Um dia desses, voltando de um plantão de corretagem, vinha ouvindo uma rádio muito boa aqui de Belo Horizonte que toca muita MPB da boa e tocou aquela música da Rita Lee que fala “Papai me empresta o carro, papai me empresta o carro, pra eu poder tirar um sarro com meu bem” (os leitores mais novos vão procurar nos sites de pesquisa o que significa “sarro”).

Logo na sequência tocou “Meu Guri”, do Chico Buarque. Era uma mensagem divina para eu escrever a coluna deste mês! Alguém tem alguma dúvida? Eu não tive nenhuma e quando cheguei em casa fui logo procurar material na internet pra não perder o fio da prosa (ainda bem que não é fio de cabelo, que estou com cada vez menos).

No mês passado, no período de férias da Fórmula 1, o pobre pai do menino rico da categoria, ‘seu’ Laurêncio, foi muito mais além do que “emprestar o carro pra seu filho tirar um sarro com seu bem. Ele comprou um... na verdade dois. Três se considerarmos o carro reserva. Como se fosse pouco, comprou um time de engenheiros, projetistas, uma “garagem”... pobre menino rico.

Todo mundo que acompanha a Fórmula 1 leu em tudo que era site, blog e onde mais foi que antes de começarem as férias de agosto a Force Índia tinha entrado em processo de administração judicial por causa de suas dívidas. Com isso, a equipe passou a ser gerida por uma empresa especializada nesse tipo de caso, que foi cuidar das dívidas e priorizar os pagamentos, além de conversar com possíveis compradores interessados.

Quem jogou a conversa (não era bem essa palavra, mas o amigo leitor vai entender o que eu quis dizer) no ventilador foi o piloto pagador da equipe, Sergio’Speed Gonzalez’ Perez, que – oficialmente – declarou estar preocupado com o emprego dos mais de 400 funcionários da equipe. Sergio Perez leva pra equipe que vai pilotar uma mala com 15 milhões de dólares do empresário e multimilionário da área de telecomunicações, Carlos Slim. Que na ausência de um filho, sobrinho ou escapadela que não fosse braço duro ou pé de breque, financia a carreira de alguns de seus compatriotas.

Mas o ‘ligeirinho’ não fica só sentado na grana do ricaço de seu país. Ele tem ligações com outras empresas, como a Brockstone, que se mostrou interessada na administração da equipe. Aliás, o que não faltou foi candidato. Eram abutres sobrevoando a carniça do Vijay Mallya, que está em altíssimo risco – maior do que nunca – de ser preso e deportado para seu país natal onde tem uma pilha de processos maior que o Taj Mahal. Haveria até uma ajuda da Mercedes e da patrocinadora, a purificadora de água BWT, mas quem chegou com um carro forte na porta do tribunal londrino foi o rico pai do menino rico.

Não deu nem tempo de tomar uma água de coco na praia nas férias que logo veio a noticia de que a equipe tinha um novo dono. A proposta de um consórcio ligado ao bilionário canadense Lawrence Stroll, pai do piloto Lance Stroll, para comprar a equipe. O pai rico do menino rico não tem tempo pra ficar cuidando desse negócio de equipe de Fórmula 1 e quem vai ficar à frente do negócio são o empresário canadense Andre Desmarais, o executivo da Monaco Sports and Management Jonathan Dudman, o líder de negócios de moda John Idol, o investidor de telecomunicações John McCaw Jr, o especialista em finanças Michael de Picciotto e o empresário Silas Chou. 

No meio das férias correu forte o boato de que o menino rico já vestiria o macacão rosinha lá em Spa-Francorchamps. Acho que só não aconteceu porque se ele tomasse uma luneta do Sergio Perez iam sair falando que o menino rico é braço duro ou pé de breque, o que não é verdade. Ele foi piloto da academia da Ferrari, foi campeão de Fórmula 4, de Fórmula 3 e aí talvez tenha dado um passo maior que as pernas e dado de cara no chão. Melhor pegar um carro de temporadas anteriores no inverno entre as temporadas e queimar pneu até não poder mais!

Na corrida de volta das férias, na Bélgica, na melhor pista do campeonato, os caminhões da equipe já não traziam mais o logo da equipe de quando o empresário indiano era seu dono. As coisas estavam bem complicadas para esta temporada. Além de ter sido a última a apresentar o carro para a temporada de 2018, depois de ter sido a quarta colocada do mundial de construtores nas duas temporadas, o início do campeonato foi pra lá de preocupante. Nem o pódio do ligeirinho no Azerbaijão melhorou o ambiente da equipe.

Sabe aquela coisa de time que “derruba o técnico” e depois começa a jogar bem? Coincidência ou não, nas duas corridas depois da venda os dois carros da Penélope Charmosa marcaram mais do que metade dos pontos que conseguiram até a temporada entrar nas férias e a equipe mudar de dono. Coincidência ou não, vamos ver como os pilotos se sairão. Com a mudança de dono e de nome, ela entrou com zero pontos na disputa do campeonato de construtores, mas já marcou 32 e eu não duvido que eles recuperem o primeiro semestre e voltem a ser a quarta força do campeonato, mesmo com uma possibilidade do Ocon estar desanimado com a demissão já anunciada.

Desanimação mesmo deve estar lá pelos lados da Williams, que vai perder o cheque gordo do pai do menino rico, que perdeu em fevereiro (com direito a aviso prévio) o cheque gordo da Martini, que está fora do time em 2019 e que, agora com a regra dos 40 pontos para poder ser piloto de Fórmula 1, vai ter que caçar alguém com dinheiro, competência e pontos para sentar ao lado do Sergei ‘Skavurska’ Sirotkin e bancar a brincadeira de por os carros na pista.

Apesar da gozação com o pobre menino rico, ele mostrou mais serviço na pista em sua trajetória como piloto do que outros ricos que andaram na Fórmula 1 no passado, como o mexicano Hector Rebaque e o francês François Hesnault, ambos na Brabham do Bom Velhinho (fazia tempo que eu não falava dele, né?), que também gostava de ganhar uma graninha dos pilotos pagantes.

Vamos ver se na equipe pink o pobre menino rico muda as cores do seu quadro, atualmente negro, para alguma coisa mais vibrante e interessante. Assim vai deixar o papai feliz e sorridente!

Abraços,

Mauricio Paiva