O poder da imprensa Print
Written by Administrator   
Wednesday, 13 September 2017 15:56

Vamos admitir: todos nós que adoramos corridas, seja lá do que for, a gente vive entrando nos sites de notícias e devorando o que os jornalistas – e os não jornalistas como eu – escrevem em portais de notícias, sites e blogs... mas – e há sempre um mas – tem umas coisa que eu leio que me deixam furioso (censuraram o termo original).

 

Um tempo atrás eu fui vender um apartamento para um figurão da imprensa aqui de Minas Gerais e conversa foi, conversa veio, falei pra ele sobre o site dos Nobres do Grid e, surpresa, ele disse que adorava o site, menos uma coluna de um cara que era chato demais (censura novamente) e que criticava todo mundo. O cara não me reconheceu sem meu cavanhaque de pagodeiro que perdi numa aposta do jogo do Galo na Libertadores quando aquele bando de pernas de pau (censura mais uma vez) perdeu para o Jorge Wilstermann.

 

Aí eu perguntei qual era a parte que ele não gostava e ele falou que era uma tal de “Pit Wall”! Que o cara era muito chato e criticava todo mundo. Aproveitei a miopia do cliente e comecei a perguntar o que ele tanto não gostava e ele falou que o cara não “media as consequências das suas palavras”, que na “imprensa de verdade” a gente não pode ser sempre “direto”, que tem que fazer umas artimanhas.

 

 

Ou o desgraçado (maldita censura) não me reconheceu mesmo ou estava de sacanagem comigo. Parti da primeira opção e perguntei o que eles faziam de errado ou de certo na visão dele, que era um jornalista profissional, eles deveriam mudar para que o site ficasse melhor, qual parte ele mais gostava (falei que eu gostava do colunista que é a cara do Totó Wolff... que é o Fernando, meu primo), dei corda para ver se ele falava mais.

 

Daí ele falou que na imprensa não se pode ser sincero o tempo todo, que isso aí incomoda e que se pode “faturar uma grana extra” com a visibilidade de um website, mas para isso é preciso “filtrar” o que se noticia. Dar mais atenção a uma coisa e menos a outra costuma deixar incomodado os assessores de imprensa e marketing e eles vem procurar a rádio, o jornal, a TV e os sites e portais de notícias pra saber porque seu cliente não tem a mesma visibilidade de um outro. E é aí que entra a negociação!

 

Dissimulei um ar de espanto e falei um “sério?” que convenceria até a mulher do Fernando, meu primo e gerente do Nobres do Grid. Ele falou que chegam uns caras desesperados e assim se tem a faca e o queijo na mão para se “vender notícias”. É uma comercialização extra e que as vezes acontece por fora, sem entrar na contabilidade e sem nenhum contrato assinado.

 

Continuei dando corda para o trem dele descarrilar e perguntei se também tinha como “atrapalhar”... “Claro!” Ele disse que quem não tem jogo de cintura e entra em atrito com os meios de imprensa e aí a retaliação é imediata. O produto dele simplesmente não ganha mais do que uma nota de rodapé ou uma citaçãozinha aqui e ali, só para não “deixarmos de cumprir com nosso dever jornalístico”.

 

 

Como eu também sou bom de conversa, acabei vendendo o apartamento que ele falou ser presente de casamento para sua filha poder começar a vida com um orçamento menos apertado, qe ela ainda estava se formando, etc. e guardei bem as palavras do comprador e cliente que, se está lendo isso, espero que não sofra um ataque do coração. Fique tranquilo: o nome da fonte eu levarei para o túmulo.

 

Voltando para casa fui pensando pelo caminho e me lembrando do tanto de sacanagem e de oportunismo que já vi nessas coisas do jornalismo e como tem gente de “ética questionável” (o termo não era esse... haja censura) nos meios de mídia. São tantos casos que se for escrever todos a coluna vai ficar maior que os artigos do nosso desaparecido colaborador da caatinga, Lewis Jeguisson. Citarei apenas três.

 

Em 1978, Nelson Piquet já tinha um ano de Fórmula 3 no currículo, tendo disputado o campeonato europeu da categoria num esquema amadoresco e improvisado no estilo com o qual corria na Fórmula Super Vê aqui no Brasil e ainda assim terminou o campeonato em terceiro lugar. Foi quando por questões econômicas e também pelo fato do campeonato britânico ter uma maior visibilidade, decidiu concentrar-se na ilha chuvosa.

 

 

Como grande oponente, ele teria outro Brasileiro: Chico Serra. Um grande kartista, que no ano anterior venceu o campeonato de Fórmula Ford 2000 na Inglaterra e corria numa das equipes mais fortes: a Project 4, de um tal de Ron Dennis e que contava além de um forte patrocínio, de um reforço por trás das então máquinas de escrever das redações: sua mãe era pessoa influente no grupo Globo.

 

Ao longo do ano, enquanto Nelson Piquet vencia corridas (chegou a vencer sete etapas em sequência), Chico Serra ganhava manchetes no caderno de esportes do jornal O Globo e Estado de São Paulo com seus pódios conquistados. Em um dos casos, a notícia trazia na manchete: “Serra é 3º na Inglaterra”. No final do texto, quando era necessário colocar o resultado da corrida, estava lá: 1º Lugar Nelson Piquet BRA. 2º Lugar Derek Warwick GB. 3º Lugar Chico Serra BRA.

 

Nelson Piquet foi campeão antecipado da Fórmula 3 naquele ano e estreou na Fórmula 1 correndo as últimas etapas do campeonato de 1978, fazendo a última corrida com um terceiro carro da Brabham de Bernie Ecclestone e assinando seu primeiro contrato como piloto da equipe, enquanto Chico Serra precisou fazer mais uma temporada na categoria e veio a sagrar-se campeão em 1979.

 

 

Mas vamos falar de coisas mais recentes. Alguns anos atrás, a Fórmula Truck era, indiscutivelmente, a categoria que mais levava público e mais conquistava audiência entre as categorias do automobilismo brasileiro, mesmo sem ter os pilotos de nome e os ex-pilotos de Fórmula 1 que a Stock Car tinha no seu grid. Contudo, a cobertura da “imprensa especializada” sempre foi ridícula. A sala de imprensa da Fórmula Truck era um ônibus velho, equipado com poucas mesas e nem assim enchia. A maioria dos circulantes por ela eram blogueiros e sites locais nas regiões onde ele passava, raros assessores de imprensa e de veículos de abrangência nacional, via de regra éramos nós os representantes. Apenas em São Paulo que apareciam alguns mais.

 

Os maiores portais e sites do Brasil colocavam dois, no máximo três artigos entre suas notícias com o local e data da corrida, o resultado dos treinos classificatórios e no domingo com o resultado da corrida. Nada de matérias, abordagens, curiosidades, entrevistas com os pilotos, ao passo que outras categorias ganhavam um destaque muito maior.

 

Mas foi algumas semanas atrás que eu tive a real compreensão das palavras do meu cliente na compra do imóvel. Tentando acompanhar a 25ª Edição do Rally dos Sertões pela internet, vi que o site oficial (ou que parecia ser oficial) estava muito pobre de notícias, fotos, vídeos e dados. Fui então procurar na rede e achava todos os dias um resumo (bastante resumido) de como havia sido cada dia.

 

 

O “interessante” é que tanto as manchetes das notícias sobre a competição como uma boa parte do texto era dedicado a um determinado piloto de uma determinada modalidade. Não era nem disfarçado, era uma exposição descarada do piloto e seus patrocínios, deixando em segundo plano.

 

Se for isso mesmo que é ser “imprensa profissional”, fico feliz por fazer parte dos amadores!

 

Abraços,

 

Maurício Paiva