 E aí, gente?
Quero começar agradecendo pelo ótimo feedback recebido de vocês, pelo texto escrito na coluna do mês passado. Gente importante, com um grande envolvimento no kart, compartilhou e opinou sobre a nossa seca de talentos nas categorias top do automobilismo, e era este mesmo o meu objetivo: não trazer uma opinião fechada, mas sim trazer à discussão outras pessoas que pudessem contribuir com sua visão e experiência, ajudando-nos a entender o que está acontecendo nas nossas categorias de base e, especialmente, no kart. Para o meu contentamento, muitos concordaram com as minhas argumentações, o que mostra que eu não estou tão errado... Por outro lado, recebi algumas opiniões interessantes e bem embasadas, que vou dividir aqui com vocês. A primeira é do piloto carioca Claudio Caparelli, com experiência em diversas categorias do automobilismo nacional e hoje também pai de piloto. Para ele “a CBA é culpada sim, porque ela é gestora do automobilismo brasileiro, é obrigação dela achar soluções para os problemas de estagnação no nosso automobilismo, quando ela não fomenta e subsidia as categorias de base ela está prevaricando”. É uma opinião contundente, ele está coberto de razão, mas eu não estava isentando a CBA de culpa, mas sim dizendo que esta situação já ocorre há décadas, o que não explicaria por si a nossa seca recente de talentos. Outro ponto de vista interessante é o do amigo Jean Paneque, piloto de kart e F-Ford nos anos 80: Segundo o Jean “o crescimento da Stock Car também está influenciando na escolha de carreira dos novos pilotos”. Concordo com ele. Muitos pilotos, ao perceberem que não conseguirão chegar à F1 pelos altos investimentos necessários para correr numa equipe de ponta da World Series by Renault ou na GP2 (até 2 milhões de euros por temporada!), decidem retornar ao Brasil e competir na Stock Car. Esta é uma alternativa que está se mostrando interessante até mesmo para pilotos que competiam na F-Indy, como vemos nos casos de Rubinho Barrichello e a Bia Figueiredo. 
Ruben Carrapatoso: sempre antenado com o que acontece no mundo do kart. Por último, deixo uma opinião de peso, de meu amigo Rubinho Carrapatoso, um dos três pilotos brasileiros que conseguiram vencer o Mundial de Kart, ao lado de Guga Ribas e Gastão Fráguas. Além de ser um dos melhores pilotos de kart que o nosso país já produziu, o “Carrapa” continua muito ativo no kartismo brasileiro e mundial: até o começo deste ano, foi um dos organizadores do Super Kart Brasil; é representante da fábrica de chassis ART, de propriedade de Nicolas Todt, no nosso país e disputou o campeonato brasileiro de kart no ano passado, vencendo! Para o Carrapa, não há possibilidade de um piloto vencer no automobilismo de base europeu sem antes competir no kart da Europa. Segundo ele, um ano de competição no kartismo europeu equivale ao aprendizado de três anos de kart no Brasil, pelo número de competidores, nível das competições e quantidade de fábricas envolvidas. É inegável que o kart europeu está anos-luz à nossa frente... Projeto de um longa metragem brasileiro sobre kart: O cineasta carioca Pedro Rodrigues, homônimo do legendário piloto mexicano, está com um projeto sensacional: fazer um longa metragem sobre a história do kart no Brasil. O nome do filme será “Kart, História de Campeões”, e terá imagens inéditas de corridas de kart dos anos 60 e 70, depoimentos de pilotos como Emerson e Wilsinho Fittipaldi, Carol Figueiredo, Waltinho Travaglini, Maneco Combacau e cia, além de filmagens de altíssima qualidade de provas atuais, tanto de campeonatos tradicionais como vintage. Vocês podem ter um gostinho do que será este filme com o teaser abaixo: http://vimeo.com/100355164 Mais uma lenda parte para a Eternidade: O lendário preparador de motores e carburadores Rino Genovese, italiano radicado no Brasil há muitas décadas, faleceu na manhã do último dia 23 de julho. Entre as suas muitas conquistas, destaca-se o campeonato mundial de kart de 1986, vencido pelo piloto Guga Ribas, com motor e carburador preparados por ele. 
Rino: Saudades e reconhecimento de todos os seus "discípulos". O Rino era conhecido não somente por seus canhões, mas também pela boca suja e bengaladas nos testículos de seus pilotos, chamados carinhosamente por ele de “taxistarada subdesenvolvida de m...”, “bando de chofeur de praça”, “índios “fdp” etc. Como curiosidade, quero deixar registrado que duas semanas antes ao falecimento do “titio” Dionisio Pastore, ele havia arrecadado uma grande soma em dinheiro para comprar uma bela cadeira de rodas motorizada ao Rino, que já há muito tempo tinha problemas de locomoção. Foi o último grande gesto do Dionisio e trouxe muita alegria ao velhinho... O Rino foi cremado e pediu que as suas cinzas fossem jogadas no Kartódromo de Interlagos, o que mostra a paixão verdadeira que ele sempre teve por este esporte. Campeonato Brasileiro de Kart: Encerrou-se no dia 26 de julho a primeira fase do Campeonato Brasileiro de Kart, disputado na Arena Kirin, em Itu. Esta primeira fase reuniu as categorias Mirim, Cadete, Junior Menor, Junior, Sudam, Shifter, F4 Graduados e F4 Sênior. 
Alan Synthes, Luca Travaglini e Giuliano Raucci voaram baixo... literalmente. Para que vocês entendam o formato de um Campeonato Brasileiro de Kart, após a Tomada de Tempos ocorrem diversas baterias classificatórias, que culminam em uma Bateria Final. O vencedor da Bateria Final é o vencedor do torneio. Muitos consideram este formato injusto, pois alguém pode dominar todas as baterias, ter algum problema na final e ficar chupando o dedo. Durante muito tempo, o formato foi o de 4 baterias com pontuações independentes, determinando o campeão como aquele que tivesse a maior pontuação final. É importante destacar, porém, que o formato atual é o mesmo adotado na Europa. Os campeões desta primeira fase foram: Bruno Possenti, na Mirim; Leonardo Rufino, na Cadete; Caio Collet, na Júnior Menor; João Vitor Rosate, na Júnior; André Nicastro, na Sudam; Marcus Borges, na F4 Graduados; Bruno Lima, na F4 Sênior e Alan Synthes, na Shifter. 
A família Barrichello esteve completa na pista, com Rubinho correndo com os filhos. Duas notícias merecem destaque neste campeonato: o heptacampeonato brasileiro conquistado por André Nicastro e a participação de toda a família Barrichello no evento. Nicastro tem uma enorme experiência, já tendo competido em diversas categorias do automobilismo nacional e internacional. Apesar de seu talento, não teve condições financeiras de subir aos mais altos níveis do automobilismo e retornou ao kart, onde é o homem a ser batido nas categorias Sudam e Graduados nos últimos anos, com o apoio das fábricas Techspeed (chassis) e IAME (motores). Pra vocês terem idéia de quanto tempo de kart o Nicastro tem, basta dizer que quando comecei a competir de kart em 1993, ele já era bicampeão brasileiro! 
André Nicastro é sempre uma estrela na pista! Rubinho Barrichello teve uma excelente participação na Categoria Shifter, a F1 do kart, tendo inclusive vencido a primeira bateria classificatória, disputada sob chuva. Ele mostrou que continua com a mesma habilidade que lhe rendeu 5 títulos brasileiros nos anos 80... Mas o que mais chamou a minha atenção não foram os seus resultados na pista, e sim o fato dele ter competido no mesmo final de semana em que seus filhos Fernando, na Cadete, e Eduardo, na Júnior Menor, participavam de seu primeiro Brasileiro. As imagens da família toda na pista são muito bacanas, e mostram aquilo que muitos já esqueceram: que o kart não é somente um degrau para aqueles que desejam seguir carreira no automobilismo, mas um universo completo por si mesmo, onde tanto meninos como marmanjos podem se divertir com estes brinquedos velozes e espetaculares. Até o mês que vem! Abraços, Rodrigo Bernardes |
