Velopark - RS Print
Written by Administrator   
Tuesday, 15 June 2010 04:12

Do alto, a visão do Velopark impressiona. No solo, percorrendo suas instalações, impressiona ainda mais. É um outro mundo! 

 

Imagine um local concebido, a partir de uma folha de papel e uma idéia sobre como fazer automobilismo com profissionalismo... 

 

Este lugar não é um conto de fadas, nem ficção científica e muito menos o delírio de um abnegado ou fanático por corridas. Este lugar existe e chama-se Velopark. 

 

Em maio de 2009, quando seguíamos viagem para Santa Cruz do Sul – RS, nos deparamos com o complexo do Velopark, onde estava sendo realizado o campeonato panamericano de kart. Foi impossível não entrar e fazer uma rápida visita, onde tivemos a oportunidade de conhecer o Administrador Sergio Lima e o Assessor de Imprensa Paulo Torino.  

 

 

Saindo de Porto Alegre, passando por Canoas pela BR116, logo vê-se a primeira placa indicando o caminho para o Velopark. 

 

Os Nobres do Grid assumiram um compromisso com os administradores do parque de fazer uma matéria sobre o parque automobilístico assim que a pista para corrida de automóveis estivesse pronta. Como promessa feita é promessa cumprida, fomos até Porto Alegre poucos dias depois da inauguração, não apenas para fazer uma matéria da seção “Raio X dos Autódromos Brasileiros”, mas para mostrar que, com visão empresarial, coragem e profissionalismo, é possível se fazer uma praça de esportes sobre rodas não apenas sustentável, mas lucrativa.  

 

Uma breve história. 

 

A idéia de um espaço completamente concebido para o automobilismo, dentro dos mais altos padrões de modernidade nasceu em um verdadeiro berço do automobilismo gaúcho: no complexo de Tarumã, localizado na cidade de Viamão. 

 

 

Seguindo pela BR 386 a aproximação com o circuito já mostra que há algo diferenciado em relação aos demais. Aqui se é Bem Vindo! 

 

O Uruguaio Johnny Xavier Bonilla, há muitos anos radicado no Brasil, sócio e gestor do complexo do Velopark era arrendatário do kartódromo localizado no complexo daquela cidade da grande Porto Alegre desde o ano de 1995. Em 1998 ele conheceu Felipe Johannpeter, jovem kartista e membro do clã Johannpeter, um dos nomes mais fortes da iniciativa privada da indústria brasileira. 

 

Durante 10 anos os dois estiveram juntos em Viamão e foi devido a este encontro nasceu mais do que uma relação de amizade: nasceu o desejo e o sonho de criar um espaço onde um salto de qualidade e profissionalismo pudesse ser dado neste estado que é um dos mais tradicionais do automobilismo brasileiro: o Rio Grande do Sul. Com o grupo Johannpeter dando o suporte financeiro, através de Klaus Gerdau Johannpeter e com uma proposta além de se ter apenas uma pista de kart, abrigar uma pista de arrancadas, construída dentro do mais alto padrão, baseada em todos os parâmetros das pistas mais bem estruturadas dos Estados Unidos, o país que mais valoriza este tipo de competição. 

 

 

A entrada principal do estacionamento ainda estava fechada pela manhã. O Velopark funciona de segunda a segunda após as 14hs.

 

Contudo, um complexo do porte do Velopark não poderia virar as costas para a essência do automobilismo brasileiro e dentro do espaço, maior do que 200 campos de futebol, teria que haver espaço para um circuito capaz de abrigar as principais categorias do automobilismo brasileiro e mundial... 

 

Chegar ao Velopark é muito fácil. Além de estar ao lado de uma rodovia federal, duplicada e muito bem cuidada, o acesso é muito bem sinalizado, com instruções para acesso de torcedores, profissionais de imprensa, equipes de apoio, equipes que participarão das corridas... uma forma correta de como se devem fazer as coisas. 

 

 

A estrutura para o público que vem ao complexo não tem parâmetros em nenhum lugar do país, nem a nossa guia, a Sofia.

 

Mesmo que não existisse nenhuma sinalização em toda a estrada, só a chegada ao viaduto com um imenso banner dizendo “bem vindo” já diz aonde nós estamos.  

 

Um projeto feito em etapas. 

 

Após ter os planos bem detalhados e o local escolhido, foram dois anos de trabalho incessante para transformar aquele espaço às margens da BR 386, cerca de 30 Km do centro de Porto Alegre.  

 

 

O complexo tem, na área dos kartódromos um exelente restaurante (almoçamos lá), loja de artigos esportivos completíssima!

 

Como todo projeto deste porte necessita de autorização ambiental, o projeto visou causar o menor impacto possível, dispondo os prédios da melhor forma possível, derrubando o mínimo de árvores, além de incluir o plantio de 16 mil novas árvores nativas da região par compensar a perda. 

 

O investimento inicial, que incluiu a construção de um viaduto sobre a rodovia federal que da acesso ao autódromo e que foi doado à união custou cerca de 30 milhões de reais... mas é simplesmente sensacional! 

 

 

Na pista dos kartódromos, que podem ser unidas montando um circuito de 2,6 Km, além dos carros corre o Veloce. Vale a pena ver.

 

A primeira fase do projeto Velopark possui uma série de facilidades que nenhum outro parque esportivo automobilístico possui: Um estacionamento para mais de 6 mil veículos fica dentro do perímetro e praticamente ao lado da pista principal de kart, de 1500 metros. Além desta, existe uma outra pista, com 1000 metros de comprimento onde é feita a locação para clientes do parque. As duas pistas tem 10 metros de largura e podem ser interligadas, além de permitir algumas combinações, conta para o aluguel kars de 9 e 13 CV. 

 

A pista inteira, os 2500 metros abrem espaço para uma categoria que foi desenvolvida dentro do Velopark: O Veloce. Um pequeno carro equipado com um motor FIAT 1.4 e 110 CV. O carro é um sucesso, mas para pilotá-lo, é preciso passar por um curso de formação e o professor deste curso é o piloto gaucho e bicampeão de Fórmula Truck Jorge Fleck. 

 

 

Os usuários que vem ao Velopark tem uma estrutura completa de banheiros e vestiários (masculino e feminino) e até água p/ Chimarrão.

 

O Velopark trás também uma pista única no país: Um oval para karts! Com 300 metros de comprimento e 12 metros de largura, além de uma inclinação similar a de um speedway americano, esta pista propõe formar pilotos para os ovais, desde o kart. 

 

O espaço é todo pensado para que todos os membros da família possam usufruir da estrutura. Assim sendo, existe uma pista para crianças aprenderam a transitar dentro de uma cidade, com carros, ruas, sinais de trânsito... mas não é apenas sobre rodas que se tem opções: Existe no complexo um restaurante que atende de segunda a segunda, assim como funciona o parque. Existe também uma loja de produtos de corrida além de playgrounds, minicampo de futebol e churrasqueiras, claro. Tem até um posto de abastecimento de água quente para não faltar o tradicional chimarrão! 

 

 

O Velopark não foi concebido apenas para a diversão dos adultos, as crianças também tem diversas opções de lazer.

 

Para os pilotos, tudo do bom e do melhor: o velopark conta com vestiários, masculino e feminino, ambulatório e também uma loja de produtos de corrida onde se pode comprar peças, macacões, capacetes e tudo que um piloto – amador ou profissional – possa precisar. 

 

Além do complexo para os Karts e o Veloce, foi implantada uma reta para arrancadas, dentro dos moldes das famosas praças existentes nos Estados Unidos... como se não bastassem a estrutura e as regras, o Velopark importou alguns daqueles poderosos Dragsters e implementou cursos para a pilotagem destes verdadeiros foguetes sobre rodas. Entre os amadores e profissionais que encararam o desafio de percorrer os 402 metros em pouquíssimos segundos está a multicampeã, Maria Cristina Rosito. 

 

 

O ineditismo é uma marca observada em vários aspectos do Velopark. O maior deles talvez seja o oval para karts.

 

Contudo, o Velopark não seria completo sem um autódromo, uma pista dentro dos moldes em que nós, a maioria dos brasileiros, aprendemos a assistir e gostar de corridas. A primeira etapa deste novo autódromo foi inaugurado no último dia 2 de maio de 2010, com uma etapa da Stock Car e os Nobres do Grid foram para a pista, na companhia do assessor de imprensa e expiloto Paulo Torino. 

 

 

Na hora do almoço tivemos o prazer de encontrar com Sergio Lima (administrador), Klaus Johannpeter e Johnny Bonilla.

 

Soluções práticas e inteligentes. 

 

Começamos a nossa volta pela reta de largada, que vista da arquibancada pareceu ser um tanto estreita. Contudo, com o carro na pista, vimos que os 18 metros de largura davam espaço suficiente para os carros andarem lado a lado sem maiores problemas, apesar da proximidade dos muros de concreto. Em termos de segurança, as telas com cabos de aço e tensionadores mostraram ser, além de um simples cumprimento de regras da FIA, é uma garantia de segurança para os torcedores. 

 

A pista, que da arquibancada parece estreita, tem 18 metros de largura e um excelente sistema de drenagem.

 

Ao contrário do que foi feito em Curitiba, onde a reta utilizada para arrancadas é a mesma reta do autódromo, no Velopark foi encontrada uma solução bem criativa: Foi usada a passagem de retorno dos carros de volta ao ponto de partida, evitando assim a troca de piso (asfalto e pacas de concreto), sendo a reta de arrancada usada como pit lane, no estilo dos pits dos autódromos americanos, onde os boxes ficam um pouco afastados, o mesmo caso do Velopark. 

 

 

A segurança dos pilotos e espectadores foi levada ao máximo. As telas tem o padrão FIA e os bandeirinhas tem auxílio eletrônico.

 

A reta de quase 900 metros tem uma enorme área de escape, provendo segurança de sobra para os pilotos e com o piso feito em asfalto e uma barreira de pneus bem distante. Contudo, a primeira curva, um grampo para a esquerda é um ponto crítico, pela brutal redução de velocidade para o seu contorno e pela sequência de curvas que se segue, onde o viaduto de acesso aos boxes e áreas de serviço criaram um verdadeiro funil. O único ponto crítico da pista.

 

 

Acima, o detalhe da das zebras interna e externa da curva 1, a mais complicada do circuito. Abaixo, uma panorâmica da curva com a entrada da passagem sob o viaduto, um verdadeiro "funil", e o detalhe do sistema de fixação dos pneus.

 

Acima, a visão da primeira curva e a entrada do "funil". Esta curva vai ser modificada. Detalhe da fixação dos pneus.

 

A sequência de curvas após o grampo tem uma boa largura de pista, mas não tem área de escape na parte mais crítica, que é sob o túnel, além de ter um dos lados limitados pela mureta que acompanha a saída dos boxes, que só se dá na saída curva seguinte, onde já há uma área de escape, com uma barreira de pneus muito bem calçada pelo relevo, mas que mostrou-se um pouco baixa e que, em uma corrida da Fórmula Truck pode ser superada ou mesmo escalada, com a possibilidade até do caminhão ficar parado sobre a mesma. Ao contrário do “funil”, este ponto pode ser ajustado relativamente rápido. 

 

 

Acima, a passagem pelo "funil" e a área de escape. Abaixo, a entrado "S" e a visão das barreiras de pneus, um pouco baixas e de um tampão de concreto no meio da área de escape. Segundo Paulo Torino, melhorias serão feitas na pista.

 

 

Após este trecho de velocidade mais baixa, começa-se a acelerar novamente, seguindo-se um “S” onde já se tem uma boa área de escape, e que leva para a reta oposta, quase tão longa quanto a reta principal. 

 

 

Acima, o contorno do "S" e abaixo, as alteraçãoes na parte de asfalto da área de escape que antecede a reta oposta.

 

 

Atentos ao que acontece na pista e sendo boa parte dos envolvidos “gente de pista”, encontramos na saída deste “S” e entrada da reta uma obra em andamento, onde estava sendo feita uma modificação, coma a substituição da parte de terra e grama por uma parte de asfalto com zebra de apoio, visando melhorar a segurança e que irá permitir aos carros entrarem mais “embalados” na reta e que tem, no seu final, a entrada dos boxes e mais um bom ponto de ultrapassagem, também com uma boa área de escape asfaltada. 

 

 

Acima, a reta oposta, a entrada dos boxes, e zebra interna. Abaixo, os detalhes da área de escape e da zebra interna, bem como a obra para alteração do piso da área de escape de grama e terra para asfalto. Trabalho rápido e sério. 

 

 

A seguir a esta reta encontramos mais uma obra de melhoria, observada após a realização da primeira prova: A primeira perna da chicane, também substituindo a parte de grama por asfalto para evitar que sejam levados detritos para a pista. O interessante é que a zebra interna no final da curva possui aquela mesma altura que praticamente obrigam o piloto a evitá-la. Certamente, depois de pronta, a nova zebra da chicane terá as mesmas características. 

 

 

Acima, a visão da pequena reta, em descida, que leva à última curva da pista. Detalhe para o sistema de acionamento eletrônico dos bandeirinhas. Abaixo, a curva, com suas zebras altas. Os pilotos não tem como "cortar caminho". 

 

 

As curvas rápidas levam a uma pequena reta, que antecede a curva inclinada e de difícil contorno que antecede a reta da arquibancada e que completa a volta. Mais uma vez as zebras internas e áreas próximas são verdadeiros obstáculos para fazer com que os competidores mantenham as suas trajetórias dentro da pista e assim, fazer com que os carros entrem bem próximos na reta em frente ao público. 

 

Infraestrutura nota 10! 

 

Voltamos à reta oposta para entrarmos nos boxes. Nos boxes do Velopark, tento a entrada como a saída são bem longas. No caso de um problema fora do caso de categoria que tem regras de paradas obrigatórias, a perda é consideravelmente grande, mas tanto a entrada como a saída são em pontos muito seguros, sendo uma preocupação a menos para a direção de prova. 

 

 

Acima, a entrada dos boxes e a reta de arrancadas, que é usada como pit lane, Assim como no Rio, longe dos boxes.

 

Quem entra nos boxes no Velopark pode tomar dois caminhos: ou segue para o pit lane, para uma troca de pneus ou um serviço rápido ou segue para os boxes propriamente ditos, caso tenha que fazer um reparo maior. 

 

 

Acima, os boxes em detalhe. Com um interior de dimensões maiores que qualquer outro no país. Abaixo, a enorme área destinada a descarga dos caminhões, e o pátio de estacionamento e montagem de estruturas auxiliares e motorhomes.

 

 

Na área dos boxes existe um espaço destinado ao carregamento e descarregamento dos equipamentos das equipes, com uma ‘bay’ em declive própria para descarga de caminhões. Isso gera uma melhor utilização do espaço físico, facilitando e agilizando o trabalho das equipes. Além disso, uma grande área no interior do autódromo, com acesso pelo viaduto sobre a curva após a reta de largada permite que todos os caminhões  possam ser estacionados e as estruturas complementares – caso sejam necessárias – sejam montadas sem maiores apertos. 

 

 

A torre de controle tem instalações e uma boa visão da pista para atender bem todos os profissionais que nela irão trabalhar.

 

Os boxes são enormes, os maiores dos até agora visitados. Dotados de uma ótima estrutura elétrica e hidráulica para atender as necessidades das equipes, contudo, assim como em Jacarepaguá, onde a estrutura de pits é montada fora dos boxes, não é a todos os profissionais que isso agrada. 

 

 

Do terraço superior, uma visão quase completa do circuito e bastante espaço para as equipes de transmissão das provas.

 

A torre de controle, a princípio, parece ser baixa e acanhada. Contudo, valendo-se de estar em um ponto alto no interior do circuito, não precisava ser mais alta mesmo. No interior, a infraestrutura elétrica permite a instalação de todos os equipamentos necessários para a secretaria de prova, comissários e direção de corrida. Ainda há, acima da sala de direção, dois pisos externos, sendo um sobre a escada de estrutura metálica, onde se pode fazer tomadas de imagem de praticamente todo o traçado. 

 

 

A sala de imprensa foi muito elogiada pelos profissionais que trabalharam na etapa da Stock Cars. Nada de improvisações.

 

No prédio central fica a sala de imprensa, onde há espaço para o briefing dos pilotos, entrevistas coletivas e acomodação para toda a equipe de jornalistas de televisão, jornais, revistas, sites e assessoria de imprensa de equipes e pilotos trabalhar com conforto, além de propiciar uma visão quase total da pista. 

 

 

As arquibancadas internas, destinadas para a instalação dos hospitality centers contavam com estrutura de banheiros fixos.

 

As arquibancadas na parte interna do circuito é destinada aos convidados – os VIPs – onde são montadas tendas e é servida de banheiros, masculinos e femininos, bares e lanchonetes (que no sul do país são chamadas de lancherias) e acesso exclusivo.  

 

 

Acima e abaixo, os acessos aos locais destinados ao público. Tudo muito bem sinalisado, com banheiros e até  um ambulatório.

 

 

Contudo, o público em geral conta com uma estrutura de dar inveja à concorrência. As arquibancadas ficam ao longo da reta e bem próximas da pista (até onde a segurança permite), contando com uma tela de proteção nos padrões da FIA. 

 

As arquibancadas para um público de 30 mil pessoas sem apertos tinha estrutura de bares e quiosques e ótima visibilidade.

 

Na parte superior das mesmas há um recuo onde são instalados bares e quiosques para atender aos torcedores sem que esses percam a visão do que está acontecendo na pista. Os banheiros, cada setor tem um banheiro feminino e um masculino, além de ambulatórios para atendimento de emergências.  

 

O Velopark vem trazer para o público em geral, um novo conceito: um exemplo a ser seguido de como fazer automobilismo.

Em todas as áreas de transito, tanto para profissionais como para o público, havia uma sinalização impecável, pontos de coleta seletiva de lixo por todos as partes, um verdadeiro exemplo de como se fazer um local para que todos possam trabalhar e se divertir com o automobilismo. 

 

Ao final da visita, conversamos com o assessor de imprensa do Velopark, Paulo Torino. 

 

NdG: Paulo, o Velopark é um empreendimento privado totalmente planejado para o esporte a motor, abrangendo praticamente todas as suas vertentes. Como foi a concepção deste projeto e como ele tornou-se realidade? 

 

"O conceito do Velopark não é apenas o de ser um centro de lazer para quem corre. É também ser um lazer para toda a família."

 

P. Torino: Tudo começou no kartódromo de Tarumã, onde o Johnny [Bonilla] era arrendatário desde 1995. Em 1998 ele conheceu o Felipe [Johannpeter], que era kartista e freqüentava o kartódromo para correr. O Johnny também era kartista, tendo já estado envolvido com um projeto no kartódromo de Novo Hamburgo, mas ele já via o kart com olhos de empreendedor. O trabalho em Tarumã, muito bem sucedido, e o contato com o Felipe foi o ponto de partida. O sucesso em Tarumã chamou a atenção do pai do Felipe [Klaus Johannpeter] e ele viu a possibilidade de um bom negócio e assim o projeto começou a ser concebido, passando de ser apenas um kartódromo para a concepção de uma área de entretenimento ligada ao automobilismo e envolvendo praticamente todas as categorias. 

 

NdG: Esta visão empresarial do Johnny e dos Johannpeter vai de encontro a uma das “máximas” mais apregoadas no meio automobilístico: “Automobilismo não dá lucro!”. O Velopark veio desmentir isso? 

 

P. Torino: Olha, isso só o tempo irá dizer. Hoje podemos afirmar que o kartódromo é lucrativo. Já o era desde Tarumã e aqui, para que vocês tenham uma idéia, em dois anos de funcionamento do kartódromo, mais de 45 mil pessoas passaram por aqui, em Tarumã foram 20 mil em 10 anos. E isso é só o número de pessoas que vieram aqui para andar de kart de aluguel. Já a experiência com automobilismo, essa choradeira que existe por aí dizendo que o automobilismo não dá dinheiro é porque os autódromos, de maneira geral, são lugares vazios, que só abrem quando vai ter competição. Aí chega o promotor, o administrador entrega a chave, recebe o dinheiro, coloca no cofre ou gasta e na segunda-feira recebe a chave de volta. Pronto. Daí o autódromo fica fechado. Este conceito não existe aqui. O Velopark funciona 7 dias por semana e não é apenas competição. Aqui tem fábricas que vem fazer testes com carros, tem promoções de empresas que trazem seus funcionários para cá e estamos negociando agora a realização de uma corrida atlética aqui dentro do parque. E muitas outras oportunidades se abrirão, certamente, mas sempre com o foco voltado para o automobilismo. Eu não lembro quem foi que falou a frase, mas em um dos eventos que fizemos disseram que “o Velopark era a Disneylândia do automobilismo”. Saiu até num jornal desta forma. 

 

NdG: Ou seja, o conceito do Velopark não é apenas para quem está “na pista”, é para quem está fora dela também? 

 

"Em dois anos, já trouxemos mais do que o dobro de pessoas que foram correr em Tarumã nos 10 anos de arrendamento."

 

P. Torino: Exatamente! E o Johnny fala exatamente isso. A diversão tem que ser para todos. Esta é uma das razões, por exemplo, de se copiar o modelo americano, com os carros passando diversas vezes em frente ao público, com uma pista mais curta, com opções para a arrancada e um circuito com características de um circuito europeu, com curvas de alta, de baixa, retas, pontos de ultrapassagem, subidas, descidas... este o é o conceito de lazer e emoção do Velopark. 

 

NdG: Como foi feita a escolha do local para implantação do Velopark? Porque Nova Santa Rita? Haviam outras opções? 

 

P. Torino: A pesar do Grupo Gerdau ter propriedades aqui na região, a área onde hoje está o Velopark não fazia parte destas propriedades. Todo o projeto foi bem analizado e entre os parâmetros estavam a facilidade de acesso, a densidade demográfica (em um raio de 150 Km encontra-se mais da metade da população do estado) e a legislação ambiental, no caso do município de Nova Santa Rita, mais aberto ao recebimento de grandes empreendimentos. Era preciso levar em conta quenão é em todo lugar que se pode construir um complexo  automobilístico devido ao ruido, a emissão de gases da queima dos motores... então, a partir daí o Klaus e o Felipe adquiriram a primeira parte do terreno e depois as outras que hoje, no total, soma mais de 150 hectares. Outro ponto que também pesou na decisão foi o custo. Uma área deste tamanho em outro município poderia custar algumas vezes mais do quanto custou aqui e hoje podemos dizer que o Velopark é muito bem localizado.  

 

NdG: Em um investimento, no mínimo arrojado, como este, quais são os maiores desafios que vocês vem enfrentando nestes já dois anos de funcionamento? 

 

P. Torino: Nós abrimos as portas em 29 de março de 2008. O maior desafio é gerenciar todas estas frentes de formas que tudo funcione a contento, para nós e para quem vem ao parque. Nós somos uma equipe pequena de pessoas à frente da administração e apesar do complexo ter 90 funcionários, mais de 60% são pessoas que trabalham na parte externa, cuidando da limpeza, manutenção, jardinagem... manter o parque limpo, bonito, com tudo funcionando é um desafio e tanto, mas ainda temos outros desafios. Um dos mais difíceis é trazer gente para cá, trazer público, trazer usuários do parque, da pista e isso é um problema que tem raízes no conceito de automobilismo que ainda existe no Brasil: de que o lugar é aquele onde tem corrida no final de semana, onde há uma certa precariedade com respeito a infraestrutura de acomodações, banheiros, lancheria... então mudar este conceito é que é o grande objetivo. Mostrar que uma família pode vir para cá, passar o dia, trazer os filhos para brincar, para andar nos carrinhos elétricos, para assistir uma corrida, almoçar... ou seja. Fazer da sua estada no parque um momento de lazer e prazer. Outro grande desafio é calendário. O Rio Grande do Sul tem hoje 4 autódromos (Veloparlk; Tarumã; Guaporé; e Santa Cruz do Sul) e o calendário de competições da CBA, da Federação Gaucha, da sulamericana não é tão extenso. Todos os autódromos estão em atividade e o Velopark não veio para “fechar nenhum autódromo”, veio para ser uma opção, veio para agregar. Não queremos que não haja corridas nos outros autódromos, queremos que haja lá e aqui também. Este ano, apenas a Truck não virá. Conseguir datas convenientes para todos é importante para nós e para os outros também. 

 

NdG: Em termos de calendário, vocês já tem calendários definidos no kart e na arrancada, acreditamos. E nas competições do autódromo? 

 

 

"O Velopark veio para agregar, não para 'tirar' eventos dos outros autódromos. Queremos que as demais praças funcionem também." 

 

P. Torino: As competições de pista e as de kart que são nacionais tem o calendário organizado pela CBA. As competições regionais de kart nós organizamos, assim como temos o nosso calendário de arrancadas. Este ano, depois de 20 anos, pela primeira vez vai ter um campeonato brasileiro de arrancada. A próxima etapa vai ser no aqui no Velopark no final do mês de maio (29 e 30) e terão outras etapas em outros estados (Curitiba – PR e Piracicaba – SP). Para o próximo ano esperamos poder trazer mais categorias para correr aqui, mais eventos e movimentar ainda mais o parque como um todo. 

 

NdG: O circuito foi inaugurado agora no início do mês com a prova da Stock Cars. Este ano ainda teremos que grandes atrações aqui além da arrancada? 

 

P. Torino: Além da Stock, tivemos a copa Porsche no final de semana 15 e 16 de maio, teremos uma etapa do sulamericano de F3 em setembro, teremos também uma prova de endurance, os 1000 Km do MERCOSUL, na qual teremos a volta da participação dos pilotos argentinos e uruguaios em grande número. Vai ser uma das etapas do brasileiro de endurance, mas a participação dos estrangeiros que é uma tradição nossa está certa, além disso teremos uma prova do brasileiro de superbike, estamos negociando ainda a vinda da GT3 e mais etapas dos regionais que passaram a correr aqui também. A única grande categoria que não vai vir este ano pra cá é a Truck, que fechou o calendário no início do ano e que achou que a pista não estaria pronta para sediar uma etapa, mas no ano que vem eles virão. 

 

NdG: Você ressaltou um ponto importante relativo ao conforto do público, mostrando a preocupação do projeto em relação a isso. Nos autódromos que nós visitamos, sentimos uma precariedade em alguns e até a praticamente inexistência em outros. O Velopark pode atender bem a quantas pessoas hoje? 

 

P. Torino: Desde o início da obra e de sua abertura em março de 2008 que nós temos uma estrutura de bares e lancherias próprio, de banheiros e vestiários para atender ao público que vem aqui todos os dias, além de um restaurante capaz de atender 400 pessoas e na reta, antes mesmo do circuito, quando tínhamos apenas as arrancadas, já funcionavam os bares na parte superior das arquibancadas. Toda esta estrutura própria do Velopark foi projetada para atender 30 mil pessoas e ainda há o espaço destinado aos promotores de eventos que montam seus “hospitality centers” com uma logística própria para que eles possam atender bem os seus convidados. 

 

NdG: O início das competições no Velopark sem ser com karts foi com a reta e as arrancadas. Porque as arrancadas? 

 

"O seguimento de arrancadas é muito forte e atrai um grande público. Ter uma pista de padrão internacional é bom para todos."

 

P. Torino: O Felipe, que é investidor do projeto, já era piloto de arrancadas quando conheceu o Johnny e ele queria dar à arrancada no Brasil um espaço, uma projeção como aquela que se vê na televisão, como é nos Estados Unidos. Para ser construída a pista do Velopark foram feitas várias visitas a pistas nos Estados Unidos. Foram feitas visitas a algumas pistas na Europa e na Argentina, mas como a maior força da arrancada está mesmo nos EUA, foi nas especificações de lá que fizemos a pista do Velopark. Tanto que a nossa pista é homologada pela NHRA, que é como a federação americana de arrancadas. Os adeptos de arrancada aqui no sul estão muito bem servidos uma vez que Curitiba tem também uma boa pista de arrancada, a diferença é que lá a reta é a reta do autódromo e aqui não. Por isso nós temos a única praça de arrancada dentro dos padrões americanos. 

 

NdG: Isso foi algo que observamos quando vimos a pista, a de que a reta de arrancada é exclusiva para arrancada. Isso de se fazer a reta do circuito ao lado, foi algo preconcebido, foi algo que surgiu depois, como se deu o processo? 

 

P. Torino: No início, a reta que é hoje a reta do circuito era a reta de retorno dos carros após a arrancada. Em Curitiba, por exemplo, é usado o pit lane. E nós, tínhamos o espaço e o plano de fazer dali a reta do autódromo. No caso, foi feito o alargamento desta reta para 18 metros, que é a largura da nossa pista, antes ela tinha 13 metros apenas e ali já se sabia que era praticamente metade da pista de 2.163 metros que já se tem hoje. 

 

NdG: Você falou que o Velopark tem 90 funcionários trabalhando para manter toda esta estrutura. São todos funcionários do parque ou há algum tipo de serviço terceirizado? 

 

P. Torino: Alguns poucos são terceirizados, como eu, por exemplo, mas mesmo os terceirizados recebem os mesmos benefícios de cesta básica, bônus, etc. que um funcionário do parque. Uma coisa importante de ser salientada é que praticamente todo o pessoal que trabalha aqui é gente da região, gente de Nova Santa Rita. 

 

NdG: Este projeto, sendo no sentido esportivo ou cultural, recebeu algum incentivo fiscal ou benefício para ser implantado aqui em Nova Santa Rita, seja do município ou do estado ou mesmo federal? 

 

 

"Fomos nós quem construímos o viaduto de acesso ao parque sobre a BR386. Foram mais de 4 milhões e doamos a união."

 

P. Torino: Vou relatar um fato que vai dar bem a noção de como as coisas são feitas em termos de incentivo. Quando as pessoas vem para o Velopark vêem um viaduto para que se possa entrar e sair do parque com uma rótula para os dois sentidos da pista, que é uma rodovia federal, a BR 386, duplicada, de denso tráfego. Fomos nós quem precisamos projetar, financiar, construir e depois de tudo doar o viaduto para a união. Ou seja, não recebemos nenhum incentivo em nenhuma esfera, pelo menos a te onde eu tenho notícia. A cidade de Nova Santa Rita é uma cidade pequena e há um comprometimento mutuo de ajudá-los e eles, no que podem nos ajudam. Nós criamos recentemente o ILADEM (Instituto Latino Americano de Desenvolvimento do Esporte a Motor) e através dele pretendemos nos valer de criar projetos e buscar meios de implantá-los aqui com benefícios da lei. 

 

NdG: O evento da Stock Cars foi o primeiro de muitos eventos que agora farão parte da rotina do parque. Este evento exigiu de vocês algo além do que era esperado? Em algum aspecto houve algum tipo de surpresa ou imprevisto de última hora? 

 

P. Torino: Começar as nossas atividades de autódromo com aquela que é a maior categoria de corridas de carros do Brasil foi um grande desafio. A vantagem de ter sido com a Stock é que eles já tem uma “cartilha” e uma pré estrutura montada para fazer uma etapa que é muito boa e isso facilitou o nosso trabalho. Eles fizeram uma visita prévia e quando viram que tínhamos estrutura para eles poderem trabalhar, chegaram aqui faltando 3 dias para o inicio dos treinos e na segunda-feira foram embora. Nós é que ficamos cansados (risos). Felizes com o sucesso, mas cansados. 

 

NdG: Vimos que estavam sendo feitas obras para a melhoria de alguns pontos da pista. Como foi que se chegou a conclusão de que seriam necessárias alterações nestes pontos? Foi análise dos administradores? Houve sugestão dos pilotos?  

 

P. Torino: As alterações foram motivadas principalmente pelas análises que o Johnny fez depois da prova da Stock. Ele verificou que uma inversão na curva proporcionaria um melhor contorno trazendo os carros em linha reta em direção ao Viaduto. Como há espaço o projeto será executado logo após a etapa da Porsche neste final de semana. Assim, a curva se tornará mais rápida, segura e evitará que tenhamos dois pontos muito lentos de contorno no circuito. A pista ganhará uns 200 a 300 metros de extensão. Além disso, alguns pontos onde os carros foram para a terra e trouxeram sujeira para pista serão refeitos e com escapes em asfalto. 

 

NdG: Esta pista que temos hoje é a primeira etapa de uma pista maior. Quantas etapas ainda faltam ser feitas? Existe um cronograma para a execução das obras? 

 

"A segunda etapa da pista vai respeitar a topografia do terreno. Vamos ter subidas, descidas e ainda mais emoção e desafios."

 

P. Torino: Não existe ainda um cronograma para o início das obras. A pista já está desenhada e ainda passará por avaliações antes de sua construção definitiva. É certo que terá 3.400 m e esse projeto deve estar concluído até 2012. 

 

NdG: Paulo, os Nobres do Grid agradecem a hospitalidade, a atenção e a paciência para que pudéssemos fazer esta visita e esta matéria. Esperamos voltar em breve para cobrir uma etapa de alguma categoria e assim ver o autódromo funcionando a pleno. 

 

P. Torino: Nós é que agradecemos e será um prazer recebê-los aqui. Até lá. 

 

 

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Last Updated ( Monday, 15 November 2010 03:57 )