Marcelo Cammisa & Jose Eduardo Jesu Maria Print
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Thursday, 14 May 2009 16:33

 

 

Como mais um capítulo da nossa viagem a Argentina, trazemos não só um, mas dois entrevistados internacionais: Para quem não sabe de quem se tratam estes dois senhores, Marcelo Cammisa é jornalista e acessor de imprensa do Grupo Berta, que é composto pela Fábrica de motores e pela equipe oficial da Ford na categoria TC 2000, a Berta Motorsport e Jose Eduardo Jesu Maria é para a Argentina - talvez - como é o Sr. Murray Walker para os Ingleses, com seus mais de 50 anos de automobilismo. Nas horas que passamos em Cordoba e Alta Gracia, tivemos o enorme prazer de entrevistá-los.

 

 

NdG: Para você, Marcelo, porque a Argentina e os Argentinos estão, hoje, tão distantes da Fórmula 1?  

 

M. Cammisa: Andar de Fórmula 1 saindo daqui da América do Sul é muito difícil. Foi no passado por razões de distância, de logística... hoje é por uma questão mais que tudo financeira. Aqui na Argentina temos uma Fórmula Renault muito competitiva, mas falta uma categoria acima, intermediária, antes de se tentar lançar à Europa. 

 

 

NdG: E a Fórmula 3 Sulamericana?  

 

 

M. Cammisa: Até mesmo aqui na Fórmula 3 Sulamericana as coisas são inacessíveis. Para se correr uma temporada com o mínimo de competitividade é necessário um investimento de quatrocentos mil dólares... e isso é para um ano apenas. Mesmo sendo um piloto “top” aqui, com todo um potencial de crescimento, ele não consegue patrocinadores suficientes para conseguir esta quantia. Esses custos altos afastaram os pilotos Argentinos da categoria e levando-os a investir nas categorias de turismo por aqui. Enquanto tivemos aqui no país uma Fórmula 2, uma Fórmula 3 competitiva, formávamos bons pilotos. Agora, com eles saindo muito jovens para as categorias de turismo eles acabam perdendo esta base e assimilando os “vícios” de se correr em carros de turismo como empurrar, tocar... e assim se perdem no seu desenvolvimento como pilotos.  

 

 

NdG: No Brasil tivemos a Fórmula Renault por alguns poucos anos, mas faltou investimento, interesse... quanto custa uma temporada de Fórmula Renault aqui na Argentina?   

 

 

M. Cammisa: Algo entre 70 e 130 mil dólares se consegue fazer uma temporada em condições competitiva.  NdG: O automobilismo de carros de turismo é muito forte e tradicional aqui na Argentina. Quantas categorias existem no automobilismo de turismo aqui na Argentina?  M. Cammisa: Temos uma categoria nova, digo nova por ser a mais recente delas, que é a Top Race V6 e essa tem a categoria principal, com motores de 3500cc, que geram 355cv e a divisão menor usa um motor de 2300cc e tem a potência limitada a 265cv que é para os que entram na categoria tenham um período de aprendizado.  

 

NdG: A nossa categoria de turismo no Brasil, a Stock Car usa motores V8 que vem dos Estados Unidos... me custa a entender porque se vai buscar um motor tão longe quando se tem aqui perto um dos maiores construtores de motores de todos os tempos. O Sr. Berta não trabalha mais com motores V8?  

 

M. Cammisa: Trabalha sim. Inclusive há um motor em processo de desenvolvimento no qual tem se trabalhado, mas este ainda não equipa nenhuma categoria...  

 

NdG: Com estas idéias de redução de custos na Fórmula 1 e todo o knowhow do centro do Sr. Berta, um V8 Argentino poderia vir a equipar uma equipe de Fórmula 1, não poderia?  

 

Com um modelo para o tunel de vento: Lembremo-nos: Não estamos na Europa.  

 

M. Cammisa: Essa é uma pergunta que somente ele poderia responder... mas não podemos esquecer que estamos na América do Sul e não na Europa ou em um país desenvolvido. Um sonho ambicioso com este não é fácil de realizar. A Berta já lhe é imposto um grande desafio que é o de prover motores iguais em várias categorias para todas as equipes e quando digo motores iguais falo de normatização, de testes e verificações para que todos recebam motores iguais e este trabalho é extremamente árduo e difícil de ser atingido.  

 

NdG: E por mais esforço e competência que haja, afinal estamos falando de Oreste Berta, sempre deve haver protestos, não?  

 

M. Cammisa: Isto sempre houve e sempre haverá. Quem faz os motores da Stock brasileira?  

 

NdG: Os motores vem dos Estados Unidos e recebem uma preparação padronizada feita por Zeca Giaffone.  

 

M. Cammisa: Sabemos quem são os Giaffone... eles são muito competentes.  

 

NdG: Quantas categorias de turismo correm na Argentina?  

 

M. Cammisa: Temos a Top Race V6 e a Top Race menor. Temos a TC 2000, Turismo Nacional, com preparação do Grupo A, com alguma liberdade de preparação, sendo uma no grupo 3 e outra no grupo 2, com motores de 1600cc e 2000cc, a Copa Megane, tem a Turismo de Carretera... e está surgindo a Copa Siena. Como vês, temos um automobilismo muito forte por aqui e a grande mola deste sistema é a força do campo. O Argentino do interior é um entusiasta do automobilismo e gosta de velocidade. Aqui na Argentina se anda forte nas estradas, pisando fundo. Já se andou mais, mas de pouco tempo para cá, andaram colocando limite de velocidade nas estradas (varia de 110 km/h a 130 km/h e existe uma indicação de velocidade mínima em que se pode trafegar nas estradas). Além disso, eles investem como patrocinadores de seus pilotos e mesmo de equipes e com o dinheiro gerado no campo se financia boa parte do automobilismo na Argentina. Recentemente, não sei até onde os brasileiros estão a par, houve um problema entre o governo e os agricultores e isso pode vir a ter desdobramentos para o automobilismo... mas não para o momento, os reflexos devem vir no ano que vem, caso nada mude.Bem, sobre a sua pergunta: Temos a Turismo Nacional, com a Classe 2 e a Classe 3. Temos a Top Race V6 e a Top Race Junior. Temos a Turismo Carretera, com motores de mais de 2500cc, que tem duas categorias menores, a TC Pista e a TC Mouras. Temos a TC 2000, a Copa Megane (Monomarca Renault) e tem uma nova categoria nascendo que é a Copa Línea (Monomarca FIAT). Assim temos quatro grandes categorias multimarcas e duas monomarcas. Duas das multimarcas (Carreteras e Turismo Nacional) tem duas categorias menores e uma que é a Top Race tem uma. Ao todo são 11 categorias de turismo e tem ainda a Fórmula Renault, de monopostos, que disputa provas junto com a Megane e a TC 2000.   

 

NdG: Com tantas categorias, tantas provas, mesmo com etapas em conjunto, como se leva público, cobertura jornalística, levanta-se patrocínio... não é muita gente na pista ao mesmo tempo?  

 

M. Cammisa: Na verdade, se não houvesse espaço para crescimento, a FIAT não estaria lançando uma categoria monomarca para promover o seu produto. Aqui as fábricas tem como ponto de apoio o retorno que seus carros dão como publicidade, disputando corridas e vencendo. O Argentino gosta de velocidade, gosta de guiar rápido e um carro que vence é um carro que vende. Um carro que anda rápido nas pistas, vende nas lojas.  

 

NdG: Além de motivar o público, ainda há a necessidade de ter pistas para tanto evento. Como é que se faz isso? Quantos autódromos existem na Argentina?  

 

M. Cammisa: Seguramente de 35 a 40 autódromos estão abertos e em funcionamento... quantos existem no Brasil? 

 

NdG: Em condições de receber uma categoria como a TC 2000, no máximo 13!  

 

M. Cammisa: Bem, considerando alguns padrões de exigência mais rigorosos, este número diminui para algo como 22 ou 25...   

 

NdG: A Equipe Berta usa carros da Ford (Focus) na TC 2000. Quantas marcas fazem parte da categoria?  

 

M. Cammisa: A Berta Motorsport é a equipe oficial de fábrica da Ford. Além da Ford temos Renault, Toyota, Honda, FIAT, Chevrolet, Peugeot e VW.  NdG: E a Ford apóia a Berta oficialmente...  

 

 

Almoço em Alta Gracia: Das 8 montadoras na TC 2000, 6 possuem times oficiais. 

 

M. Cammisa: Sim, normalmente as fabricar possuem um parceiro ao menos como equipe oficial em alguma categoria. Das oito marcas que correm na TV 2000, seis tem equipes oficiais.  

 

NdG: A TC 2000 abriga hoje os melhores pilotos da Argentina?  

 

M. Cammisa: Possivelmente... mas há muitos pilotos bons em outras categorias.  

 

NdG: E porque ninguém ou quase ninguém tenta uma carreira no exterior?  

 

M. Cammisa: Esta é uma resposta que eu vou deixar para o Eduardo... ele pode contar mais coisas em detalhes (já estávamos chegando à residência da família Jesu Maria).  

 

Jose Eduardo: “Hola, Flavio... entón, estuveste com Berta? Como fue?”   

 

NdG: Sim! Foi maravilhoso! Ele me recebeu muito bem. Falamos muito sobre o passado e as parcerias com os brasileiros... Anísio Campos, Luiz Pereira Bueno... ele ficou feliz em saber que seus velhos amigos do Brasil estavam bem. Assim como para ti, deixei com ele uma camisa dos Nobres do Grid mas eu sabia que não poderia tomar muito do tempo dele e, assim sendo, nestas últimas horas estive fazendo muitas perguntas a Marcelo. Acho que o cansei! (risos) e agora é chegada a hora de entrevistar o maior conhecedor do automobilismo na Argentina!   

 

Jose Eduardo: Não, não... não sei o que lhe disse Marcelo, mas eu não assumo este título... (todos rimos)  

 

NdG: O Marcelo não falou nada... a sua história nas pistas, nas cabines de transmissão, seu convívio com os pilotos é que falam por si.  

 

Jose Eduardo: É muito lisonjeiro de sua parte... mas, por favor, vamos entrar. (Fomos para o living da bela casa nos arredores de Cordoba, enquanto Marcelo se despedia para atender a outros compromissos).   

 

NdG: Como foi que o automobilismo entrou em sua vida?  

 

Jose Eduardo: Foi em 1953... mas, antes de te responder coisas, eu queria algumas respostas suas, te importas?  

 

NdG: Com prazer, tudo o que o senhor quiser e – claro – que eu saiba responder.  

 

 

Porque não há, no Brasil, um "Museu Senna" como existe o Museu Fangio? 

 

Jose Eduardo: Existe no Brasil algum historiador das competições nos anos 30/40/50 no Brasil?   

 

NdG: Nós temos alguns livros que foram publicados no Brasil como o que fala sobre os circuitos de rua entre 1908 e 1958 no Rio de Janeiro, temos o livro do Bird Clemente, que conta muito sobre as corridas nos anos 60, temos o livro sobre as Mil Milhas Brasileiras... alguns jornalistas como Lívio Orichio, Flavio Gomes, Reginaldo Leme e outros são estudiosos do assunto.  

 

Jose Eduardo: É que o Fangio, nos anos 40 – em 1941 para ser exato – disputou uma corrida no Brasil chamada “Grande Prêmio Getúlio Vargas”... vocês tem algo sobre esta prova?  

 

NdG: Com certeza sim! Era uma prova muito famosa, no estilo das “rutas” aqui da Argentina, que se corria de uma cidade para a outra. Mas, nos anos dos governos de Vargas, acontecia o Grande Prêmio do Rio de Janeiro, que era corrido no circuito da Gávea e que o Fangio também conseguiu vencer.  

 

Jose Eduardo: Você vai a Balcarce, ter com Barragán, não?  

 

NdG: Sim... conhecer tudo o que for possível sobre o museu, a fundação...  

 

Jose Eduardo: Porque não há no Brasil um museu em homenagem ao Senna?  

 

NdG: Olha... esta pergunta eu acho que somente uma pessoa pode responder: Viviane Senna! Da minha parte, ou da nossa parte, como entidade que é o grupo dos Nobres do Grid, achamos que deveria haver um museu, um memorial, a toda a história do automobilismo brasileiro*... Quem sabe, um dia, consigamos mover as pessoas próximas ao automobilismo para conseguir transformar em realidade este que deve ser o desejo de muitos.  

 

Nota dos NdG: * A cidade de Passo Fundo - RS abriga um museu que reune boa parte da história do automobilismo brasileiro, sendo - atualmente - o mais completo do gênero. Alguns museus de automóveis existentes no país também possuem peças do automobilismo de competição em seus acervos, referentes à história das competições em território nacional e de pilotos Brasileiros no exterior.

 

Jose Eduardo: Espero que se possa fazer isso... o Brasil tem uma grande história nas pistas...  

 

NdG: Assim como o senhor! E, falando nisso, como Foi que ela começou?  

 

Jose Eduardo: Eu estava no Liceu Militar e quando era jovem e quando estava no tempo de ir para a universidade eu não sabia o que queria fazer... eu escutava corridas pelo rádio e acabei por me dar conta de que era isso que eu queria fazer na vida! E assim o tenho feito até hoje... ano passado, por exemplo, transmitimos a etapa da Argentina do WRC... por três dias, das 7 da manhã até as 8 da noite. Sem parar! Eu também transmiti pelo rádio e atualmente transmito pela televisão os GPS de F1.  

 

NdG: Então o senhor esteve perto de todos os momentos do automobilismo Argentino... como o senhor poderia me dizer sobre o que aconteceu com o automobilismo Argentino depois de Reutemann... Porque não tivemos mais pilotos Argentinos nas principais categorias do automobilismo.  

 

 

A Mercedes já acompanhava a carreira de Fangio desde o final dos anos 40.

 

 

Jose Eduardo: A história do automobilismo Argentino já se fazia grande antes da II Guerra Mundial. Tivemos pilotos como os irmãos Galvez, os grandes adversários de Fangio nas corridas de Carreteras e também a Foirlan Gonzáles, que eram grandes pilotos. Nos anos 60 tambem tivemos grandes nomes. Assim como me falaste de Luiz Pereira Bueno, tivemos aqui o Cupello, a quem chamávamos de o mago. Ele tinha uma condução técnica que não aparentava quão rápido ele estava, mas ele estava voando na pista. O problema hoje está na quantidade de dinheiro que se é preciso investir para um piloto se destacar.  

 

NdG: Fora da Argentina, mesmo aqui no do lado, no Brasil, chegam poucas informações sobre esta época mais antiga... e até mesmo sobre o que ocorre hoje em dia.  

 

Jose Eduardo: Então vou te contar uma passagem, dos anos pouco antes da Fórmula 1. No final dos anos 40, a Mercedes cedeu para Fangio um carro para ele disputar provas aqui na Argentina. O motivo: Eles já estavam de olho em Fangio! Em 1951, Fangio chegou a correr na Europa com um carro da Mercedes e, depois do acidente de 1952, em 1954 ele veio a correr com a equipe Alemã e conquistar dois de seus 5 títulos.   

 

NdG: Realmente, acho que poucos sabiam disso, especialmente porque foi apenas em 1954 que ele disputou o mundial de Fórmula 1 pela Mercedes...  

 

Jose Eduardo: Eu escrevi um livro que é tem um conteúdo acho que ímpar: Fangio era vivo e eu ia a Balcarce ter com Barragán (Luiz Barragán, Diretor da Fundação Fangio) e Fangio estava sempre com eles e um dia eu fiz um pedido apenas: Conta-me tua vida! E este material gerou um livro onde Fangio conta como foram todas as suas corridas, com a linguagem e a ótica dele, pilotando.  

 

NdG: Este livro já foi publicado? Esse eu quero ter!  

 

Jose Eduardo: Ainda não. Estão negociando os direitos para publicá-lo em diversos idiomas e em todo o mundo... contudo, esta crise mundial tem feito muitos projetos serem postergados.  

 

NdG: Esta crise afeta hoje os investimentos... e antes, no caso dos pilotos Argentinos, eles estariam passando pelo mesmo problema dos pilotos Brasileiros: Dificuldade em custear suas carreiras?  

 

Jose Eduardo: Com certeza! Vou dar o exemplo de um jovem brilhante que temos aqui: José Maria Lopez, a quem chamamos de “Peixito Lopes”. Ele foi correr na GP2 com (Enrique) Scalabroni e não conseguiu grandes resultados em seu ano de estréia na categoria. Era uma equipe com poucos recursos e para ir adiante, precisava de um grande investimento. No ano seguinte, Scalabroni chamou-o para uma conversa e foi franco com ele: “Precisamos de pelo menos 1,5 milhão de dólares para sermos competitivos”. Scalabroni foi da Ferrari, é aqui da região de Córdoba assim como “Peixito” e acharam que a província poderia ajudar... ele já havia conseguido 300 mil mas a província ofereceu a ele 100 mil pesos (cerca de 30 mil dólares na cotação atual) de ajuda. Não foi possível continuar! Ele ainda correu de turismo um tempo, com uma Ferrari mais antiga, na Europa e acabou voltando para a Argentina. Hoje corre na TC 2000. Ele tem apenas 22 anos e teve sua carreira na Europa descontinuada por falta de dinheiro.  

 

NdG: Os pilotos aqui não vêem os Estados Unidos como uma opção? Lá é mais barato...  

 

Jose Eduardo: Não. Não se sentem atraídos. É a Europa ou nada. Se não tem como ir para a Europa, ficam por aqui mesmo.  

 

NdG: E os pilotos que se seguiram a Reutemann? Truero, Mazacane... foi apenas dinheiro ou algo a ver com o último ano de Reutemann na F1?   

 

Jose Eduardo: Lembro-me que você falou que iria entrevistá-lo, não?  

 

NdG: Sim... mas o falecimento do ex-Presidente Raul Alfonsín alterou toda a agenda do Senador... foi uma pena. Tinha muitas perguntas que gostaria de ver respondidas...  

 

Jose Eduardo: Que perguntas?  NdG: Esta coisa de ele sempre estar cotado para ser campeão e não conseguir concretizar, de cegar ns equipes logo que o cenário da categoria mudava, mas, principalmente sobre a temporada de 1981. O que houve no GP do Brasil e a prova final do campeonato...  Jose Eduardo: Eu posso dizer, seguramente, que ele seria evasivo nas respostas e nada diria de mais esclarecedor. Contudo, vou te falar sobre 1981. No contrato dele havia uma cláusula de que, caso ele estivesse em 1° e o (Alan) Jones atingisse a segunda posição, ele teria que ceder o posto.  

 

NdG: E ele não o fez no Brasil...   

 

 

Se falam no Brasil que Reutemann foi "sabotado" em 1981, é totalmente descabido! 

 

 

Jose Eduardo: Não, não o fez. Ele disse que não sabia, que não conseguia ver a placa dos boxes pela posição do sol e o reflexo nela... achava que não era sobre ceder a posição. Como ele era muito sério, acreditaram mesmo que ele não tinha visto.  

 

NdG: No Brasil, muita gente fala que “sabotaram” o carro dele para corrida de Las Vegas. Que a equipe o prejudicou, deliberadamente...  

 

Jose Eduardo: Isso não tem cabimento. O que aconteceu, e o próprio Reutemann me relatou, foi que, no final do treino ele tocou outro carro e algo desalinhou. No dia seguinte, ele, por ter feito a pole e estar disputando o título, andou no “warm up” também com o carro reserva e achou que o titular estava melhor, que o dano não tinha sido tão sério. Na corrida, sob aquelas condições terríveis, o carro foi piorando e ele não teve como manter-se à frente de (Nelson) Piquet. Uma coisa é bem de ser dita: quando Piquet partiu para ultrapassá-lo, ele não jogou o carro em cima da Brabham como outros talvez fizessem (Neste momento, muitos podem pensar que ele se referiu ao Schumacher mas ficou meio subentendido que foi em relação ao que o Jones fez com Piquet no ano anterior).  

 

NdG: Então essa teoria da conspiração...  

 

Jose Eduardo: É balela. Jamais existiu. Se existisse, como é que ele continuaria na equipe no ano seguinte? Para nós aqui na Argentina e para ele – Reutemann – o título foi perdido quando não consideraram pontuar a prova da África do Sul, ganha por ele. Estes 9 pontos fizeram falta.  

 

NdG: Aproveitando que estamos falando do Lole (Apelido de Reutemann na Argentina), porque ele desistiu da temporada logo após Kayalami?  

 

Jose Eduardo: Ele se viu num mundo estranho... os carros estavam mudando, os pilotos e o estilo de pilotar também, alguns acidentes ocorrendo em treinos... ele foi vendo isso como “sinais” de que era hora de parar. Fangio também teve isso e Senna ouviu do próprio Fangio que 10 anos eram muito para se viver sob tanta tensão e pressão. Eram os sinais.  

 

NdG: Ele acompanhou aquela temporada depois de parar de correr? Viu os acidentes das Ferraris e do (Ricardo) Paletti?  

 

Jose Eduardo: Não. Ele se afastou por completo e veio cuidar de suas propriedades rurais em Santa Fé. Além disso, ele tinha se separado recentemente da esposa, e estava tendo que cuidar de problemas com as filhas... não tinha como se concentrar apenas nas pistas.   

 

NdG: E a política?  

 

Jose Eduardo: Ele nem tinha ambições políticas... foi o (Carlos) Menem – ex-Presidente Argentino – que insistiu por anos até que ele cedeu e acabou aclamado nas urnas.   

 

NdG: E ele se saiu muito bem, não?  

 

Jose Eduardo: Sim! Teve 84% de aprovação de sua gestão e é sério candidato a presidência nas próximas eleições... caso eleito, será o primeiro desportista a chefiar um estado. Pelo visto, ele entende mais de política do que entendia de mecânica...  

 

NdG: Como assim?  

 

Jose Eduardo: Reutemann tinha sensibilidade para relatar as reações dos carros que pilotou... mas não entendia nada de mecânica!  

 

NdG: Voltando para o automobilismo, agora, depois de todos estes anos sem um piloto na F1, há futuro para a Argentina na categoria?  

 

Jose Eduardo: Vou dizer o que me disse “Peixito” Lopes: “Como eu, existem 100... se um tiver muito dinheiro, quem vai para a F1 é ele!”  

 

NdG: No Brasil isso está começando a acontecer... infelizmente.  

 

Jose Eduardo: Não sei se é tão ruim... aqui na Argentina, por exemplo, temos um automobilismo forte. As corridas de Turismo Carretera levam 60 mil pessoas as pistas, a TC 2000 levam 50 mil... até as menos conhecidas levam de 10 a 12 mil. Se for bem organizado, o automobilismo pode viver sem o contato com as categorias fora do continente.

 

 

Last Updated ( Thursday, 21 May 2009 04:07 )