O canto do Uirapuru (1ª parte) Print
Written by Administrator   
Saturday, 13 October 2012 01:00

 

Falar sobre esse automóvel para mim é reviver um sonho, mas um sonho vivo até hoje e que nem o tempo (quase 50 anos) passados me deixa esquecer, pois ele fez parte da minha vida.

 

Desde que o vi pela primeira vez fiquei impressionado e um fato marcou esse meu primeiro contato: eu tinha acabado de comprar do Eugenio Martins uma BMW 316 Tii, carro super veloz para a época.

 

Ao parar num semáforo na região do Ibirapuera ao meu lado encosta um carro esportivo verde metálico (era um Brasinca), com um senhor já de certa idade e eu olhei espantado, pensei comigo “puxa esse carro com um ‘coroa’ e vai querer acelerar comigo”?

 

O sinal abriu, fomos juntos lado a lado por um bom trecho de 100 ou 200 metros, e ele me “despachou“ simplesmente (quem conheceu o 316 Tii, sabe o quanto ele acelerava)!

 

Paramos no sinal seguinte. Ele me esperou e, sem sair do carro, elogiei o desempenho do Brasinca e queria saber mais do automóvel, ele foi logo dizendo que estava com pressa e atrasado para uma reunião, mas me deu um cartão e disse: ”Me liga te dou as dicas“. Depois, com calma, revendo o cartão, vi que ele era o presidente do antigo  “Banco da Lavoura“.

 

A história começava aí.

 

A Simca

 

Eu tinha acabado de ser convidado e contratado pelo saudoso Chico Landi para participar da equipe de corridas da Simca, isso depois de 2 anos de bons resultados nas pistas e, como piloto independente, eu nada poderia mais fazer além disso a não ser participar da equipe de corridas com melhores carros e apoio total.

 

 

Apesar de sempre ter visto os Simca como grandes carros, tendo investido se ser um piloto privado, na equipe o tempo fio curto. 

 

Porém, logo em seguida, a Simca foi vendida, com o departamento de corridas desativado e sucateado entre os pilotos. Eu inclusive, adquirindo algumas peças especiais.

 

Fiz ainda algumas corridas com o meu carro já com o que tinha trazido da Simca, mas sabia que não poderia ir mais adiante. Ainda continuei participando de corridas longas e uma delas – e a mais marcante – foi um 4º lugar nas 24 horas de Interlagos de 1966, ficando atrás somente das duas Alfas Giulia da equipe Jolly e do Renault R8 da equipe Willys. Fomos o melhor Simca colocado, o primeiro piloto independente e primeiro na categoria acima de 1.300 cc. Meu parceiro nessa e outras corridas de fundo foi o saudoso Expedito Marazzi, grande conhecedor de automóveis e amigo.

 

Como cheguei até o carro.

 

O Expedito era redator da revista Quatro Rodas e fazia testes com carros da época. Um dia, ele me ligou e falou muito sobre o Brasinca, ele tinha testado o carro na Via Anchieta e foi dizendo “você tem que andar nele. Vou conseguir outro carro, mas dessa vez vamos andar em Interlagos, Você vai ver o que anda.”

 

 

De uma feliz coincidência nas ruas de São Paulo a uma conversa com Expedito Marazzi, o carro brasileiro parecia ser ótimo. 

 

E assim, numa manha fria, levamos um carro de série até Interlagos e, juntos, demos algumas voltas comentando o carro. Depois cada um guiou sozinho e o entusiasmo nosso foi grande quando vimos o tempo conseguido na “base do teste“. Eu tinha baixado em quase 10 segundos o meu melhor tempo de Simca, super acertado com tudo de fábrica.

 

Fiquei surpreso com o torque do motor Chevrolet 4.200cc e que mesmo com um câmbio Clark, de 3 marchas, e sem freios a disco, impressionava. Nas retas era muito rápido, mas perdia nas freadas em função dos freios a tambor e seu peso.

 

O começo.

 

Fui até a Brasinca em São Caetano do Sul e lá conheci o Rigoberto Soler, que era o projetista do carro e cujo sonho era fazê-lo participar de corridas, pois sabia do potencial do carro.

 

A coisa andou rápido, acabei por comprar um Brasinca que saiu da fábrica na cor amarela com uma faixa central azul claro e o meu numero 88, que lembrava um pouco as Berlinetas da Willys.

 

 

Na pista, o Uirapuru mostrou que era uma carro muito rápido e com muito potencial. Acima, andando na frente das Alfas da Jolly. 

 

Mesmo sem aprovação total da Fábrica, o Soler começou a fazer ajustes e modificações no meu carro, porem superficiais, sabendo que eu ia mesmo competir com ou sem ajuda deles.

 

Fui até a diretoria da Brasinca e, com o Expedito, tentamos formar uma equipe com 2 carros (o meu, pessoal, e mais um da fábrica). Com ele pilotando,     arrumaríamos patrocínios. Tentamos convencê-los que isso vendia carros sem dúvida era uma boa jogada, pois na época, já a Willys com as Berlinetas, além dos Puma, Simca, DKW, Malzonis e outros participavam de corridas em Interlagos, obtiam bons resultados de venda ao publico. O resultado era certo.

 

 

Interlagos mostrou-se um palco perfeito para o Uirapuru mostrar todo o seu potencial e Walter Hahn Junior pilotar em alto nível. 

 

Mas a resposta foi negativa, não queriam nada com as corridas queriam passar o projeto e fabricação do carro para outro grupo, queriam vender tudo.

 

Decidi então continuar sozinho e iria competir com o carro a qualquer custo e esforço. E como destino não é coisa do acaso, a minha ligação com aquele carro começava naquele momento.

 

(Fim da primeira parte)

 

Um abraço,

 

Walter Hahn Jr. 

 

 

Last Updated ( Saturday, 13 October 2012 03:28 )