O mineiro, a mentira, a criatividade e o Carmelo Print
Written by Administrator   
Sunday, 13 October 2019 17:32

Aqui em Minas Gerais a gente costuma dizer que o mineiro não é mentiroso... ele é criativo! De uma forma ou de outra, mineiramente, a gente sempre dá um jeito de resolver um problema, contar uma história – ou um “causo” – ou mesmo tirar proveito de uma situação.

 

Pra manter o que venho fazendo há alguns meses, vou contar um “causo” que mostra bem como a gente é criativo por aqui.

 

Um mineiro, lá de Curvelo, tinha 12 filhos, precisava sair da casa onde morava e alugar outra, mas não conseguia por causa do monte de crianças.

 

Quando ele dizia que tinha 12 filhos, ninguém queria alugar porque sabiam que a criançada iria destruir a casa e ele não podia dizer que não tinha filhos, não podia mentir, afinal, os mineiros não podem mentir.

 

 

Ele estava ficando desesperado, o prazo para se mudar estava se esgotando.
Daí teve uma ideia: mandou a mulher ir passear no cemitério com 11 dos filhos.
Pegou o filho que sobrou e foi ver casas junto com o agente da imobiliária. Gostou de uma e o agente perguntou quantos filhos ele tinha.

 

Ele respondeu que tinha 12.
Daí, o agente perguntou:
- Mas onde estão os outros?
E ele respondeu, com um ar muito triste:
- Estão no cemitério, junto com a mamãe deles.
E foi assim que ele conseguiu alugar uma casa sem mentir...

 

Foi notícia alguns dias atrás, publicado no site da Dorna Sports, que a categoria tinha “o prazer de anunciar que o MotoGP retornará ao Brasil a partir de 2022, com um contrato de cinco anos com a Rio Motorsports (RMS), garantindo o retorno do esporte ao Rio de Janeiro até 2026.” Sim, a corrida será realizada no novíssimo autódromo Rio Motorpark, em uma aposta na construção do autódromo que está embargado por falta de licença ambiental, por irregularidades na licitação e por falta de garantias financeiras.

 

   Essa imagem está no site da Dorna como anúncio da volta do evento para o Brasil em 2022... só falta o autódromo!

 

O site da categoria lembra que o Brasil e o Rio de Janeiro já encenaram alguns capítulos incríveis da história do esporte, mais recentemente em 2004 em Jacarepaguá, que hospeda o MotoGP™ desde 1995. O desenvolvimento de um novo local para substituir Jacarepaguá, que foi reaproveitado (na verdade destruído) para a construção do “parque dos elefantes brancos olímpicos”.

 

Como todos aqui já sabem, o mineiro é bom de prosa e o empresário que quer fazer esse autódromo sem dinheiro público e por um valor que passa longe do que custa um autódromo para receber a Fórmula 1 e a Moto GP (700 milhões de reais) é mineiro de Belo Horizonte. Isso já explica como ele consegue ter a atenção tão fácil de gente tão importante e que acabam acreditando na prosa do mineiro.

 

   Bom de prosa, o mineiro JR Pereira está engambelando o CEO do Liberty Media Chase Carey e agora o da Dorna, Carmelo Ezpeleta. 

 

Ele, vamos admitir, faz direito o seu trabalho. Quando o CEO da Dorna o recebeu ele levou uma camisa da seleção brasileira com o nome do cartola, apresentou seu “projeto” e ouviu do dirigente das duas rodas que ele estava muito orgulhoso em anunciar que o MotoGP retornaria às corridas no Rio de Janeiro, que ele chamou de “uma das cidades verdadeiramente icônicas do mundo e em um país tão incrível”. Também lembrou que o Brasil é um mercado importante para motocicletas, motociclismo e automobilismo, com uma história para se orgulhar e que estava empolgado em ver o MotoGP desempenhar um papel tão vital quando voltarem em 2022.

 

A obra, que estava prevista para começar em setembro (no mês passado), não passa nem perto de ter alguma coisa em andamento e o prefeito do Rio, Marcelo Crivella (PRB), enviou um projeto de lei complementar à Câmara Municipal para que o Autódromo de Deodoro seja concedido e administrado por uma parceria público-privada (PPP). Ele pede que a proposta tramite em regime de urgência.

 

   no início do ano, junto com o governador do estado e o prefeito da capital, veio com a mesma prosa para dirigente da F1, Chloe Adams

 

A contratação da empresa que foi escolhida para construir e operar o empreendimento está suspensa pela Justiça por indícios de direcionamento da licitação, apontados pelo Ministério Público Federal (MPF) e investigados pelo Ministério Público estadual. De acordo com a Lei Orgânica do Município, caso a proposta não seja votada em até 45 dias, deve ser incluída automaticamente na ordem do dia.

 

Além disso, a empresa Rio Motorsports, que ganhou a licitação para construir o autódromo, foi impedida de tocar na área, uma vez que a licitação foi suspensa pela última vez no fim de agosto pelo Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2) justamente pela falta de estudo de impacto ambiental. A área é uma das poucas reservas remanescentes de mata atlântica na região e que tudo indica que os órgãos ambientais não vão dar um parecer que autorizem a construção do autódromo. Ou seja, não tem terreno.

 

   Esse é o "autódromo do Rio": um projeto de Herman Tilke que não tem terreno, não tem autorização e não tem dinheiro.

 

Mas mesmo que dessem, as coisas ligadas à empresa Rio Motorsports são – no mínimo – nebulosas. Criada 11 dias antes da licitação, declarou ter capital social de R$ 100 mil. Durante a licitação, da qual foi a única participante, a Rio Motorsports apresentou como garantia à Prefeitura do Rio uma carta-fiança de quase R$ 7 milhões do Maxximus Bank, empresa que não é uma instituição autorizada pelo Banco Central. Ou seja, Não tem dinheiro.

 

E o que temos até agora? Um mineiro “criativo”, com uma prosa ensaboada, levando no bico dois mega empresários internacionais do esporte a motor para embarcar num trem que não vai sair da estação e, se sair, descarrila na primeira curva.

 

Abraços,

 

Mauricio Paiva 
Last Updated ( Friday, 18 October 2019 09:49 )