Seu narrador, pneu é redondo, mas não é bola Print
Written by Administrator   
Tuesday, 07 August 2018 11:44

Quando eu decidi há quase 20 anos me tornar corretor de imóveis (depois de desistir da terceira universidade por falta de vergonha na cara) eu achei que ia ser moleza. Que era só passar um gel no cabelo (quando eu ainda tinha cabelo pra isso), colocar uma calça social, uma camisa branca e uma gravata (paletó só no inverno) e mostrar o imóvel ou terreno para quem aparecesse no empreendimento (fosse um condomínio, um prédio de apartamentos ou comercial, um shopping ou um loteamento).

 

Apesar de ter parado com os estudos, não sou tão burro assim e não levei muito tempo para perceber que o trem não era tão fácil quanto eu pensava. Hoje sei bem que quando vai ser lançado um empreendimento, eu tenho que estudar não só o prospecto, mas também as características, alguns detalhes do projeto (porque cliente que compra pergunta muito e você tem que responder... e responder certo! Uma resposta errada e adeus venda) e ata mesmo conquistar liberdade para negociar preço dentro de uma margem estipulada pelo dono do negócio.

 

Acho que deve ser assim em tudo na vida. Um engenheiro novo não sai fazendo obras gigantescas ou um médico recém formado vai abrir a cabeça de um paciente com “pouco tempo de bisturi”. E se for mesmo assim, deve ser o mesmo com os profissionais que trabalham na televisão na transmissão de eventos ao vivo. Eles não começam, por exemplo, transmitindo a final da copa do mundo na maior rede de TV do seu país. Dois exemplos bem corretos disso são o falecido Luciano do Vale e o inoxidável Galvão Bueno: ambos começaram como radialistas e foram crescendo até chegar no auge da carreira.

 

Com a copa do mundo e com a grande maioria do pessoal dos departamentos de esporte envolvidos com os jogos, acabou abrindo oportunidade para novos profissionais surgirem em transmissões dos outros esportes das emissoras. Mas eu acho que sacanearam esse pessoal novato. Jogaram alguns deles na fogueira, mas esse não foi o caso do “tala larga”.

 

 Estamos conhecendo a versão de carne (muita) e osso do "Tala Larga", personagem dos gibis do Ridaut Jr.

 

Quem comprou os gibis do Senninha, tinha um personagem que era o “locutor das corridas do personagem”, que era baseado num “famoso locutor” da época. Quando eu vi a cara dele na transmissão, aquela que mostra a equipe no estúdio, dei uma gargalhada. O gordinho era a cara do desenho! O problema é que ele – como parece ser um mal que acomete a todos, deve ser algum vírus encubado nos estúdios da emissora – sofre do mesmo mal que outros tantos mais experientes do que ele: simplesmente não vê o que está acontecendo na tela à sua frente e fala coisas totalmente distorcidas.

 

Teve uma corrida que, graças a meu filho, troquei de canal. Mandei “pacote de Bombril” (expressão original censurada). O “Tala Larga” narrou que havia sido “dada a largada” quando os carros saíram para a volta de apresentação. Ele só veio “pegar o trem” na segunda curva, depois de ver que ninguém atacava ninguém ou – o mais provável – alguém falou pra ele no ponto eletrônico ou mesmo o comentarista, o famoso e interminável “Gato Mestre”, tenha explicado pra ele o que era volta de apresentação.

 

 

 Para o "Gato Mestre" ficar dando umas "salvadas" no traalho do narrador, é que a coisa tá complicada...

 

Tudo bem você pagar pela inexperiência, mas alguém precisa orientar o “Tala Larga” do jeito certo. Caso contrário, ele pode começar a “aprimorar os erros” e aí, quando aposentarem o “Ligadíssimo Caprichoso”, que quando erra ri do próprio erro e geralmente pede desculpas em algo pior. Mas o que seria ruim mesmo é se colocassem gente errada pra ensiná-lo. Aí a gente está perdido.

 

Imagine, pessoal, se colocarem o “Tala Larga” pra aprender o que ainda não sabe com gente que sabe pouco sobre automobilismo e que, por conta das escalas do futebol, também tem que narrar corridas. Se o menino pega o Luis Roberto ou o Kleber Machado para explicar pra ele como se deve narrar uma corrida vão criar um monstro... e pior: como ele é novo, vai ficar décadas no ar!

 

 Como "o mundo é uma bola", as emissoras acham que é só colocar um narrador de futebol pra narrar automobilismo e tá resolvido.

 

Tudo bem, o futebol é o primeiro esporte do país, é o que dá mais retorno para as emissoras que transmitem alguma ou muita programação esportiva e nenhum outro esporte tem como rivalizar em cifras com os eventos pelo mundo ou mesmo no Brasil com os campeonatos nacionais e regionais e, em termos de futebol, temos narradores bons, que dão “movimento” ao que a gente vê e ouve, mas tem gente que tem consciência do que faz e não se mete a entendedor de tudo.

 

Um bom exemplo disso é o Milton Leite. Um narrador com umas tiradas divertidas, que erra muito pouco e que, quando erra, corrige e pede desculpas, mas que não se mete em querer narrar corrida da Stock Car. Não é o trem dele! Ele é um profissional do futebol. Aí vem os “quebra-galhos” das manhãs de domingo. Dá desespero! Felizmente eu estou trabalhando nesta hora, que é hora de corretor de imóveis dar plantão. As vezes consigo ver, tarde da noite ou na madrugada, pelos VTs, mas outro dia quase fui a loucura!

 

Nas suas últimas participações, Luis Roberto quis falar mais que todos juntos (comentarista, piloto convidado e repórter de campo).

 

Eu tenho um domingo de folga – rodízio – por mês e coincidiu com uma corrida da Fórmula E e uma da Fórmula 1, com o Luis Roberto. Foi um desespero! Na Fórmula 1, o pretenso herdeiro do legado do Galvão Bueno infernizou a vida do comentarista titular da emissora e do piloto consultor. Não deixava os dois falarem, dava palpites – errados – em tudo, falava na hora dos rádios, atrapalhando o piloto consultor e tradutor, interrompia o jornalista que estava no autódromo. Foram 100 minutos de inferno!

 

Na Fórmula E, o narrador de Fórmula Indy e Fórmula Truck, que foi contratado para narrar a copa do mundo, mas que tem que ficar com o que sobra de um cara chato pra (adjetivo censurado) que grita como uma Drag Queen e que conta umas piadas que provavelmente nem ele acha graça, foi narrar a corrida naquele dia. Já era final de temporada e um profissional com a categoria do Téo José já deveria ter memorizado quem era quem na pista depois de uma temporada praticamente completa.

 

Kleber Machado parecia um trem descarrilhado no GP da Hungria. Perdido e sem direção, mas atrapalhou menos que seu colega.

 

Se tivessem algum interesse em melhorar a qualidade, deveriam investir na busca de caras novas, vozes novas, estilos novos e PRINCIPALMENTE gente com conhecimento (o que só vem com a paixão). Mas esse interesse não existe. O automobilismo é o esporte do canal alternativo, do alternativo do alternativo, que deixa de ter corrida transmitida porque tem algum “jogaço” do campeonato argentino ou mesmo algum VT de algum lá da Europa, mesmo daqueles países que a gente nem sabe onde fica, de algum “clássico” do chinezão...

 

É difícil, mas eu não desisto e enquanto eu puder, vou continuar metendo a boca no trombone na minha coluna.

 

Abraços,

 

Mauricio Paiva

  
Last Updated ( Wednesday, 15 August 2018 20:43 )