Automobilismo de Conveniência Print
Written by Administrator   
Saturday, 08 December 2012 22:46

 

 

Lendo a última enquete do site (Eleições da CBA), fiquei, inicialmente, chocado com as palavras de Christian Fittipaldi quando afirmou que “não se metia em assuntos de política”. Sendo ele um piloto de projeção internacional, que já esteve na Fórmula 1 e na Fórmula Indy, de imediato considerei tal atitude uma omissão descabida. Ele, com seu nome – e principalmente sobrenome – poderia fazer muito pelo automobilismo brasileiro em todas as esferas. Contudo, depois de respirar fundo e soltar um monte de palavrões, pensei: Olha, ele é que está certo e errado são todos os que decidem mexer neste vespeiro!

 

O automobilismo brasileiro mais parece um “balcão de negócios”, aprovando – ou reprovando – a criação de categorias (o Toninho de Souza lá em Sampa que o diga), teoricamente, de nível nacional, independente de haver ou não mercado no leque de potenciais patrocinadores, de haver ou não pilotos, de haver ou não competição de verdade, de haver ou não um projeto de desenvolvimento do esporte.

 

Um exemplo bem claro disso foi a substituição da Stock Car Jr, pelo Mini Challenge. Vem uma montadora – a BMW, atual proprietária da Mini – “paga uma ‘taxa de colaboração’” (isso eu estou chutando, mas não duvido que seja isso mesmo e alinha uma dúzia de carrinhos importados e absurdamente caros para quem tiver dinheiro para alugá-los e correr.

 

Tive a chance de ver uma das corridas da categoria este ano por um canal por assinatura. Foi em Curitiba e naquela chicane maluca do final da reta, metade do grid ficou pelo caminho! Havia chovido e dois pilotos colocaram os seus carros com rodas na grama (molhada). Um para tracionar, outro para frear. Não tinha como dar certo! E até eu que sou um corretor de imóveis sei disso.

 

Sensacional foi a declaração “Os objetivos em demonstrar a esportividade e performance da marca Mini foram plenamente atingidos”, dada pelo senhor Paulo Manzano, novo diretor da Mini. “Agora com o crescimento da família Mini,  nossa proposta é investir em outra plataforma de marketing, que pode ou não ser ligada diretamente ao automobilismo esportivo, mas que certamente terá como objetivo trazer maior benefício para o nosso público e admiradores da marca”. Que propósitos seriam estes? Ah, isso ele não falou. Será que teria o que falar?

 

Depois de três anos fazendo parte da programação da Stock Car, o Mini Challenge encerra suas atividades após "cumprir os objetivos".

 

Martin Fritsches, ex-diretor da Mini e atual diretor de Vendas da BMW do Brasil também mandou o seu discurso: “Somos muito gratos aos fãs do automobilismo, aos pilotos e profissionais do setor, pois sabemos que nos três anos de realização do campeonato construímos um belo capítulo da história do nosso automobilismo”. O pior é que havia pilotos realmente lavando a sério a categoria como porta de entrada para a Stock, fazendo planos, buscando patrocinadores...

 

Stock que, por sua vez, encerra as atividades da Copa Montana no final deste ano para a criação de uma nova categoria de acesso à principal. Segundo o diretor, Mauricio Slaviero, será um carro totalmente novo, com uma nova construção, seguindo o perfil de protótipo.

 

Daí os donos de equipe da Copa Montana vão fazer o que com seus carros? Vão vender para que categorias regionais os usem o que der para usar, como tem sido o caso dos Stock Jr, que correm em Piracicaba, os antigos Omega, no regional paulista e lá vão eles desembolsar mais uma grana para comprar o novo equipamento.

 

Além destas categorias ligadas à VICAR, a maior promotora de eventos automobilísticos do país, outras três categorias fecharam as portas por falta de meios para se sustentar:

 

Auto Mais Entretenimento anunciou o fim categoria Top Series antes mesmo do final do certame de estréia. Criada para ser o novo Campeonato Brasileiro de Endurance, após um racha com a SRO Latin América, a Top Series até parecia que iria conseguir ocupar esta ‘lacuna’ no calendário nacional. Entrou na programação da São Paulo Indy 300, etapa brasileira da Fórmula Indy, tinha transmissão de TV, mas não foi.

 

A Top Series poderia ser a base para um forte campeonato brasileiro de endurance... mas não deu certo. o grid minguou e acabou!

 

Coisas ‘estranhas’ acabaram acontecendo, como a polêmica etapa de Curitiba, com uma bandeira preta para Xandy e Xandinho Negrão que depois foi revogada. Pior que isso foi o encolhimento paulatino do grid. Em Londrina, última etapa organizada pela Auto Mais, teve apenas 13 carros inscritos. Nem a criação da subcategoria Top 3, para os modelos Turismo “Silhouette”, com chassis tubulares, foi capaz de manter o campeonato.

 

A CBA abraçou a causa e fez acontecer as duas etapas que faltavam e que, inicialmente não mais ocorreriam, mas foi o verdadeiro ‘canto do cisne’. Agora é torcer para que o eterno Toninho de Souza não seja sabotado em seu projeto de fazer acontecer um campeonato de endurance aqui no Brasil.

 

Outro golpe duro foi o encerramento – ainda não assumido – da Spyder Race. Categoria que conquistou o status de categoria nacional e que tinha um custo baixo também anunciou que encerraria as atividades ao final de 2012. O site da categoria ainda está ativo, mas os pilotos como é o caso do vice campeão deste ano, Raijan Mascarello, que mandou a seguinte mensagem pelo Facebook e que saiu em alguns sites do país:

 

Com um custo baixo, a Spyder Race seria uma categoria com tudo para dar certo. Porque não está dando, é algo a se explicar.

 

“Aos amigos e a todos que torceram por mim durante esses anos que estive pilotando esse maravilhoso carro da categoria Spyder Race: infelizmente, nosso campeonato acabou sem completarmos as corridas necessárias para validar junto a CBA. Não teremos mais corridas esse ano e não sabemos como será para 2013.”

 

Porque a CBA assumiu o campeonato da Top Séries e colocou o pessoal da Spyder Race com as barbas de molho e céticos em relação ao ano que vem? Talvez seja por ser a própria Confederação uma incoerência – e incapacidade – só. As palavras podem soar duras, mas não são da cabeça deste colunista, são o fruto do que aconteceu com o Campeonato Brasileiro de Rally de Velocidade, que simplesmente acabou!

 

Em comunicado assinado pelo presidente da Comissão Nacional de Rali, Djalma Neves (que também preside a FAERJ, Federação Carioca, e que não acreditava no fim de Jacarepaguá e acredita em um autódromo FIA 1 em Deodoro assim como eu acredito em papai Noel, no coelhinho da páscoa e em fadas e duendes), a Confederação Brasileira de Automobilismo cancelou a quarta e última rodada do Campeonato Brasileiro de Rali de Velocidade, marcada para 6 de dezembro em Curitiba (PR). Por esse motivo, para critério de pontuação, ficaram valendo as três anteriores: Erechim (RS), Passo Fundo (RS) e Atibaia (SP).

 

Num super exemplo de gestão, o campeonato brasileiro de rally de velocidade cumpriu apenas três das ínfimas quatro etapas.

 

Além de programar um calendário com apenas quatro rodadas, a Confederação não foi capaz de cumpri-lo. A alegação, segundo o informe, foi por “falta de local e condições de viabilização da última etapa“, difícil de engolir em um país com dimensões continentais como o nosso. Deste jeito, como é que se pode pleitear ter etapas do DE CÁ (Dakar) em território nacional?

 

Mas se uns vão, outros vem... e eis que vai surgir no cenário automobilístico nacional mais uma categoria monomarca, com carros importados – daqueles bem baratinhos – como a Mercedes Challenge, a Porsche Cup, e o DTCC. Mas essa vai ser “diferente”... Como disseram seus idealizadores, “uma categoria aberta, feita de pilotos para pilotos”.

 

O Touring Racing Club, presidido por Marçal Melo, tem como objetivo “criar uma nova categoria para os apaixonados por velocidade”, além de disponibilizar atrações para toda família, enquanto as duas baterias de cada um dos seis finais de semana da primeira temporada do TRC acontecem. Dentro da pista, serão até 25 carros muito especiais. O modelo, um Subaru Impreza WRX Sedan preparado pela Dragão Motorsport com motor 2.5 turbo de 350 cavalos de potência, tração 4×4 e Body Kit do Pavão Design. O carro de rua, pela tabela FIPE, está custando 219 mil reais. Preparado...

 

O combustível será o etanol, com o apelo de “categoria mais ambientalmente sustentável, e incentivadora da indústria nacional”. Fora da pista, o TRC terá diversas ativações para tornar o evento uma experiência completa para toda a família, além de patrocinadores. Espaço Kids para as crianças, completo com brinquedos relacionados ao automobilismo, incentivando desde cedo o amor pelo esporte.

 

De pilotos para pilotos. Este é p apelo da categoria que vai usar os Subaru 4x4 em uma nova categoria monomarca para o Brasil.

 

Junto com Marçal Melo a categoria terá como seu diretor ninguém menos que Paulão Gomes, tetracampeão da Stock Car e segundo maior vencedor da categoria, o que certamente dá um peso considerável para o projeto, mas daí ser a garantia de que vai ser “uma categoria” ou “mais uma categoria”, destas que, daqui há três anos o diretor vai chegar e dizer que “os objetivos foram atingidos”...

 

Melhor assumir a postura da Mitsubishi, que participa do Brasileiro de Marcas, mas que resolveu criar sua própria categoria com o modelo Lancer Evo R, veículo preparado no Brasil pela montadora especialmente para a competição. O modelo é um carro preparado a partir do Lancer Evolution X, muito próximo do original. Toda a parte de motor, câmbio, diferencial, freios Brembo e rodas 100% originais. Ainda assim, não vai ser barato, tendo como “pilotos-alvo” os chamados “gentleman drivers”, ou seja, pagou, correu!

 

Para correr nessa nova categoria é necessário que o piloto tenha carteira tipo B da Confederação Brasileira de Automobilismo e desembolsar a bagatela R$ 28.500 por etapa, onde o piloto não precisará se preocupar com qualquer tipo de detalhe do carro. Mecânicos, gasolina e pneus são por conta da Mitsubishi. O piloto só precisa levar seus pertences, como capacete, macacão e HANS.

 

A Mitsubishi fará uma festa caseira com sua categoria com os seus super hatch. Por uma bagatela de 29 mil por prova, você pode correr!

 

A Mitsubishi tem seu próprio autódromo, o Velocittá, localizado em Mogi-Guaçu e homologado pela CBA para receber provas de categorias nacionais. Assim, os participantes desta categoria farão seis animadas festas no quintal de casa, entre março e outubro.

 

E a CBA só aplaude. Lindo, não?

 

Abraços,

 

Mauricio Paiva

 

 

 

 

Last Updated ( Wednesday, 19 December 2012 23:36 )