Os omissos Print
Written by Administrator   
Tuesday, 12 December 2017 22:50

Durante os últimos 30 dias a discussão sobre a privatização do Autódromo Internacional José Carlos Pace encravado na maior cidade do continente e principal cidade do Brasil subiu de tom quando o prefeito (o minúsculo é proposital e assim será tratado neste e nos próximos artigos) João Doria usou de maneira oportunista e vergonhosa a semana do GP Brasil de Fórmula 1 para encaminhar à câmara dos vereadores (novamente em minúsculo propositalmente) um projeto de privatização daquele um milhão de metros quadrados encravados em uma região densamente povoada, repleta de problemas de segurança pública, mobilidade urbana entre outros.

 

O projeto foi aprovado com uma maioria esmagadora, com mais de 75% dos votos dos vereadores. Mesmo assim, os vencidos não se deram por vencidos e foram buscar instrumentos legais para impedir não apenas o andamento do processo, mas a busca de esclarecimentos sobre o projeto repleto de perguntas sem resposta encaminhado pelo prefeito. Vai ser um leilão ou o prefeito já “arranjou” um comprador? Qual o valor de venda? Se for um leilão, qual o lance mínimo? A venda permitirá a destruição de tudo, de parte ou de nada que existe hoje na área do Autódromo?

 

O vereador Mario Covas Neto, do mesmo partido do prefeito, foi o mentor da ação na justiça, uma liminar, cassada cinco dias depois, mas que não contou com o apoio sequer no berço da família. Bruno Covas, seu sobrinho, vice-prefeito e do mesmo partido, fez “ouvidos de mercador”, continuando alinhado com o projeto de privatização do prefeito, mesmo este sem expor ao eleitor paulistano e a sociedade civil as circunstâncias da venda.

 

João Dória e o vereador Milton Leite. Perfeita sintonia para destruir Interlagos.

 

Desde que a ameaça da venda tornou-se real, quando o então candidato à prefeitura foi eleito ainda no primeiro turno das eleições municipais de 2016, usando em seu discurso que iria privatizar não só o Autódromo de Interlagos, mas também o complexo do Anhembi (que envolve o parque de exposição, o centro cultural e o “sambódromo”) e o estádio do Pacaembu, onde está instalado o Museu do Futebol.

 

Em defesa dos interesses do automobilismo, profissionais que trabalham no meio (Jornalistas, Empresários Esportivos do ramo, Diretores de Corridas e Comissários de Federações e da CBA) foram cobrar da câmara dos vereadores (mais uma vez e sempre em minúsculo), em comissão, entrando com instrumentos e questionamentos para que não apenas as regras fiquem claras, mas principalmente para garantir aquela que há mais de sete décadas é a atividade mais relevante daquele espaço: as corridas!

 

Uma comissão de cinco pessoas foi formada para negociar os interesses do esporte a motor em reuniões antes das audiências públicas e da votação final do projeto que não apenas pode condenar o Autódromo de Interlagos, mas que nas palavras do prefeito da cidade, o Kartódromo deverá ser destruído e ele promete construir outro kartódromo em outro lugar, algo que pode ser encontrado facilmente em canais como o youtube, assim como as vária vezes que o prefeito disse ser fã de Ayrton Senna, que gostaria de fazer um museu do automobilismo em Interlagos e dar o nome deste museu ao seu ídolo, Ayrton Senna e vai destruir o Kartódromo onde o falecido tricampeão mundial de Fórmula 1 aprendeu a pilotar.

 

O Kartódromo foi "condenado a sumir" pelo próprio prefeito e o autódromo não tem garantia alguma.

 

Em portais de notícias, canais de televisão, em suas colunas em jornais e revistas, além de seus respectivos sites, os jornalistas que trabalham com automobilismo protestaram e condenaram o prefeito paulistano. Nas redes sociais, os fãs de automobilismo tem feito movimentos, postagens, protestos. Todos participando e buscando de alguma forma impedir uma nova mutilação em Interlagos... sim, porque o vereador presidente da câmara, Milton Leite, disse – e isso está registrado em vídeo – que a existência de uma “pista” para o automobilismo em Interlagos não tem que ser necessariamente a que existe hoje e que ele quer instalar 100 mil moradores onde hoje é o Autódromo.

 

Todos parecem estar engajado... todos menos uma classe. Os automobilistas! Pelo menos os automobilistas que tem mais visibilidade, cujo o posicionamento teria um peso muito maior do que aquele “piloto de gol bolinha, de corsinha ou de competições de regularidade que fazem o campeonato metropolitano. Nenhum chefe de equipe e nenhum piloto da Stock Car, a principal categoria do automobilismo nacional veio a público para confrontar o prefeito de São Paulo e seus vereadores.

 

Entre eles, campeões de diversos campeonatos, pilotos que estiveram na Fórmula 1 e em várias das principais categorias do automobilismo internacional. Pessoas que poderiam ter um poder de mobilização da opinião pública muito maior do que este colunista ou dos mecânicos das equipes em que eles pilotam e pilotaram no início de suas carreiras, vários deles que ainda dependem do funcionamento do Autódromo de Interlagos para ganhar o pão de cada dia.

 

Orlando Sgarbi (ao microfone) e Sérgio Berti (à sua esquerda) comandam a comissão de defesa de Interlagos.

 

Esta omissão serve, pelo contrário, de munição para os gananciosos empresários do setor imobiliário, da construção civil, ávidos em criar possibilidades para empreender novos negócios e dos políticos, que a história recente do país expôs como orquestradores de todo tipo de mecanismos para se beneficiar e aos seus parceiros (comparsas, na verdade) com decisões respaldadas pelos resultados das urnas.

 

Ainda há tempo senhores pilotos. Neste final de semana, nas 500 Milhas da Granja Viana, onde a grande maioria deles, juntamente com os pilotos que correm no exterior tem a chance de realizar um ato de protesto, um manifesto contra a ganância e a falta de visão destes políticos que não são capazes de respeitar o trabalho de vocês e querem destruir o principal autódromo do país.

 

Os pilotos precisam ser protagonistas neste movimento para salvar Interlagos.

 

É isso ou continuar fazendo o que fazem... resmungar, culpar a CBA e não tomar uma posição de coragem, colocando a cara, o nome e a suas histórias a serviço do que é o próprio interesse de vocês.

 

Abraços,

 

Mauricio Paiva