Stock Car 2020 - Ano de grandes mudanças Print
Written by Administrator   
Thursday, 27 February 2020 21:35

Depois de comemorar 40 anos de existência, a mais longeva das categorias do automobilismo brasileiro, a Stock Car passará por grandes mudanças para a temporada de 2020. As 12 corridas da temporada que se aproxima, com início programado para Goiânia, no último final de semana de março com a corrida de duplas, tem na pretensão da VICAR, empresa promotora do evento, dar início a um novo ciclo.

 

  A mais importante categoria do automobilismo nacional vai ter um verdadeiro confronto de marcas em 2020. GM x Toyota.

 

Ao longo de termos visto nas últimas duas décadas os carros da categoria serem “bolhas” sobre uma estrutura tubular padrão (a última vez que os monoblocos de fábrica foram usados na categoria foi em 1999, com os Chevrolet Omega), desde o tempo onde estas bolhas chegaram a ter 4 modelos diferentes, na segunda metade da década passada, a VICAR tinha a ideia de transformar a mais importante categoria do automobilismo nacional em uma verdadeira competição multimarcas. Chegou a criar um campeonato neste sentido, mas nos últimos anos buscou alternativas e o primeiro passo está sendo dado com a estreia do modelo Corolla, da Toyota... mas isso irá muito mais alem do que “vestir uma casca” de fibra de vidro com algo que lembre o modelo do sedan japonês. Vai ser um Corolla “de verdade”, assim como teremos também um Cruze “de verdade”.

 

Os carros que estarão na pista serão em grande parte (e peso) Corolla e Cruze reais, mas a estrutura de segurança dos chassis tubulares feitos na JL, empresa da família Giaffone, vão continuar garantindo a segurança dos pilotos, montada internamente aos monoblocos originais dos referidos modelos da Toyota e da GM, iguais ao que vemos nas ruas. Evidentemente que os carros terão algumas profundas modificações para assumirem configurações de corrida, bem como outras mais sutis, praticamente imperceptíveis como iremos comentar a seguir... e isso explica as aspas do “de verdade” do parágrafo anterior.

 

  No "gabarito", o monobloco do Cruze vai sendo trabalhado pela equipe de mecânicos para estar pronto antes da 1ª corrida.

 

Falando sobre aspectos técnicos, alguns não vão mudar, como suspensões (triângulos duplos sobrepostos fabricados pela JL, independente nas quatro rodas), câmbio (a transmissão será de seis marchas da marca inglesa xTrac, um fabricante de grande confiabilidade, sequencial e semi-automático, com acionamento por “borboletas” no volante e controle eletrônico da Magneti-Marelli), eletrônica, itens de segurança de competição, pneus e rodas apropriados e, claro, um motorzão V8 (na verdade dois). São coisas que os carros de rua não tem.

 

Teremos também algumas pequenas alterações que, de longe ou mesmo de perto para quem não estiver com um gabarito de medição, não serão perceptíveis. A distância entre-eixos em relação ao modelo usado em 2019 será reduzida, passando de 2800mm para 2741mm (um número maior do que os 2700mm usados pelos dois sedãs de série), e que pelos testes que já vem sendo feitos, o carro está ficando mais ágil nas curvas, porém ligeiramente menos estável em situação de alta velocidade.

 

  Depois de "sair do gabarito", o Cruze veste a "armadura", a célula de segurança da JL e vai tomando forma na oficina.

 

Devido às mudanças do carro para esta temporada, a Pirrelli veio trabalhando algumas alterações para 2020. As rodas continuam as mesmas, as Oz Racing, italianas, de 18 polegadas, mas os pneus PZero da fabricante italiana continuam com a especificação “DH”, mais duros e resistentes, fundamentais para a restrição de quantidade de pneus para cada carro pelo regulamento da categoria. Uma mudança vem para a temporada nos pneus de chuva, que até o ano passado tinham medidas diferentes, mas agora os dois tipos de pneus terão 305 mm de largura x 660 mm de diâmetro.

 

  Aqui falta compor as partes e a adesivagem do carro, que nos comprometemos com a equipe em não mostrar. 

 

Quando a Stock Car decidiu usar motores V8, importados dos EUA, na categoria, mesmo quando haviam as “bolhas” de outras montadoras, o motor era o mesmo. Este foi um dos pontos que a Toyota colocou como condição para entrar na categoria: usar um motor com o “DNA” da Toyota. A VICAR aceitou e nesta temporada teremos dois motores diferentes na categoria.

 

A JL, empresa dos Giaffone, continuará fazendo a preparação e equalização dos motores (algo que vai dar mais trabalho e mal é o começo do desafio que se tem pela frente), que devem ter a potência de 460cv a 6.150 RPM, com torque máximo de 600 Nm a 5.000 RPM em situação standard de corrida. No modo “push to pass”, a potência subirá para algo em torno de 550cv e o torque vai a 700 Nm (ambos sem mudar o regime máximo de rotações). Este valor pode variar dependendo do circuito onde a prova será disputada por fatores de segurança.

 

  Trabalho dobrado para a JL em 2020. A Toyota só aceitou colocar seu carro na pista se tivesse um motor seu a empurrá-lo.

 

O primeiro teste do Corolla foi realizado no dia 10 de julho do ano passado. Em comum acordo entre as equipes, o trabalho de desenvolvimento realizado ainda com o modelo da geração anterior do Toyota, na época o que havia de disponível, foi feito ao longo do segundo semestre e do início do ano pela equipe HotCar, de Amadeu Rodrigues. Os testes fizeram as verificações necessárias quanto a adaptação de sistemas, funcionamento da suspensão em relação ao monobloco, sistemas de fluidos e arrefecimento, freios, etc. O primeiro teste foi no Velo Città (SP). Em seguida, o Corolla Stock Car rodou também no Velopark (RS), em Cascavel (PR) e em Interlagos (SP).

 

Nesta primeira temporada serão apenas 8 carros Toyota no grid e em equipes de peso como a Full Time de Maurício Ferreira, a RCM, dirigida por Marcel Campos, filho de Rosinei Campos, o Meinha, e a Crown Racing, chefiada por William Lube. Mas os desafios que esta novidade da categoria vai apresentar para a torcida e os telespectadores tem mais coisas que normalmente quem assiste as corridas não costumam prestar atenção.

 

  Assim como o Cruze, o monobloco do Toyota também passou pelo "gabarito", a primeira etapa da montagem.

 

A introdução do monobloco original das fábricas em conjunto com a estrutura tubular de segurança da JL vai implicar em um aumento de peso. Algumas partes ainda serão de fibra, como as portas, os para-choques, o capô dianteiro e a tampa porta-malas (que não existe). A capota e as laterais serão de aço. Essas partes de metal vão implicar na criação de um “departamento de funilaria” que até 2019 não existia com os carros sendo “bolhas” de fibra. Qualquer problema na estrutura tubular era resolvido pela JL. O peso mínimo do conjunto carro/piloto ainda não foi definido. Vai depender da avaliação nos testes do primeiro final de semana março para que seja encontrado um ponto de equilíbrio ente o uso de lastro no caso dos pilotos mais leves e um “regimezinho forçado” para os mais pesados.

 

Além disso, de ter que lidar com toda a parte metálica, que tem pontos unidos por solda, a chamada “amarração”, pelos pontos de conferência e medição vão dar uma dor de cabeça para quem sofrer avarias. O carro tem que seguir os “gabaritos” para não ter ganhos de performance aerodinâmica. Ter um setor extra no time e trabalhar com reparo ou substituição das partes metálicas certamente impactará nos custos das equipes. Na última etapa da temporada 2019 o que corria pelos bastidores era que uma temporada em um carro de uma das equipes maiores estava “custando” 3 milhões de reais para quem quisesse pilotar nelas.

 

  Saindo do "gabarito", o Toyota também incorporou a estrutura tubular de segurança dos pilotos e as demais partes.

 

Um outro desafio vai ser a equalização. Com linhas diferentes, os carros tem comportamentos diferentes na pista e para compensar isso o posicionamento da asa traseira, a altura do carro e outros “mecanismos” terão que ser usados para que a competição com mais de uma marca seja o mais equilibrada possível... e como a VICAR está tentando tornar a categoria uma “multimarca”, com possibilidades de que em 2021 tenhamos um terceiro chassis, com mais um fabricante entrando na competição, os desafios só aumentarão. Para isso neste final de semana, enquanto você lê essa matéria, dois carros, um de cada marca, estarão em teste “em um autódromo do país, algo que era guardado a sete chaves pela VICAR”, mas a gente foi na lógica e um dos melhores locais para um “teste sem olhos curiosos” seria o Velocittà, em Mogi-Guaçú. Exatamente lá, com Vitor Genz e Beto Monteiro (e um convidado muito especial: Ingo Hoffmann) ao volante e suporte da equipe de Amadeu Rodrigues. No final de semana seguinte, o plano é colocar três carros de cada marca na pista e depois, iniciar os trabalhos em Goiânia na quinta-feira, antes da abertura da temporada.

 

  A composição entre aço e fibra vai tomando forma e o Corolla vai ficando com as linhas do Stock Car de pista.

 

A vizinha Argentina tem uma categoria “semelhante” à nossa Stock Car – a Super TC 2000 – que terá este ano seis montadoras envolvidas e um alto nível de competitividade e com uma atração extra para 2020, com a presença de Rubens Barrichello, que deverá disputar o campeonato no país vizinho. Existe, inclusive a possibilidade de que venha acontecer ainda, este ano, uma etapa conjunta com as duas categorias de turismo correndo no mesmo final de semana.

 

  A Stock car divulgou em redes sociais como ficará o design dos modenos Cruze e Corolla. Agora é vê-los na pista.

 

A torcida pelo sucesso deste plano da VICAR é grande e este processo pode alavancar a categoria brasileira a outro platamar: Vários pilotos estrangeiros, além dos argentinos, já correram no Brasil nas corridas de duplas e tendo uma categoria forte e competitiva, com as recentes perdas de força da V8 Supercars na Austrália e do DTM na Alemanha, quem sabe não podemos sonhar com europeus, argentinos e australianos disputando temporadas regulares no Brasil?

 

Da Redação 
Last Updated ( Friday, 28 February 2020 11:25 )