Carranca, mostrou na sua coluna, asterisco ou “a confirmar” é um negócio levado a sério na Argentina e, até o momento, apenas a primeira rodada tem local confirmado: o Autódromo de Buenos Aires.

 

Enquanto isso, como fala outro colunista do site, Alexandre Gargamel, aqui, em “Banânia”, o pessoal da empresa F/Promo Racing, através dos seus diretores, Andrei Valério e Flávio Menezes, ao contrário dos ‘nuestros hermanos’ foi atrás da CBA e apresentou um projeto completo, com calendário definido com as 8 etapas com data e local, inclusive com o plano de colocar a categoria como preliminar da Fórmula 1 como fazem nos Estados Unidos. Como coloquei em uma coluna anterior, eles fizeram um plano onde a categoria custaria 1/3 do que custa na Europa. Seria “A” categoria...

 

O problema é que os promotores daqui, diferente dos promotores vizinhos, não tinham o dinheiro para comprar os carros da categoria e colocar para rodar aqui no Brasil, fazer um “festival pra vender o produto”, tipo esses coquetéis que as construtoras fazem no lançamento de grandes projetos imobiliários e que costumam se tornar um grande evento de venda. Apresentaram apenas a ideia.

 

   Aqui no Brasil os promotores da F/Promo Racing tentou emplacar a categoria no Brasil, mas...

 

Pior que isso foi tentar vender a ideia... o proposto (e por isso que no meu artigo anterior sobre o assunto eu disse que eles não podiam comprometer a imagem de um Nobre do Grid como o Sr. Wilson Fittipaldi Jr.) era que os pilotos interessados e seus patrocínios (e “paitrocínios”) pagassem o valor daquilo que eles estavam dizendo que seria o custo da temporada e só então eles comprariam os carros... não preciso dizer que não vai ter categoria, né? Até o piloto que eles anunciaram em um release no ano passado já assinou... pra correr na Argentina!

 

Apesar do fiasco, tem uma coisa boa nele, dentro daquela coisa otimista do eterno otimismo nacional de que no final tudo vai dar certo... para 2021, todos os modelos da categoria, que foi homologada em 2014, receberão atualizações. Entre elas a introdução do horroroso ‘Halo’, que já está presente nas demais categorias de Fórmula sob a batuta da FIA. Ou seja, os carros realmente estão vindo com um “precinho camarada” aqui para a América do Sul por conta dessa mudança para o ano que vem.

 

Enquanto os argentinos olham para frente e procuram estabelecer um projeto para jovens pilotos não apenas de seu país mas de todo o continente, do lado de cá da cerca, o jardim seca com a falta de visão dos nossos promotores e com a insistência de gente que tenta tirar caldo de um bagaço chamado “F3 Brasil”, chamada agora de “F-Fest”, correndo dentro da programação do regional de São Paulo e de onde os pilotos não tem nenhuma perspectiva.

 

Abraços,

 

Mauricio Paiva 
Last Updated ( Friday, 28 February 2020 22:42 )