A Fórmula Girl sairá do papel? Print
Written by Administrator   
Wednesday, 07 November 2018 05:37

Quando o governo brasileiro criou essa babaquice da tal da “cota” pra negros ou pseudonegros (é, porque você pode ser “meio negro” como eu e se declarar negro) para acesso nas universidades eu até na época falei pra minha mulher – de gozação – que eu ia voltar para o cursinho e fazer o ENEM.

 

O critério – baseado na quantidade de melanina e não na real condição social do individuo – acaba discriminando o branco pobre, que vai continuar pobre e vai ter menos vagas para concorrer na universidade, uma vez que os negros, mulatos, pardos e afins passaram a abocanhar parte destas.

 

Neste final de temporada do automobilismo de 2018, os cartolas da FIA resolveram “criar uma espécie de cota”. Dos males o menor, não vão obrigar nenhum campeonato a ter uma determinada quantidade de mulheres no grid, mas a criação de uma “categoria exclusiva” para as mulheres a nível de automobilismo mundial pode ser uma autodiscriminação delas com elas mesmas. Será que as mulheres não tem condições de competir contra os homens? Certamente muitas delas discordam frontalmente de qualquer questionamento nesse sentido.

 

Ao lado de Fabrizia Pons (a loira) Michele Mouton (a morena) impunha respeito aos homens nas competições de Rally

 

O que mais me espanta é que a presidente da comissão das mulheres no automobilismo, Michele Mouton é protagonista de um grande feito para as mulheres no esporte. Ela era a navegadora de Fabrizia Pons e a dupla, nos anos 80, venceu uma etapa oficial do WRC e disputou um campeonato da categoria ponto a ponto, um feito que nunca mais foi alcançado (sem contar as vitórias nas competições europeias), é uma das pessoas responsáveis por essa coisa que eu tô chamando de “Fórmula Girl” (eu tinha pensado em outro nome, mas com duas editoras mulheres eu ia acabar expulso do site).

 

A tal da “Fórmula W” (que a partir de agora só vou chamar de Fórmula Girl) vai ser um campeonato todo baseado na Europa, projetando um grid entre 18 a 20 carros e aumentar a exposição das mulheres no automobilismo. O “plano”, ao que tudo indica, é fazer uma categoria de base só com mulheres para – quem sabe – alguma consegue vingar e chegar na Fórmula 2 ou mesmo na Fórmula 1.

 

Baseado no projeto dos carros da Fórmula 3 para 2019, a categoria queatrair pilotas de todo o mundo.

 

Atualmente temos a colombiana Tatiana Calderon disputando a GP3 este ano e que consegue disputar posições, ao contrario daquela espanhola bonitinha (Carmem Jordá) que só completava grid, chegava nas últimas posições, mas que tinha um padrinho forte, a ponto de colocá-la como piloto de teste na Genii (lembram da Nega Genii?) e que – preciso de um padrinho desses – foi convidada para fazer parte da comissão.

 

Na época a sua indicação causou protestos. Pilotas com muito mais a oferecer como Pippa Mann, da Indy, Jamie Chadwick, do GT4 Britânico, Christina Nielsen, campeã do IMSA GTD, Katherine Legge e Danica Patrick não foram indicadas para fazer parte da comissão. Mas minha maior pergunta ainda é: o que é que a mulher do ‘Bom Velhinho’, Fabiana Ecclestone, faz na comissão? Ela talvez seja responsável pelo fornecimento de café para as reuniões...

 

Pilotas que fizeram carreiras vitoriosas como Danica Patrick não fazem parte da comissão da FIA para mulheres no esporte.

 

Voltando pra Fórmula Girl, Os carros da futura categoria vão ser de praticamente iguais aos atuais carros da Fórmula 3 e já terão essa coisa horrorosa do halo como “item de fábrica” e que também será visto em todas as categorias de fórmula em 2019 na Europa. Mas ainda falta muita coisa para que a categoria saia do papel e aconteça de fato... e é aí que o trem pode descarrilar.

 

A ideia da britânica Catherine Bond Muir, fã de automobilismo incomodada com a falta de mulheres no esporte, para sair do papel vai precisar do que toda categoria do automobilismo mundial precisa: dinheiro! Como o mercado consumidor feminino é vasto e diversificado, isso pode acabar aparecendo, apesar de – até agora – o calendário da categoria ainda não ter sido divulgado, mas a categoria promete visitar circuitos tradicionais europeus, provavelmente como categoria suporte de outros eventos.

 

Dez anos atrás, Bia Figueiredo venceu em Nashville pela Indy Lights, mas ainda haveria tempo para ela?

 

Outro problema é arranjar as tais 18 ou 20 pilotas. Se procurar no mundo inteiro, é possível, mas e o nível da competição fica aonde? Se o padrão do carro vai ser o de um Fórmula 3, a brincadeira não vai ser barata. Coloca aí na conta pelo menos um milhão de euros para poder andar na frente. Não me perguntem como as pilotas vão fazer para levantar tanta grana. Eu posso ser expulso do site e processado dependendo da sugestão que eu der.

 

A verdade é que temos poucas pilotas competindo em categorias de fórmula pelo mundo e, se o projeto é tentar impulsionar a carreira de uma pilota para tentar chegar na Fórmula 1, não é seguindo as sugestões do ‘Gato Mestre ou do ‘Matusaleme’ de que “é uma categoria perfeita para a Bia Figueiredo” que a coisa vai dar certo. Se for para falar de pilota brasileira, a única que talvez consiga fazer alguma coisa, hoje, é a Bruna Tomaselli. Se a categoria sair do papel, daqui há alguns anos tem a Antonella Bassani, que ainda está no kart.

 

Catherine Bond Muir, a idealizadora da categoria não teve a ideia bem vista pelas pilotas em atividade nos EUA e na Europa.

 

Mas o que quase me matou de rir foi a premiação. Bom, como não tem carro, promotor, projeto, dinheiro e pilotas, a FIA anunciar que a campeã da temporada vai ter um prêmio de 500 mil dólares (o que não cobre os custos da temporada), se a campeã estiver sonhando com o futuro em outra categoria maior, esse dinheiro mal dá pra “engatar a segunda marcha” depois de apagadas as luzes vermelhas.

 

Algo que poderia ser um tiro no pé, contudo, tem gerado uma empolgação inicial no meio feminino, pelo menos é o que anda dizendo Catherine Bond Muir, que apresenta-se como diretora executiva da categoria, mais de 100 candidatas já entraram em contato para fazer parte do grid (dá pra imaginar um grid com, por exemplo, 40 monopostos? Todo formado por pilotas?), apesar do repúdio à ideia por parte de pilotas que correm na Europa e EUA, caso a informação seja verídica, tendo como o projeto um grid entre 18 e 20 carros, não vai ter lugar para todas. Em todo caso, vou esperar para ver o resultado.  

 

Sem segregação de gênero, a espanhola Ana Carrasco conquistou o mundial de motovelocidade na categoria Supersport 300.

 

Antes que seja concluído o meu linchamento pelas leitoras da minha coluna, uso em minha defesa o exemplo – no escritório, na sala de reunião e principalmente na pista – do que a Federação de Motociclismo e a espanhola Ana Carrasco fizeram este ano na temporada da categoria mundial Supersport 300, com a pilota conquistando o título mundial da categoria, derrotando seus adversários... todos homens!

 

Antes da espanhola, a finlandesa (eu tiro o chapéu para esse povo) Kirsi Kainulainen como parceira do compatriota Pekka Päivärinta no campeonato mundial de sidecars – aquela competição muito louca com um cara fazendo contrapeso na moto – conquistou o título de 2016. E era ela quem se pendurava para fora nas curvas!!!

 

Kirsi Kainulainen foi campeã mundial de sidecars em 2016, outra competição sob a chancela da FIM.

 

Nos anos 70, Taru Rinne, outra finlandesa, disputou 17 provas na categoria 125cc, mas teve a carreira atrapalhada por... Bernie Ecclestone, o ‘Bom Velhinho’, que hoje tem a mulher na comissão da FIA. Ex-kartista, Rinne chegou a competir com nomes como Mika Häkkinen, que sempre reconheceu seu talento.

 

Ao contrário da FIA, a FIM não vê motivos para separar homens e mulheres.

 

Abraços,

Mauricio Paiva

 


Last Updated ( Friday, 09 November 2018 13:57 )