Entrevista: Jorge Freitas Print
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Friday, 20 November 2009 02:27

 

 

 

Jorge Freitas é um destes abnegados que faz automobilismo por paixão antes de tudo. Este carioca de 60 anos recém completados hoje preza pela qualidade de vida. Administrador de empresas por formação, cresceu em sua profissão e galgou importantes postos no setor, sempre na iniciativa privada. Há 16 anos residindo em Petrópolis – de onde diz que não pretende mais sair – fundou em fins de 1993, início de 1994, na cidade serrana, a JF Racing: A sua equipe. Quem pensa ou quem não conhece Jorge Freitas, pode pensar que trata-se de alguém que, depois de tempos admirando, entrou no meio do automobilismo apenas com o cacife de gestor de números e pessoas... esqueceram do Jorge Freitas Piloto! Ele foi um dos pioneiros da Stock Cars quando estava nas pistas, dividindo curvas com os melhores pilotos do país e sem nada a dever para nenhum deles. 

 

NdG: Seu Jorge, o senhor poderia nos falar de como foi a sua relação com o automobilismo? 

 

Jorge Freitas: Acho que se eu for falar tudo você vai precisar de uns cinco “gravadorzinhos” iguais a esse aí... risos. 

 

NdG: Tem 2 “gigas” de memória, seu Jorge. Pode falar á vontade! Risos gerais. 

 

Jorge Freitas: Então vamos lá, mas eu vou falar só da JF Racing, deixa o piloto Jorge Freitas quieto: Eu pilotei durante 28 anos antes de fundar a JF Racing, já como equipe da Stock Cars. Na época o carro era um Ômega e nós começamos com muito sucesso. Na metade do primeiro ano o Paulão (Paulo Gomes) veio correr conosco, no segundo carro e quase conquistamos o título já na primeira temporada. Estávamos a quatro voltas do final, na última etapa, em Interlagos, com o título conquistado, quando o motor quebrou. No ano seguinte, fomos campeões e vice com o Paulo Gomes e o Xandi Negrão (que dupla, heim?). Ganhamos 70% das provas! Em 1996 fomos campeões brasileiros de Fórmula Ford. Na Stock, O Ingo (Hoffmann) correu conosco por 6 anos onde conquistou 1 título e 3 vicecampeonatos. Fomos campeões da Light com o Marquinhos Gomes e vice no ano seguinte com o André Bragantini Jr. onde ganhamos o título por equipes também. Em resumo, temos nestes 16 anos 5 títulos. 2 da categoria principal, 2 da light e 1 da F. Ford. Tivemos outros 5 vices e um total de 43 vitórias ao longo de nossa trajetória. 

 

NdG: É um currículo e tanto... Tem “receita” para se fazer isso? 

 

Jorge Freitas: Eu não vou dar uma de falsa modéstia. Realmente é um belo currículo e a receita é simples: é fazer tudo com amor, com dedicação e assim a gente consegue ter algum sucesso na vida. Esta é a receita de todos que aqui trabalham e você que acompanha este meio deve conhecer um pouco da história dos chefes de equipe que aqui trabalham e acredito que vá concordar comigo de que aqui está a nata do automobilismo brasileiro, tanto na categoria principal quanto na Copa VICAR e também na Pickup. 

 

"A Stock Car no Brasil tem não só a nata do automobilismo brasileiro como é a mais forte categoria de turismo do mundo."

 

NdG: Ser um vencedor hoje em dia é uma missão das mais difíceis entao? 

 

Jorge Freitas: Com o nível atual de competição que temos, andar entre os 10 primeiros já é algo sensacional e nisso temos que levar em conta não só as equipes como também os pilotos. 

 

NdG: Mas o senhor não vai falar nadinha mesmo destes seus 28 anos de pista? Depois do senhor falar isso, se eu não escrever nada eu acabo perdendo o emprego... risos. O senhor correu em quais categorias? 

 

Jorge Freitas: Risos. Tá bom, tá bom... De que eu corri? Xiii... eu corri de tudo! Risos. Eu comecei a correr em maio de 1967, de fusca, no campeonato carioca. Eu corria de qualquer coisa que tivesse quatro rodas e me chamassem. Era só chamar que eu estava lá! Como eu não tinha dinheiro para bancar a vida como piloto, corria de tudo. Em 1994, quando começamos a equipe o regulamento dizia que tinha que haver 2 pilotos por carro e nas duas primeiras etapas eu dividi o carro com o Djalma Fogaça. Eu gostava e gosto da pilotagem, mas aí eu tive que optar: Ou pilotava ou chefiava a equipe. Mas eu sou uma pessoa realizada como piloto. Conquistei muitas vitórias, fui campeão do primeiro brasileiro de marcas ao lado do Toninho da Mata, corri também com o Cezar Pegoraro... mas o tempo passa, a gente envelhece e tem que abrir o caminho para os mais novos. 

 

NdG: Como é a preparação de uma equipe para uma etapa da Stock Cars? O que é feito na JF, desde a sede até a largada? 

 

Jorge Freitas: É meio parecido sempre, mas tem diferenças: Nós não viemos direto. Saímos de Petrópolis e fomo até a sede da JL, em Cotia-SP, que é a fabricante dos chassis e que prepara os motores. Fizemos uma checagem geral nos carros no dinamômetro de rolo, nos motores reservas em tudo que podíamos para evitar alguma surpresa desagradável por aqui. Chegamos ontem (quarta-feira) e hoje começa a função de montagem de boxes, lacração de pneus... a rotina da quinta-feira.  

 

NdG: Bom, tendo feito tudo isso que o senhor fez e que certamente os outros chefes de equipe fazem, vai que amanhã, na sexta-feira, no primeiro treino livre o senhor ou qualquer dos chefes de equipe ou piloto dê algumas voltas e ache que o carro não está bom. O que fazer para “encontrar o caminho”? 

 

Jorge Freitas: Isso é até muito comum de acontecer. Por mais revisado, por melhor que o carro chegue, tem toda uma série de fatores que interferem no ajuste. Por exemplo: Choveu a semana inteira e na sexta-feira a gente tem uma pista sem emborrachamento, uma pista “limpa” como se diz. Aí o carro ta sem o grip necessário e essa condição vai mudando com o passar dos treinos, a pista vai mudando e aí vamos fazendo os ajustes levando em conta também a informação passada pelos pilotos. Tem também a sensibilidade do piloto que varia de um para o outro. Tem piloto que gosta do carro mais arisco, outros do carro mais neutro... mais dianteiro ou mais traseiro. Este ajuste final é muito pessoal. 

 

NdG: O regulamento da Stock parece ser extremamente rígido: carros iguais, motores iguais, câmbio igual e mais um sem número de componentes. Claro que tem coisas que ainda podem ser ajustadas e decididas dentro da equipe como a pressão dos amortecedores, o tipo de mola, calibragem dos pneus além da estratégia da corrida. Contudo, o que é que se faz para se conseguir fazer a diferença com tanta igualdade? 

 

Jorge Freitas: Realmente o leque de possibilidades é pequeno. O regulamento é bastante engessado. O amortecedor, por exemplo: Só podemos mexer na “clicagem”, mas a curva você não muda (Traduzindo: Deixar o carro mais macio ou mais duro). Molas são livres, é a única coisa que podemos mexer à vontade. O resto é só acerto na geometria. Hoje em dia não se tem muitas possibilidades. Tem também o fato de que todo mundo conhece todo mundo e sabe como todo mundo trabalha. É só ver como o carro está andando para saber como foi feito o setup do carro das outras equipes. E é aí que aparece o diferencial, que é o ajuste fino e a “guiada” do carro... e isso quem faz é o piloto. 

 

NdG: A gente vê bem isso no cronômetro, de como é equilibrada a disputa na categoria. Este ano então, nem se fala, não? 

 

Jorge Freitas: Eu tenho 42 anos de automobilismo e não me lembro de ter visto um ano tão difícil e tão equilibrado como está sendo 2009. Não me lembro também de ver tantos pilotos de excelente qualidade correndo na mesma categoria. Hoje podemos pegar os 15 primeiros no grid ou no campeonato e não se pode dizer quem é que vai ganhar a corrida ou o campeonato, tamanho o nível destes pilotos. A maior prova foi termos em oito etapas, oito vencedores. Isso aí já diz tudo. Não existe essa coisa de que uma equipe hoje sabe fazer o carro, na etapa seguinte não sabe. Não se surpreenda se aparecer um nono vencedor aqui (em Curitiba, com a vitória de Ricardo Maurício, foram 9 vencedores diferentes)... eu espero que apareça e que seja um nosso! (risos). 

 

"O regulamento da Stock Car permite que aquele que não tem tanto dinheiro como a equipe mais rica, possa ser competitivo".

 

NdG: Após uma seção de treinos é normal o chefe de equipe se reunir com os pilotos e discutir os aspectos daquele treino visando uma melhoria para o treino seguinte e no final, para a corrida. Como o senhor faz durante este período? O senhor faz estas reuniões? Ouve os pilotos separadamente? Qual é a sua metodologia? 

 

Jorge Freitas: Eu trabalho da seguinte forma: o piloto passa o que está sentindo do carro e também o que ele desejaria corrigir ou alterar em cima disso. As pessoas podem pensar que o que o piloto vai pedir é uma coisa obvia, mas não é bem assim. As vezes o piloto pede uma alteração ou pensa em pedir uma alteração por ser algo que o deixa mais confortável na sua guiada, mas se ele sente que aquilo vai atrapalhar o resto e no final ele vai perder mais do que ganhar ele nem altera. Tudo se baseia em lucro ou perda: o saldo deve ser sempre positivo, jamais negativo. 

 

NdG: Numa equipe com dois pilotos que tem talento e capacidade – e no caso dos seus pilotos, nome e sobrenome tradicionais no automobilismo – até onde vai o companheirismo e aonde começa a disputa dentro da equipe?  

 

Jorge Freitas: Olha, é difícil de responder isso... Eu digo que já vi até ciúme, mas não vou dizer que vi disputa, um troço acirrado, de um fazer cara feia para o outro. Agora ciúme eu já vi... e muito. É impressionante, é pior do que criança. Tipo: “você está dando mais atenção para ele do que para mim”. Poxa, as vezes o carro do outro está com mais problemas do que o dele e eu tenho que dar mais atenção para resolver aquele problema. A mesma coisa é com um médico: tem dois pacientes, um com um resfriado e outro com uma febre altíssima e tendo convulsões. Claro que ele vai dar mais atenção ao segundo. É a mesma coisa. Esta é mais uma nuance do automobilismo que faz dele apaixonante. É incrível como é o comportamento de cada piloto: uns são mais outros menos dedicados. Eu já tive piloto que chegava no autódromo antes até da equipe! Eu já tive piloto que no final do dia, quando não tinha mais nada pra fazer, fazia concurso! Quem polia mais e melhor as rodas... e colocava os mecânicos e ia ele também polir roda... Esse eu vou até citar o nome: Juliano Moro. Ele foi uma das grandes paixões da equipe, ganhou campeonato conosco, trabalhou dois anos na equipe e deixou uma grande saudade em todos aqui. E tem aqueles que são... mais lights! 

 

NdG: “Light” foi o senhor agora... risos. O Juliano ficou tão contrariado com o abandono nos 500 Km de Interlagos que nem conseguimos falar com ele. Apenas com o Christian, seu companheiro – que nem chegou a ir para a pista – e com o Adhemar Moro. Inclusive temos a foto do filtro com a trinca no site dos Nobres do Grid. Umas das nossas exclusivas... 

 

Jorge Freitas: Ele é um grande piloto, um grande profissional e uma grande pessoa... eu não tinha ficado sabendo deste episódio. Neste momento Jorge Freitas pediu que parássemos de gravar e fez algumas declarações que pediu que não colocássemos para preservar as pessoas que ele citou. 

 

NdG: Os carros da Stock possuem “bolhas” diferentes. Já chegamos a ter quatro delas. É claro que o pessoal da JL faz tudo o que pode para ficarem iguais em desempenho... mas fica mesmo? As equipes podem escolher a bolha que vão usar? É sorteio? Como é essa parte? 

 

Jorge Freitas: É o Carlos Col e a VICAR quem define quem vai usar qual bolha. A equipe não escolhe. Nós usamos Peugeot por já usarmos no ano passado. Quisemos até mudar este ano, mas não deu.  

 

NdG: Em alguns anos e especificamente neste ano de 2009 tivemos um regulamento com pontos dúbios e que levou a algumas situações, digamos, fora do habitual. Como é feito o regulamento na Stock Cars? As equipes são ouvidas? Há “poder de voto” ou “poder de veto”? A VICAR faz sozinha? A CBA participa? Como é o processo? 

 

Jorge Freitas: É uma tomada de decisão conjunta. Participam a CBA, a JL (Empresa dos Giaffone que constrói o carro), as equipes e a VICAR. Na parte técnica as equipes tem um peso grande. Na desportiva os pilotos – que também são ouvidos – tem um peso grande. E todos procuram fazer um regulamento que permita termos uma boa competição. 

 

NdG: Muito bom saber que aqueles que “fazem o espetáculo” – os pilotos, no caso – também são ouvidos... mas tem coisas que independem da capacidade daqueles que fazem o espetáculo. Neste ano de 2009 o automobilismo mundial sofreu um forte impacto da crise econômica que atingiu a todos os seguimentos no segundo semestre do ano passado. Como foi que a sua equipe fez para se adequar a esta nova realidade de escassez de recursos? 

 

"O ano de 2009 foi muito duro para as equipes. Muitas fecharam as contas no prejuízo. Ninguém vai aguentar 2 anos assim."

 

Jorge Freitas: Nossa... foi e ainda está sendo duro para todos. Não tem muito o que fazer fora do usual. Enxugar custos, aumentar a produtividade e... bom, todo mundo teve que se adequar de uma maneira ou de outra. Nós fomos por este caminho de redução de custos e aumento de produtividade.Conseguimos... mas este final de ano está muito apertado.  

 

NdG: Mesmo sendo a Stock Car, junto com a Fórmula Truck, categorias extremamente organizadas e as categorias de maior sucesso de público em autódromo e de audiência na televisão depois da Fórmula 1, nós vimos que muitas equipes e pilotos tiveram sérias dificuldades para fechar contratos. Foram questões puramente financeiras ou algum outro fator interferiu no processo? 

 

Jorge Freitas: Foi financeira. Foi e está sendo difícil e as perspectivas para 2010 são muito preocupantes. Os custos estão elevadíssimos... olha, na verdade, é assim: teve que haver uma adequação enorme. Mesmo com todo o esforço dos chefes de equipe, muita gente fechou o contrato deste ano com prejuízo, porque não podia parar. Daí foram captar recursos no mercado financeiro, pegando empréstimo em banco. Teve que se desfez de bens, de patrimônio... cada um encontrou uma “solução” assim, “da forma que deu”. Só que isso que temos hoje não é a realidade. Os pilotos vão levar em consideração os números de 2009 e não são números reais para tentar fazer o ano de 2010, só que as equipes não vão agüentar dois anos de prejuízo e esta é a situação que vivemos hoje: A situação para 2010 é muito mais séria do que a que vivemos hoje. 

 

NdG: Essa resposta deixa a pergunta seguinte quase como algo surreal... mas vai assim mesmo: A NASCAR, a categoria de carros de turismo mais famosa do mundo tem um calendário de mais de 30 provas no ano (36 em 2009) e a Stock Car tem apenas 12. Na sua opinião, este número de 12 poderia ter um aumento, para 14 ou até 16 etapas a fim de atender os anseios de outras praças, de levar o espetáculo a outros estados, até mesmo fazendo provas de rua como foi em Salvador? Já houve alguma conversa neste sentido? 

 

Jorge Freitas: Um rascunho sim. O aumento de 12 para 14 etapas já foi falado, mas é algo muito difícil para se fazer. Vou usar a NASCAR como exemplo, que tem o triplo de provas que nós temos. Eles tem uma outra realidade! As equipes tem duas sedes: Uma em cada lado do país. Nós sabemos que tem equipes que tem até 8 (oito!) carros por piloto... nó mínimo, tem seis, sete. Ou seja, se ele destruir um carro numa prova, o que lá não é difícil por conta das características da disputa, se tem uma corrida na semana seguinte, tem um carro já pronto. Não tem que recuperar aquele, que pode nem ter como recuperar. E para tanto existe verba! Como eles tem duas sedes, mantém metade dos carros em cada um dos lados do país, o que simplifica em muito a logística, de ter que cruzar um país inteiro de caminhão. Tem um caminhão, claro, tem transporte. Mas quando você vai fazer uma corrida em um lado do país, as corridas do outro lado já tem o seu caminhão de transporte pronto para fazer a outra etapa. Está tudo pronto.  

 

NdG: Com um esquema desses é possível se fazer 5 finais de semana seguidos com corrida... 

 

Jorge Freitas: Só assim. Olha o nosso exemplo: Nós vamos ter daqui há duas semanas a próxima etapa, em Brasília. Se uma equipe perde o carro numa parede dessas aqui, vai ter problemas sérios para correr em Brasília, porque não dá para ter uma realidade como a deles em função dos nossos orçamentos. Eles trabalham com 20; 25; 30 milhões de dólares enquanto nós trabalhamos com pouco mais ou algo em torno de 1 milhão de reais.  

 

NdG: Este ano nós tivemos pela primeira vez uma etapa no nordeste, em Salvador e a primeira corrida em circuito de rua da Stock Car. Como o senhor viu esta experiência? Foi interessante? É viável a nível de logística? Valeu a pena? Algum aspecto ficou a dever que possa e precise ser melhorado?  

 

Jorge Freitas: Valer a pena, valeu 100%! Foi um espetáculo à parte. Um show! O povo na rua estava entusiasmado, demonstrando um apoio incrível e um orgulho enorme pelo fato da Stock Car ter chegado à cidade deles. Tivemos uma recepção simplesmente fantástica. A corrida em si, aconteceu num dia muito bonito, com um público maravilhoso. Foi uma festa espetacular... agora, ajustes, precisa, claro. Não só numa corrida de rua como em qualquer corrida. Com certeza aqui também vai ter ajustes que serão feitos para o ano que vem. Toda corrida tem esse processo de busca de melhoria. Agora, a pista, poderia ter um detalhe ou outro diferente... mas aprendeu-se com a experiência. 

 

NdG: Faltou reta? Faltou largura de pista? 

 

Jorge Freitas: Reta não... largura de pista em uma prova de rua sempre vai faltar, mas foi uma corrida extremamente positiva para a categoria. 

 

NdG: No futebol, onde existem times mais tradicionais, mais fortes técnica e financeiramente do que outros. Temos na Stock algum parâmetro próximo? Até que ponto? Dá para ser competitivo com um orçamento menor que o das outras equipes? 

 

Jorge Freitas: Para competir, dá... só não dá para ser tão bonito quanto. A “plástica” da coisa fica prejudicada. Quero deixar claro uma coisa: estou respondendo isso sem fazer nenhuma alusão a equipe mais poderosa, a equipe mais bonita e a equipe mais estruturada da Stock Car que é a equipe do Andreas Matheis. Estou falando isso de uma maneira geral. O Andreas além de ter tudo muito bonito, muito estruturado e muito bem feito, ele é muito competente. É possível ser tão ou mais competitivo que o mais bonito, desde que se tenha igualdade de condições em termos gerais: se o regulamento não permite que o dinheiro se sobreponha a capacidade técnica, é possível. É assim: se um amortecedor custa 1 real e este é o mesmo para todos, não adianta você ter 100 reais para comprar amortecedor se você só pode comprar o amortecedor de 1 real. Aí voltamos ao ponto do diferencial que é o piloto. Se você tem um piloto bom, que faça a diferença, você vai ser tão ou mais competitivo. 

 

NdG: Acabamos voltando a questão dos pilotos... é inegável que o nível dos pilotos da Stock Cars é altíssimo. Algumas pessoas creditam parte desta realidade da categoria à falta de possibilidades, devido aos altos custos atuais para se tentar construir uma carreira no exterior e – quem sabe – chegar a Fórmula 1. Na sua opinião, isso traduz uma realidade? Podemos realmente ver quem são os que estão aqui por opção e os que estão por “falta de opção”? Nomes não são necessários. 

 

Jorge Freitas: Na verdade, todos gostariam de ir adiante em suas carreiras... mas hoje em dia, certamente poucos gostariam de estar fora da Stock Car. A Stock Car brasileira é, hoje, uma referência na carreira de qualquer um. Não sei se você viu a entrevista do Rubinho em que ele falou num programa da televisão paga, que ele disse que no futuro ele pensa em correr na Stock, que é uma categoria que ele gosta muito. Isso não é a toa... tem-se notícias de pilotos estrangeiros que gostariam de correr na Stock Car aqui no Brasil. Parece que ela já está entre as três mais importantes categorias de turismo no mundo. Temos hoje um grau de importância elevadíssimo. Não é que um piloto vai falar que “ah, não vai dar para correr no DTM eu vou então correr de Stock Car”. Não é isso.  

 

NdG: Então hoje chegou-se a um nível de que um piloto pode pensar: “eu tenho como opções fazer o DTM, o WTCC ou a Stock Car”. Seria isso? 

 

Jorge Freitas: É isso aí! Agora, existem pilotos na Stock Car, que participaram de outras categorias e mesmo da Fórmula 1, que desejam poder voltar à categoria. Isso é mais que compreensível. São todos pilotos de grande talento, como é o caso do Antônio Pizzonia, e ele está mais do que certo em tentar voltar para a Fórmula 1. Ele é um piloto do gabarito da Fórmula 1. É evidente que se formos comparar qualquer categoria do mundo com a Fórmula 1, não tem como. Ela é o topo, a elite e o desejo de qualquer profissional.  

 

NdG: Levando em conta apenas o aspecto financeiro, um piloto hoje, aqui no Brasil, ele já tem como viver de automobilismo? 

 

Jorge Freitas: Tem sim, com certeza. Na verdade, quando se é bom naquilo que se faz, e se faz bem feito, se consegue viver bem daquilo. Até o ladrão... se ele é competente, ele não vai preso e vai viver do fruto do roubo! (risos) No caso da Stock Car, que é uma categoria onde os pilotos são pilotos excelentes e se destacam no que fazem, conseguem sim, ter uma vida, viver bem e dignamente como profissional do seu esporte. 

 

NdG: Essa pergunta nem estava aqui no texto, mas como uma coisa puxa a outra, voltemos ao Rubinho. Vem o Rubinho aqui para a Stock Car daqui mais alguns anos e como é que vai ser? Quem é que tem dinheiro para bancar um Rubinho, de mais de 300 GPs de Fórmula 1, de vitórias, que correu na Ferrari... como é que se faz? Ele vai ter que criar uma equipe? 

 

Jorge Freitas nos acolheu dentro dos boxes por 4 dias. Presenteá-lo com uma camisa dos Nobres do Grid era o mínimo a fazer!

 

Jorge Freitas: Bem, se ele vai montar a equipe dele eu não sei, mas um piloto desses, quando chega a uma equipe, ele já trás o seu próprio pagamento. Ele pega um espaço no carro e estampa lá o seu patrocinador. E aí está feito. Caso isso venha realmente a acontecer, de o Rubinho correr na Stock Car, vai ser muito positivo para a categoria. 

 

NdG: Quando o senhor vem dar esta volta assim, a pé, o que é que o senhor olha? Como é que o senhor passa isso para os seus pilotos e mecânicos? 

 

Jorge Freitas: Ah, a primeira coisa que se olha é o piso. Também olha-se bem as áreas de escape, vê-se até onde o carro pode passar nas zebras sem vir prejudicar o balanço, ver – dentro da medida do possível – a drenagem, se há pontos de possível acúmulo de água. Até agora o que vi está bom. Ali na freada ta um pouco “descascado”, mas até aqui está bom.  

 

NdG: Nós vamos encontrar aqui praticamente 3 pisos diferentes: Este asfalto mais desgastado, em sua maior parte; um asfalto muito liso lá na curva de acesso a reta e aquela reta de placas de concreto que está com algumas rachaduras bem feias. Como é que se trabalha com essas variáveis?  

 

Jorge Freitas: Certamente há uma diferença de grip entre os dois asfaltos mas nada que venha comprometer a guiada de um piloto. Os pilotos se adaptam rapidamente a isso. Agora, a zebra aqui da saída da chicane está muito lisa... se passar ali no molhado a corrida acaba. A reta, mesmo com as rachaduras não altera quase nada. O importante é encontrar um acerto em que se obtenha um bom grip para esta variações de piso e isso os pilotos vão sentir – os que vierem – andando por aqui de scooter, de bicicleta, correndo e amanhã com os carros. 

 

NdG: Eles fazem isso? Outros chefes de equipe fazem essa caminhada? 

 

Jorge Freitas: Poucos... muito poucos. Os pilotos eu nem sei porque... até deveriam. Já os chefes de equipe pela idade, pela saúde... (gargalhadas gerais, dele, minha e do Bel Camilo, que deu a volta na pista conosco) Jorge não aparenta os 60 anos que tem! 

 

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Last Updated ( Sunday, 10 October 2010 10:28 )