Viamão - RS Print
Written by Administrator   
Monday, 19 October 2009 00:39

 

 

Tarumã está envelhecido. 

 

 

Localizado na cidade de Viamão, na Grande Porto Alegre, Tarumã é o circuito que detém a mais alta média de velocidade do Brasil, comparando-se as categorias que correm nos demais circuitos do país. Sua inalguração, no dia 8 de novembro de 1970, veio atender aos anseios de um estado em que a velocidade sempre fez parte da história que passou a ser escrita depois da chegada do segundo automóvel (O dono tratou logo de chamar o proprietário do primeiro automóvel para uma corrida!), sendo o fruto de um enorme esforço do Automóvel Clube do Rio Grande do Sul, o seu proprietário e administrador. 

 

Os caminhos para se chegar a Tarumã são bem indicados... o problema é o estado de alguns trechos no trajeto...

 

Chegar a Tarumã é relativamente fácil e o interessado em ir conhecer o autódromo tem como fazê-lo, mesmo dirigindo ele mesmo sem que tenha estado lá anteriormente. Existe até a opção de dois caminhos distintos: Um é seguir pela “freeway” (que não é “free” faz tempo: tem dois pedágios e saindo de Porto Alegre o primeiro é inevitável) até o primeiro trevo após o pedágio, onde entrará à direita, tomando a antiga estrada que segue para o litoral, no sentido de retornar para Porto Alegre. Neste ponto as três faixas do asfalto quase perfeito dão lugar a uma rodovia de placas de concreto em péssimo estado. A boa sinalização dá lugar a uma interrogação que só é respondida cerca de 200 metros antes da chegada no trevo seguinte (e que requer alguma atenção uma vez que o mato avança contra as placas), quase na entrada do autódromo. O outro caminho é vir pela Avenida Bento Gonçalves e Assis Brasil, tomando o caminho para Viamão indo via periferia de Porto Alegre. Seguindo as placas que indicam a cidade que hospeda o circuito, o interessado começará a encontrar o caminho bem sinalizado até o autódromo. 

 

Tarumã tem pontos em sua infraestrutura que outros autódromos não tem. Um exemplo é o restaurante. Aberto ao público. 

 

Indo em direção a entrada, passamos pelos portões e cruzamos a “trincheira” que passa por baixo da curva 1. Além do prédio da administração, visto no alto à esquerda, vimos o Restaurante Tala Larga, que funciona quase que diariamente. Infelizmente chegamos um pouco tarde... o pessoal que trabalha já tinha dado conta do arroz carreteiro, o prato daquele dia! O Tala Larga, onde a decoração com toalhas quadriculadas, tem ao fundo um enorme painel temático, mostrando que ali também se alimenta o cliente com velocidade. Se o amigo/a leitor/a tiver a oportunidade de ir um dia, vá. Além do restaurante, há uma lancheria (forma como o pessoal do sul do país chamam as lanchonetes, como é conhecido nas outras regiões): a “Pit Stop”, que fica por trás das garagens. 

 

Seguimos então para o prédio da administração onde a secretária – Sra. Valéria – nos permitiu entrar e tirar algumas fotos. Foi impossível não notar – e registrar – a galeria de pessoas deste estado que tem uma história tão rica no automobilismo e as homenagens feitas a Raffaele Rosito e a Antônio Pegoraro. O gaúcho ama mesmo velocidade. 

 

A pista pede por obras.  

 

A pista tem a extensão de 3016 metros e sua largura varia entre 12 e 14 metros. Sempre foi considerada uma pista extremamente desafiadora e – por alguns – perigosa devido as suas curvas de alta como a curva 1, a sequência dos “S” em descida levando para a curva do talalarga, esta com uma área de escape que poderia ser maior... ou deveria ser maior.  

 

A curva 9, que leva os pilotos novamente à reta dos boxes também possui uma área de escape pequena e a entrada dos boxes por ser muito próxima à saída da curva, torna-se um ingrediente a mais a exigir da perícia dos pilotos... e um cuidado maior ainda por parte dos administradores do autódromo e dos delegados das provas. 

O asfalto de Viamão não é de alta abrasividade... mas na reta dos boxes o desgaste é acentuado e necessita reparos. 

 

O asfalto não é muito abrasivo, mas está precisando de um recapeamento urgente em alguns pontos. Isto é bem notado, depois da linha, de partida antes de chegar à curva 1, percebe-se facilmente o quanto o piso está desgastado. Esta curva (a veloz curva 1) teve há alguns anos sua área de escape ampliada pois não faz muito tempo, os pilotos da Stock Cars recusaram-se a correr no tradicional autódromo gaúcho alegando falta de segurança.  

 

Em outros pontos, foi triste ver rachaduras no asfalto com até mato brotando de dentro delas.  

 

O autódromo possui boas instalações, mesmo sendo antigas. Existem garagens dispostas atrás dos boxes e uma boa área asfaltada entre elas. Tanto as garagens como os boxes são em bom número para atender as categorias que usam Tarumã em seu calendário. Contudo, o tempo é cruel e o desgaste dos anos de uso pesam sobre os ombros do circuito “quase quarentão”. Isto é bem visível em todas as instalações e em especial na torre de cronometragem. Mas, se tudo isso pesa contra o autódromo, foi gratificante ver vários  funcionários trabalhando e procurando cuidar da melhor maneira possível deste patrimônio do esporte a motor. Importante: Quando fomos visitar este autódromo, não era “véspera” de nenhum evento. Era cuidado com o patrimônio mesmo! 

 

Na parte de segurança, vimos que, apesar de algumas áreas de escape serem realmente pequenas, as barreiras de pneus estão muito bem montadas. As zebras, (lisas ou rugadas) permitem um bom apoio e o autódromo conta com um bom posto médico e heliponto. 

 

A estrutura para o público existe, com quiosques e banheiros capazes de atender uma parte do público que vem a Tarumã.

 

Para o público existem na pequena arquibancada da reta, quiosques com comidas e bebidas no dia dos eventos, além de banheiros fixos (certamente com o afluxo de pessoas nos dias das grandes provas, banheiros químicos são adicionados à esta estrutura). Nos finais de semana com corrida, o entorno da pista é tomado pelos fans que acampam durante todo o evento e, sendo no sul do país, o chimarrão e a fumaça das churrasqueiras são vistos praticamente as 24 horas do dia. 

 

Dentro da linha editorial desta série de artigos, buscamos a palavra do administrador dos 55 hectares da área que compreende não só o autódromo como também o kartódromo, Sr. Marcio Pimentel. 

 

Entrevista com o Administrador do Autódromo. 

 

Marcio Pimentel é uma força enorme na manutenção do funcionamento do autódromo de Tarumã. Há 15 anos encarando esta hercúlea tarefa, Marcio, que também faz shows dom carros nos eventos do autódromo e que ainda presta consultoria de segurança nos autódromos como fez este ano no programa de melhorias do autódromo de Santa Cruz do Sul – RS. Como não conseguimos coincidir agendas mesmo em três dias de estadia em Porto Alegre, fizemos esta rápida entrevista por telefone: 

 

NdG: A administração do Autódromo de Viamão cabe a quem? 

 

Marcio Pimentel: O autódromo é de propriedade e administração do Automóvel Clube do Rio Grande do Sul. Ele é fruto do esforço e dedicação dos automobilistas gaúchos e foi inaugurado em 1970, por Antônio Pegoraro. 

 

NdG: Na sua visão e na do Automóvel Clube, qual o maior desafio no gerenciamento do autódromo? 

 

O prédio da administração é quase um museu que guarda boa parte da história dos dedicados gaúchos que o construíram. 

 

Marcio Pimentel: É mantê-lo funcionando! Nós não recebemos nenhum apoio para isso. NdG: E como este desafio é enfrentado? Marcio Pimentel: Fazendo o que é possível. Procurando criar meios para que possamos gerar recursos e assim bancar os custos, que não são poucos. Afinal, são 55 hectáres para serem cuidados. 

 

NdG: Vimos o autódromo com algumas pessoas trabalhando, quantos funcionários tem o autódromo? 

 

Marcio Pimentel: Fixos são 7. Eventualmente contratamos mais alguns para alguma obra ou reforma necessária. 

 

NdG: São terceirizados, funcionários do Automóvel Clube? 

 

Marcio Pimentel: Os 7 são funcionários, empregados do Autódromo e consequentemente do Automóvel Clube. Os outros nós contratamos avulsos ou empresas prestadoras de serviço. 

 

NdG: Manter um autódromo é algo caro. Como é feita a gestão de recursos? 

 

Posto médico, abastecimento, pódio e até uma lanchonete (ou lancheria para o pessoal do sul). Tarumã é bem cuidado... 

 

Marcio Pimentel: Nós temos feito, desde 1994, o ajuste de contas do autódromo com fornecedores, dívidas trabalhistas, manutenção necessária... para vocês terem uma idéia, só de dívidas trabalhistas pagamos 287 mil reais para evitar que o autódromo pudesse ir a leilão. 

 

NdG: O autódromo gera recursos? Quais? 

 

Marcio Pimentel: Nós fazemos eventos próprios como festivais, campeonatos de arrancadas, que foi um grande projeto e que vem conseguindo êxito na proposta de tirar das ruas os rachas. Também temos as etapas dos campeonatos regionais de turismo, monopostos e da Fórmula Sul, uma dissidência da Fórmula Truck. 

 

NdG: Ele se paga ao longo de um ano ou precisa de investimento? 

 

Marcio Pimentel: Temos conseguido manter o autódromo funcionando com recursos próprios. Zeramos todas as dívidas, mas para fazer reformas maiores precisamos de mais recursos. Por enquanto, vamos dando a manutenção. 

 

NdG: Quais os tipos de eventos, com ou sem rodas, realizados em Viamão? 

 

Marcio Pimentel: Como disse, temos os eventos do automobilismo regional, os campeonatos de arrancada e de eventos externos teremos a Stock Cars. 

 

NdG: Eventos como a Truck/Stock/F3 Sudam requerem mais preparação do que outros ou existe um “procedimento padronizado”, variando apenas as quantidades de recursos e pessoas em função do tamanho do evento? 

 

... mas o tempo está maltratando a estrutura existente e as verbas obtidas para uma melhor manutenção é pequena. 

 

Marcio Pimentel: Este ano nem a Truck nem a Fórmula 3 virão para Viamão. Apenas a Stock virá de fora. Quando temos um evento, estudamos o que vai ser envolvido e a estrutura é montada para que tanto os profissionais trabalhando como o público tenham o melhor atendimento possível. 

 

NdG: Como é feita esta preparação para um evento automobilístico? Quem é envolvido? O que é que vem de fora? 

 

Marcio Pimentel: Nada vem de fora. Tudo é providenciado pela administração do autódromo. Claro que contratamos serviços terceirizados para algumas coisas, mas é tudo de nossa responsabilidade. 

 

NdG: além de eventos ligados ao automobilismo, o autódromo abriga outro tipo de eventos? 

 

Marcio Pimentel: Já fomos procurados para alugar o autódromo para festas “rave”... mas como não concordamos com o tipo de proposta destas festas preferimos não fazer contratos com eles. 

 

NdG: Como funciona o atendimento médico em um evento, para o público e para os participantes? 

 

Marcio Pimentel: Temos uma longa parceria com a Vital Remoções que faz a parte de atendimento médico e transporte, caso necessário, de acidentados. Eles tem um respaldo muito grande e larga experiência. 

 

NdG: Vimos que em alguns pontos o asfalto está bastante deteriorado. Existe previsão de reformas, há alguma em andamento? 

 

A vista do Paddock mostra que a atividade em um dia normal em Tarumã é totalmente voltada para a pista e a competição.

 

Marcio Pimentel: A última vez que nosso autódromo foi recapeado foi em 2003, quando a PETROBRAS deu o suporte financeiro para o serviço. Estamos buscando apoio e recursos junto ao governo federal para que possamos fazer um outro recapeamento. Tirando a reta dos boxes, o asfalto ainda está bom. 

 

NdG: Mas vimos também algumas rachaduras no asfalto, até com mato crescendo... 

 

Marcio Pimentel: Aquele é um problema meio que crônico. Aquele ponto é um aterro e desde que o autódromo foi construído este problema existe. Contudo, o que você viu não é algo que vem aumentando, é algo existente e que não afeta a pista. 

 

NdG: Alguns anos atrás os pilotos da Stock se recusaram a correr aqui alegando falta de segurança. Reformas foram feitas em algumas áreas de escape, mas a curva de acesso a reta dos boxes ainda continua com sua área de escape bastante pequena. Há algo pensado para este ponto? 

 

Os boxes não são tão amplos quanto os dos autódromos mais modernos e uma obra para modernizá-los está em vista. 

 

Marcio Pimentel: Estamos sempre buscando as melhorias necessárias. Queremos fazer uma reforma completa dos boxes e na torre de cronometragem, por exemplo. O problema é que ainda não conseguimos recursos extras para isso e nem o município e mesmo o governo estadual tem demonstrado interesse em nos ajudar. 

 

NdG: Na área destinada ao público vimos quiosques e banheiros públicos. Quando há eventos eles são suficientes ou recebem algum “reforço”? 

 

Marcio Pimentel: Nosso autódromo é o único daqui que oferece este tipo de conforto para o público. Com quiosque de lanches, com um restaurante aberto ao público. Quando temos eventos, abrimos cadastramento para outros prestadores de serviço poderem trabalhar aqui. 

 

NdG: Vimos que há um restaurante aberto permanentemente no autódromo. Ele é arrendado ou é da administração? É um local conhecido na comunidade? Na cidade de Viamão? 

 

Marcio Pimentel: O Tala Larga é um espaço conhecido da comunidade de Viamão. Fica aberto o ano inteiro e tem um bom público cativo. Poderia ter mais, claro, mas para isso teríamos que ter mais eventos ligados ao autódromo. 

 

NdG: Quando fizemos as fotografias, vimos as placas com os nomes de Rafaelle Rosito e Antonio Pegoraro, dois grandes abnegados do nosso esporte. Como o Sr. vê esta paixão gaucha pelo automobilismo? 

 

Marcio Pimentel: O povo gaúcho tem larga tradição no automobilismo. Desde os tempos das carreteras, desde os tempos em que os nosso pilotos saiam daqui e iam vencer corridas em São Paulo como fizeram Catharino Andreatta e Breno Fornari nas Mil Milhas.  

 

Tarumã é veloz, desafiador... e perigoso. A curva de acesso à reta e a entrada dos boxes são um ponto crítico para os pilotos. 

 

NdG: Em breve haverá na grande POA uma outra praça de eventos, o Velopark. O que é muito bom. Contudo, não estaria o Velopark pondo em risco o autódromo de Viamão?  Se nada para manter Tarumã “atual” ele não pode vir a ser relegado a um segundo plano depois da inauguração da pista em Nova Santa Rita? 

 

Marcio Pimentel: Não vemos desta forma... acreditamos que há espaço para tudo e para todos. Além do que, os grandes eventos como vocês chamam a Stock a Fórmula Truck ou a Fórmula 3 são eventos que, para a administração do autódromo rendem muito pouco, tamanho os custos e as exigências que o retorno para o autódromo é menor no que num evento regional. Sendo assim, se os eventos grandes forem para lá e nós tivermos os eventos regionais aqui, teremos um retorno melhor. 

 

NdG: Esta é uma revelação surpreendente... achávamos que o retorno destes grandes eventos fossem muito bons... 

 

Marcio Pimentel: Para os organizadores é ótimo! Para os autódromos nem sempre. 

 

NdG: Como é a relação da administração com a Federação e a CBA? 

 

Marcio Pimentel: É a melhor possível. 

 

NdG: Agora, com a crise econômica sendo superada, o Sr. espera dias melhores para o autódromo de Viamão e para o automobilismo gaucho e brasileiro? 

 

Marcio Pimentel: A esperança sempre existe. Enquanto estes dias não chegam, vamos trabalhando e batalhando para podermos manter o nosso autódromo funcionando.

 

Last Updated ( Monday, 19 October 2009 16:59 )