Curitiba (Pinhais) - PR Print
Written by Administrator   
Wednesday, 09 December 2009 03:29

 

 

 

 

 

 

A foto aérea do moderno Autódromo Internacional de Curitiba deve ser motivo de orgulho para todo paranaense.

 

O Autódromo Internacional de Curitiba, como hoje é conhecido tem uma história, no mínimo, “suis generis”. Com períodos de fechamento de disputas de poder e até de inversão do sentido! Contudo, a história do automobilismo no estado começa muito antes… no início do século XX. 

 

História. 

 

 

O primeiro automóvel a chegar no Paraná tem como registro o ano de 1903. Quando outros carros chegaram, logo surgiram as primeiras disputas. A primeira regulamentação, contudo, só surgiu em 1913. 

 

Foi no início da década de 20 que surgiu o primeiro circuito na capital paranaense… e a primeira corrida era sempre disputada contra um implacável adversário: o relógio! A corrida em volta da praça conta o relógio levava centenas de pessoas a este que era um dos pontos centrais da cidade. 

 

Entre os anos 30 e 60, outros circuitos surgiram, fugindo do centro da cidade. Tarumã (onde hoje é o Colégio Militar), Prado (onde hoje está a PUC), Estratégica (nome que era dado a hoje linha verde na região metropolitana, após a urbanização deste trecho da BR 116), Capão da Imbúia e em São José dos Pinhais (no final de onde hoje é a avenida das torres), além do Centro Cívico e Água Verde. 

 

 

Flavio Chagas Lima foi o principal responsável pelo surgimento do autódromo. Visionário e polêmico, é um capítulo à parte na história do automobilismo não só paranaense como brasileiro. 

 

Em 1965, um grupo de empresários liderados por Flavio Chagas Lima apresentou um projeto, assinado por Ayrton Cornelsen, arquiteto e responsável pelos posteriors projetos do autódromo de Luanda, em Angola, do Estoril, em Portugal e do recém condenado a morte, Jacarepaguá. A obra foi realizada pela GBOR Terraplanagem.  

 

Flavio era, e é até hoje, um nome polêmico, mas ninguém pode negar que ele possuia um grande espírito empreendedor e que era um exímio articulador. Foi graças a esta proatividade que ele construiu os laços que permitiram a maquete do projeto se tornar realidade. Em 20 de novembro de 1966, acontecia a primeira prova no autódromo, que – a exemplo do que é ainda hoje Interlagos – corria no sentido antihorário. O nome escolhido para o autódromo foi o do ex governador Paulo Pimentel.  

 

 

Alguns momentos históricos do autódromo... que começou correndo no sentido oposto do que se corre atualmente. 

 

O piso de terra batida foi o palco para uma “surpreendente” vitória de um carro de passeio adaptado, um Galaxie 58, contra algumas das mais possantes carreteras do Paraná. O vencedor, “de tão feliz”, doou a brita para que a pista viesse a ser asfaltada posteriormente. 

 

Danilo Afornari, guarda com cuidado seu acervo pessoal de troféus conquistados sobre duas rodas. 

 

A primeira prova de motocicletas foi o Troféu da 1º Festa Estadual do Radialista, vencida pelo Sr. Danilo Afornari, com uma BMW 500 cc, modificada para 650 cc. Danilo foi heptacampeão paranaense de força livre sobre duas rodas. 

 

 

As línguas mais ferinas afirmam – até hoje – que a vitória foi facilitada para “empolgar” o vencedor e “sensibilizá-lo” a doar a brita… mas ninguém conseguiu provar tal artimanha, também atribuída a Chagas Lima, até hoje. 

 

No ano seguinte, o piso recebeu a “lama asfáltica”, que seria uma preparação para receber a pavimentaço, que só viria no final da década, com a construção do miolo do circuito e com a inversão do sentido, para o horário. 

 

Ao longo destes anos o autódrom foi palco de diversas provas de automobilismo e motociclismo, sendo também aberto a provas ciclísticas e a diversos eventos de fundo filantrópico. 

 

Com a reforma no autódromo, ele passou a ser chamado Centro Esportivo Governador Leon Péres (1971), por ocasião do Rally da Integração Nacional, o Autódromo sediou a Etapa do Paraná com parque fechado. Um magnífico almoço e um Prime de 3 voltas com 10 carros por vez (eram 68). O governo do Estado premiou os participantes com os troféus mais bonitos do evento. 

 

Flavio era o gestor e proprietário do autódromo e sua personalidade controversa – para alguns – incomodava. O ápice da disputa de poder pelo controle dos destinos do automobilismo de competição levaram a um desfecho lamentável: Uma ameaça de intervenção por parte da CBA na Federação Paranaense de Automobilismo provocou uma reação inesperada e que teve péssimas consequências para o desenvolvimento do automobilismo na capital e seu entorno.  

 

Como se tratava de um autoódromo privado e com um dono (Flavio Chagas Lima, no caso), este decidiu que iria “fechar o autódromo”. E assim o fez… e assim o manteve entre 1971 e 1988! Claro que o fechamento não foi assim tão rígido. Interessado e sensível ao esporte, Flavio permitiu que algumas atividades fossem realizadas nas dependências do autódromo. 

 

Com muito argumento e despreendimento junto ao dono da pista, o “Clube do Autódromo”, levou  a Chagas Lima uma proposta para implementer o Rally como um esporte de difusão automobilística no Paraná. Liderados por Henrique Meister Neto, o grupo de garotos conseguiu convencer o empresário a ceder as instalações em Curitiba para Sede e Inscrições e em Pinhais (Pista e Salão) para escola de navegação e pilotagem. Em 1974, o Rally Universitário foi  realizado na pista, com 60 carros em três eliminatórias de 20 cada e uma final de 30 carros.  

 

 

Foto aérea de 1994, foi a partir daí que o AIC - como passou a ser chamado - tomou um novo impulso pelas mão do Peteco. 

 

O Rally dominou o cenário automotor entre 1972 e 1975, (período em que o autódromo foi chamado até de "vacódromo", pois Flavio colocou umas vacas para pastar no local) sempre com final e Prime no Autódromo (215 carros inscritos no Rally dos Campos Gerais - 1100 Km em torno de Curitiba - 1 dia). Algumas provas se realizaram entre 1975 e 1988 com muito jeito na conversa antecipada entre Chagas Lima e Organizadores. 

 

Após 17 anos de “hibernação”, em 1988, com a parceria estabelecida com Adeodato Volpi Junior que reuniu partes conflitantes na posse da terra do Autódromo e com Nelson Pilagallo costurara acordo que permitiu ao Projeto um apoio do Governo do Estado, uma praça interna denominou-se Governador Alvaro Dias (com um marco de concreto característico das obras daquele governo, assentado pelo próprio Chagas Lima a bordo da máquina). O Autódromo Internacional do Paraná passava a se chamar também Autódromo Internacional Raul Boesel, em homenagem ao piloto paranaense que sagrara-se no ano anterior, campeão mundial de carros de turismo. 

 

O automobilismo do Paraná renasceu naqueles cinco anos, e exigiu maiores dedicação e investimentos, foi então apresentado um novo modelo de gestão: o Empresário Jauneval de Oms, piloto e entusiasta, patrocinador de equipes e pilotos, propos arcar com as despesas de uma reforma de grande monta, mediante um contrato de exploração em regime de concessão pelo período de 12 anos, renováveis por mais 12.  

 

A visão empresarial aguçada do “Peteco”, como ele é carinhosamente conhecido e chamado pelos seus amigos é o que se vê hoje em dia. O Autódromo Internacional de Curitiba – AIC – que é o nome da empresa que foi criada para gerenciar e administrar os destinos do Autódromo, localizado no município vizinho de Pinhais colocou-o não apenas no mapa do país ou do continente: o AIC é o único autódromo no país a receber regularmente (alem de Interlagos) uma etapa de um campeonato mundial sob a chancela da FIA: o WTCC. 

 

Os Nobres do Grid foram até Pinhais, na grande Curitiba e mapearam cada palmo do AIC para os seus leitores! 

 

Chegando ao AIC.

 

Chegar ao AIC é relativamente fácil. As vias são bem sinalizadas e os acesso são muito bons.  

 

Como chegar ao autódromo, via Tarumã.

 

Pode-se ir pela Av. Afonso Camargo e a sua paralela, Av. Dario Lopes Santos e Av. Prefeito Mauricio Fruet para se chegar ao autódromo.  

 

 

Como chegar ao autódromo, via Av. Afonso Camargo.

 

Há também, para quem mora do outro lado da cidade, a opção de ir pelas Av. Marechal Deodoro, Av, Victor Ferreira do Amaral e Av. Camilo Di Lellis.

 

 

A  entrada principal do autódromo é um belo cartão de visitas para o que iremos encontrar lá dentro. 

 

Em ambos os casos, muito bem sinalizadas e bem cuidadas até se chegar a Av. Iraí, que nos leva diretamente ao portão principal do autódromo. 

 

 

Esmero! Essa palavra define bem como é cuidado todo o parque do autódromo. Tudo limpo, grama aparada... um show! 

 

É impossível não perceber o esmero com que as dependências do autódromo estão cuidadas. Grama aparada, funcionarios uniformizados, árvores podadas, sinalização interna, a sede administrativa, tudo impecavelmente cuidado. 

 

Combinamos com o administrador do Autódromo, Sr, Itaciano Marcondes Ribas Neto, e ele nos cedeu um dos funcionários, o Miguel, para acompanhar nossa visita às dependências do circuito em si: pista, boxes e instalações. 

 

Seguimos para pistas onde demos uma volta completa no circuito… e vimos que, apesar da primeira ótima impressão, a pista do AIC está precisando de cuidados. 

 

 

Do viaduto sobre a pista, a primeira foto do que mostraremos em detalhes a seguir. 

 

O AIC obedece aos mais rígidos conceitos relativos à segurança, funcionalidade e à qualidade, seguindo normas e padrões da FIA – Federação Internacional de Automobilismo – e é homologado pela CBA – Confederação Brasileira de Automobilismo – estando apto a receber eventos das mais variadas categorias do automobilismo mundial. 

 

Com seu traçado completo (misto) com 3.695 metros, com sete curvas à direita, quatro à esquerda e cinco segmentos de reta, e o anel externo com 2.550 metros, e largura de 15 metros, a pista é seletiva e desafiadora, com curvas de boa inclinação e aproveitando bem a suave topografia do local. 

 

 

Nem Stock, nem Truck: São os festivais de arrancada os responsáveis pelo maior público do autódromo! 

 

A reta dos boxes, com seus 980 metros, tem pouco mais de 400 deles com um piso de placas de concreto, próprios para permitir as competições de arrancadas, que fazem enorme sucesso, arrastando milhares de pessoas quando realizadas. Acontece que este piso sofre sérios problemas de dilatação e compressão com a variação de temperatura e o resultado são as inevitáveis rachaduras... acontece que elas estão aumentando, em quantidade e tamanho! 

 

 

Infelizmente, nem tudo são flores no AIC... no início da nossa volta, vemos as rachaduras nas placas de concreto da reta... 

 

Alguns trechos na reta foram recapeados há pouco tempo na parte de revestimento com asfalto. As grades de segurança entre a pista e as arquibancadas estão em bom estado, com cabos de aço passados para atender as exigências da FIA. 

 

 

e não são poucas nem pequenas. Além disso, alguns buracos no asfalto são bem visíveis. 

 

A chicane no final da reta recebeu recentemente um tratamento especial, com as zebras sendo elevadas para realmente “desestimular” os que por elas tentarem cortar caminho. Assim, este item, além de técnico, mostra-se um item de segurança, que, diga-se com certeza, o AIC é um exemplo! As áreas de escape são muito boas, com caixas de brita em bom tamanho e barreiras de pneus aparafusadas ao invés de amarradas com cintas. Muito mais resistentes e seguras. Além disso, guardrails de 3 lâminas em ótimo estado e bem fixados, além de muros de concreto dão aos pilotos tranquilidade para acelerar fundo. 

 

 

As zebras do "S" são altas... e tem que ser mesmo, para aumentar o grau de dificuldade e manter o piloto "apenas na pista". 

 

Entrando no misto foi que pudemos ver o que talvez seja o maior problema da pista hoje: o asfalto em diversos pontos está necessitando urgentemente de reparos e uma recapagem. A parte do miolo, no pinehrinho e no S tem alguns buracos que podem até cortar um pneu de pego de uma posição desfavorável. 

 

As áreas de escape são muito boas. Segurança é um ponto forte no AIC...

As barreiras de pneus tem os mesmos presos por parafusos que os fixa em forma helicoidal... padrão FIA!  

 

A curva parabólica, que dá acesso a reta dos boxes foi inteiramente recapeada, contudo, o asfalto tem um grip totalmente diferente do asfalto anterior. Se por um lado, vai exigir mais destreza do piloto, por outro, vai ser um fator de risco a mais em uma curva muito veloz. 

 

 

No miolo, os problemas do asfalto sem um recapeamento há 15 anos é evidente... desgaste e mesmo buracos...

 

Alguns trechos foram recapeados, e isso acabou criando 3 tipos de piso para os pilotos... um grau a mais de dificuldade. 

 

Os boxes do AIC são um espetáculo: são 30 boxes com área útil de 88 m2 cada, portas removíveis, central de gases (nitrogênio), iluminação interna e externa para provas noturnas. O pit lane tem sete metros de largura e a área de pit stops oito metros. Todos com extintores de incêndio próprios. Dentro de cada um deles, facilidades elétricas e pneumáticas adaptáveis para que qualquer categoria possa usar sem maiores problemas. 

 

A entrada dos boxes é um pouco longa... mas é tranquila. Os boxes em si são muito bons, só perde para o Rio e  Interlagos.

Acima, camarotes amplos para os VIPs e uma bela visão da reta... abaixo, o restaurante que só abre nos eventos

 

e o box por dentro... 88 metros quadrados para não faltar espaço aos competidores e equipes.

 

Acima dos boxes, amplos camarotes e um restaurante que funciona apenas quando há eventos atendem o público credenciado e ao pessoal das equipes e da organização.  

 

A infra estrutura de serviços do autódromo Internacional de Curitiba atende muito bem a todos...

 

Banheiros, lanchonetes, salas para a administração, para os bombeiros... ninguém foi esquecido.

 

 

Atrás dos boxes, temos a área de serviços com posto de pesagem, abastecimento, banheiros, lanchonete, e escritórios para os serviços de administação de pista. Além disso, um amplo estacionamento para todo o pessoal de serviço, equipes, imprensa e demais necessidades permitem que possam ocorrer eventos do porte da Stock Cars, como em outubro passado, com 4 categorias participando e mais de 100 pilotos envolvidos e um heliponto independente do que atende o centro médico. 

 

O posto médico, mesmo sem os equipamentos, mostra que tem estrutura para estar muito bem equipado para um evento.

 

O Centro médico do AIC conta com heliponto próprio, central de gases (O2, NO2 e ar comprimido), centro cirúrgico de emergência, sala para primeiros socorros, equipamentos para terapia de queimados, completo sistema de monitorização, que em nada deixam a dever ao autódromo de interlagos, a primeira referência do país. 

 

 

A torre de controle é moderníssima. Comissários, cronometragem e direção de prova tem todas as condições de trabalho.

 

Assim como o centro médico, a torre de controle de provas é um verdadeiro marco arquitetônico no autódromo. Já foi até mais bonita, quando havia um pinheiro no interior do canteiro da escada, mas um inspetor da FIA, alegando segurança, exigiu a retirada da árvore.  

 

 

Acima, os detalhes do comando de largada e a visão do câmera, no alto da torre, mostrando o heliponto e a reta. 

 

Os 4 andares envidraçados abrigam espaços amplos para que comissários, equipe de cronometragem, emissoras de TV e a direção de prova possam trabalhar dentro de um abiente em que contam com todas as facilidades possíveis. Graças ao nosso guia, fomos até o ponto mais alto, onde pudemos ter a msma visão das câmeras de televisão nas transmissões. 

 

 

Além do heliponto para o serviço médico, há um outro. Espaço para as equipes se instalarem não falta. 

 

Deixamos a parte da pista para trás impressionados com a qualidade no geral das instalações, mas preocupados com a parte dos problemas encontrados na pista. Fomos para a área destinada ao público, onde pudemos ver o aproveitamento das arquibancadas como locais para escolas de formação de pilotos, como a do José Cordova e principalmente a sede do Instituto Social Vó Durvina, onde fomos muito bem recebidos pelo Fernando, funcionário da secretaria que nos mostrou o local.

 

 

 

 

 

Para o público, arquibancadas, banheiros fixos, e duas lanchonetes para nã deixar ninguém no aperto...

 

 Vó Durvina. 

 

 

 

Fernando: A Vó Durvina era uma senhora que ao longo da vida buscou prover com bem estar o máximo de pessoas que pode e ela era a avó do presidente do autódromo, Jauneval de Oms, mais conhecido como Peteco. 

 

 

Assim, em 1984 foi fundada o Instituto Social Vó Durvina, homenagem feita pelas filhas dela e em 1994 foi inaugurada a sede no bairro Santa Cândida, com cursos profissionalizantes e aqui no autódromo começou a funcionar em 1997.  

 

 

O espaço sob as arquibancadas é o local onde foram montadas as salas de aula para que cursos sejam ministrados para pessoas que queiram adquirir uma profissão. A prefeitura da cidade de Pinhais é parceira neste projeto, fornecendo os profissionais que ministram os cursos e paga os instrutores. No Santa Cândida, a parceria que provê os cursos é a Fundação de Ação Social (FAZ), orgão da prefeitura de Curitiba.  Somando os dois centros, são formados cerca de 1400 alunos por ano nestes cursos que são gratuitos.  

 

 

 

NdG: Quais cursos são ministrados? 

 

 

 

Fernando: Temos o curso de moda e beleza, com cursos para cabelereiro, manicure e pedicure, depilação, delineamento de sobrancelha e de corte e costura. Temos também o curso de informática básica, para assistentes administrativos. Aqui atendemos desde jovens com a faixa de 16 anos e não há idade máxima. É uma forma de ajudarmos a colocar pessoas no mercado de trabalho.

 

 

Além do trabalho social, nos dias de corrida a area conta com banheiros e lanchonetes para atender o público sem grandes apertos.

  

Dentro do autódromo funciona o Instituto da Vó Durrvina. Além de velocidade, um compromisso com a sociedade. 

 

De uma forma geral, a administração do Autódromo Internacional de Curitiba está de parabéns.

 

 

 

 

 

Quem quiser ver mais fotos e saber mais sobre o Autódromo Internacional de Curitiba, visite o site: www.autodromodecuritiba.com.br

 

 

Itaciano Marcondes Ribas Neto nos recebeu para uma conversa franca e extremamente positiva.

 

 

Como sempre fazemos, fomos conversar com o administrador do autódromo, Sr. Itaciano Marcondes Ribas Neto para saber mais sobre o modelo de gestão do AIC.

 

NdG: O Autódromo de Pinhais é um empreendimento privado e, como empreendimento do gênero, foi o primeiro autódromo internacional no Brasil com este perfil. Como surgiu este projeto que hoje é uma realidade de sucesso? 

 

 

Itaciano Neto: Bom, eu posso falar sobre a administração atual. Em 1995 foi fundada uma empresa com o nome “Autódromo Internacional de Curitiba”. No contrato que nos fizemos com os proprietários da área, nós faríamos uma pequena reforma... que acabou se tornando uma grande reforma, que é praticamente o que as pessoas veem hoje. A reforma começou em abril de 1995 e só terminou no final de junho do ano seguinte. A reinauguração foi no dia 30 de junho de 1996, com uma etapa da Stock Car. Eu lembro bem de como foi, pois fui eu que administrei a obra e foram os operários e as máquinas saindo e os caminhões da categoria chegando. Foi um sucesso, foi muito bacana, mas foi bastante corrido. 

 

 

o orçamento? Consegue superávit? 

 

 

Itaciano Neto: Além disso tem outras coisas: Locamos o autódromo para testes das montadoras, para escolas de pilotagem, para eventos de test drive... enfim, buscamos outros meios porque se dependermos só das corridas, só do automobilismo não tem como se manter um autódromo deste padrão. Eu não sei como funciona a administração dos outros autódromos. Conheço os espaços, mas não o trabalho dos outros administradores. O único autódromo que eu tenho conhecimento de que seja totalmente privado no Brasil é o nosso (Nota dos NdG: O autódromo de Viamão também é privado, pertencendo ao Automóvel Clube do Rio Grande do Sul).  

 

 

NdG: O AIC é o único autódromo além de Interla

NdG: E antes deste contrato? Como era a situação do Autódromo? 

 

 

Itaciano Neto: O Autódromo esteve aqui... sempre foi privado e teve outros nomes, como Autódromo Internacional de Pinhais, Autódromo Internacional do Paraná. O proprietário era o Flavio Chagas, foi ele quem iniciou com o autódromo aqui. O autódromo ficou um tempo parado e aí nos arrendamos e hoje temos isso aí. 

 

 

NdG: Na visão da administração, sendo este um empreendimento privado, qual o maior desafio no gerenciamento do autódromo? Como se enfrenta tais desafios? 

 

 

Itaciano Neto: Em tom de brincadeira, mas sendo esta a pura verdade: “a gente tira leite de pedra”! Não é fácil se fazer automobilismo no Brasil. Atualmente nós temos duas categoria que realmente trás público para o autódromo: A Stock Cars e a Fórmula Truck. Tem outras categorias, mas que não consegue movimentar o público como essas e nem de perto. Temos no estado outras duas: Uma com 10 etapas que é o Turismo GNV e 6 ou 7 etapas de arrancada, esta última uma categoria forte aqui em Curitiba.  

 

 

NdG: E este calendário de eventos consegue equilibrar gos que recebe no Brasil uma categoria mundial, no caso, o WTCC. Como foi que os senhores conseguiram conquistar este direito?  

 

 

 

"Nós temos que tirar leite de pedra para manter o autódromo. Nos últimos 5 anos temos conseguido nos manter"

 

Itaciano Neto: Nós já tivemos outras etapas de categorias internacionais assim como o WTCC. Em 1996 tivemos uma prova que o Nelson Piquet correu, inclusive (Nota dos NdG: Era o mundial de turismo endurance, e Piquet corria de BMW com Johnny Cecotto) e também tivemos etapas da Nissan Cup, onde corria o Ricardo Zonta. Agora, com regularidade, constando do calendário, 2010 será o 5º ano da etapa do WTCC aqui no nosso autódromo, no autódromo internacional de Curitiba, na cidade de Pinhais. É importante mencionar isso, que o autódromo fica na cidade de Pinhais. Temos um apoio muito bom da prefeitura. O Prefeito é um grande parceiro nosso. 

 

 

NdG: Pelos autódromos que visitamos até agora, este é o mais bem estruturado e muito bem cuidado. Quantos funcionários trabalham aqui? 

 

 

Itaciano Neto: Ao todo, para o autódromo, 22 pessoas. 

 

 

NdG: São terceirizados, via prestadores ou são funcionários do autódromo? 

 

 

Itaciano Neto: São todos funcionários do autódromo, contratados pela empresa Autódromo Internacional de Curitiba, com todos os direitos previstos em lei. 

 

 

NdG: Ele se paga ao longo de um ano ou precisa de investimento de patrocinadores/parceiros ou do próprio proprietário? 

 

 

Itaciano Neto: Nos últimos 5 anos nós temos conseguido manter o autódromo com suas contas em dia. Tivemos que melhorar a administração, reorganizar gastos, mas temos conseguido fazer com que não dê prejuízo.  

 

 

NdG: O autódromo recebe alguma verba de algum órgão administrativo? Existe algum incentivo fiscal?municipal/estadual/federal?  

 

 

"Nós não somos Interlagos, que recebe um caminhão de dinheiro por conta da Fórmula 1. Nos viramos com recursos próprios." 

 

Itaciano Neto: Zero! Nenhum! 

 

 

NdG: No site do autódromo pudemos ver um calendário bastante movimentado, com diversos eventos. Além dos eventos “sobre rodas” o autódromo abre espaço para outro tipo de eventos? 

 

 

Itaciano Neto: No passado, há muito tempo, nós já fizemos. Acontece que este tipo de evento como um show de música exige um tempo de preparação muito grande com montagem e desmontagem e isso acaba atrapalhando o calendário do setor automobilístico. Autódromo tem que ter como carro chefe o automobilismo e o motociclismo, não outro tipo de evento. 

 

 

NdG: Como é feito o trabalho de preparação do autódromo para receber ou realizar um evento automobilístico? Quem é envolvido e como se dá o processo? 

 

 

Itaciano Neto: No nosso caso, nós fazemos a locação do espaço. Nós não nos envolvemos com a organização do evento propriamente dito. As únicas coisas que são ligadas aqui à administração do autódromo e que são arrendadas são os estacionamentos e a parte de alimentação (O restaurante, a lanchonete do paddock e as duas aqui para o público). Se o promotor tiver um evento e quiser trazer um Buffet para servir seus convidados, gratuitamente, ele pode. Comercializar, não. Além da cessão do espaço, está no contrato uma determinada quantidade de credenciais que são para o acesso ao nosso camarote, da administração, do camarote do proprietário do terreno (que tem também seu camarote), para os funcionários que trabalham nos restaurantes e lanchonetes, para os funcionários do autódromo, etc. Estas são distribuídas conforme as necessidades. 

 

 

NdG: Eventos como a Truck/Stock/F3 Sudam/WTCC, que são eventos de grande porte e/ou com uma interferência direta de um organizador internacional faz com que a administração seja exigida na preparação além do que em outros eventos ou existe um “procedimento padronizado”, variando apenas as quantidades de recursos e pessoas em função do tamanho do evento? 

 

 

Itaciano Neto: Não. Tudo é da mesma forma. As exigências nossas as mesmas com todos. Seja o regional, seja o WTCC, nosso procedimento é o mesmo: entregar o autódromo limpo, arrumado, com a grama aparada, com tudo funcionando. Pode ser da escola de pilotagem que vem e vai num mesmo dia à Fórmula Truck, que ocupa praticamente 15 dias do calendário entre montagem e desmontagem. 

 

 

NdG: A vinda do WTCC é algo do qual a comunidade automobilística do Paraná pode se orgulhar por acontecer no estado. Como foi feita a negociação para a vinda deles? 

 

 

Itaciano Neto: Eles queriam vir para o Brasil, vieram conhecer o autódromo, gostaram, quiseram fazer a etapa, demos o preço, negociou-se e eles pagaram. Mas isso foi a área comercial que negociou. 

 

 

NdG: Como funciona o atendimento médico em um evento, para o público e para os participantes? 

 

 

Itaciano Neto: É tudo por conta do promotor. Se bem que temos uma denominação que usamos aqui que é a de “evento aberto” e “evento fechado”. Evento Fechado seria algo assim como, você usar o autódromo para fazer uma festa com seus amigos, andar de carro, etc. Nestes casos tomam-se algumas precauções com relação à segurança e o autódromo fornece uma ambulância com motorista e enfermeiro. Tem também um efetivo de funcionários, um carro de serviço... isso é evento fechado. Quem está ali é convidado. Evento aberto como a Stock, a Truck, etc. o promotor se encarrega de tudo, inclusive da área médica. 

 

 

NdG: Vimos que a reta dos boxes tem um tipo de piso diferente do existente no restante do circuito. Como foi concebida esta idéia?  

 

 

Itaciano Neto: Era uma proposta nossa para fazer o tipo de evento de arrancada, que tem muito público aqui no Paraná e o piso tem que ser esse aí, asfalto não resiste. Então temos estes poço mais de 400 metros, ou ¼ de milha para este evento específico. 

 

 

NdG: Como foi recebida esta proposta pelos pilotos e equipes? Por exemplo, a WTCC quando veio correr aqui, o que os organizadores da categoria, chefes de equipe e/ou pilotos acharam?

 

 

Itaciano Neto: Eles não reclamam. Todos que veem aqui gostam da pista, do traçado, da segurança... e isso se estende aos diretores também. Eles gostam do da forma como o autódromo como um todo funciona. 

 

 

NdG: Originalmente não havia aquela chicane no final da reta dos boxes. Foi uma solução possível ou foi a única solução possível? Não havia como conseguir mais terreno para uma área de escape ou mesmo antecipar a curva ao invés de incluir a chicane? 

 

 

Itaciano Neto: Eu não tenho conhecimento disso. Em 1995, quando assumimos o autódromo ela já existia. O que se fez de reforma na pista foi o alargamento, de 10 para 15 metros, afastou-se os muros de proteção no lado oposto a reta. 

 

 

NdG: Notamos em alguns pontos um asfalto com desgaste excessivo e mesmo com falhas profundas como na parte do miolo. Além de haver pontos recapeados, criando diversas áreas com um “grip” diferente. Ao “grip” torna-se até um desafio a mais para o bom piloto se adaptar, mas as falhas no asfalto podem se constituir num risco até de um pneu cortado. Quando foi o último recapeamento do circuito? Há previsão de algum outro? 

 

 

 

"Bom seria recapear a pista inteira... mas nos deixaria 2 meses fechados e ficaríamos 3 anos no vermelho com isso!"

 

Itaciano Neto: Há pontos que não são recapeados há 15 anos! Ano passado recapeamos 360 metros, em pontos que consideramos estar realmente ruins. Este pequeno serviço custou meio milhão de reais. Aqui não é São Paulo que todo ano a prefeitura dá 30 milhões para obras... aqui temos zero! Além de não termos o dinheiro para recapear a pista inteira, que – a grosso modo – custaria mais de 3 milhões, teríamos que fechar por dois meses e dois meses fechados quebra a gente! Já temos 1 mês de férias, metade de dezembro e metade de janeiro para o pessoal ter férias. Nós bem que gostaríamos de poder fazer uma obra completa, mas como é que vamos acertar as contas depois? O pessoal da arrancada mesmo veio me falar da placa que está lá, quebrada... mas hoje não temos como fazer a obra. Se bancarmos uma obra desta monta, vamos ficar pelo menos 3 anos no vermelho! 

 

 

NdG: Na área destinada ao público, encontramos aqui – até agora – a melhor estrutura disponível para quem vem assistir a um evento. Em dias de arquibancadas tomadas, com 35/40 mil pessoas ela é suficiente ou há a necessidade de se “reforçá-la” com banheiros químicos, quiosques extras de alimentação...   

 

 

Itaciano Neto: Depende do evento. E qualquer estrutura extra é ele que trás. 

 

 

NdG: Também vimos no site que há um restaurante nas dependências do autódromo, além de uma lanchonete na parte do paddock, além da existente para o público. São empreendimentos arrendados como o senhor falou. Ele poderia funcionar sem interrupção, caso o arrendatário desejasse?  

 

 

Itaciano Neto: Poder até poderia, mas, por exemplo, o restaurante nem seque abre em todos os eventos. Por exemplo, na própria Fórmula Truck, que tem uma massa de apoio e fornecimento de comida para todo mundo, ele nem abre. Nas etapas locais, idem. Eu sei que o restaurante abre quando tem stock e quando tem arrancada... e só. 

 

 

NdG: Como é a relação da administração com a Federação Paranaense e com a CBA? 

 

 

Itaciano Neto:. Muito boa. Bem tranqüila. Nunca tivemos problemas com eles. 

 

 

NdG: Existe algum projeto ou planejamento para a execução de alguma alteração e/ou melhoria no autódromo, apesar de hoje não haver verba, há ao menos a idéia? 

 

 

 

"Nas condições atuais, nosso planejamento é apenas manutenção. Não há verba para mais nada. Fazemos o que podemos." 

 

Itaciano Neto: Projeto não temos. Temos manutenção. A FIA exige reformas todos os anos e nós procuramos atender, pois achamos interessante manter a prova do WTCC aqui. Eles pedem uma barreira de pneus nova ou uma cerca com cabo de aço passando dentro, fazemos. O que temos é o que temos e o que fazemos é a manutenção do que está aí. 

 

 

NdG: O AIC é na verdade, um complexo, não? Além do autódromo existe o kartódromo e uma pista de corridas na terra, por trás da curva do final da reta dos boxes. É tudo parte do projeto da empresa AIC?  

 

 

Itaciano Neto: A parte do kartódromo é parte de um subarrendamento à Raceland, que hoje pertence ao proprietário, o diretor-presidente do autódromo que é o Jauvenal. A pista de terra, que também é área do autódromo, tinha um plano, isso há mais de 5 anos atrás, de fazer naquela pista um autocross, com aquelas gaiolas... mas foi da administração anterior do kartódromo. Até onde sei, elas foram compradas, mas acho que nem chegaram a andar. Quanto àquela área, poderia se fazer um estacionamento para as arquibancadas velhas e uma entrada por outro ponto, por exemplo. 

 

 

NdG: O ponto que abordaremos agora pode trazer algum desconforto para o senhor, mas precisamos abordá-lo dentro da nossa “linha editorial”, que é ouvir de viva voz o que as pessoas tem a dizer: Durante o período em que estivemos fazendo a matéria da Stock Cars, muito se falou na sala de imprensa sobre o problema jurídico que pode levar a leilão o autódromo. Gostaríamos de ouvir do senhor qual a real situação sobre este assunto. 

 

 

Itaciano Neto: Acredito que vocês tinham lido a matéria do site. Se vocês leram a reportagem, nem precisariam estar fazendo esta pergunta. 

 

 

NdG: É uma questão de “linha editorial”... assim como não colocamos textos das matérias dos outros sites, mesmo que o do autódromo, no caso, não tomamos depoimentos por notas, só gravados. Não temos a intenção de causar incômodo às pessoas, apenas é o meio mais seguro de que todas as declarações escritas serão fidedignas ao que foi gravado. 

 

 

 

"O problema do processo nada tem a ver com o autódromo. Nós vamos continuar abertos e funcionando." 

 

Itaciano Neto: Eu já falei sobre este assunto umas quinhentas mil vezes, mas vamos lá: A área, de acordo com a escritura, onde foi construído o autódromo pertence a três empresas: a Dourados tem 40%, o Flavio Chagas Freitas tem 40% da área e a “mãe do autódromo tem 20% da área. Em 1996, dois ex funcionários do Flavio Chagas Freitas, de uma empresa que nada tinha a ver com o autódromo que era a Paraná Fomentos, por conta de questões trabalhistas, entraram com penhora da parte da área do autódromo que pertencia ao Flavio Chagas Freitas (hoje pertence a família uma vez que o Sr. Flavio Chagas Freitas já faleceu). O processo de penhora requeria 73% da área... eu comentei com o oficial de justiça: “como é que vão penhorar 73% da área se o réu só tinha 40%”? É claro que o processo foi embargado por conta disso. O assunto está na justiça e lá tramita. Daí como ele é falecido, tem a questão do espólio... e aí isso vai longe. Mas por isso que digo, este tipo de manchete fatalista não tem nada a ver com o autódromo. Se a área for um dia a leilão, aí é a questão da área. Daí quem comprar pode negociar. O autódromo não tem nada a ver com isso. 

 

NdG: Sr. Itaciano, os Nobres do Grid agradecem a sua atenção e deferência em nos receber. Parabéns a todos pelo grande trabalho que tem sido feito aqui no AIC e esperamos poder ver o AIC cada vez melhor.

 

 

Itaciano Neto: Sintam-se bem vindos aqui no nosso autódromo.

  

 

Fontes: Jornais do estado do Paraná, Site do autódromo, registros e fotos pessoais de Henrique Meister Neto, a quem agradecemos muitíssimo pela enorme colaboração para a redação final desta matéria.

 

Last Updated ( Friday, 08 January 2021 19:33 )