A Primeira Vez Print
Written by Administrator   
Sunday, 03 May 2009 22:56

Foi no dia 25 de fevereiro no ano de 1962, quando, finalmente, estávamos na linha de partida do Autódromo de Interlagos, no “grid” da prova intitulada Premio Vitor Losacco – Festival de Marcas, primeiramente, entre e somente Volkswagens, certamente com pouquíssimo preparo, em obediência ao regulamento vigente na ocasião, Anexo J, grupo I, da FIA, e, em seguida, dentre os demais das outras marcas participantes, como Alfa Romeo, Simca,  DKW, Aero Willys, e Renault Dauphine/Gordini.  Muito embora freqüentássemos Interlagos, especificamente, dirigindo na pista, desde meados de 1958, pois a freqüência anterior restringia-se a de mero espectador, somente no início de 1962, foi que surgiu a oportunidade, de efetivamente, disputar uma corrida de automóveis, fato ansiosamente almejado desde então, enquanto no interregno daqueles três anos, disputávamos os inúmeros rallies organizados pelo Centauro Motor Clube, os Rallies do Rádio, Rally das Águas, da Serra do Mar, da Meia Noite, Piracicaba, etc. Éramos quatro no “grid”: Chico Lameirão, Rio Negro, Carioca (Gilberto Corrêa Filho) e eu. Fato interessante é que o Chico e eu nunca havíamos participado de uma corrida, ele, então, por nós convencido a participar, em vista de que o regulamento exigia o mínimo de quatro carros inscritos, e até então, foram três confirmados. A nossa vontade ferrenha fez do Chico a “salvação da pátria”. Na véspera dos treinos levamos o seu Volkswagen sedan à nossa casa e melhoramos o carburador do automóvel, substituindo um difusor mais adequado e o giclê de alta, os tubos de escapamento de maior diâmetro e nada mais. Trocando em miúdos, serviu a iniciar o Lameirão na gasolina, brilhante carreira, o que até aquela data nunca havia por ele sido imaginado. No nosso caso, o motor do carro teve o cabeçote preparado, a carburação, a suspensão e os freios, e levava o número 33, o qual sempre usamos nas corridas seguintes até ingressarmos na Equipe Willys em 1964. Os favoritos eram o Rio Negro, com o carro preparado na e pelo chefe da oficina da concessionária Marcas Famosas, e o Carioca, cujo carro tinha preparo do Fernando Feiticeiro, reconhecido preparador estabelecido no Rio de Janeiro, com oficina localizada próximo à Lagoa Rodrigo de Freitas. Na antiga pista, exatamente na linha de partida/chegada havia certo desnível no asfalto, de tal forma que ao deixar o carro ali parado era necessário calçar uma das rodas ou acionar o freio de mão, e essa última foi a opção por nós, inadvertidamente, escolhida, ao contrário dos demais que usaram uma pequena pedra ou algo assim. Fato é que, no momento da largada, com os carros parados ao abaixar da bandeira do Automóvel Clube Paulista, pelo Diretor da Prova, emocionado e ansioso, esquecemo-nos de destravar o freio, e o resultado, foi largar por último. Deste modo, tentamos acelerar o mais que possível, pé em baixo, sempre, com a troca rápida de marchas e logramos ultrapassar, pela ordem, o carro 17 do Chiquinho, logo na entrada da reta oposta, em seguida o Carioca, a, aproximadamente, uns 400m. da curva três, e finalmente, o Rio Negro, quem foi ultrapassado, por fora, nos de pé em baixo, sem brecar ou aliviar o pé, exatamente na boca da três, cujo traçado descendente levou-nos à curva quatro já na primeira posição, a qual foi mantida até a bandeirada de chegada, após cinco voltas no circuito completo de 7.823 m. A prova serviu também para estabelecimentos de recordes da pista de Interlagos, respeitadas as categorias de cada um dos automóveis participantes. No nosso caso, estabelecemos aquele da Categoria até 1.300cc., Anexo J, grupo I, com o tempo de cinco minutos, sete segundos e dois décimos – 7’ 5”  2/10  – o qual  permaneceu intacto durante um certo tempo, perto de ano e meio, quase dois. Ao final do evento, largaram em uma mesma bateria, todos os automóveis inscritos de todas as marcas participantes e das categorias existentes no automobilismo de competição da época, ou seja, da década de sessenta, quando surgiram os pilotos brasileiros que se tornaram campeões em inúmeras categorias internacionais e inclusive mundiais. Contando essa largada que fechou a tarde esportiva com todos os inscritos, logramos obter a 15ª. colocação, entre 25 carros, prejudicada em razão de uma incrível rodada, na curva da ferradura, ocasionada por tentativa de completá-la reduzindo da quarta para a terceira marcha no eixo da mesma, pé em baixo, sem brecar ou aliviar após pendulo na entrada do entorno. Não deu!!! O vencedor foi o Marinho, seguido pelo Bird, ambos com DKW; os Gordinis do Luizinho em 10º. e do Greco em 12º.; e, estranhamente, três carros não completaram a última volta seguindo da curva três diretamente à junção e adentrando à área atrás dos boxes, sem receber a bandeirada: as duas Simcas Chambord do Ciro Caíres e do Jaime Silva e o Renault Gordini do Bino.   Em resumo aquela corrida teve como característica dois fatos interessantes, a introdução do Chico Lameirão naquilo que se tornou em projeto de vida e a largada com o freio de mão “devidamente” acionado por inexperiente futuro aspirante a piloto!

 

 

 

Geraldo C. Meirelles  

 

Abril/2009

 

Last Updated ( Sunday, 03 May 2009 23:13 )